Pesquisa do Palavrório

9.12.20

O vazio no estômago, de novo

Mais uma vez aparece aquela sensação de vazio no estômago. É recorrente nos momentos em que perco a esperança de uma saída tranquila, ainda que trabalhosa, de alguma situação. É como se o corpo dissesse que algo de ruim está para acontecer, e o estômago é o primeiro que sente. Já pela manhã, em vez de apenas uma ida ao trono, são três ou quatro, o estômago precisa expelir o que está dentro, uma angústia, um medo, um temor, tudo junto. Tem que sair, mas não sai, o vazio permanece.
Gostaria até de dizer que é uma sensação difusa, mas não, é bem concentrada no estômago. Não adianta comer, não enche. Não adianta beber, não conforta. Não adianta tentar esquecer, ele ronca. E ao se manifestar, todas as possíveis piores consequências tomam vulto. A esperança dá uma escapada, espera na sala ao lado, vai tomar um café não sei onde, mas não fica por perto, nem para dar um consolo. Resta o incômodo e o desconforto.
Talvez eu esteja exagerando comigo mesmo, afinal nada ainda aconteceu, e tudo pode mudar nas próximas horas. Sempre pode. Mas nesse exato instante, é como se não houvesse nenhuma chance de algo mudar para melhor. Tem que rezar, respirar, tentar acalmar e trabalhar para fazer passar. Mais que isso, no momento, não dá.
Segue o baile.

17.9.20

Tédio ou desesperança

Segunda, seis da manhã, saio da cama. Na prática, já estou acordado desde as três, me comportando como um bife bem passado, virando de um lado para outro, na tentativa de achar uma posição que me faça voltar a dormir. Mas o sono não vem, e os pesadelos do dia começam a aparecer. Sim, do dia, pois os sonhos são ok, o problema está na realidade.
Trabalhar para quê? Trabalhar por quê? Bate uma desesperança - mas ainda não o desespero - de que parece tudo em vão. Saio de casa já pensando na hora em que estarei de volta. Dez módulos semanais, é o que me digo. Cinco manhãs e cinco tardes, mais ou menos quatro horas cada, e logo acaba a semana. Triste começar a segunda pensando na sexta.
E quando a sexta chega, ela traz um alívio momentâneo. O cérebro quase desliga, quase, e o trabalho fica lá onde ele está, parado. As dívidas não se mexem, o estoque não se mexe, os funcionários não falam, o telefone não toca. Entro em uma bolha para disfarçar que não tenho trabalho, nem problemas relacionados a ele, para viver o fim de semana. Parece que mergulho e escuto todos os sons abafados, a vista é turva, os movimentos são mais lentos, tudo para não pensar em trabalho. À medida que o domingo vai acabando, a angústia de ter que voltar ao batente vai subindo. Controlo a vontade de estar bêbado durante todo o fim de semana, pois eu não mereço me atacar assim. Rezo, o alívio é momentâneo. A realidade vai se impondo e eu não sei exatamente o que fazer.
Segunda de manhã, ou melhor, três da manhã, os olhos abrem de novo. Lá vamos nós, barca à deriva em um mar sem vento nem brisa. Será que nessa semana tem algum vento que sopra para algum lado?

30.7.20

Nó nas tripas

Há diversas pesquisas que mostram a relação direta que nossas tripas, o sistema digestivo, têm com nosso sistema nervoso e emocional. Há inclusive algumas que mostram que para aliviar os sintomas de hiperatividade ou de autismo em crianças é necessário ter uma flora intestinal saudável. Não cheguei a ler com muita atenção nenhuma dessas pesquisas, mas acompanho sempre qualquer novidade nesse tema.
Lembrei disso pois meu estômago está em frangalhos, e não é por causa da alimentação. O emocional anda me derribando. Parece que a motoniveladora das provas e expiações resolver ir e voltar algumas vezes, para me colocar em teste. São acidentes no trabalho, ameaças judiciais, ameaças financeiras, decisões (ainda que em conjunto) postas à prova como um exame de competência, ausência de rumo e objetivo claro, ou mesmo de uma saída para essa grande crise que afeta a todos em geral, mas a cada um de uma maneira diferente. Provavelmente não estou sabendo lidar com isso, e só consigo ver desesperança, ainda que haja esperança.
Muito provavelmente é o momento, mas a dor no estômago é constante. Dá uma sensação de vazio permanente. Como sei que é psicológico, evito comer muito, tenho me esforçado para beber menos, bem menos, dois atos que provocariam um estrago ainda maior caso eu me largasse a eles.
Vai passar? Vai. Vou me lembrar? Espero. Mas que travessia longa e angustiante está sendo.