Pesquisa do Palavrório

2.9.10

Medo inconsciente

Dos sete aos 17 anos estudei em um colégio de padres, um colégio jesuíta. Na época da formação política de todos os jovens, entre os 15 e os 17 anos, tive um professor de História que havia sido torturado pelos militares que governaram o país entre 1964 e 1985. Ele tinha uma raiva muito grande dos militares e da direita como um todo, e tinha toda a razão do mundo para ter essa raiva. Deu que eu fiquei com um medo pavoroso de ditaduras, mesmo aquelas que se proclamam benignas.
Depois de um bom tempo me achando socialista (mas que jovem não o é?), agora sou liberal. Quero cada vez menos Estado, pois ele é uma instituição que premia o incompetente. A teoria marxista é muito bonita ao dizer que quem produz mais compensa aquele que produz menos. Mas quando o que produz mais percebe que ganha o mesmo que aquele que produz menos, o que acontece? Ele passa a produzir menos, pois não é recompensado. Somos ainda um pouco cachorros, queremos recompensa.
Ser liberal não significa não reconhecer avanços e progressos de regimes socialistas. A alfabetização e a saúde em Cuba, por exemplo, deveriam ser copiadas em todo o mundo. O Estado social sueco, norueguês e dinarmarquês também. Até a distribuição de renda do Bolsa Família tem seus méritos, ainda que do jeito que é hoje esteja criando uma geração de dependentes das tetas estatais, tetas estas que são nutridas pelos impostos exagerados pagos por um pedaço da população. E não, não é a classe média atual, mas sim a classe pobre a que paga mais impostos proporcionalmente à sua renda. Pode fazer as contas, não sou eu quem diz isso.
Mas ser liberal significa ir contra toda e qualquer forma de uso do Estado como instrumento de pressão e coerção a favor de um governo. Estado e governo são diferentes, deveriam ser. Quando um partido começa a usar o poder que está em sua mão temporariamente para inibir a ação dos adversários, estamos caminhando para uma ditadura. A história está cheia de exemplos de governos que usaram o Estado a seu favor e desembocaram em espécies de ditaduras terríveis. Até nos Estados Unidos isso aconteceu, com Nixon.
Tenho um medo pavoroso de ditaduras, e quando vejo o governo atual usando como quer a máquina pública, parece que estão querendo implantar a ditadura do proletariado efetivamente. Quem discorda não pode falar nada, pois vira "inimigo do povo" e do bem-estar geral. Os partidários da Dilma dizem que comparar ela ao Dunga é mau gosto, que não é humor, que é grosseiro. Como se chamar alguém de Dunga fosse xingamento. Mas mostra o espírito das coisas, falar contra quem está no poder é quase crime.
Claro, a maior parte da humanidade prefere comer e ficar quieta a passar fome com a liberdade de dizer o que quer. Mas dá para ter comida e liberdade, os dois não são incompatíveis. E ser liberal é isso. Infelizmente, parece que o país quer continuar no cabresto a assumir o seu próprio desenvolvimento...