Pesquisa do Palavrório

17.9.20

Tédio ou desesperança

Segunda, seis da manhã, saio da cama. Na prática, já estou acordado desde as três, me comportando como um bife bem passado, virando de um lado para outro, na tentativa de achar uma posição que me faça voltar a dormir. Mas o sono não vem, e os pesadelos do dia começam a aparecer. Sim, do dia, pois os sonhos são ok, o problema está na realidade.
Trabalhar para quê? Trabalhar por quê? Bate uma desesperança - mas ainda não o desespero - de que parece tudo em vão. Saio de casa já pensando na hora em que estarei de volta. Dez módulos semanais, é o que me digo. Cinco manhãs e cinco tardes, mais ou menos quatro horas cada, e logo acaba a semana. Triste começar a segunda pensando na sexta.
E quando a sexta chega, ela traz um alívio momentâneo. O cérebro quase desliga, quase, e o trabalho fica lá onde ele está, parado. As dívidas não se mexem, o estoque não se mexe, os funcionários não falam, o telefone não toca. Entro em uma bolha para disfarçar que não tenho trabalho, nem problemas relacionados a ele, para viver o fim de semana. Parece que mergulho e escuto todos os sons abafados, a vista é turva, os movimentos são mais lentos, tudo para não pensar em trabalho. À medida que o domingo vai acabando, a angústia de ter que voltar ao batente vai subindo. Controlo a vontade de estar bêbado durante todo o fim de semana, pois eu não mereço me atacar assim. Rezo, o alívio é momentâneo. A realidade vai se impondo e eu não sei exatamente o que fazer.
Segunda de manhã, ou melhor, três da manhã, os olhos abrem de novo. Lá vamos nós, barca à deriva em um mar sem vento nem brisa. Será que nessa semana tem algum vento que sopra para algum lado?