Pesquisa do Palavrório

7.3.08

Chega de empulhação (parte 4)

Esta tarde (07/03) a Pró-Reitora de Pesquisa e Pós Graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Maria Benigna Martinelli de Oliveira, foi morta durante um assalto em Curitiba (clique aqui). Ao lado está a notícia que dois motoristas do Instituto Médico Legal do Paraná cobravam para liberar corpos, algo que é um serviço obrigatório do Estado (clique aqui).


A Cidade Sorriso (sim, um dia Curitiba já foi chamada de Cidade Sorriso) está a cada dia um pouco mais triste. E a culpa é toda nossa, mas talvez mais de um governador turrão que, em seus devaneios de achar-se perseguido por tudo e por todos, esquece que segurança pública é uma função do governo do Estado. No primeiro caso, falhou a Polícia Militar. No segundo caso, a Polícia Civil. Em ambos, todos dependentes do Secretário de Estado de Segurança Pública, Luiz Fernando Ferreira Delazari, que ficou perdendo muito mais tempo tentando manter a sua boca como promotor de Justiça do Estado do que gerenciando a segurança pública. E este, indicado pelo governador.


Mas o governador, mais preocupado em atacar o prefeito de Curitiba por este ser de outro partido, esquece de governar. Vivemos um metagoverno, em que a palavra vale muito mais que a ação, em que a imagem deve ser cultivada à despeito da realidade. Basta lembrar a ação ignorante e sem fundamentos que o seu irmão, gestor do Porto de Paranaguá, faz contra um jornalista da cidade, cobrando R$ 1 bilhão por danos morais. Isto porque o jornalista divulgou um relatório da Marinha do Brasil, mostrando que o Porto só servirá para pedalinhos e caiaques, se continuar com a manutenção que tem. Sem contar com as Estradas da Liberdade, que ainda devem estar presas em algum lugar pois não saíram do papel, o projeto de retirar areia do Canal da Galheta e por em Matinhos, sem que haja nenhum projeto factível, enfim, um fracasso total.


Deveria o senhor governador cuidar mais do nosso Estado em vez de dar palpites sobre as eleições do Paraguai. Mas talvez seja essa a explicação. Ele quer intervir lá para que pelo menos os produtos paraguaios sejam certificados e que não provoquem efeitos colaterais. Tá na hora de a gente fazer algo pela nossa cidade, pois ela está indo rapidamente pelo ralo.

29.2.08

Chega de empulhação (Parte 3)

Ainda não vi o último documentário do Michael Moore, Sicko, mas deve ser uma coisa muito bacana de se ver. Primeiro, por ver a empulhação que é o sistema de saúde norte-americano, todo ele baseado na iniciativa privada e sem nada de governo por trás. Segundo, por ver que uma alternativa pública é viável.

Ops, alguém pode até perguntar, dado o tom das empulhações anteriores, "mas esse cara agora tá defendendo o sistema público?" Veja só, existem duas concepções diferentes em jogo, uma é tornar a saúde universal e gratuita, e outra a saúde pública e gratuita – exatamente como falei sobre educação. Precisa todo o sistema de saúde (médicos, hospitais, enfermeiros e muitos, mas muitos, funcionários de administração) ser público? Não, não precisa. Pode todo ele ser privado? Sim, pode.


Mas só funcionará se houver um governo competente e concentrado em fazer a coisa certa. Tem que ter um Ministério da Saúde que se preocupe em criar uma tabela do SUS que realmente remunere decentemente os hospitais e médicos pelos procedimentos executados, não a ilusão que é hoje. Fazendo isso, as filas sumiriam da noite para o dia, pois todos os profissionais de saúde teriam interessem em atender pacientes do SUS. E os hospitais e médicos poderiam deixar a tirania dos planos de saúde atuais, que em muitos casos cobram dos médicos para eles trabalharem. Claro que isto significaria eliminar um monte de intermediários que "sugam" pedaços da verba pública de saúde. Mas é possível sim.


E, claro, fiscalização intensa para impedir que os hospitais fraudem o sistema, inventando consultas, procedimentos, cirurgias etc. Pois ao mesmo tempo em que há incompetência na gestão, há má fé de quem abusa da falta de fiscalização. Por isso, fiscalização é o ponto chave. E assim, rapidinho, a saúde seria universal e gratuita. Quer dizer, gratuita não, pois pagamos impostos justamente para ter atendimento, a diferença hoje é que não a recebemos do Estado, somos obrigados a buscá-la por fora. Tristeza...

28.2.08

Maus tratos ao consumidor

Cena 1: Servopa (revenda Volkswagen em Curitiba)

De que adianta ter um painel com senha de atendimento se os atendentes não respeitam a chamada e atendem quem se posta à frente? Pois é, peguei a senha 15, mas só fui atendido depois do 16 e do 17. O que devo fazer, gritar e espernear? Bom, deixei pra lá na hora, reclamei depois, e decidi que provavelmente nunca mais levo o carro lá, nem compro um carro lá. Perderam um cliente.


Cena 2: Pátio do Arvoredo (restaurante em São José dos Pinhais)

Uma carta com 150 vinhos. Beleza, vamos de espumante rosè nacional. Cinco minutos depois, a resposta. "Ah, este está em falta", diz o garçom. Pedimos então o outro espumante rosè nacional. Mais cinco minutos, e a mesma resposta, desta vez com a explicação: "É que tá muito quente e tá tendo muita saída, ontem pediram bastante e hoje uma mesa pediu a última garrafa". Sem contar que um dos pratos pedidos veio cru e um dos restaurantes que motivou minha ida até lá tava fechado sem ninguém ter avisado. Sem contar que erraram na conta de novo, já haviam errado na primeira vez que lá estive. Novamente, um lugar a menos para se ir.


Temos que divulgar todos os maus tratos ao consumidor, pois só assim seremos melhor tratados. Chega de ser refém de quem vende. Felizmente, tem competição para quase tudo (e tem alguns idiotas que ainda querem voltar ao tempo das estatais... Só quem trabalha nelas, é claro.)

13.2.08

Chega de empulhação (parte 2)

(Antes de começar, deixe-me terminar um raciocínio do post anterior. Aquilo tudo vale até o fim do Ensino Médio, que deveria ser profissionalizante. As universidades todas deveriam ser privadas, todas. E vamos fazer que nem nos Estados Unidos: bolsa de estudos para quem se destaca, mensalidade para o resto. A bolsa pode ser custeada pelo governo, desde que haja mérito em sua conquista, ou pela própria universidade, que viveria das mensalidades dos alunos, de doações de gente que dá valor ao ensino e de convênios com a iniciativa privada para a realização de pesquisas. E aí, fim da mentira do uso da verba pública em educação, onde as universidades recebem uma parte do bolo desproporcional ao número de alunos atendidos.)

Cara, se tem algo que pode irritar profundamente uma pessoa é ver um dia do seu salário comido com o imposto sindical. É literalmente um dinheiro jogado praticamente no lixo. Digo praticamente pois alguns sindicatos, uma vez por ano, aparece em ação negociando os salários da categoria. Mas, na maior parte dos casos, é só isso. Em alguns, nem isso.

O imposto sindical é obrigatório, todos pagam. O trabalhador paga, os empregadores pagam. E o governo repassa a todos os sindicatos laborais e patronais que existem. Todos. Inclusive para o Sindicato dos Acupunturistas e Terapêutas Orientais do Paraná, o Sindicato das Empresas de Locação de Bilhares do Paraná, Sindicato dos Armazéns Gerais no Estado do Paraná, Sindicato dos Carregadores Autônomos de Volume de Curitiba, e até mesmo do Sindicato dos Empregados em Entidades Sindicais e Profissionais do Estado do Paraná. Procure na internet e verás sindicato que não acaba mais.

E quando passa desapercebido pelas militâncias petelhas que o imposto sindical pode virar opcional, veio uma chiadeira até de sindicato que ninguém sabia que existia. Claro, acabaria a mamata. Os sindicatos (patronais e laborais) finalmente teriam que mostrar serviço para que os trabalhadores quisessem pagar pelo serviço deles, quisessem de verdade se associar. Do jeito que é hoje, os caras que lá estão ficarão para sempre e os que sustentam o sindicato, como são obrigados a sustentá-lo, às vezes sem saber, não aparecem. Ou seja, entidade representativa dos trabalhadores é um eufemismo, pois eles só representam, na maior parte do tempo, a si próprios.

É uma empulhação o imposto sindical. É uma empulhação a obrigatoriedade de um sindicato por categoria, com exclusividade nela. Esta é uma atividade que, hoje em dia, não apresenta risco algum. Todo ano o dinheiro do imposto sindical cai na conta do sindicato, ninguém presta contas direito, e ficamos por aí. Que lástima!!

Tomara que os nobres deputados e senadores continuem dormindo no ponto e que a lei que acaba com essa empulhação passe batida no Congresso. Vereis no dia seguinte insígnies líderes sindicais clamando contra "o fim da organização dos trabalhadores", "a soberania dos sindicatos patronais (que pelo menos, parecem trabalhar um pouco mais que os laborais)", "o perigo do trabalhador não ter uma voz forte o suficiente para ser ouvida", enfim, balela de quem não precisa bater metas. Bem que o Congresso podia aproveitar e acabar também com o vergonhoso imposto que sustenta o sistema "S". Se é bom, as empresas contribuem voluntariamente. Se é ruim, tem que melhorar ou fechar. Simples assim.

11.2.08

Chega de empulhação (parte 1)

Cara, a gente vai cansando do que fazem aqui e em muitos países do mundo. O discurso de quem está no poder é pura empulhação. Vejam só o que dizem todos (com raríssimas exceções): "queremos o ensino público gratuito!" Que balela!! Do jeito que é hoje, as chances de que ele seja de baixa qualidade, que atraia professores ou movidos pela paixão de ensinar (que muitos há, com certeza, mas que abandonam sua paixão quando vêem a remuneração que percebem) ou sem competência, mas desairosos de se tornar funcionários públicos e viver na mamata.


Pois é. Tenho um tio que uma vez me disse uma coisa que até hoje me marca e que tenho certeza que funcionaria e acabaria com uma tacada só a moleza dos professores que fingem que ensinam, do estado que finge prestar ensino e do nosso dinheiro pago em impostos sumir nos escaninhos do Ministério da Educação e seus "n" sub-órgãos.


Ele falou que o melhor seria cada criança em idade escolar receber um cheque mensal, cheque que só poderia ser utilizado para pagar mensalidades escolares, para gastar na escola que quisesse. Veja bem, TODAS as crianças receberiam o cheque do mesmo valor. Se o pai da criança quer colocá-lo em uma escola que custa mais do que o cheque que recebe, ele paga a diferença.


E as escolas seriam todas privadas. Aí todas competiriam para melhorar os serviços prestados, ou seja, melhorar a educação. Como todos seriam funcionários privados, não teriam a chance de ficar parados três meses recebendo por salários, o dinheiro não se perderia pelo caminho pois o cheque significaria dinheiro na mão da escola direto, o governo deixaria de ter sabe-se lá quantos mil professores, diretores, sub-diretores etc... E para garantir a qualidade, o Estado só permitiria que escolas certificadas pelo Ministério da Educação (que enfim teria dinheiro para montar uma estrutura de fiscalização e controle decente) com notas boas no Enade.


E o que teríamos com tudo isso? "Ensino gratuito universal!!!" O que é melhor, que todos tenham direito à escola ou que a escola seja pública? Percebem a empulhação que o corporativismo de uma classe (normalmente associada a partidos da esquerda jurássica) tenta nos passar? Eles não querem ensino para todos, querem é ensino público. Nunca falam no universal. Se a criança recebesse o cheque e usasse na escola que sua família escolher, desde que todas recebem, não é melhor que ter todo um sistema que é ineficiente? Sem contar que assim todos receberiam o benefício, ou seja, quem paga impostos e quem não paga seria beneficiado. Hoje quem tem filhos em escolas particulares paga duas vezes pelo ensino, uma na mensalidade e outra nos impostos.


Chega de empulhação, vamos pensar diferente este país!!

O eu, o me, o mim

A grande tentação que acomete quem tem um blog é passar a escrever apenas e exclusivamente sobre si mesmo. Ainda que se tenha a pretensão de se dar uma opinião sobre os assuntos, o que é muito bom e salutar, em boa parte do tempo o trabalho se perde no nheco-nheco do "eu fiz, eu vi, eu acho, eu consegui, eu perdi...", ou seja, há apenas três pronomes que são ditos: eu, me e mim.

Acaba que, na maior parte dos casos, a vida das pessoas não chama atenção alguma. Todas são interessantes sim, mas apenas quando são contadas por elas sem a pretensão de se dar uma mensagem ao mundo. Quem não gosta de entrar em um boteco e escutar as pessoas falar de suas vidas, do que aconteceu, de rirem todos de uma piada que só quem está ali entende?

(Corta para momento egotrip. Estávamos minha esposa e eu [pelo menos eu convido mais alguém para a festa] em Pinhão (Portugal), quando bate a fome. Entramos em um hotel hiperchique mas ninguém dá bola. Daí que saímos do hotel para entrar em um boteco na frente da estação de trem. O bar tem lá suas seis, sete pessoas, todas conhecidas uma das outras. Ali, logo entramos na vida delas. Começamos a contar piadas, sabemos quem está apaixonado por quem, quem irá para onde, quem virá. Mas parece que ninguém diz eu, me, mim. Muito bacana!)

Mas a maior parte do mundo só olha para o seu próprio umbigo. A humanidade não lhes diz respeito, não merece consideração. E assim, vale apenas o filtro pessoal, o eu, o me, o mim. Esta parte da humanidade, infelizmente, não é interessante. São todos potenciais participantes de uma edição qualquer do Big Brother. Gente que gosta de aparecer, que tenta aparecer de qualquer maneira, sem ter nada a dizer.

Acaba que isto infelizmente é normal nos dias de hoje, e há rencas de blogs, sites, fotologs, videologs e sei lá mais quê com apenas a vida comezinha deste povo. Ainda que haja poucos espaços em que a egolatria não têm vez (e não coloco este blog entre eles, ainda há muito que caminhar), a maior parte de tudo é o eu, o me, o mim. Que lástima, já diria Charlie Brown....

7.2.08

Para sempre, talvez

Era uma manhã normal, como a maioria das manhãs. Ele percorria o caminho de sempre rumo ao seu escritório, onde um dia de poucas emoções com certeza o esperava. Nenhum pensamento o assolava, nem bom nem ruim. Talvez uma ou outra vontade de que algo diferente acontecesse, alguma boa notícia que lhe trouxesse mudanças de ares, ou um dinheiro inesperado. Mas como as chances eram pequenas, ele prestava atenção apenas ao seu caminho.

De repente, a luz aparece. Um casal de idade vem subindo a rua na direção contrária. Casais de idade há vários, muitos por aí. Mas este parecia diferente. Ele e ela tinham mais de 70 anos, com certeza. E estavam juntos, de mãos dadas. Claro, há vários casais de idade de mãos dadas por aí. Mas este estava junto, de mãos dadas, e conversando. Claro, há alguns casais de idade de mãos dadas por aí, conversando. Mas este estava junto, de mãos dadas, conversando e rindo. Rindo!! E os que ainda riem juntos nesta idade são poucos.

Ele ri junto com o casal, que nem percebe que estava sendo observado. Os dois velhinhos estão fechados um no outro. Eles se bastam, o resto do mundo é um detalhe para eles. Eles transmitem uma sensação boa, um sentimento gostoso de que tudo é possível, que talvez exista de verdade uma relação em que ambos se completam mas não são dependentes um do outro. Que os laços que os unem são de afeto e amor. Que eles se gostam, não que se toleram por medo de ficar sozinhos. Um casal bacana.

Seu dia muda. Ele começa a pensar em sua esposa que não está na cidade naquele momento. E se pergunta o que pode fazer para também repetir este fato para que um dia, ele e sua velhinha, juntos na rua, de mãos dadas, possam rir de qualquer piada que um ou outro dirá. Passo a passo, ele vai construindo sua estrada, e mesmo as nuvens lá no céu não resistem à luz que emana dele.

17.1.08

Assincronia

O casal de namorados está parado na esquina se despedindo. Pode não ser um casal de namorados ainda, parecem mais um par que está prestes a se tornar um casal de namorados. Isto porque não estão já se beijando, se abraçando, aquele abraço forte de quem tem a absoluta certeza de que será a última vez em que eles se verão, mas que também traz a absoluta certeza de que eles se verão dali a pouco. Ainda não há esse beijo, esse abraço. Há apenas um encontro de mãos e um cruzamento de olhares. Olhares que revelam desejo, mas que ainda não é concretizado.

Eles se despedem com um beijo de um na bochecha de outro. É daqueles beijos que pára no meio do caminho, entre a boca e a bochecha. Um beijo meio tímido, o último que antecede o verdadeiro beijo. Ele fica no meio do caminho e, sem coragem de rumar ao centro da boca, deixa aquele delicioso gosto nos lábios de "quero mais, venha logo", mas que por alguma razão há uma timidez no ar que não deixa o casal concretizar o desejo de ambos. O beijo fica no meio do caminho, à espera de um novo encontro para chegar ao seu destino final.

Lentamente, os corpos vão se afastando, os dois vão andando de costas, até que os braços completamente esticados já não se alcançam e os dedos finalmente se separam. As mãos bailam no ar até encostarem timidamente ao lado dos quadris, mão esquerda dele, mão direita dela, ficam no ar, sozinhas mas com o calor dos dedos do outro na ponta dos dedos. Lembrança tátil que se junta a todas as outras - abraço, beijo meia boca, cabelos, mão ao redor da cintura, um cafuné - para aumentar o desejo de se ter todo o corpo do outro dentro, fora, ao redor. Não naquele momento, porém, não ainda.

Quando já há uma distância impercorrível entre eles, quando qualquer passo em frente na direção do outro significaria o exagero, ela finalmente se vira e deixa de caminhar para trás. Agora, ela já anda em frente, mas ele ainda anda de costas, esperando um olhar dela. Ela banca a difícil e não se gira. Ele desiste então e se vira para frente. Quando ele se vira à frente, é a vez dela torcer o pescoço e procurar o olhar dele. Triste, ela percebe que ele não está olhando para ela. Ela então se gira novamente e deixa de procurar o seu olhar. Quando faz isso, ele então a procura com os olhos novamente. Vai que ela está se fazendo de difícil? Mas ela não está olhando. Para ele, ela havia desistido pois ele não estava com os olhos prontos para capturá-la. Ele já acha que ela não está tanto a fim dele. Ele torna a caminhar em frente, olhando à frente.

Ela então se gira de novo. Uma última esperança de que eles estejam realmente conectados, que ele está ali, esperando o olhar dela, olhando para ela, querendo-a. Mas ele não está olhando para ela. Para ela, ele desistiu. Ele não era o homem que ela esperava que fosse. Para ela, naquele instante, ele era o homem que queria o beijo ali, agora, naquele instante. Podia até ser, mas aquele beijo podia ser o primeiro de muitos. Mas ele já estava ali, na postura de um homem como todos os outros: quer o beijo, quer o sexo e não quer mais nada além disso. Não, ela não quer mais um homem assim. Ele parecia diferente, ela pensa, mas não é nada além de um homem qualquer. Ela deixa de sonhar, suspira e se vira à frente.

Ele dá uma última olhada. Ela está prestes a sair de seu campo de visão. Se for algo, será agora, ele pensa. Ele até pára de andar. Afinal, ela parecia ser uma mulher diferente, uma mulher com quem valia a pena sonhar ter um tempo juntos, só ele e ela. Casamento, quem sabe, muito cedo para dizer, mas ela tinha aquele algo que chama a atenção além da beleza física. Um brilho nos olhos de alguém que está procurando uma pessoa diferente, uma pessoa legal, alguém que não fosse o lugar comum. E ele, tudo o que ele sempre quis é que alguma mulher reconhecesse as suas virtudes, virtudes que sempre foram consideradas fraquezas por seus amigos: fidelidade, o desprezo à mentira, a busca de calma em vez de farra, a vontade de ficar em um canto sossegado com a pessoa amada. Ela parecia ser esta mulher. Mas ela não se vira. Ele se vira então e continua seu caminho.

Logo, eles somem da vista um do outro. Com o passar dos dias, sumirão também da memória um do outro, até se transformarem em um longo suspiro nos dias melancólicos...

14.1.08

Lugar correto

Escutei de um professor uma frase capital, que norteia-me desde então: “Se você não está feliz em seu trabalho, significa que você não é o talento certo para a empresa”. Li a frase da seguinte maneira: eu tenho talento sim, mas os talentos que tenho não servem naquele lugar, devo procurar outro onde meu talento seja melhor utilizado.

Daí eu pensei que a questão do talento certo pode ser aplicada a praticamente qualquer coisa na vida. Se você está em uma relação que não te satisfaz, você não é o talento certo para a tua parceira. Não quer dizer que você não seja bom, nem que ela seja boa demais, apenas que não casou oferta e demanda. Se com os parceiros de bola você não se afina, não consegue entrosamento (e não tem nada a ver com ser um perna de pau, apenas de curtir a suadeira), deve ser porque você não fala a mesma língua que eles. Vai que eles realmente competem entre si, quando tudo o que você quer é dar umas corridas e, quem sabe, marcar um gol, sem se ligar no resultado?


E assim vamos. Dificuldades no prédio? Sentir-se um estrangeiro na cidade? Deslocado na igreja ou templo religioso? Não é ali o seu lugar, tem que ir procurar. E quero dizer sempre que não quer dizer que você seja sempre o errado, mas que devemos procurar sempre o nosso lugar.

É claro que, em alguns lugares, nos vem o ímpeto de mudar tudo. Só que a experiência diz que só conseguimos mudar as coisas quando encontramos ambiente fértil à mudança. Ou seja, mesmo no lugar errado estamos no lugar certo, pois ali temos chance de mudar algo.


Há sempre um lugar certo para nós. Difícil é encontrá-lo. Continuemos, pois.

9.1.08

Defecando

Deve haver um número ilimitado de cagadas que um ser humano pode cometer ao longo de uma vida (claro, vamos nos limitar a uma encarnação pois se entrarmos nos méritos das cagadas que podem ser feitas nas múltiplas encarnações, faltará latrina). Ainda esta manhã, cometi mais uma. Não chequei o endereço da reunião de meus dois chefes em outra cidade. Assim, logo cedo, enquanto me preparava para dar uma bela cagada (esta, literal), toca o telefone com minha chefe me dizendo que eu havia feito uma cagada (esta, metafórica).
Putz, que merda!! Basta uma nova mancada para nos lembrarmos de tantas outras que cometemos ao longo da vida. Me lembro sempre de quando errei o dia de um exame de Língua Inglesa que vinha da Inglaterra, ou seja, inadiável e sem jeitinho para consertar. Tive que praticamente me ajoelhar na frente da gringa que cuidava do exame para me deixar fazer a prova (desde que eu não contasse para ninguém o que tinha acontecido). Foi mal, muito mal.
Os porretes que tomei e que me fizeram fazer várias cagadas também estão marcados na memória, ainda que com grandes borrões que me impedem de sentir ainda mais vexame retroativo do que já sinto ao me lembrar (parcialmente) deles. Vômitos em lugares impróprios, dormir abraçado com uma privada, entortar o eixo do carro de meus pais (detalhe: que fora pego por mim sem consentimento deles), chegar bêbado ao trabalho (ainda que eu estivesse demissionário, mas mesmo assim), enfim, a bebida já me fez fazer várias cagadas.
No trabalho, sempre há espaço para novas cagadas. Esta foi mais uma delas. Mas tudo bem. Talvez o único sinal de nosso aprendizado é que a gente vai cometendo novas cagadas com o passar do tempo, tentando não repetir as antigas. Sempre uma nova merda para cada ocasião. Pois já acho que é impossível parar de cometer cagadas. E já que é impossível, espero pelo menos aprender a me limpar.

8.1.08

Old Friends

Old friends,
Old friends
Sat on their park bench
Like bookends.
A newspaper blown though the grass
Falls on the round toes
Of the high shoes
Of the old friends.

Old friends,
Winter companions,
The old men
Lost in their overcoats,
Waiting for the sunset.
The sounds of the city,
Sifting through trees,
Settle like dust
On the shoulders
Of the old friends.

Can you imagine us
Years from today,
Sharing a park bench quietly?
How terribly strange
To be seventy.
Old friends,
Memory brushes the same years
Silently sharing the same fears

Old Friends
, de Paul Simon

É isto, meus amigos. Podemos não nos encontrar muito, mas tenham certeza que, sem vocês, este mundo seria praticamente intolerável.

Obrigado por serem!

4.1.08

O tempo que não volta

Em dias de chuva fecho os olhos e me lembro de quando dei a volta ao redor da Irlanda de mochila. Tá, não foi tão excitante como Tony Hawks mas foi, à minha maneira, muito bacana.

Claro, a primeira relação que se pode fazer é de chuva com Irlanda. Afinal, chove pelo menos 300 dias por ano lá, o que ajuda e muito a deixar o país com os infinitos tons de verde que eles têm. Mas me lembro da chuva de quando fiz a caminhada até um lugar chamado Giants Causeway no norte da Irlanda.

O dia estava meio estranho, não pendia nem para a chuva nem para o sol. Assim, de mochila nas costas, desci do ônibus em Carrick-a-Rede e comecei a caminhada pela beira do mar até Giants Causeway, 15 km distante. O tempo ameaçou fechar, e coloquei minha capa de chuva. Continuei andando. Daí o tempo abriu, com sol e tudo. Tirei a capa e continuei andando.

Mas não era um tempo estável. Logo se via no horizonte o tempo fechando e a nuvem negra, carregada de chuva, chegando. E era muita chuva, tanta que chegava a formar uma parede de água que parecia engolir o mundo. Vi a chuva abraçar um barco e ele desaparecer de minha vista. Foi o tempo de por a capa de chuva e continuar andando debaixo da tormenta. Dali a pouco a chuva parou, o sol voltou e tirei a capa de chuva de novo. Este chove não molha se repetiu pelo menos três vezes até o ponto final da jornada, feito com um pôr-do-sol em céu claro, sem nuvens.

Grandes tempos de mochileiro. Não voltarão mais, nunca mais, pelo menos do jeito que foram vividos. Agora não tenho apenas uma mochila, tenho mais três maletinhas adoráveis que pretendo levar comigo sempre que possível. Mesmo assim, às vezes dá uma saudade do que na podemos mais ter. Pelo menos são boas saudades...

Tudo devagar

O começo do ano deveria ser em meio período. Afinal, mesmo que as pessoas queiram trabalhar, metade das pessoas com quem elas devem trabalhar não estão lá. Estão em férias, estão na praia, na montanha, no exterior, em qualquer outro lugar, menos no escritório. Aproveita-se que as escolas estão paradas para viajar ou, quando não há dinheiro, para ficar em casa.

Infelizmente, há um pedaço do mundo que esqueceu o que é parar uns momentos. O tal do capital obriga que quase todos os trabalhadores do mundo não parem nunca. Afinal, o mercado exige lucros, os acionistas exigem resultados, alguém (que não se sabe direito quem é) está ali cobrando, desde o primeiro minuto do segundo dia do ano (pelo menos um dia eles são obrigados a conceder) que haja geração de resultados, lucros gordos e fartos para serem distribuídos.

Nada contra o lucro. Foi a ausência dele que fez o comunismo ruir. É a presença dele que faz o mundo avançar. Mas a dose poderia ser um pouco menor, a pressa menor, a ganância menor, para que tivéssemos mais semanas como esta primeira do ano, em que fazemos pouco não porque queremos, mas porque não podemos fazer mais.

2.1.08

Reflexões

Assino uma newsletter do cartunista Doug Savage, um cartunista que desenha uma tira por dia em um post-it, chamado Savage Chikens. No dia 31 ele desenhou este abaixo, sensacional, por resumir o espírito do Ano Novo.

Na prática, é isso aí, não muda nada. Temos sempre a esperança de que algo mudará, por mágica. Ou melhor, que tudo mudará. Esquecemos sempre que somos nós que provocamos a mudança e que, se não fizermos nada, nada acontecerá.

Exatamente o que mudará, eu não sei. Pelo menos fiz a barba para começar o ano diferente, mudado. E também para ter a sensação concreta que pelos crescem na minha cabeça (não na parte de cima, infelizmente, mas já é algo em que acreditar).

28.12.07

Movimento circular

Tem uma poesia do Drummond (se não me engano) em que ele fala da beleza que é a invenção do Ano Novo. Com ela, podemos ter uma chance de apagar todos os erros do passado, pensar no que fizemos durante um ano inteiro e no que faremos para não cometer os mesmos equívocos. O Ano Novo é época de renovação de um monte de coisa, mas principalmente de renovação e fortalecimento da esperança e da fé em dias melhores para nós mesmos.

O que talvez ele não tenha visto é que todo ano revivemos as mesmas angústias, inquietações, eventuais alegrias e tristezas inerentes à esta época. Até um certo ponto, os desejos são recorrentes: “trabalhar menos para ficar mais tempo com a família e os amigos, ser mais sincero com todos eles, me esforçar para ganhar mais dinheiro para poder gastar melhor (não esbanjar) etc...”

Percebi isso ao pegar-me no flagra, esta manhã, pedalando para o trabalho e pensando em como seria bom se o mundo parasse de funcionar de verdade nesta época. Que ninguém precisasse ir para o trabalho, mesmo porque há pouco trabalho a ser feito. Que os médicos, enfermeiros, policiais, bombeiros e soldados tivessem uma semana de folga porque o mundo parou, inclusive as maldades. E lembrei que todo ano, invariavelmente, fico procurando soluções para que este sonho se torne realidade. Lá se vão uns 30 anos novos em que este sonho reaparece.

Será que a vida não passa deste movimento circular? Talvez agora entenda o italiano Alessandro Baricco, ou melhor, seu personagem Ultimo Parri, que tentava criar um circuito que representasse a sua vida, toda ela. Talvez seja isso mesmo, estamos condenados (no bom ou no mau sentido) a retornar sempre a um ponto determinado, para que possamos repensar o que fizemos e repartir, tentando consertar a trajetória feita, deixá-la mais harmônica, mais suave, mais elegante. Talvez.

Enquanto a dúvida persiste, não resta nada a fazer a não ser listar – de novo – os erros e acertos do ano que passou e tentar não repetir os erros e acertar mais no ano próximo. Quem viver, verá!

27.12.07

Época estranha

Esta época do ano é um período estranho. Ainda que todos digam que é uma época de festas, não se vê tanta gente contente pelas ruas. Não importa a classe social, estão todos meio pensativos, até um certo ponto encafifados com o que acontece ao redor.

As lojas gritam que é Natal, é motivo de festa, de alegria, de juntar-se com a família para celebrar o nascimento de Cristo ou, mais mundanamente, trocar presentes comprados à prestação. Já no Ano Novo todos devem parar alguns instantes para refletir como foi o ano que passou, fazer o balanço de erros e acertos e programar o próximo ano para que este seja, como todos os Anos Novos, um ano cheio de realizações e coisas boas.

Mas tem algo que não anda direito. A pressão do cotidiano é muito forte para ser sublimada por toda essa pressão pela felicidade coletiva universal. Lá no fundo (ou não tão fundo assim) sabemos que nada mudará com a passagem do ano; que não importa quantos presentes recebamos, a felicidade depende de outras coisas que não um grande e caro presente de Natal; que a família deve estar unida o ano inteiro, e que as desuniões aparecem claras e latentes na noite de Natal, ainda que se faça força para que elas não existam pelo menos naquele momento.

O descompasso entre o que sentimos e o que vemos existe, em alguns casos é grande, enorme. Quem não tem família está deprimido por estar sozinho. Quem não tem dinheiro fica deprimido por não poder dar ou ter uma festa bacana. Quem tem ambos fica triste pois sabe que a vida não é só esta semana. Parece um mal estar generalizado que toma conta da humanidade e que é abafado com “qualquer droga que nos dê alegria”, como disse o Cazuza.

Sentimentos ambíguos, que só se desfazem quando chego em casa e recebo o abraço apertado de meus filhos que, ainda distantes de todas estas preocupações, pegam seus brinquedos de Natal e inventam mundos de príncipes e princesas, de dragões e alienígenas, onde o bem sempre vence o mal. Oxalá!!

5.11.07

Relembranças

O momento parece se repetir. Aquela calmaria que precede os grandes acontecimentos. Com certeza aconteceu com você. Uns dias antes de algo importante acontecer com você (saiba você disto ou não), tudo parece dar uma pausa. As horas se arrastam, não há motivação para começar nada novo, talvez alguma para concluir o que está em aberto, mas nada realmente significativo acontece.

Eu imagino que já escrevi sobre isto em algum momento. Mas com o grande irmão corporativo bloqueando o acesso ao meu blog, fico aqui reescrevendo o que talvez já reescrevi. Talvez, se já tiver escrito sobre isto, o tema pareça chato. Mas vai que agora a sensação de espera de que algo diferente e grande aconteça seja outra? Vai que muda o tom da ansiedade?

Por um lado há ansiedade pois os fatos novos serão grandes (novas casas, novos endereços?, uma viagem de férias muito bacana e longamente esperada). Por outro lado, há já alguma resignação de que não adianta o que acontecerá ou mudará, tudo mudará muito pouco. Levaremos a carga imensa que somos nós mesmos para onde formos. Viajei o mundo com apenas uma mochila nas costas sabendo que o mais pesado de tudo estava dentro de mim.

Assim, algo mudará, tenho certeza. Em seu tempo, da maneira correta, nos tempos certos, desde que a gente se esforce para isso. Mas enquanto isto, fica a sensação de dejá vu. Que puxa!

31.10.07

Chuvas de verão

Primeiro foi um inverno fora de hora, com temperaturas sempre abaixo dos 10° durante uma semana. Depois começou um calor desgraçado de quente. Agora é assim. De manhã está meio fresco, daí a temperatura sobe até uns 30°, pelo menos, e lá pela metade da tarde, ou fim da tarde, cai um baita pé d'água que interrompe tudo, pára o trânsito, acaba a luz porque caem galhos sobre fios de transmissão, enfim, um caos.

Será que ninguém percebeu que a maneira como estamos vivendo (nós Planeta Terra) levará invariavelmente ao fim de tudo? Ou acabará com seca ou com chuva, mas que se continuar assim acabará, ah isso vai...

29.10.07

Ambigüidades

Todo dia, no caminho para o trabalho, estou propenso à poesia. Vou de bicicleta, em um ritmo mais calmo que o resto das pessoas, escutando música, cheirando grama molhada de orvalho, passando por caminhos onde há gente caminhando, ainda há pássaros, eventualmente o trem ao lado me faz companhia.

Aprecio os quintais das casas que ainda existem – casas e quintais – e lembro de um tempo mais simples, mais calmo (me lembro de meu vizinho, o Júnior, rapagão alto à beça que pulava a cerca de casa sem usar as mãos, como um corredor de 110 metros com barreiras), em que havia tempo para brincar na rua – era possível brincar na rua.

Aí eu chego ao trabalho, cheio de poesia na cabeça, e ligo o computador com o nobre objetivo de escrever alguma coisa nesse sentido. E nos últimos três meses sou soterrado pela avalanche de trabalho – muitas vezes insensato e sem objetivo. Aí a poesia que havia pela manhã vai se esgotando, vai diminuindo, até ser completamente apagada por números, cifras, tabelas, apresentações e metas empresariais. Uma trabalheira desgraçada para explicar ao Sr. Mercado que a firma crescerá cerca de 25%, e não 28% como havia sido previsto, que o Sr. Mercado não ficará 28% mais rico, mas “apenas” 25%.

Na volta para casa, de novo sobre a bicicleta, a poesia tenta entrar novamente na cabeça. Mas ela está cheia de números, gráficos e tabelas. Um beija-flor cruza o caminho e quase devolve o sorriso. Um cachorrinho que parece sem dono faz xixi bem na roda do carro tunado, e o sorriso aparece envergonhado no canto da boca. Um casal passeia de mãos dadas pela ciclovia, alheio a tudo e concentrados apenas em si mesmos, e dentro de mim o sorriso já está quase pronto.

Aí chego em casa, duas pequenas criaturas vêm correndo para me abraçar e beijar, uma linda mulher vem e me beija, faz um cafuné em meus cabelos, e finalmente o sorriso e a poesia estão de volta.

14.9.07

Agora é hora de lutar!

Para começar, temos que falar o que pensamos, mudar nossas atitudes em relação a tudo e ser intolerantes a qualquer desmando, inclusive o próprio, que são os mais perigosos.

Pelo menos abrir a boca para começar a dizer o que pensamos, jogar para fora a raiva de eleger idiotas e representantes imbecis que só querem enriquecer à custa de uns bocós que somos nós. Abrir a boca, lotar as caixas postais daqueles vagabundos que nada fazem para mostrar que pelo menos estamos atentos.

E quem sabe, a longo prazo, mudar.

13.9.07

Primeiro a hora do luto

Vi um povo de cabeça baixa, de lágrimas nos olhos, sem fala, abandonar o estádio como se voltasse do enterro de um pai muito amado. Vi um povo derrotado, e mais que derrotado, sem esperança. Aquilo me doeu no coração. (José Lins do Rego)

Lamentemos por alguns instantes o que os pulhas a quem chamamos e elegemos senadores fizeram. Mas somente por alguns instantes. Amanhã tem mais.

31.8.07

Para os estudantes de Jornalismo


Sempre que falo sobre jornalismo, ou melhor, sobre as escolas de jornalismo, me lembro da lição do grande Angeli.

É o que penso também.

7.8.07

Salve o Renan!!

Calma, eu explico. É óbvio que ele tem muita coisa a explicar e, se fosse realmente um cara inocente, sairia da Presidência do Senado para deixar de exercer influência sobre seus processos. Mas ele não quer.

E enquanto ele ficar, nada, praticamente nada, será votado pelo Congresso. Ou seja, enquanto ele ficar, ele pode estar fazendo um bem para o País.

Isto porque a malfadada CPMF, a prorrogação dela, deve ser votada até 30 de setembro. Se não for votada, manda a lei que ela não seja implementada no ano que vem. Pode até ser que ela volte depois, mas durante um ano os tecnocratas não garfarão tanto do nosso dinheiro.

Ou seja, FICA RENAN!!! Que a confusão que você mesmo criou traga pelo menos algum benefício para os cidadãos honestos que pagam todos os impostos. Que essa prorrogação não seja votada de forma alguma. FICA RENAN!! Atrapalha o trabalho de todos, inclusive das falsas vestais que pregam a moralidade pública, que enquanto você estiver lá, não votarão nada. Atrapalha tudo, e quem sabe a CPMF acaba. FICA RENAN!!!

2.8.07

Está claro?

Se você tinha alguma dúvida de que estamos sendo governados por um energúmeno, clique aqui.
Depois disso, por favor, se você o defende, peça que ele se defenda de si próprio para pelo menos preservar o seu passado, esse sim bacana e meritório.

1.8.07

Bate cabeça

Um governo medíocre se mede pela incapacidade de até os principais ministros conseguirem coordenar o que dizem. Nunca antes na história deste país se viu uma mediocridade tão grande.

Um dia o presidente diz que construirá um novo aeroporto. No outro dia o ministro responsável pelo órgão que constrói aeroportos nega. Mais um dia e outra ministra, responsável pela articulação política, nega a negação e mantém a palavra do presidente. Em quem acreditar?

Um governo medíocre se mede também pela incapacidade de enxergar a realidade. Vaiam o presidente. Ele diz que as vaias devem vir de quem tá ganhando dinheiro no governo dele, os ricos, pois os pobres não estão se beneficiando de seu governo. Ele que sempre diz que são os pobres o foco de seu governo. Não entendi. Vaia quem é beneficiado, se cala quem é prejudicado? Vai ver que daqui a pouco cai a ficha e ele percebe que não governa para ninguém, apenas para os seus comissionados e para os puxa-sacos que não querem ver o que acontece.

Tristeza é pensar que ainda temos que esperar até 2010 para mudar...

20.7.07

Indecência dos incompetentes

Do Estadão Online:

SÃO PAULO -
O Palácio do Planalto recebeu com alívio a notícia de que a tragédia com o vôo 3054 pode ter sido provocada por um problema técnico no Airbus da TAM - e não pela pista molhada do congestionado Aeroporto de Congonhas. O assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, ministro Marco Aurélio Garcia, festejou com um gesto obsceno com as mãos quando assistia, no seu gabinete, ao noticiário do Jornal Nacional, da TV Globo, sobre o acidente.

O significado do gesto de Garcia parecia claro: a TAM se estrepou, melhor para o governo. Ao seu lado, o assessor de imprensa Bruno Gaspar foi ainda mais grosseiro. Fez um trejeito imitando o ato sexual.

Nunca antes na história deste País nossos governantes demonstraram tanto desrespeito aos que os elegeram e os mantêm. O gesto de dois dos mais próximos auxiliares do presidente Lula, que provavelmente não sabia de nada de novo, reflete o sentimento comum deste bando de incompetentes lotados nos postos de poder federal. O povo que se foda, eu quero é garantir o meu!!

Os barnabés festejavam que a culpa podia não ser da pista, ou seja, da Infraero, ou seja, do governo. Festejavam que as cerca de 200 mortes poderiam ter outro culpado no banco dos réus. Como se isso importasse. Na certa tiveram que às pressas reescrever o que o Presidente dirá esta noite em cadeia nacional, para que ele pudesse dizer, com firmeza, que algo seria feito, mas que a pista estava OK.

Nunca antes na história deste País se viu um governo tão patético e insensível. Talvez apenas Maria Antonieta ("O pão acabou? Que comam brioches...") tenha sido mais insensível.

O presidente que se cuide, a maré pode virar um dia...


19.7.07

Um incompetente culpado?

Demorará algum tempo para esquecer a tragédia do avião da TAM. Demorará ainda mais, talvez nunca seja possível, desvincular a pecha de incompetente desse governo e de seu comandante maior, Luís Inácio Lula da Silva.

Leiam a Dora Kramer de hoje (19/07/07). Lá está:

Não se pode culpar o presidente por tudo o que de mal acontece neste país, disseram de maneira preventiva alguns de seus admiradores assim que saíram as primeiras notícias sobre o desastre. É verdade. Mas é verdade também que não é mais possível aceitar que o presidente da República não seja responsável por coisa alguma neste país.

Ela continua elencando o que o governo, "este governo", deveria ter feito. Relembro, os sinais do caos foram dados em 2003, primeiro ano do primeiro reinado de Nosso Guia. Tudo o que "este governo" consegue fazer é falar, falar muito, falar bem, mas não fazer nada.

No fim, tenho que concordar com o presidente. A vaia de 100 mil pessoas no Maracanã na abertura do Pan foi injusta. Injusta por pequena. A vaia mesmo é dos 30 milhões de brasileiros que pagam impostos e não vivem às custas das tetas do governo.

18.7.07

A incompetência gera mortes

Nunca antes na história deste País se viu um governo tão incompetente. Já são quatro anos e meio de reinado de Luís Inácio Lula da Silva, e seu maior mérito até agora é não ter feito nada que pudesse prejudicar seriamente a economia. E só. Pois ele não fez mais nada, e esta incompetência começa a gerar mortes, muitas mortes. O acidente de ontem com o Airbus da Tam em Congonhas é apenas mais um capítulo, o mais recém escrito deste governo que passará à história como o de maior inação do mundo.

Lula não fez nada até agora. Na economia, pelo menos, não fazer nada foi bom. Se ele tivesse feito algo, poderia até ser melhor. O mundo todo passa por um ótimo momento econômico, mas como seu governo não fez as Reformas Tributária, Trabalhista e da Previdência –ele que tinha todos os mensaleiros a seu favor, além do apoio irrestrito de grande parte da população – o Brasil cresce a taxas medíocres. Mas pelo menos não há crises. Ele não fez nada que pudesse alterar de maneira negativa a economia.

Em relação aos sucessivos escândalos, Lula também não faz nada. Ele se faz de sonso, diz que não é com ele, e vai tocando a vida. Não importa se foi o seu chefe da Casa Civil, o seu churrasqueiro, o seu irmão, o secretário geral do seu partido, o seu ministro, a maior estatal do País (cujos escândalos estão sendo investigados desde 2003, primeiro ano do reinado de Lula, como disse o próprio presidente da Petrobrás), todos os contratos irregulares da Infraero, enfim, em nenhum dos escândalos surgidos nos últimos tempos, houve uma ação de Lula. Ou melhor, houve. Ele tentou fazer algo para salvar Renan Calheiros. Grande ato, o partido da ética tentando salvar um suspeito, em vez de dizer “vamos investigar, se ele for inocente, não há o que temer”.

E agora, mais 188 mortes em um acidente aéreo. Menos de um ano atrás, outras 154 pessoas perderam a vida. E o que fez o governo entre um acidente e outro? Relaxou e gozou, disse que o caos aéreo era até bom, sinal de crescimento econômico, e que tudo não passava de uma desobediência dos controladores de vôo. Claro, o governo estava mais preocupado em por novos pisos e novas lojas em aeroportos, em superfaturar contratos de publicidade dentro dos aeroportos, em comprar um Airbus presidencial, em fretar jatos particulares ou da Força Aérea Brasileira para seus ministros não enfrentarem os vôos comerciais. Deixe que as pistas de pouso serão vistas em outro momento. A pergunta agora é: antes ou depois do próximo acidente.

Este governo é patético. É um acinte à população que não depende de nada dele. Pois hoje só o defende quem vive às suas custas, quem mama dele. São os dependentes do Bolsa Família – que tem seus méritos por reduzir a desigualdade, mas que não é o suficiente para fazer o país crescer -, são os milhares de funcionários públicos em cargos de comissão – ou seja, gente que tem medo de não passar em um concurso público, incompetentes em sua maioria que vivem apadrinhados por algum político -, são os que vivem da corrupção e desviam dinheiro da educação, da saúde, da segurança pública, do transporte, da habitação etc.

Para todos esses, “nunca antes na história deste país” se viveu tão bem. Nós, cidadãos que não dependemos desse governo, pelo contrário, pagamos cada vez mais impostos para sustentá-lo, temos medo de que a incompetência desse governo nos faça a próxima vítima.

15.6.07

Encruzilhada

Sonho recorrente, sonhar que estou em Londres, é meu último dia lá, o avião está para sair, eu estou atrasado e ainda não arrumei nada. Já sabia que o último dia chegaria, e mesmo assim deixei tudo para a última hora.

Demorou um tempo relativamente longo descobrir o que este sonho queria dizer. Ontem, meio insone, à quatro da manhã, descobri. O sonho quer dizer para mim que há um monte de oportunidades de fazer algo melhor (para mim, Londres era o intervalo em que eu estaria me ajeitando para poder voar mais alto) mas que eu não estou preparado ainda!

Engraçado ter esta noção bem clara do que o sonho quer dizer. Me tirou um pouco do sono, fiquei um pouco preocupado, mas o cansaço foi maior que a preocupação e dormi. Resta o pensamento: o que exatamente ainda não arrumei? O que falta para decolar de verade? Será que eu realmente quero o que estou buscando atualmente? Dúvidas, dúvidas...

12.6.07

"O que importa é estar vivo"

Quem estuda administração, marketing ou outras ciências relacionadas viu em algum momento a hierarquia das necessidades de Maslow. Nesta hierarquia, o pensador mostra que há uma escala hierárquica das necessidades que devem ser supridas pelo ser humano, e que o produto ou serviço que se vende deve ter esta escala em consideração na hora de fazer o seu marketing.

Pensei nesta pirâmide depois de uns dias remoendo a frase que escutei no ônibus. Era uma conversa entre duas mulheres, eu entre elas por conta do ônibus lotado, e uma falava que havia sido assaltada uns dias antes, que estava sem dinheiro até para pagar o ônibus, que deixou fiado a passagem daquele dia, mas que nada disso importava, pois o que importa mesmo é estar vivo.

Vem um pouco de sentimento de culpa por ter pensamentos e desejos tão distantes daqueles da maioria da população. Como disse a minha patroa (que felizmente sempre me dá uma perspectiva diferente das coisas), talvez para a maior parte das pessoas essa seja realmente a única coisa que importa. Sabe-se lá do que elas estão escapando por estarem vivas. Não há preocupações de outro nível que não a comida, o abrigo, a vestimenta, tudo sem luxo. Prato bom é prato cheio. Roupa boa é roupa limpa e sem furos. Casa boa é casa segura, à prova de ladrões e enchentes.

Mas será que a vida é só isso, estar vivo? E será que a vida é isso, ficar perseguindo resultados toda hora para mostrar para alguém e justificar seu trabalho, seu emprego? Onde fica a arte, cria-se para quê, para quem? Onde fica o ócio, pode ser criativo ou produtivo, tanto faz, mas o tempo que se passa com a cabeça leve, sem pensar em criar algo que dê retorno? Onde fica a poesia?

É um mundo ainda primitivo, a cada dia compreendo melhor o que os Espíritas dizem quando afirmam estarmos em um mundo no segundo degrau da escala evolucionária, que há muito chão pela frente. Não conseguimos ainda nos livrar de aparências, não conseguimos ainda focar no que é importante. Talvez um dia, daqui a algumas encarnações, consigamos. Ruim é quando se tem a consciência de que viver não é só estar vivo, mas que há pouco o que se pode fazer para mudar isso.

24.5.07

Mundo corporativo

O mundo corporativo é engraçado. Como em todos os lugares, estamos sujeitos a cometer erros, alguns até bem graves (leia-se bem, graves do ponto de vista financeiro, um erro que pode implicar na perda de clientes, ou na perda de receita, enfim, dinheiro dos acionistas que vai pelo ralo). Mas, longe de nos preocuparmos com este dinheiro, estamos preocupados é com a mijada que levaremos do chefe.

É isso mesmo, no fundo somos ainda crianças. Quando cometemos um erro, tentamos fazer com que ninguém descubra-o para continuarmos trabalhando em paz e tentar não repetir o erro. E, quem sabe, fazer com que a memória coletiva esqueça o erro cometido. A primeira reação ao errar é "putz, vou levar uma mijada do meu (da minha) chefe". É fatal, somos crianças ainda, não crescemos. Temos medo de ser descobertos, de levar uma carraspana, uma surra.

E li estes tempos que os grandes executivos na verdade são como crianças mimadas. As empresas dão tudo a eles, pela estrutura empresarial muitos dos erros acabam sendo deixados de lado e relevados, como se faz com toda criança mimada, e eles assumem responsabilidades parciais pelas coisas.

Acho que temos até mais medo da bronca do chefe que a demissão. Neste caso, a demissão só apavora se vier com bronca. Se não vier, ufa, pelo menos não fui desancado...

23.5.07

Um grande vazio

Está na capa da Carta Capital, um milhão de brasileiros tomam Prozac diariamente. Na Inglaterra, já há traços do anti-depressivo na água dos rios. É Prozac que sai no xixi dos ingleses. A fabricante do Prozac depende deste produto que representa 25% de suas receitas. O que há de errado no mundo?

A maior parte das pessoas vive existências sem sentido, em um mundo que não oferece grandes perspectivas de vida futura. Os objetivos são quase todos eles materiais: ter uma casa grande, ter um emprego bacana, que me pague bem, comprar um carro, viajar etc. Não há objetivos morais ou espirituais na maioria das pessoas, ainda que a maioria delas almeje uma vida calma em família e junto aos amigos. Algo se perdeu nessa trajetória.

A rotina é de desempenho, de busca incessante de lucro (e estou nessa também, aplico na bolsa de valores...), de conquistas. Parece linguagem de guerra. Conquistar mercados, aumentar o patrimônio, ter mais, mais, mais... E se você trabalha em uma grande empresa, você se sente um boi sendo sugado por parasitas que querem sempre mais, para quem nada nunca está bom o suficiente. Um mundo estranho. E isto que somos nós que fazemos este mundo. Que mundo...

A continuar do jeito que está, o mundo acaba logo e aí teremos um novo mundo. Vivemos um momento de mudanças, espera-se que para melhor. Mas acho que ainda temos um tanto de estrada até o fundo do poço antes de começarmos a subir.

21.5.07

Reflexões matinais

Houve uma época em que o rock, ou grande parte dele, era de protesto. Os tempos eram bicudos, os Estados Unidos estavam enfiados até o pescoço no Vietnã, uns dez anos depois a economia era desalentadora, não havia espaço para nada. No primeiro caso, o rock foi meio psicodélico e altamente político. No segundo, o rock foi pancada absoluta e gerou o punk, anarquista até a medula.
Mas aí vieram os anos 80, começou a década do individualismo e o protesto foi minguando. Hoje, nada parece mais anacrônico que uma banda começar a fazer música de protesto. Foi o que senti escutando o último disco do U2 (quer dizer, toda a discografia da banda, do primeiro álbum em 1980 até o último). O som continua bacana, mesmo as músicas antigas permanecem atuais, mas acaba provocando um certo desconforto escutar as canções que falam de Martin Luther King, do Domingo Sangrento na Irlanda, do Apartheid, enfim, de todas as bandeiras que eles desfraldaram.
A realidade hoje é a da música eletrônica. Uma batida hipnótica que faz as pessoas se mexerem, normalmente embaladas com alguma quantidade de psicotrópicos, sem letra alguma, uma ode ao hedonismo puro. Não é necessário pensar, aliás, quanto menos se pensar melhor. O volume da música já é feito para que não se converse, não se interaja com quem está ao redor. Tudo fica limitado às sensações, nada de reflexão.
E isto não quer dizer que o mundo não esteja precisando de alguém que proteste. A desigualdade diminui em todo o mundo, sim, mas a que preço? Destruiremos o planeta antes que toda a sua população tenha condições de viver com um mínimo de decência. Não sabemos direito porque fazemos tudo o que fazemos, mas continuamos fazendo porque não há alternativas. É uma vida sem sentido, sem objetivos, e parece que continuaremos assim por um bom tempo.
Agora, quem protestará? A última moda é ser emo, falar de idiotices fúteis e banais e ainda por cima vender milhares de discos. Quase quase tá na hora de uma segunda onda punk aparecer...

18.5.07

Voglio di più

Vita spericolata

Voglio uma vita maleducata
Di quelle vite fatte fatte così
Voglio uma vita, che se ne frega
Che se ne frega di tutto sì
Voglio uma vita che non è mai tardi
Di quelle que non dormi mai
Voglio uma vita di quelle che non si sa mai

E poi ci troveremo come le star
A bere del whisky al Roxy Bar
O forse non c’incontreremo mai
Ognuno a rincorrere i suoi guai
Ognuno col suo viaggio
Ognuno diverso
E ognuno in fondo perso
Dentro i cazzi suoi

Voglio una vita spericolata
Voglio una vita come quelle dei film
Voglio una vita esagerata
Voglio una vita come Steve McQueen
Voglio una vita che non é mai tardi
Di quelle che non dormi mai
Voglio una vita, la voglio piena di guai

E poi ci troveremo come le star
A bere del whisky al Roxy Bar
O forse non c’incontreremo mai
Ognuno a rincorrere i suoi guai
Ognuno col suo viaggio
Ognuno diverso
E ognuno in fondo perso
Dentro i cazzi suoi

(Vasco Rossi)

Ah, que vontade...

14.5.07

Coisas de outro tempo

Cortar o cabelo no Salão Oásis, com o seu Silvino, pode ser o melhor desopilador de fígado que pode existir. Em primeiro lugar, paga-se muito pouco pelo corte (R$ 5), o que, em minha cabeleira devastada pela calvície, é um preço justo. Em segundo lugar, e talvez até mais importante que o corte em si, é a conversa.

Na última vez em que lá estive, escutei duas coisas. Primeiro, que o Paranavaí sagrou-se "campeon
" (é isso aí, campeon, nada de campeão) do Campeonato Paranaense de Futebol. Putz, minha avó não consegue falar o til, escutar o seu Silvino, com cara de bom vovô, falando isto, me lembra um avô de quem não tenho recordações.

A segunda, melhor ainda, é quando se falava da ganância infinita dos seres humanos, que sempre querem mais, mais, mais. Ele comentava dos ricaços que ganhavam milhões de reais, que não têm onde enfiar grana, e falava das possibilidades destes caras em conseguir mulheres. "Eles se quiserem chamar a Xuxa, chamam. Eles se quiserem chamar uma francesa, eles chamam!" É uma conversa de alguém que ainda acha as prostitutas francesas o máximo do luxo neste ramo de atividade.

Só gostaria que meu cabelo crescesse mais rápido...

Obs.: o fato de a mesma frase mencionar a Xuxa e as prostitutas francesas não implica necessariamente que esta siga a profissão daquelas.

23.4.07

100 posts

Eu ia escrever algo completamente diferente do que estou escrevendo, ainda que não tivesse idéia alguma do que escrever, mas quando vi que este seria o centésimo post, então resolvi falar sobre ele.

Não que eu esteja contando, mas como o programa conta para você e te avisa que há 99 posts antes desse, então, ficamos contentes que chegamos a 100 de alguma coisa. Cem é um número redondo, cem é mágico, cem é simbólico, é uma centena de coisas que você escreveu e, mesmo que ninguém tenha lido, está lá, registrado.

Uma centena de dias em que você parou alguns minutos para ordenar algumas idéias. Cem vezes em que havia algo a ser dito, ainda que completamente irrelevante na maioria dos casos, mas que foram ditas. Talvez esta seja a mágica da Internet, ter um espaço para falar qualquer idiotice ou sandice sem preocupações (desde que não sejam calúnias, injúrias e difamações) e eventualmente ter leitores para isto.

É bacana, foram cem. Espero ser um pouco mais constante para que os próximos cem não demorem tanto a mais. Afinal, é um dos objetivos depender de minhas mãos apenas (cozinhando ou escrevendo ou ambos, não sei ainda). E para qualquer um desses, é preciso treinar. (Espero que o peixe de ontem tenha sido bom...). A bien tôt.

28.3.07

Brutalidade

Embrutece-se quando o trabalho não te dá sentido algum que não o de ser a garantia de receitas no fim do mês.

Embrutece-se quando o cotidiano não te dá esperanças de que amanhã será melhor, por mínima que seja a melhoria.

Embrutece-se quando se esquece a gentileza em alguma gaveta e se sai de casa distribuindo patadas e grosserias por qualquer coisa, mesmo quando não há motivo para tal.

Embrutece-se quando esquecemos que a vida não é apenas esta, que há muito mais coisas para serem vividas aqui e em outras encarnações, e quando esquecemos isto, tornamo-nos apenas as bestas que deveríamos já deixar de ser.

14.3.07

Bolsa de valores para idiotas

Vai aqui um pequeno manual para entrar na Bolsa de Valores, caso você não saiba nada sobre ela:

1 - Se você é um investidor pequeno, você continuará pequeno.

2 - Se você nunca leu nada sobre economia, é quase certo que você perderá muito mais dinheiro que ganhará.

3 - Se você acha que vai ficar rico de uma hora para outra sem muito esforço, melhor jogar na Mega-Sena.

4 - E lembre-se, você não controla absolutamente nada, há gente que estuda isto há anos para fazer com que seus clientes miliardários tenham lucros em cima de gente como você, que não sabe nada da bolsa.

Portanto, desista. Vale mais a pena.

13.3.07

Barbárie II

A barbárie continua. Os bandidos agora jogam crianças pela janela do carro em fuga. Um pedreiro bêbado estupra uma criança de dois anos na pia batismal de uma igreja evangélica e a mata. A cada dia há uma novidade escabrosa.

Mas acho que o pior sinal de barbárie vem das pessoas ditas civilizadas, educadas e cultas, que diante de todos estes sinais proclamam que a única solução é a pena de morte. São pessoas que dizem que prezam a justiça, que praticam a caridade, "mas contra estes monstros só matando mesmo, vê se um cara desses merece uma chance de se regenear!!", este é o lema deles. E muitos dos que defendem a pena de morte são contra o aborto, em uma incongruência lamentável.

Vivemos em uma época doentia, em que a brutalidade é a regra, em todos os campos da vida. O ser humano anda brutal nos negócios, no mercado de trabalho (todos são meus concorrentes), nas relações sentimentais (um quer ser o dominador do outro), no sexo (fetiches bizarros com toques de sadismo e masoquismo são comuns), no lazer, enfim, tudo. Somos seres brutos, retrocedidos a um estado que muitos pensavam ter acabado quando saímos das cavernas e montamos as primeiras cabanas, mas que dá mostras diárias de que o selvagem de lá trás anda bem vivinho dentro da gente.

7.3.07

Cultura inútil

Tem um artigo na Carta Capital desta semana que é, desculpem-me pelo trocadilho, capital. Fala sobre a cultura das celebridades e em como a não cultura é o aspecto dominante da cultura atual.
Por não cultura entenda-se a discussão midiática a respeito do nada, o culto às celebridades que nada têm a acrescentar às pessoas. Os estudiosos dissem que as pessoas perderam a capacidade de imaginar a própria vida e por isso ficam se "deleitando" com a vida dos outros.
As coisas tão pretas. Tá na hora de uma reviravolta na humanidade. Ou acabaremos todos em um grande Big Brother. Ablué!!!

26.2.07

Pequenas boas notícias

Vendo o jornal no fim de semana, cheguei a uma conclusão (que pode ser revista a qualquer momento, diga-se de passagem). Para mim, o Brasil só vai pra frente devido a uma grande série de pequenas boas notícias.

Digo isto porque há sempre uma avalanche de más notícias em nosso País. A criminalidade correndo solta, a impunidade reinando desde os grandes criminosos, muitas vezes estes travestidos de senadores, deputados e outros "dotôres da lei", a corrupção que grassa no Poder Público e rouba dinheiro que deveria ser aplicado em Saúde e Educação, uma legislação trabalhista, previdenciária e tributária caindo de podre, enfim, notícia ruim é o que não falta.

Mas são as notícias pequenas que trazem alento. Saber que o BC tá comprando dólar adoidado para segurar a situação significa que os juros vão baixar rapidinho, ou o País não vai exportar nem mulata daqui a pouco. Saber que o volume de dinheiro captado na Bovespa pelas empresas já é superior ao captado em bancos. Ver que há cidades em que projetos simples conseguem erradicar o analfabetismo. Saber que finalmente as empresas de Saneamento estão notificando os vagabundos que jogam o esgoto em fossas quando têm a rede coletora em frente a casa e não fizeram a ligação por "não saber que tinha" (mas reclamaram pra caramba quando se cavava o buraco para por o quê?, tatu em frente a casa?). Que o Instituto de Neurociências de Natal já tá funcionando e bem.

Claro, estas notícias não dão manchete pois não chamam a atenção. No news is good news, bad news is good saling news, good news isn't news, modificando um pouco o ditado que faz jornais no mundo todo venderem. Mas temos que ir pescando estas notícias para acreditar que este País enfim deixará de ser do futuro para ser do presente.

Oxalá meu pai!!

16.2.07

Armas e munições

Dia destes vi uma moça ainda mais feia que a Tati Quebra Barraco.

Ela levava uma camiseta onde estava escrito "Exército de Cristo".

Meu, nesse exército ela é ou um canhão ou um obus.

Deus me livre!!

13.2.07

Nacionalistas ou idiotas?

O mundo fica a cada dia menor por conta da Internet. Não importa onde você esteja, se você tiver um computador, você está em contato com o mundo. Você pode comprar livros em nepalês, filmes em turcomeno, baixar músicas em algum dialeto que está por desaparecer e, principalmente, trabalhar para qualquer empresa do mundo que exija de você teu capital intelectual, e não tua presença física.

Mas há um bando de gente que não entendeu isso ainda. Essas pessoas tentam se intitular de nacionalistas, mas na verdade são apenas um bando de idiotas. Idiotas porque normalmente são pessoas que não entenderam que seus países só prosperarão se aceitarem a vinda de estrangeiros.

A Europa está a cada dia mais velha. Se eles não "importarem" trabalhadores, não haverá ninguém para pagar a conta das aposentadorias. Nos Estados Unidos, se mandarem embora todos os hispânicos que lá estão, os restaurantes fecham ou vendem comida congelada esquentada no microondas em pratos de plástico e a indústria da construção civil deixa de existir. Simples assim.

Claro, o tema me é mais caro quando tenho um irmão na Alemanha. Lá, a gentileza e a cortesia germânicas, propaladas aos quatro ventos no mundo inteiro, já o fizeram sentir que a vida não será bolinho. Afinal, como um brasileiro pode não ser negro, não saber sambar e ainda por cima estar fazendo doutorado!? Não, não é possível. São idiotas assim que fazem o mundo ficar parado e não evoluir. Que fazem as pessoas manterem fronteiras estúpidas que só aprisionam, principalmente porque as fronteiras estão desenhadas na cabeça delas, e elas não conseguem superá-las.

Tristes tempos...

9.2.07

Céus de chumbo

Olho para fora da janela e não vejo o céu. Há uma manta espessa de nuves que, neste fim de tarde, oscila entre o cinza claro e o escuro. As nuvens correm no céu, sinal de que há vento. Fará sol este fim de semana? Choverá horrores?

Viver um fim de tarde de sexta-feira com tempo feio é algo melancólico. Você ainda está no trabalho, olhando para fora, esperando uma última mensagem chegar, fechando o último negócio, querendo até ir embora, mas vendo o clima lá fora e pensando que não há tanta motivação para sair. Também não há muita para ficar, mas você fica.

Assim, termina a semana de trabalho, longuíssima semana de trabalho. Vamos esperar que as nuvens vão embora para o sol brilhar sobre nossas cabeças.

Oxalá meu pai!!!

8.2.07

Barbárie

Tem vezes que não dá nem para chegar perto do noticiário. Os crimes hediondos se multiplicam de uma maneira tal que é de duvidar que a humanidade realmente esteja progredindo.

(Me reservo o direito de não dizer que crimes são pois passo mal.)

No entanto, já estava previsto que a humanidade passaria por momentos bem ruins, que esta era é uma das últimas chances neste plano de alguns espíritos recuperarem seus débitos. Infelizmente, parece que eles não estão aproveitando esta oportunidade.

E aí, resta aos cidadãos de bens ou calar ou tentar mudar algo. Tá difícil, mas não podemos desistir nunca. Fé e pé na tábua.

6.2.07

Futebol?

No instante em que escrevo este post, joga Brasil e Portugal. Tem gente que nem soube que haveria este jogo. Mas também, isto não faz diferença alguma.

O futebol brasileiro morre a cada dia. Não há quase nenhum (ou nenhum? Tô com preguiça de procurar a informação) jogador que atue no Brasil. Não há quase nenhum vínculo dos jogadores com os torcedores do País, nem com o País, para ser mais preciso.

Nossos dirigentes são patéticos, não há praticamente nenhum dirigente que pense o futebol como ele é hoje, uma máquina de fazer dinheiro. Olham para seus clubes como paróquias onde eles ganham alguns votos e algum ganha pão. Os estádios são ridículos, os campeonatos a cada ano ficam piores, e nem a Globo é capaz de salvá-los.

Por isso, ver ou não o jogo é indiferente. Não comove nem mexe com ninguém. Seria melhor pararmos com todo o futebol no Brasil, manter apenas os amadores jogando, e ver se acontece uma evolução darwiniana no meio. Quem sabe daqui a cinqüenta mil anos a coisa melhora...

5.2.07

O que fazer

As notícias são alarmantes. Como escrevi no post anterior, o planeta vai ferver, e mesmo que comecemos a fazer algo agora, durante 100 anos a Terra vai ficar mais quente do que deveria.

E o que é possível fazer nesta situação? Bom, ontem o Estado de S. Paulo trouxe uma matéria bacana de que é possível começar a fazer algo já: plantar árvores.

Árvores, ou como dizem os cientistas, a biomassa, são na prática prisões de carbono. Elas retém carbono que é liberado na atmosfera quando elas são queimadas. Elas também tem a função de filtro, ao fazer a troca de gás carbônico e oxigênio (mas veja bem, elas consomem quase tanto oxigênio quanto consomem. A Amazônia não é o pulmão do mundo, mas sim o seu ventilador).

O artigo diz que cada um pode calcular o seu gasto, o próprio impacto na atmosfera, e sair plantando árvores por aí. E finalmente começa-se a falar de recuperar as matas na beira dos rios, estes que concretamos para construir cidades sobre ou que aplainamos para meter uma plantação de soja.

Será que podemos vislumbrar um planeta verde para os próximos 100 anos?

2.2.07

Ferveu!!!

Não há mais o que dizer o contrário. A Terra ferveu!!! Os oceanos sobem, os ventos estão mais fortes, as chances de desastres meteorológicos são maiores, enfim, estamos em uma sinuca de bico.

Claro que virão alguns tentando dizer que não é bem assim. Estes são aqueles que vivem de indústrias poluidoras, que não se preocupam com o legado que deixarão para seus filhos e netos e principalmente aqueles que querem o lucro a todo custo, agora e já.

É trágico e preocupante o que fazemos com o mundo, mas pode ser o momento de refletirmos sobre o que viemos fazer aqui e qual é a nossa missão neste planeta. Se entendermos que estamos aqui para melhorar, pode ser que haja uma solução. Agora, se acharmos que para o planeta não acabar é necessário consumir "verde", mas consumir, lascou de vez.

Oremos.

1.2.07

Velhos Amigos

Dois dias, dois reencontros com o passado. Um velho amigo dos tempos do escotismo agora é o contador da minha esposa. Outro amigo dos tempos da faculdade (a segunda) vai casar.

Durante a vida, nos aproximamos e nos afastamos de um monte de gente. De algumas pessoas o afastamento é praticamente inevitável. Mudança de cidade, de país, de estilos de vida, podem afastar-nos dos antigos contatos (podem, mas não acontece, viu, Negrón!!).

De outras, não há razão alguma para nos afastarmos. Mesmo que elas sejam muito legais, bacanas, por alguma razão o laço próximo vai ficando mais distante, a vontade de ligar vai diminuindo e, mesmo que haja aquela boa lembrança e sensação de ser uma pessoa bacana e querida, a gente não liga. Fica meio sem graça, vai dizer o quê?, afinal, tanto tempo se passou, será que ela ainda se lembra de mim. E assim, vamos deixando a reaproximação para um depois que nunca chega.

São caminhos estranhos os que trilhamos ao longo desta vida. Há um porquê de termos encontrado todas as pessoas que encontramos. Por que escolhemos algumas apenas para nos acompanharem por toda a vida, não sei. Mas ainda bem que elas estão conosco.

12.1.07

Loucura

Deve ser um sinal dos tempos, ou do fim deles. A cada dia, as ruas de Curitiba ganham um novo personagem maluco. Mas maluco de pedra, não apenas um carinha engraçadinho querendo aparecer. Gente doida mesmo, além dos limites da imaginação.

Gente que fala sozinha, gente que anda gesticulando algo como "vamos, vamos, depressa" no meio da rua, gente que para e olha para cima sem ver nada, ou melhor, eles vêem alguma coisa, nós é que não, gente que está em outro mundo, literalmente.

Quando digo que é um sinal dos tempos, é que a maior parte de nós já é completamente maluca. Trabalhamos pelo menos oito horas por dia em ambientes fechados à frente de um computador. Se vacilar, nosso único contato com outros seres humanos é através do computador. Vivemos a maior parte do tempo desperto no trabalho, deixando à família as sobras deste tempo. Vivemos em cidades grandes, poluídas, desorganizadas. Aceitamos um governo medíocre como o nosso passivamente, como se fosse algo divino ao qual não temos saída.

A única coisa é que ainda são poucos os que assumem a sua loucura e saem por aí falando com personagens invisíveis (ou não?) e dizendo o que lhes dá na telha.

Às vezes dá uma vontadinha...

2.1.07

Paradoxo

Enforcaram o Saddam Hussein. Fizeram até um pretenso julgamento para condená-lo, como se os americanos não estivessem loucos para fazer isto desde o dia em que o capturaram. Mas ficaram com ele até um tribunal composto sabe-se lá por quem julgasse-o culpado pelo que fez. É culpado sim, mas como sou contra a pena de morte em quaisquer circunstâncias, é uma barbárie.

E daí ficam reclamando que o vídeo do enforcamento vazou na rede!! Como se isto não fosse acontecer, todo mundo tem um celular com câmera, qualquer pisada na bola vai pra rede. E uma execução destas, como não iria?!

Ridículo é reclamar que este vídeo foi pro ar, quando há coisas bem mais graves acontecendo lá mesmo. São mais de três mil soldados americanos mortos, um sem número de vítimas iraquianas, quantidade que aumenta a cada dia por conta de carros-bomba, um monte de acusações de violações dos direitos humanos por parte dos soldados americanos, enfim, a lista é longa.

Mas o lance é bancar o puritano e condenar o vazamento do vídeo da forca do Saddam. Patético, para dizer o mínimo. É como ter uma casa à beira da ruína e reclamar do brilho das maçanetas. Tudo deve ser trocado, mas prioridade nas coisas, por favor!

26.12.06

Natalino

Ir trabalhar um dia após o Natal é um tanto quanto deprimente. Você vê na cara das pessoas que praticamente todos estão cumprindo tabela, que os cinco dias que faltam até o próximo ano serão duros de lascar, lentos e modorrentos, sem nada interessante.

Talvez as pessoas estejam desanimadas pois passaram uma noite de Natal fantástica, com a presença da família. Talvez a presença da família tenha tornado a noite terrível, afinal há famílias para todos os gostos. Pode ser que todos estejam pensando no quanto gastaram em presentes e que com toda a certeza foi muito menos do que receberam, ou seja, saldo negativo.

Quem sabe tenham se lembrado de quem não pode estar presente ao vivo e em cores na festa. Ou ainda, podem ter lembrando com um sorriso de pena daqueles que fazem aniversário no dia 24 ou 25 de dezembro (sim, pior que fazer aniversário no Dia das Crianças é fazer no Natal). Não se sabe.

É uma cara estranha, uma época meio estranha. Logo virá a euforia obrigatória do Ano Novo, em que todos temos a obrigação de ser felizes para toda a eternidade e tomar decisões duradouras sobre a nossa saúde e nossa atitude. E, claro, o dia que é realmente o mais deprê do ano, o 2 de Janeiro. Afinal, só ali você vê que virou o ano e que todas as esperanças de mudanças são apenas isto, mudanças.

18.12.06

Where is my mind?

Ecos da adolescência

Festa de fim de ano da pós-graduação. Todos profissionais "de mercado", como se diz no jargão corporativo, ou seja, gente pretensamente séria, de idade.

Aparece um Papai Noel. Todo mundo bate palmas, ri, reclama o presente. E o indivíduo aqui? Ajeita o pulmão e grita: "Papai Noel, velho batuta!!" Todo mundo ri.

A referência são os Garotos Podres: "Papai Noel, Velho batuta, rejeita os miseráveis. Eu quero matá-lo, aquele porco capitalista. Presenteia os ricos, cospe nos pobres..."

Nada mal. Melhor não matar de todo o adolescente dentro de nós. É uma garantia de sanidade mental.

14.12.06

Habemus reforma?

Caro Bento,

Tudo bem? Muito trabalho aí para convencer que um intelectual pode substituir um popular?
Imagino que sim. Pois olha, tive uma idéia que pode te colocar na história da humanidade, independente de você ser popular ou não.

É o seguinte. Todo ano a maior parte do mundo ocidental que segue o calendário que o teu antecessor, o Gregório, fez fica estressado em Dezembro. É uma festa depois da outra, a correria para comprar presentes de Natal, as firmas pressionando para fechar o balanço, concluir o planejamento do ano seguinte, renovar contratos etc. Meu, Dezembro tá curto demais!!

Minha sugestão é que você ordene uma reforma no calendário. Tira um dia de cada mês de Janeiro a Novembro e transfere para Dezembro. Duvido que os Júlios, Augustos e os antigos deuses fiquem muito descontentes. Dezembro teria então 42 dias, seis semanas cheias para fazer tudo o que se faz no fim do ano. De quebra, com o tempo, as pessoas poderiam se dedicar ao verdadeiro Natal, o que não acontece faz tempo. Já pensou, "Calendário Bento"? Soa bem até, calendário abençoado, calendário bendito, você escolhe, afinal, você é o representante do Homem por aqui.

Bento, é isso, pensa com carinho na proposta. No mínimo, se ela durar uns 500 anos que nem a do teu sucessor, teu nome passa para a história como um cara bacana, em vez de um teólogo considerado reacionário por muitos.

Abraços,
Adriano

8.12.06

Epifania amorosa

Esta manhã vi um casal de mendigos. Deve haver vários por aí, mas estes dois estão na casa dos 50 anos. Talvez 40, visto que a vida nas ruas deve maltratá-los bastante. Estavam sentados em um banco do calçadão, juntinhos, e davam risada. Vi ela colocar a cabeça no ombro dele, como qualquer casal do mundo faz.

E ali vi que em qualquer situação é sempre possível ver um lado bom. Que o amor (ou carinho ou afeto, sei lá, não creio que eles estejam juntos por interesse) ainda pode existir mesmo nas condições mais adversas.

E que um ombro é sempre um ótimo travesseiro.

22.11.06

Homo politicus

Sabe-se lá se este é o latim para homem político. Bom, isto não importa. O que importa é que esta eleição mostrou uma coisa, e somente uma coisa a todo este país: que estamos criando uma nação de imbecis que tem como maior objeto de desejo um emprego público, nem que este implique em uma fraude aqui e outra ali.

Eu não votei no Lula por duas razões principais. Uma porque eu acho que ele tem uma vontade desgraçada de virar um ditador, principalmente no que diz respeito à imprensa. Afinal, antes de ser presidente ele presidia o PT, e ali quem mandava no jornal e quem dizia o que saia no jornal era ele. A imprensa não brigou com o PT, é que o PT não conseguia controlar a imprensa. Só isso.

A segunda é muito mais forte que a primeira, apesar de eu ser jornalista. É que o Lula só fez aumentar o número de funcionários públicos comissionados, aqueles que são contratados ou porque militam no partido do presidente ou porque são primos do vizinho do cachorro do amigo do síndico do governador. E se há alguém que personifica a vagabundagem neste país (e em muitos outros), este alguém é o funcionário público.

E antes que algum deles me xingue, eu bem que gostaria que o funcionalismo público ganhasse bem. Mas que fossem contratadas pessoas honestas, que sabem de suas responsabilidades, que tenham os mesmos direitos que os outros trabalhadores e que principalmente respeitem o seu empregador, ou seja, o povo brasileiro. Este povo que entra comissionado, tenha dó, não merece um centavo dos meus impostos.

Mas tudo isso é pregar no vazio. Então, para deixar registrado na minha história pessoal (pois tenho quase certeza que ninguém lê o que escrevo), decidi entrar em um partido político. Assim que tiver tempo, vou ler os programas e tentar descobrir um partido que tenha um projeto de país, não um projeto de poder, como quase todos os que têm por aí. Se não descobrir, vou achar o partido que tem mais vontade de ter um projeto de país, e ajudar a construí-lo.

Reclamar é fácil, fazer é que são elas. E cansei de reclamar. Agora é agir e mandar este bando de ladrões para a prisão. E antes que alguém me acuse de anti-PT ou coisa que o valha, podemos começar a limpa lá trás, nos tempos do Figueiredo. Toda aquela galera ficou rica e ninguém disse nada ainda. Menos mal que acredito em justiça divina, pois a terrestre, com este judiciário que temos, não dá muita esperança...

20.11.06

Há que ter fé

Não há dificuldade que não possa ser superada. Pode ser uma questão de fé ou de posicionamento perante a vida. Pode ser necessidade. Pode ser ambos. Mas toda dificuldade pode ser superada.

Estes dias vi um jardineiro perneta. Não sei como ele perdeu a perna, apenas o vi trabalhando, empunhando uma roçadeira a motor. Uma perna natural, duas muletas e a roçadeira fazendo o seu trabalho no terreno baldio.

O jardineiro não tem uma perna. Eu passei de relance e rapidamente, sem tempo para observá-lo, nem um lugar apropriado para tanto. Provavelmente ele terminará de roçar aquele terreno e irá para um próximo serviço. Possivelmente ao final do dia ele irá para um bar tomar uma para agradecer o dia ou amaldiçoar o dia em que perdeu a perna. Talvez ele tenha uma família. Talvez não. Mas ele tem vontade de fazer algo. E roça terrenos.

Será que ele lamenta as oportunidades perdidas devido à perna perdida? Será que ele leva uma vida amarga ou considera o que aconteceu como algo que devia acontecer? Deve-se perder a vida pois se perdeu uma perna, ou um braço, ou a vista ou a audição?

Bom, ele pode ter perdido algo, mas não perdeu tudo, pois continua trabalhando. Pode ser por necessidade, por fé ou por posicionamento perante a vida. Ele ainda tem algo, e não se deixou abater por perder um pedaço de si. Um exemplo.

17.11.06

Em busca de significado

Há uma moda atualmente, a construção de espaços gourmet em casa. Na prática, uma cozinha chique que também é bonita de se ver e se torna um espaço de estar. Ontem ajudei uma pós-graduanda de arquitetura dando uma entrevista. O que me deu autoridade para falar sobre o tema? Eu gosto de cozinhar.

E lá pelas tantas veio a teoria. Os espaços gourmet estão na moda pois o trabalho da maior parte das pessoas é vazio de significado. A pessoa não cria mais no trabalho, ela apenas executa um monte de tarefas previamente criadas, preenche formulários, manda mails, pode até decidir, mas não cria algo novo, não há um produto material finalizado.

Já na cozinha a pessoa é realmente responsável pelo produto final. A pessoa vai ao mercado comprar os ingredientes (ou abre as prateleiras para pegar o que precisa), prepara-os, cozinha-os, arruma-os nas bandejas e pratos de serviço e os leva a mesa com um sorriso nos lábios. Este trabalho lhe dá satisfação, é o prazer de criar alguma coisa e mostrar aos outros, "olha, este eu tenho certeza que fui eu quem fez".

Não sei se um trabalho mais significativo para as pessoas reduziria a moda dos espaços gourmet. Pode ser que não, pois a pessoa gostaria de fazer cada vez mais, ela teria cada vez mais obras a mostrar. Mas por enquanto vou com a teoria de que o espaço gourmet devolve ao homem a sua condição de homo faber, que lhe foi tolhida na sociedade atual.

1.9.06

Chove chuva...

Chove sem parar em Curitiba há dois dias. Não seria uma manchete significativa, já que esta cidade presenciou muitos dias de chuva forte no passado. Mas este ano, com a seca, dois dias de chuva viram notícia e manchete.

O tempo mudou, agora faz frio e calor um dia depois do outro. Já não se vê mais geada pelos gramados da cidade no inverno, pois não faz frio o suficiente para gear. No verão usamos casacos, pois o tempo mudou tanto que pode haver uma frente fria daquelas no Natal, a ponto de começarmos a acreditar que um dia nevará por estas bandas na hora de receber o bom velhinho. Aliás, neve em Julho nunca mais, só aquela de 1975 (a que divide as espécies de curitibanos). Ou então na próxima era glacial.

O tempo mudou, e fomos nós que provocamos a mudança. Poluição, hidrelétricas enormes com lagos gigantescos que alteram o ciclo de chuvas e ventos de vastas regiões, concreto para tudo quanto é lado, desmatamento, agricultura intensiva e extensiva ao mesmo tempo, pasto, enfim, uma renca de coisas.

A grande questão hoje em dia não é ser anti-capitalista por ser socialista. Deveríamos ser anti-capitalistas para ser humanistas. Afinal, se continuarmos nessa balada de consumo, não sobrará planeta algum para quem vier depois de nós. Só por isso deveríamos tentar mudar o que aí está. O que viria em seu lugar não se sabe e não existe ainda, mas há que se tentar.

31.8.06

A cada novo começo

Existem "n" recomeços para a vida. É a ginástica sempre adiada para finalmente entrar em forma. É o regime que a cada segunda está de novo em voga. É a promessa de nunca mais beber tanto. Enfim, há sempre uma nova oportunidade para começar de novo.

Eu desisti de começar de novo, e agora quero é melhorar o que já foi começado antes. Pois a cada novo começo, já temos conosco o fracasso dos começos anteriores e assim não conseguimos escapar do ciclo vicioso em que nós mesmos nos metemos.

Chega de novos começos, quero é os velhos dando certo!

9.6.06

Dia estranho

Primeiro você acorda de manhã meio estranho. Tua mulher não está ao teu lado, apesar de ela estar ali quando você chegou à cama. Ou seja, você a acordou no meio da noite com teu ronco.
Só que você roncou quando você fez uma cirurgia para parar de roncar. Você sabe que ainda está se recuperando dela, que além disso você está resfriado, mas ainda assim não consegue não se sentir chateado pelo que aconteceu.
Depois você corre como um camelo para atender filho, mãe, mulher, trabalho e, se der tempo, você. Você no fim da lista, pois há prioridades, horários, prazos, entregas etc. Nada pode ser esquecido, a não ser você.
E quando você chega ao trabalho, tudo vai meio pelo avesso, meio atrapalhado, sem um rumo tranqüilo. É um prazo que antecipam, um projeto que mudam depois que já tinha sido aprovado, novas necessidades que há meia hora não existiam, e ainda assim continua-se a trabalhar como um condenado para tentar aprovar alguma coisa decente.
O nariz continua meio trancado, o trabalho tá quase no fim, a Copa do Mundo começou e eu não consegui ver nenhum gol ainda, tudo meio estranho. Tomara que à hora em que eu chegar a casa o desarranjo já tenha passado.

8.5.06

Conseguirão?

Os dirigentes chineses tentam bloquear o acesso livre à internet. O povo começa a se revoltar (veja aqui), ainda que apenas virtualmente. Será que os chineses, que copiaram tudo o que podia ser copiado no mundo e agora começa a criar também, não acharão jeitos e maneiras de escapar ao controle do Grande Irmão de olhos puxados e romper todas as barreiras para o acesso livre? E são 1,2 bilhão de pessoas, por enquanto. Por quanto tempo esta gente permanecerá proibida de dizer o que pensa?

Vivemos momentos de virada histórica em diversos setores da humanidade. A hora em que a China não tiver mais censura, veremos o que será. Acho que vai ser no mínimo divertido.

15.3.06

Mijada

Neste mundo em que todos cobram algo de alguém, levar uma mijada de uma guardadora de carros é dose. No entanto, foi o que aconteceu quinta passada.
Fui ao bar/distribuidora comprar umas birras artesanais para dar de presente a um colega. Em frente ao bar há um laboratório médico com um estacionamento que à noite pode ser usado pelos bebedores.
Entrei no estacionamento e notei uma figura mais parecida com um espantalho à entrada do restaurante: uma camiseta quatro números maior que ela, cabelos brancos à moda vassoura piaçava, cobertos por um boné azul, uma calça de moletom e chinelo de dedo. Vale dizer que um mês antes não havia ninguém "guardando" carros ali. Bom, encostei o carro, e a senhora veio com a frase tradicional "Dá uma olhadinha ali, chefe?", frase que omite o "vou" da frente, deixando o sujeito em dúvida sobre quem vai dar uma olhadinha.
Entrei no bar, levei uns cinco minutos ali, e retornei ao carro com duas caixinhas de cerveja nas mãos. Deixei as cervejas no carro e ia entrando no carro quando falei à senhora que não tinha nenhum centavo no bolso, o que era verdade. Ela então me perguntou, olhando bem séria: "E por quê?" Respondi que não tinha pois o bar aceitava cartões de crédito, e plástico podem roubar que não tem tanto problema, só encheção de saco para evitar prejuízo.
Foi o que bastou. "Ô piazão, você não sabe que tem alguém aqui pra guardar teu carro? E que esse alguém tá esperando uma moeda? Pois você acha que eu tô aqui pra fazer papel de palhaço? Pois você saiba que sempre, mas sempre, deve sair de casa com uma moedinha no carro, pois sempre vai ter alguém cuidando do carro, e este alguém merece." Bom, a arenga foi por aí. E eu querendo voltar para casa pra tomar uma birra gelada com a patroa e ela me prendendo.
Sei que no fim gritei que na próxima traria em dobro a gorjeta dela, e ela parou. Aproveitei a pausa e fui. E aí começou a segunda parte. Quando fiz a manobra e me preparei para sair, ela disse "bene, bene", em italiano. Aí comecei a falar em italiano, e não é que a senhorinha espantalho falava italiano? Foi um va bene para cá, um arrivederci para lá, stami bene e outros.
Onde mais podem acontecer lances como esse? Qual outro país tem esta capacidade para a graça na desgraça? Bendito país, pena que o povo ainda faz por merecê-lo...

7.3.06

Dialética

Ontem dediquei-me a ler a entrevista que o Lula deu à The Economist. Meu, quando você consegue ler um pouco além da entrelinha, você percebe que está sendo enganado pelo entrevistado desde a primeira resposta.
Por exemplo, Lula, ao ser perguntado sobre a crise na Previdência Social, retrucou que todos os países do mundo, mesmo os ricos, têm problemas com a Previdência Social. Tá, e daí? O cara perguntou sobre o Brasil, e não sobre o resto do mundo.
Outro exemplo. O repórter tava fazendo uma pergunta sobre o dinheiro investido em educação, e o Lula fala de uma Olimpíada de Matemática que junto 10,5 milhões de alunos, em que se encontraram 30 mil gênios no segmento. E a ênfase foi no ganhador, um aluno cego, mudo e paraplégico que começou a estudar aos 10 anos. Fantástico, o governo já sabe achar os gênios. E o que fazer para que esses gênios produzam e explorem todo o seu potencial? Isso, que é o mais importante, o Lula não disse nada.
Estes são exemplos concretos. A sutileza está no responder as perguntas com outras perguntas, em responder desviando o assunto de maneira sutil de modo que a pergunta mesmo fique sem resposta, mas que a platéia acredite que foi respondida.
Me lembro sempre de um livreto do Schopenhauer, 38 estratagemas para se obter a razão, que achei uma vez em edição econômica, achei que era inteligente o suficiente para entender um filósofo alemão, e comprei. Ali ele dá os tantos estratagemas para que você sempre vença uma discussão, pois ele diz que, se houvesse uma única verdade, não haveria discussões. Na prática, você convence o outro de que a sua verdade é melhor que a dele.
Só fico triste porque este presidente será reeleito pela incompetência dos adversários, e não pelos seus méritos (que são poucos, bem poucos...).