Pesquisa do Palavrório

11.2.08

O eu, o me, o mim

A grande tentação que acomete quem tem um blog é passar a escrever apenas e exclusivamente sobre si mesmo. Ainda que se tenha a pretensão de se dar uma opinião sobre os assuntos, o que é muito bom e salutar, em boa parte do tempo o trabalho se perde no nheco-nheco do "eu fiz, eu vi, eu acho, eu consegui, eu perdi...", ou seja, há apenas três pronomes que são ditos: eu, me e mim.

Acaba que, na maior parte dos casos, a vida das pessoas não chama atenção alguma. Todas são interessantes sim, mas apenas quando são contadas por elas sem a pretensão de se dar uma mensagem ao mundo. Quem não gosta de entrar em um boteco e escutar as pessoas falar de suas vidas, do que aconteceu, de rirem todos de uma piada que só quem está ali entende?

(Corta para momento egotrip. Estávamos minha esposa e eu [pelo menos eu convido mais alguém para a festa] em Pinhão (Portugal), quando bate a fome. Entramos em um hotel hiperchique mas ninguém dá bola. Daí que saímos do hotel para entrar em um boteco na frente da estação de trem. O bar tem lá suas seis, sete pessoas, todas conhecidas uma das outras. Ali, logo entramos na vida delas. Começamos a contar piadas, sabemos quem está apaixonado por quem, quem irá para onde, quem virá. Mas parece que ninguém diz eu, me, mim. Muito bacana!)

Mas a maior parte do mundo só olha para o seu próprio umbigo. A humanidade não lhes diz respeito, não merece consideração. E assim, vale apenas o filtro pessoal, o eu, o me, o mim. Esta parte da humanidade, infelizmente, não é interessante. São todos potenciais participantes de uma edição qualquer do Big Brother. Gente que gosta de aparecer, que tenta aparecer de qualquer maneira, sem ter nada a dizer.

Acaba que isto infelizmente é normal nos dias de hoje, e há rencas de blogs, sites, fotologs, videologs e sei lá mais quê com apenas a vida comezinha deste povo. Ainda que haja poucos espaços em que a egolatria não têm vez (e não coloco este blog entre eles, ainda há muito que caminhar), a maior parte de tudo é o eu, o me, o mim. Que lástima, já diria Charlie Brown....

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