Pesquisa do Palavrório

7.2.08

Para sempre, talvez

Era uma manhã normal, como a maioria das manhãs. Ele percorria o caminho de sempre rumo ao seu escritório, onde um dia de poucas emoções com certeza o esperava. Nenhum pensamento o assolava, nem bom nem ruim. Talvez uma ou outra vontade de que algo diferente acontecesse, alguma boa notícia que lhe trouxesse mudanças de ares, ou um dinheiro inesperado. Mas como as chances eram pequenas, ele prestava atenção apenas ao seu caminho.

De repente, a luz aparece. Um casal de idade vem subindo a rua na direção contrária. Casais de idade há vários, muitos por aí. Mas este parecia diferente. Ele e ela tinham mais de 70 anos, com certeza. E estavam juntos, de mãos dadas. Claro, há vários casais de idade de mãos dadas por aí. Mas este estava junto, de mãos dadas, e conversando. Claro, há alguns casais de idade de mãos dadas por aí, conversando. Mas este estava junto, de mãos dadas, conversando e rindo. Rindo!! E os que ainda riem juntos nesta idade são poucos.

Ele ri junto com o casal, que nem percebe que estava sendo observado. Os dois velhinhos estão fechados um no outro. Eles se bastam, o resto do mundo é um detalhe para eles. Eles transmitem uma sensação boa, um sentimento gostoso de que tudo é possível, que talvez exista de verdade uma relação em que ambos se completam mas não são dependentes um do outro. Que os laços que os unem são de afeto e amor. Que eles se gostam, não que se toleram por medo de ficar sozinhos. Um casal bacana.

Seu dia muda. Ele começa a pensar em sua esposa que não está na cidade naquele momento. E se pergunta o que pode fazer para também repetir este fato para que um dia, ele e sua velhinha, juntos na rua, de mãos dadas, possam rir de qualquer piada que um ou outro dirá. Passo a passo, ele vai construindo sua estrada, e mesmo as nuvens lá no céu não resistem à luz que emana dele.

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