Pesquisa do Palavrório

27.12.07

Época estranha

Esta época do ano é um período estranho. Ainda que todos digam que é uma época de festas, não se vê tanta gente contente pelas ruas. Não importa a classe social, estão todos meio pensativos, até um certo ponto encafifados com o que acontece ao redor.

As lojas gritam que é Natal, é motivo de festa, de alegria, de juntar-se com a família para celebrar o nascimento de Cristo ou, mais mundanamente, trocar presentes comprados à prestação. Já no Ano Novo todos devem parar alguns instantes para refletir como foi o ano que passou, fazer o balanço de erros e acertos e programar o próximo ano para que este seja, como todos os Anos Novos, um ano cheio de realizações e coisas boas.

Mas tem algo que não anda direito. A pressão do cotidiano é muito forte para ser sublimada por toda essa pressão pela felicidade coletiva universal. Lá no fundo (ou não tão fundo assim) sabemos que nada mudará com a passagem do ano; que não importa quantos presentes recebamos, a felicidade depende de outras coisas que não um grande e caro presente de Natal; que a família deve estar unida o ano inteiro, e que as desuniões aparecem claras e latentes na noite de Natal, ainda que se faça força para que elas não existam pelo menos naquele momento.

O descompasso entre o que sentimos e o que vemos existe, em alguns casos é grande, enorme. Quem não tem família está deprimido por estar sozinho. Quem não tem dinheiro fica deprimido por não poder dar ou ter uma festa bacana. Quem tem ambos fica triste pois sabe que a vida não é só esta semana. Parece um mal estar generalizado que toma conta da humanidade e que é abafado com “qualquer droga que nos dê alegria”, como disse o Cazuza.

Sentimentos ambíguos, que só se desfazem quando chego em casa e recebo o abraço apertado de meus filhos que, ainda distantes de todas estas preocupações, pegam seus brinquedos de Natal e inventam mundos de príncipes e princesas, de dragões e alienígenas, onde o bem sempre vence o mal. Oxalá!!

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