Pesquisa do Palavrório

29.2.08

Chega de empulhação (Parte 3)

Ainda não vi o último documentário do Michael Moore, Sicko, mas deve ser uma coisa muito bacana de se ver. Primeiro, por ver a empulhação que é o sistema de saúde norte-americano, todo ele baseado na iniciativa privada e sem nada de governo por trás. Segundo, por ver que uma alternativa pública é viável.

Ops, alguém pode até perguntar, dado o tom das empulhações anteriores, "mas esse cara agora tá defendendo o sistema público?" Veja só, existem duas concepções diferentes em jogo, uma é tornar a saúde universal e gratuita, e outra a saúde pública e gratuita – exatamente como falei sobre educação. Precisa todo o sistema de saúde (médicos, hospitais, enfermeiros e muitos, mas muitos, funcionários de administração) ser público? Não, não precisa. Pode todo ele ser privado? Sim, pode.


Mas só funcionará se houver um governo competente e concentrado em fazer a coisa certa. Tem que ter um Ministério da Saúde que se preocupe em criar uma tabela do SUS que realmente remunere decentemente os hospitais e médicos pelos procedimentos executados, não a ilusão que é hoje. Fazendo isso, as filas sumiriam da noite para o dia, pois todos os profissionais de saúde teriam interessem em atender pacientes do SUS. E os hospitais e médicos poderiam deixar a tirania dos planos de saúde atuais, que em muitos casos cobram dos médicos para eles trabalharem. Claro que isto significaria eliminar um monte de intermediários que "sugam" pedaços da verba pública de saúde. Mas é possível sim.


E, claro, fiscalização intensa para impedir que os hospitais fraudem o sistema, inventando consultas, procedimentos, cirurgias etc. Pois ao mesmo tempo em que há incompetência na gestão, há má fé de quem abusa da falta de fiscalização. Por isso, fiscalização é o ponto chave. E assim, rapidinho, a saúde seria universal e gratuita. Quer dizer, gratuita não, pois pagamos impostos justamente para ter atendimento, a diferença hoje é que não a recebemos do Estado, somos obrigados a buscá-la por fora. Tristeza...

28.2.08

Maus tratos ao consumidor

Cena 1: Servopa (revenda Volkswagen em Curitiba)

De que adianta ter um painel com senha de atendimento se os atendentes não respeitam a chamada e atendem quem se posta à frente? Pois é, peguei a senha 15, mas só fui atendido depois do 16 e do 17. O que devo fazer, gritar e espernear? Bom, deixei pra lá na hora, reclamei depois, e decidi que provavelmente nunca mais levo o carro lá, nem compro um carro lá. Perderam um cliente.


Cena 2: Pátio do Arvoredo (restaurante em São José dos Pinhais)

Uma carta com 150 vinhos. Beleza, vamos de espumante rosè nacional. Cinco minutos depois, a resposta. "Ah, este está em falta", diz o garçom. Pedimos então o outro espumante rosè nacional. Mais cinco minutos, e a mesma resposta, desta vez com a explicação: "É que tá muito quente e tá tendo muita saída, ontem pediram bastante e hoje uma mesa pediu a última garrafa". Sem contar que um dos pratos pedidos veio cru e um dos restaurantes que motivou minha ida até lá tava fechado sem ninguém ter avisado. Sem contar que erraram na conta de novo, já haviam errado na primeira vez que lá estive. Novamente, um lugar a menos para se ir.


Temos que divulgar todos os maus tratos ao consumidor, pois só assim seremos melhor tratados. Chega de ser refém de quem vende. Felizmente, tem competição para quase tudo (e tem alguns idiotas que ainda querem voltar ao tempo das estatais... Só quem trabalha nelas, é claro.)

13.2.08

Chega de empulhação (parte 2)

(Antes de começar, deixe-me terminar um raciocínio do post anterior. Aquilo tudo vale até o fim do Ensino Médio, que deveria ser profissionalizante. As universidades todas deveriam ser privadas, todas. E vamos fazer que nem nos Estados Unidos: bolsa de estudos para quem se destaca, mensalidade para o resto. A bolsa pode ser custeada pelo governo, desde que haja mérito em sua conquista, ou pela própria universidade, que viveria das mensalidades dos alunos, de doações de gente que dá valor ao ensino e de convênios com a iniciativa privada para a realização de pesquisas. E aí, fim da mentira do uso da verba pública em educação, onde as universidades recebem uma parte do bolo desproporcional ao número de alunos atendidos.)

Cara, se tem algo que pode irritar profundamente uma pessoa é ver um dia do seu salário comido com o imposto sindical. É literalmente um dinheiro jogado praticamente no lixo. Digo praticamente pois alguns sindicatos, uma vez por ano, aparece em ação negociando os salários da categoria. Mas, na maior parte dos casos, é só isso. Em alguns, nem isso.

O imposto sindical é obrigatório, todos pagam. O trabalhador paga, os empregadores pagam. E o governo repassa a todos os sindicatos laborais e patronais que existem. Todos. Inclusive para o Sindicato dos Acupunturistas e Terapêutas Orientais do Paraná, o Sindicato das Empresas de Locação de Bilhares do Paraná, Sindicato dos Armazéns Gerais no Estado do Paraná, Sindicato dos Carregadores Autônomos de Volume de Curitiba, e até mesmo do Sindicato dos Empregados em Entidades Sindicais e Profissionais do Estado do Paraná. Procure na internet e verás sindicato que não acaba mais.

E quando passa desapercebido pelas militâncias petelhas que o imposto sindical pode virar opcional, veio uma chiadeira até de sindicato que ninguém sabia que existia. Claro, acabaria a mamata. Os sindicatos (patronais e laborais) finalmente teriam que mostrar serviço para que os trabalhadores quisessem pagar pelo serviço deles, quisessem de verdade se associar. Do jeito que é hoje, os caras que lá estão ficarão para sempre e os que sustentam o sindicato, como são obrigados a sustentá-lo, às vezes sem saber, não aparecem. Ou seja, entidade representativa dos trabalhadores é um eufemismo, pois eles só representam, na maior parte do tempo, a si próprios.

É uma empulhação o imposto sindical. É uma empulhação a obrigatoriedade de um sindicato por categoria, com exclusividade nela. Esta é uma atividade que, hoje em dia, não apresenta risco algum. Todo ano o dinheiro do imposto sindical cai na conta do sindicato, ninguém presta contas direito, e ficamos por aí. Que lástima!!

Tomara que os nobres deputados e senadores continuem dormindo no ponto e que a lei que acaba com essa empulhação passe batida no Congresso. Vereis no dia seguinte insígnies líderes sindicais clamando contra "o fim da organização dos trabalhadores", "a soberania dos sindicatos patronais (que pelo menos, parecem trabalhar um pouco mais que os laborais)", "o perigo do trabalhador não ter uma voz forte o suficiente para ser ouvida", enfim, balela de quem não precisa bater metas. Bem que o Congresso podia aproveitar e acabar também com o vergonhoso imposto que sustenta o sistema "S". Se é bom, as empresas contribuem voluntariamente. Se é ruim, tem que melhorar ou fechar. Simples assim.

11.2.08

Chega de empulhação (parte 1)

Cara, a gente vai cansando do que fazem aqui e em muitos países do mundo. O discurso de quem está no poder é pura empulhação. Vejam só o que dizem todos (com raríssimas exceções): "queremos o ensino público gratuito!" Que balela!! Do jeito que é hoje, as chances de que ele seja de baixa qualidade, que atraia professores ou movidos pela paixão de ensinar (que muitos há, com certeza, mas que abandonam sua paixão quando vêem a remuneração que percebem) ou sem competência, mas desairosos de se tornar funcionários públicos e viver na mamata.


Pois é. Tenho um tio que uma vez me disse uma coisa que até hoje me marca e que tenho certeza que funcionaria e acabaria com uma tacada só a moleza dos professores que fingem que ensinam, do estado que finge prestar ensino e do nosso dinheiro pago em impostos sumir nos escaninhos do Ministério da Educação e seus "n" sub-órgãos.


Ele falou que o melhor seria cada criança em idade escolar receber um cheque mensal, cheque que só poderia ser utilizado para pagar mensalidades escolares, para gastar na escola que quisesse. Veja bem, TODAS as crianças receberiam o cheque do mesmo valor. Se o pai da criança quer colocá-lo em uma escola que custa mais do que o cheque que recebe, ele paga a diferença.


E as escolas seriam todas privadas. Aí todas competiriam para melhorar os serviços prestados, ou seja, melhorar a educação. Como todos seriam funcionários privados, não teriam a chance de ficar parados três meses recebendo por salários, o dinheiro não se perderia pelo caminho pois o cheque significaria dinheiro na mão da escola direto, o governo deixaria de ter sabe-se lá quantos mil professores, diretores, sub-diretores etc... E para garantir a qualidade, o Estado só permitiria que escolas certificadas pelo Ministério da Educação (que enfim teria dinheiro para montar uma estrutura de fiscalização e controle decente) com notas boas no Enade.


E o que teríamos com tudo isso? "Ensino gratuito universal!!!" O que é melhor, que todos tenham direito à escola ou que a escola seja pública? Percebem a empulhação que o corporativismo de uma classe (normalmente associada a partidos da esquerda jurássica) tenta nos passar? Eles não querem ensino para todos, querem é ensino público. Nunca falam no universal. Se a criança recebesse o cheque e usasse na escola que sua família escolher, desde que todas recebem, não é melhor que ter todo um sistema que é ineficiente? Sem contar que assim todos receberiam o benefício, ou seja, quem paga impostos e quem não paga seria beneficiado. Hoje quem tem filhos em escolas particulares paga duas vezes pelo ensino, uma na mensalidade e outra nos impostos.


Chega de empulhação, vamos pensar diferente este país!!

O eu, o me, o mim

A grande tentação que acomete quem tem um blog é passar a escrever apenas e exclusivamente sobre si mesmo. Ainda que se tenha a pretensão de se dar uma opinião sobre os assuntos, o que é muito bom e salutar, em boa parte do tempo o trabalho se perde no nheco-nheco do "eu fiz, eu vi, eu acho, eu consegui, eu perdi...", ou seja, há apenas três pronomes que são ditos: eu, me e mim.

Acaba que, na maior parte dos casos, a vida das pessoas não chama atenção alguma. Todas são interessantes sim, mas apenas quando são contadas por elas sem a pretensão de se dar uma mensagem ao mundo. Quem não gosta de entrar em um boteco e escutar as pessoas falar de suas vidas, do que aconteceu, de rirem todos de uma piada que só quem está ali entende?

(Corta para momento egotrip. Estávamos minha esposa e eu [pelo menos eu convido mais alguém para a festa] em Pinhão (Portugal), quando bate a fome. Entramos em um hotel hiperchique mas ninguém dá bola. Daí que saímos do hotel para entrar em um boteco na frente da estação de trem. O bar tem lá suas seis, sete pessoas, todas conhecidas uma das outras. Ali, logo entramos na vida delas. Começamos a contar piadas, sabemos quem está apaixonado por quem, quem irá para onde, quem virá. Mas parece que ninguém diz eu, me, mim. Muito bacana!)

Mas a maior parte do mundo só olha para o seu próprio umbigo. A humanidade não lhes diz respeito, não merece consideração. E assim, vale apenas o filtro pessoal, o eu, o me, o mim. Esta parte da humanidade, infelizmente, não é interessante. São todos potenciais participantes de uma edição qualquer do Big Brother. Gente que gosta de aparecer, que tenta aparecer de qualquer maneira, sem ter nada a dizer.

Acaba que isto infelizmente é normal nos dias de hoje, e há rencas de blogs, sites, fotologs, videologs e sei lá mais quê com apenas a vida comezinha deste povo. Ainda que haja poucos espaços em que a egolatria não têm vez (e não coloco este blog entre eles, ainda há muito que caminhar), a maior parte de tudo é o eu, o me, o mim. Que lástima, já diria Charlie Brown....

7.2.08

Para sempre, talvez

Era uma manhã normal, como a maioria das manhãs. Ele percorria o caminho de sempre rumo ao seu escritório, onde um dia de poucas emoções com certeza o esperava. Nenhum pensamento o assolava, nem bom nem ruim. Talvez uma ou outra vontade de que algo diferente acontecesse, alguma boa notícia que lhe trouxesse mudanças de ares, ou um dinheiro inesperado. Mas como as chances eram pequenas, ele prestava atenção apenas ao seu caminho.

De repente, a luz aparece. Um casal de idade vem subindo a rua na direção contrária. Casais de idade há vários, muitos por aí. Mas este parecia diferente. Ele e ela tinham mais de 70 anos, com certeza. E estavam juntos, de mãos dadas. Claro, há vários casais de idade de mãos dadas por aí. Mas este estava junto, de mãos dadas, e conversando. Claro, há alguns casais de idade de mãos dadas por aí, conversando. Mas este estava junto, de mãos dadas, conversando e rindo. Rindo!! E os que ainda riem juntos nesta idade são poucos.

Ele ri junto com o casal, que nem percebe que estava sendo observado. Os dois velhinhos estão fechados um no outro. Eles se bastam, o resto do mundo é um detalhe para eles. Eles transmitem uma sensação boa, um sentimento gostoso de que tudo é possível, que talvez exista de verdade uma relação em que ambos se completam mas não são dependentes um do outro. Que os laços que os unem são de afeto e amor. Que eles se gostam, não que se toleram por medo de ficar sozinhos. Um casal bacana.

Seu dia muda. Ele começa a pensar em sua esposa que não está na cidade naquele momento. E se pergunta o que pode fazer para também repetir este fato para que um dia, ele e sua velhinha, juntos na rua, de mãos dadas, possam rir de qualquer piada que um ou outro dirá. Passo a passo, ele vai construindo sua estrada, e mesmo as nuvens lá no céu não resistem à luz que emana dele.