Pesquisa do Palavrório

24.5.07

Mundo corporativo

O mundo corporativo é engraçado. Como em todos os lugares, estamos sujeitos a cometer erros, alguns até bem graves (leia-se bem, graves do ponto de vista financeiro, um erro que pode implicar na perda de clientes, ou na perda de receita, enfim, dinheiro dos acionistas que vai pelo ralo). Mas, longe de nos preocuparmos com este dinheiro, estamos preocupados é com a mijada que levaremos do chefe.

É isso mesmo, no fundo somos ainda crianças. Quando cometemos um erro, tentamos fazer com que ninguém descubra-o para continuarmos trabalhando em paz e tentar não repetir o erro. E, quem sabe, fazer com que a memória coletiva esqueça o erro cometido. A primeira reação ao errar é "putz, vou levar uma mijada do meu (da minha) chefe". É fatal, somos crianças ainda, não crescemos. Temos medo de ser descobertos, de levar uma carraspana, uma surra.

E li estes tempos que os grandes executivos na verdade são como crianças mimadas. As empresas dão tudo a eles, pela estrutura empresarial muitos dos erros acabam sendo deixados de lado e relevados, como se faz com toda criança mimada, e eles assumem responsabilidades parciais pelas coisas.

Acho que temos até mais medo da bronca do chefe que a demissão. Neste caso, a demissão só apavora se vier com bronca. Se não vier, ufa, pelo menos não fui desancado...

23.5.07

Um grande vazio

Está na capa da Carta Capital, um milhão de brasileiros tomam Prozac diariamente. Na Inglaterra, já há traços do anti-depressivo na água dos rios. É Prozac que sai no xixi dos ingleses. A fabricante do Prozac depende deste produto que representa 25% de suas receitas. O que há de errado no mundo?

A maior parte das pessoas vive existências sem sentido, em um mundo que não oferece grandes perspectivas de vida futura. Os objetivos são quase todos eles materiais: ter uma casa grande, ter um emprego bacana, que me pague bem, comprar um carro, viajar etc. Não há objetivos morais ou espirituais na maioria das pessoas, ainda que a maioria delas almeje uma vida calma em família e junto aos amigos. Algo se perdeu nessa trajetória.

A rotina é de desempenho, de busca incessante de lucro (e estou nessa também, aplico na bolsa de valores...), de conquistas. Parece linguagem de guerra. Conquistar mercados, aumentar o patrimônio, ter mais, mais, mais... E se você trabalha em uma grande empresa, você se sente um boi sendo sugado por parasitas que querem sempre mais, para quem nada nunca está bom o suficiente. Um mundo estranho. E isto que somos nós que fazemos este mundo. Que mundo...

A continuar do jeito que está, o mundo acaba logo e aí teremos um novo mundo. Vivemos um momento de mudanças, espera-se que para melhor. Mas acho que ainda temos um tanto de estrada até o fundo do poço antes de começarmos a subir.

21.5.07

Reflexões matinais

Houve uma época em que o rock, ou grande parte dele, era de protesto. Os tempos eram bicudos, os Estados Unidos estavam enfiados até o pescoço no Vietnã, uns dez anos depois a economia era desalentadora, não havia espaço para nada. No primeiro caso, o rock foi meio psicodélico e altamente político. No segundo, o rock foi pancada absoluta e gerou o punk, anarquista até a medula.
Mas aí vieram os anos 80, começou a década do individualismo e o protesto foi minguando. Hoje, nada parece mais anacrônico que uma banda começar a fazer música de protesto. Foi o que senti escutando o último disco do U2 (quer dizer, toda a discografia da banda, do primeiro álbum em 1980 até o último). O som continua bacana, mesmo as músicas antigas permanecem atuais, mas acaba provocando um certo desconforto escutar as canções que falam de Martin Luther King, do Domingo Sangrento na Irlanda, do Apartheid, enfim, de todas as bandeiras que eles desfraldaram.
A realidade hoje é a da música eletrônica. Uma batida hipnótica que faz as pessoas se mexerem, normalmente embaladas com alguma quantidade de psicotrópicos, sem letra alguma, uma ode ao hedonismo puro. Não é necessário pensar, aliás, quanto menos se pensar melhor. O volume da música já é feito para que não se converse, não se interaja com quem está ao redor. Tudo fica limitado às sensações, nada de reflexão.
E isto não quer dizer que o mundo não esteja precisando de alguém que proteste. A desigualdade diminui em todo o mundo, sim, mas a que preço? Destruiremos o planeta antes que toda a sua população tenha condições de viver com um mínimo de decência. Não sabemos direito porque fazemos tudo o que fazemos, mas continuamos fazendo porque não há alternativas. É uma vida sem sentido, sem objetivos, e parece que continuaremos assim por um bom tempo.
Agora, quem protestará? A última moda é ser emo, falar de idiotices fúteis e banais e ainda por cima vender milhares de discos. Quase quase tá na hora de uma segunda onda punk aparecer...

18.5.07

Voglio di più

Vita spericolata

Voglio uma vita maleducata
Di quelle vite fatte fatte così
Voglio uma vita, che se ne frega
Che se ne frega di tutto sì
Voglio uma vita che non è mai tardi
Di quelle que non dormi mai
Voglio uma vita di quelle che non si sa mai

E poi ci troveremo come le star
A bere del whisky al Roxy Bar
O forse non c’incontreremo mai
Ognuno a rincorrere i suoi guai
Ognuno col suo viaggio
Ognuno diverso
E ognuno in fondo perso
Dentro i cazzi suoi

Voglio una vita spericolata
Voglio una vita come quelle dei film
Voglio una vita esagerata
Voglio una vita come Steve McQueen
Voglio una vita che non é mai tardi
Di quelle che non dormi mai
Voglio una vita, la voglio piena di guai

E poi ci troveremo come le star
A bere del whisky al Roxy Bar
O forse non c’incontreremo mai
Ognuno a rincorrere i suoi guai
Ognuno col suo viaggio
Ognuno diverso
E ognuno in fondo perso
Dentro i cazzi suoi

(Vasco Rossi)

Ah, que vontade...

14.5.07

Coisas de outro tempo

Cortar o cabelo no Salão Oásis, com o seu Silvino, pode ser o melhor desopilador de fígado que pode existir. Em primeiro lugar, paga-se muito pouco pelo corte (R$ 5), o que, em minha cabeleira devastada pela calvície, é um preço justo. Em segundo lugar, e talvez até mais importante que o corte em si, é a conversa.

Na última vez em que lá estive, escutei duas coisas. Primeiro, que o Paranavaí sagrou-se "campeon
" (é isso aí, campeon, nada de campeão) do Campeonato Paranaense de Futebol. Putz, minha avó não consegue falar o til, escutar o seu Silvino, com cara de bom vovô, falando isto, me lembra um avô de quem não tenho recordações.

A segunda, melhor ainda, é quando se falava da ganância infinita dos seres humanos, que sempre querem mais, mais, mais. Ele comentava dos ricaços que ganhavam milhões de reais, que não têm onde enfiar grana, e falava das possibilidades destes caras em conseguir mulheres. "Eles se quiserem chamar a Xuxa, chamam. Eles se quiserem chamar uma francesa, eles chamam!" É uma conversa de alguém que ainda acha as prostitutas francesas o máximo do luxo neste ramo de atividade.

Só gostaria que meu cabelo crescesse mais rápido...

Obs.: o fato de a mesma frase mencionar a Xuxa e as prostitutas francesas não implica necessariamente que esta siga a profissão daquelas.