Pesquisa do Palavrório

24.1.11

Novos problemas

Uma das frases dos detratores da informática é que ela veio para resolver problemas que não existiam. Será que isso pode acontecer na medicina também?
Há cem anos não havia praticamente nenhum dos exames que existem hoje. Tomografia computadorizada, cintilografia, qualquer um que use radiação (raio-x acho que já tinha), nada aparecia. Provavelmente as
pessoas morriam de algo que ninguém sabia que existia.
Tem gente que tem medo de ir ao médico com o seguinte argumento: se eu for, ele vai dizer que estou doente. Talvez a ignorância seja a companheira da felicidade.
Não saber nada ou adotar a política do quanto menos melhor poderia ser útil mesmo. Algum poeta ou escritor disse que não era mais possível ser feliz depois de Auschwitz. Ele tem razão. Como ser feliz com os
deslizamentos de terra no Rio, a barbárie de cada dia nas periferias, os desmandos dos políticos, a roubalheira, a falta de caráter da população como um todo?
Talvez seja melhor não cutucar nada mesmo. Tá doendo? Espera passar. Tá com problema no computador? Reinicia e vê no que dá. Ignore os sintomas e toque em frente. Não saiba, e fique feliz.

23.1.11

Constituição Brasileira

Art. 397 - É facultado ao papai de qualquer garota bonita praticar
tiro ao alvo nos pretendentes de sua filha, não importando a idade
dela nem se o pretendente for bonito, feio, alto, baixo, rico, pobre
ou o que for.

18.1.11

Envelhecer

Envelhecer é ter mais responsabilidades, e cada responsabilidade a mais é mais importante que as anteriores. Antes a maior responsabilidade era manter o quarto limpo e os brinquedos inteiros (não intactos, isso seria responsabilidade demais). Depois passamos a cuidar do dinheiro da mesada. Mais à frente, a responsabilidade por manter um namoro vivo era nossa. Aos 18, no máximo, a responsabilidade de devolver o carro dos pais inteiro.
Na vida adulta, tornamo-nos responsáveis por uma infinidade de coisas. Os impostos, o bem estar da esposa (ou do marido) e dos filhos, dos pais, dos irmãos, do resultado individual, coletivo e de toda a empresa, de tudo. Cada nova responsabilidade vem um pouco maior e mais pesada. Somos responsáveis pela nossa saúde, pois o corpo já não tolera mais os excessos de qualquer espécie - de sol, de chuva, de esforço físico, de comida, de bebida, de falta de esforço físico. Somos responsáveis pelo planeta, pois sabemos o que o destrói e o que não, e temos que cuidar disso também.
As responsabilidades se empilham uma sobre as outras, e nenhuma é deixada de lado. Continuamos responsáveis por manter o quarto limpo e os brinquedos (agora chamados de gadgets) inteiros. É uma após a outra, uma nova a cada instante, mais uma, mais.
Crescer é assumir mais responsabilidades. Mas que dá uma baita vontade de tirar férias de si próprio de vez em quando, ah isso dá!

14.1.11

Causas naturais?

A chuva destrói o sudeste do Brasil. A imprensa e o governo chamam de desastres por causas naturais.

Mas não há nada natural nesses desastres. Nós fomos lá, subimos os morros sem permissão, invadimos terrenos perigosos, construímos casas de qualquer jeito, derrubamos as árvores pois dizíamos que elas incomodavam, davam sombra, impediam as crianças de brincar, correr no gramado, enfim, fomos nós, humanos, que destruímos o que lá estava.

Depois de destruir tudo, começamos a jogar nosso lixo em qualquer canto e nosso esgoto nos rios, sem tratá-los. Antes as árvores seguravam a terra, agora não mais, ela vai toda pros rios. E os rios ficam um pouco mais sólidos porque têm lixo. Daí chove, o rio sai de seu curso, e a natureza é a culpada?

Nós somos os culpados dessa desgraceira, e ainda não fazemos nada. Dá muita, mas muita vontade de que o Nifrak Altaim esteja certo, de que em 2012 os tarkanianos venham e dizimem três quartos da humanidade, justamente os três quartos que não preservam a natureza. Talvez, depois dessa faxina, sobre algum planeta para nós no futuro.

13.1.11

Tenho muitos tenhos

Tenho só uma vida, mas uma vida só é pouco para o que tenho.

Leio uma reportagem sobre a turnê europeia da Osesp, tenho vontade de virar músico, tocar algum instrumento, subir ao palco para alegrar a turma.

Vejo a nova foto do universo, a maior jamais feita, e tenho vontade de ser astrônomo, estudar o espaço, imaginar mundos, descobrir novos.

Leio sobre um matemático que quer unir a teoria da relatividade geral com a física quântica, unir o grande e o pequeno, e tenho vontade de ser matemático, físico ou ambos.

Vejo a TV com jornalistas experimentando comidas exóticas, falando de festas populares em vilarejos desconhecidos, descobrindo pessoas em lugares distantes, cobrindo guerras, e tenho ganas de ser jornalista de novo, mas bem jovem, com disposição para por a mochila nas costas e ser mandado até o meio do Afeganistão, se for o caso.

Tenho vontade de abrir um bar, ou um restaurante, ou uma pousada, ou tudo junto, tenho. Tenho vontade de escrever mais, de trabalhar menos, de trabalhar mais com vontade, tenho tantos tenhos, que já nem consigo mais contar.

Mas a vida é uma só, pelo menos essa que é a única de que me lembro, e muito terei que deixar pras próximas. Pelo menos isso, terei mais chances para os meus tenhos...

12.1.11

Saudades da infância?

As pessoas recriam suas infâncias na vida adulta, tornam-na o momento
mais feliz de suas vidas. É feliz porque não volta mais.

Na infância não temos liberdade, somos vigiados constantemente.
Podemos fazer aquilo que nossos pais mandam, vestimos o que nos
ordenam (mesmo que esperneemos, a gola rolê da blusa cacharrel lá
estará nos protegendo de tudo), ganhamos o que nos dão, eventualmente
o que pedimos, temos hora para dormir, hora para acordar, enfim, tudo
são ordens.

A liberdade das brincadeiras está na mente, é mais ilusão que verdade.

A infância é um território de restrições, nunca de liberdade. A vida
adulta é bem melhor.

Talvez só queiramos que a infância seja a melhor fase pois não
tínhamos responsabilidade de nada, e por isso temos saudade dessa
época.

7.1.11

Em busca de novos desafios

Toda vez que uma pessoa pede demissão do mundo corporativo, ela manda
um mail padrão para seus colegas (logo ex-colegas) de trabalho: "Valeu
pelo tempo passado juntos, vou em busca de novos desafios". Hoje, com
o LinkedIn, você pode até acompanhar a trajetória profissional da
pessoa, e de tempos em tempos aparecerá um "vou em busca de novos
desafios". Quem é mandando embora não tem muito tempo de mandar esse
mail, pois precisa catar suas coisas e cair fora logo, o segurança
está de olho, com medo de que você roube algum segredo corporativo.

Bom, o fato é que o trabalho não acontenta muita gente. Tá todo mundo
meio que de olho em novos desafios (na prática, acho que estão de olho
mesmo é em um salário maior) e, na primeira chance que der, se a
próxima empresa for um tiquinho melhor que a atual, ela troca de
barco. Não são os desafios que motivam a maior parte das pessoas,
ainda que todas usem esse discurso bonito, é o salário mesmo, o
estipêndio.

As pessoas querem ganhar pelo que elas fazem, e querem ganhar o justo.
Mas, na vida real, funciona assim: o empregado sempre acha que ganha
menos do que recebe, o patrão tem certeza que paga mais do que ele
merece. O ponto do meio desagrada os dois, e não existe meio de
agradar a ambos simultaneamente. E como nenhuma empresa é fiel aos
seus empregados (talvez haja exceções, quem sabe), eles também não o
são a ela. Por isso é fácil trocar de emprego e dar uma desculpa
esfarrapada, "vou em busca de novos desafios", em vez de dizer
claramente "aqui não sou aproveitado".

O mundo corporativo é muito parecido com a natureza, mas tem um
diferencial em relação à selva que deveria ser melhor estudado: a
dissimulação. No mundo corporativo as palavras têm outros
significados, os resultados têm outra maneira de serem medidos e os
méritos têm outras maneiras de serem reconhecidos. É um mundo bem
parecido com o verdadeiro, mas na prática é bem diferente. Estranho
mundo.

6.1.11

Correria sem fim

A cada dia aparece um novo aparelho tecnológico, muito mais avançado que o anterior. Você ainda não conseguiu explorar 30% do que o antigo fazia, mas já se vê compelido a comprar um novo. O seu monitor tinha 15 polegadas, mas por alguma razão você acha que precisa comprar um de 23. Sua TV tinha 38, agora PRECISA ter no mínimo 45, ser HDTV, surround sound, HDMI etc e tal, uma sopa de letrinhas sem fim. Melhor nem falar de celulares e computadores, as novidades são semanais.
Comprar, comprar, comprar, é só isso que fazemos. Comida já não é mais necessário, ninguém mais quer plantar ou trabalhar plantando ou criando animais. O lance é produtos de consumo. Compra-se para movimentar uma máquina perversa e sem sentido, pois a maior parte da humanidade (aquela que não morre de fome, é claro) só pensa no próximo item de consumo que terá em casa. Tem algo errado aí, a existência não deve ser apenas para se ter mais coisas, mais, mais...
Dá quase vontade de que algo grande e catastrófico realmente aconteça em 2012 para ver se a humanidade dá um break e se acalma nessa história. Parece que a onda está parando. Pesquisas nos EUA mostram que 44% das pessoas já têm tudo o que queriam, contra 36% de uns dois anos atrás. Não sei se essas pessoas vão repondo o que tem com aparelhos mais modernos, mas pelo menos se dizem satisfeitas com o que têm. Outra pesquisa mostrou que na Holanda já há muita gente que prefere ganhar menos e ter mais tempo livre com a família que ter mais dinheiro.
Pode ser uma tendência, tomara que seja. Dar uma paradinha, uma reduzida no ritmo, ser mais slow food e slow em tudo. Pois, se a vida é curta, se corrermos muito chegaremos mais rápido ao fim dela.

5.1.11

Dileminha

Aprender é legal. Aprender a fazer o papel de malvado não é legal.
Aprender coisas novas é legal. Aprender a fazer coisas que você não gostaria de fazer não é legal.
Aprender é gostoso. Aprender a fazer algo de que não se gosta não é tão legal.
Dizem que aprender é garantia de vida longa. Mas, se for para aprender o que tenho que aprender, dá vontade às vezes de que a vida seja mais breve.

4.1.11

500 conexões, e quase nenhuma que presta



(Imagem publicada originalmente no blog Random Insights into Oracle)

Está em quase todos os jornais. O homem do futuro terá mais de 500 conexões pessoais, graças à tecnologia. Com os Facebook, Twitter e afins, não precisaremos mais nos afastar em definitivo de nossos antigos colegas de trabalho ou de escola. De alguma maneira, aquela turma estará sempre conectada. 500 pessoas é um número grande pra caramba, normalmente só promoters e figurinhas da sociedade conseguem fazer uma festa para mais de 100 convidados sabendo o nome de todos eles. Mas será assim, cada um com 500 conexões pessoais.
Veja que dizem conexões pessoais, não amigos. Pois amigo é algo bem, mas bem diferente. Bem contado, cada ser humano tem no máximo cinco amigos. Não dá para ter mais. Não há como compartilhar a sua intimidade mais profunda com mais de cinco pessoas, sob o risco de você se tornar uma fraude completa. Ninguém gosta de escancarar a sua intimidade para o mundo, a não ser os doentes mentais que necessitam de Caras, Gente, BBB e afins. Apesar das 500 conexões, continuaremos com cinco amigos ou menos.
Talvez menos que cinco, pois gastaremos muito tempo tentando gerenciar aqueles 500. Afinal, ninguém quer ser unfollowed, ou desconectado de uma rede de amigos. Por isso será necessário manter o contato, aceitar velhos conhecidos de quem você não se lembrava, postar alguma coisa de vez em quando, enfim, estar ativo na coisa. E isso toma tempo, o tempo que anda escasso e que deveríamos dedicar mais aos amigos. Aliás, essa é uma das mais velhas resoluções de ano novo, dedicar mais tempo aos amigos.
Mais de 500 conexões, menos de 5 amigos. Perdemos a profundidade nas relações, ganhamos na superficialidade. Relações líquidas, como diz aquele sociólogo polonês de quem não lembro o nome nem quero dar um Google para lembrar. Elas se fazem e se desfazem fácil, afinal, não compartilhamos nada com as 500 conexões, a não ser instantes, momentos, glimpses, flashes, nada mais fundo que um pires. Ter 500 conexões ajuda a não ter nenhuma real, a não precisar se esforçar para ver ninguém, a não ter que compartilhar nada, nenhuma emoção, nenhum sentimento, nenhum medo. Podemos ser o rei da cocada preta para as mais de 500 conexões, pois não precisamos ser de verdade.
Ter amigos significa estar aberto para descobrirem o que você realmente é, com um pouco de receio sim, pois escondemos sempre algo que não gostaríamos que ninguém soubesse. Ter apenas conexões significa jogar no seguro, mas não compartilhar nada com ninguém (enganam-se aqueles que realmente acreditam no share ou compartilhar do Facebook, não rola). Ter mais de 500 conexões significa hoje ser um eremita digital, uma nova forma de se isolar do mundo, para evitar dividir o que for com alguém, a não ser lembranças de que, um dia, você já dividiu algum espaço com outra pessoa, mas agora não quer mais.
É isso, a tecnologia criou novas cavernas digitais para nelas entrarmos e lá ficarmos.

3.1.11

A difícil tarefa de escrever

Gostaria de poder escrever mais, sem tantos medos ou sem tantas cobranças de escrever sempre algo interessante. Parece que, quando a tela em branco se apresenta para eu escrever algo para mim mesmo, travo. Quero pensar em um grande tema, fazer uma reflexão profunda sobre a humanidade ou suas formas de agir e pensar, nunca é algo comezinho, alguma coisa do cotidiano. Mesmo quando olho para o cotidiano, quero achar o momento poético, aquele lado do dia-a-dia que tem um quê de romance, literatura, arte ou música. O rame-rame não serve.
Não serve porque não acho legal ficar entulhando o espaço de quem eventualmente me lerá com detalhes insignificantes, como a maior parte do que está nessa internet que virou uma janela da privacidade da maior parte de seus cyber habitantes. Quem quer saber que eu levei a calopsita ao veterinário hoje? Ou que fui fazer algo que já quase não se faz mais, que é mandar consertar algo, em vez de comprar um novo? Quem quer saber se dormi bem ou mal, além de mim mesmo e, talvez, a pessoa com quem divido a cama (até para saber se não a mantive acordada ao longo da noite)?
A facilidade de exposição e a praticamente gratuidade do espaço para escrever fez as pessoas esquecerem de filtar o que pode ou deve ser dito. É mais ou menos a mesma coisa que aconteceu com a fotografia. Agora que não se paga um filme, não se revela a foto e, uma vez comprada a máquina, o restante é virtualmente grátis, cada sessão de fotografias gera pelo menos umas 100 fotos. A grande maioria tira as fotos, guarda no computador e nunca mais vê. Milhares de fotos, cada uma com qualidade duvidosa (quando chega a esse ponto), entupindo o espaço. Milhares e milhares de posts em zilhões de blogs, quaquilhões de tweets, trilhões de tweet pics, mas esprema pra ver o que sai. Quase nada.
Por isso é melhor ficar quieto mais vezes, e escrever só quando se tem vontade. Mas, para poder escrever sempre, é preciso escrever mesmo sem vontade. Vamos ver se em 2011 isso acontece.

Feliz Ano Novo!