Pesquisa do Palavrório

7.1.19

Tentativa 1

Toda a alegria do réveillon, a vontade de começar diferente, sem as neuras de sempre, foram por água abaixo com uma carta. Como é que pode toda uma lista de bons propósitos serem abalados tão fortemente por apenas uma folha de papel? Muito provavelmente era um sinal de que as resoluções de ano novo, desde o regime até a mudança de atitude no trabalho, estavam muito dependentes do mundo de que de si próprio. E em 15 minutos pareceu que tudo desabou. O sangue sumiu das veias, o pensamento travou na desgraça e na tragédia, o pessimismo cegou e os outros documentos que precisavam ser lidos foram deixados de lado, as pernas bambearam, a boca secou e a esperança de que tudo seria melhor desapareceu.

As palavras na carta eram muito claras, ainda que ele tenha se feito de burro para não querer entender. "Seu contrato que já terminou em 31 de dezembro de 2018 foi prorrogado para 31 de março de 2019." Não há na carta nenhuma menção a um novo contrato, ou a uma razão para o fim do contrato, ou se isso é padrão para todos os outros colegas com quem ele trabalha. E, pela sua clareza no que diz, e pela ausência do que não está escrito, ele tremeu. "Puta que pariu, mas começar o ano assim é uma merda!! Como é que eu posso fazer planos se me tiram o chão dessa maneira?"

Um ano e meio depois de ter iniciado uma terapia, ele achava que estava melhor preparado para lidar com esses contratempos. Busca de auto-estima, relembrar as próprias forças, conseguir ter coragem de falar sobre as fraquezas, abordá-las de maneira clara e direta, sem medo de se expor. Mas não deu, foi uma carta e fim. A cabeça girou, há duas horas, desde que ele leu a carta, a cabeça gira. Mesmo que esse fosse um fim que aconteceria cedo ou tarde, ele ainda colocava isso como uma possibilidade, esperava que não fosse uma certeza. Claro que isso era tapar o sol com a peneira. Mas a ilusão era reconfortante. Sempre é mais tranquilizador achar que nada mudará, em vez de saber que as coisas mudarão e você tem que mudar também. Nada é para sempre, e esses términos têm acontecido cada vez mais rápido, com intensidade cada vez maior.

 

(ideia para começar algo mais longo)