Pesquisa do Palavrório

21.5.07

Reflexões matinais

Houve uma época em que o rock, ou grande parte dele, era de protesto. Os tempos eram bicudos, os Estados Unidos estavam enfiados até o pescoço no Vietnã, uns dez anos depois a economia era desalentadora, não havia espaço para nada. No primeiro caso, o rock foi meio psicodélico e altamente político. No segundo, o rock foi pancada absoluta e gerou o punk, anarquista até a medula.
Mas aí vieram os anos 80, começou a década do individualismo e o protesto foi minguando. Hoje, nada parece mais anacrônico que uma banda começar a fazer música de protesto. Foi o que senti escutando o último disco do U2 (quer dizer, toda a discografia da banda, do primeiro álbum em 1980 até o último). O som continua bacana, mesmo as músicas antigas permanecem atuais, mas acaba provocando um certo desconforto escutar as canções que falam de Martin Luther King, do Domingo Sangrento na Irlanda, do Apartheid, enfim, de todas as bandeiras que eles desfraldaram.
A realidade hoje é a da música eletrônica. Uma batida hipnótica que faz as pessoas se mexerem, normalmente embaladas com alguma quantidade de psicotrópicos, sem letra alguma, uma ode ao hedonismo puro. Não é necessário pensar, aliás, quanto menos se pensar melhor. O volume da música já é feito para que não se converse, não se interaja com quem está ao redor. Tudo fica limitado às sensações, nada de reflexão.
E isto não quer dizer que o mundo não esteja precisando de alguém que proteste. A desigualdade diminui em todo o mundo, sim, mas a que preço? Destruiremos o planeta antes que toda a sua população tenha condições de viver com um mínimo de decência. Não sabemos direito porque fazemos tudo o que fazemos, mas continuamos fazendo porque não há alternativas. É uma vida sem sentido, sem objetivos, e parece que continuaremos assim por um bom tempo.
Agora, quem protestará? A última moda é ser emo, falar de idiotices fúteis e banais e ainda por cima vender milhares de discos. Quase quase tá na hora de uma segunda onda punk aparecer...

Nenhum comentário: