Pesquisa do Palavrório

16.12.11

Tempus fugit

Recebo a notícia de que querem tirar o Mercato di San Lorenzo do lugar
onde ele está há uns seiscentos anos, pelo menos. Diz o prefeito de
Florença que é para dar uma melhorada na praça, valorizar a bela
Chiesa di San Lorenzo, que tem sua fachada inacabada pouco vista por
conta das barracas dos camelôs que ali trabalham.
É uma pena. Ainda ontem eu trabalhei nesse mercado, aprendi a ser
gente de verdade ali, longe da barra da saia da mãe, contando apenas
comigo e com poucos e bons amigos para dizerem que eu era um cara
bacana. Foi ontem, 20 anos atrás.
Aí me pego pensando no que eu fiz nesses 20 anos, que passaram rápido
demais, e me vem um monte de perguntas. Será que fiz as escolhas
certas? Por que estou aqui, agora, fazendo isso que faço? Eu poderia
ter percorrido outro caminho, que me levasse a outra profissão, outra
cidade, outro país, sei lá, uma outra vida, no fim das contas? E,
claro, a pior pergunta de todas: eu estou satisfeito com as escolhas
que fiz?
Deve ser essa a tal da crise dos 40, quando a cabeça ainda lembra com
bastante frescor o que aconteceu quando você tinha 20 mas já há uma
pusta consciência de que você já dobrou o Cabo da Boa Esperança e
agora seu corpo e sua mente só tendem a piorar, a fraquejar, a falhar
com mais frequência. A idade chegou, é isso. E se os próximos 20 anos
forem tão rápidos quanto os 20 precedentes, não será fácil aguentar a
barra. Aguentaremos, pois é o que nos resta, mas vai ser f...
Tomara que não mudem o Mercado de lugar para eu pelo menos poder
voltar fisicamente a uma bela época da vida. Não será possível
revivê-la, mas relembrar já será muito bom.

15.12.11

Culhões

Terminei meu texto do Rascunho da próxima edição. Como é um artigo
grande, pude copiar um trecho do livro para mandar. Tive uma sensação
estranha, como se eu tivesse invadido a cabeça do escritor para
produzir aquele trecho. Encantei-me com sua precisão, com sua clareza,
com seu estilo. Elogiei-o e pensei: "por que não consigo escrever bem
assim?"
Eu sei porque: faltam-me culhões!!

13.12.11

Mais um passo na direção da cova

Essa era a frase que um ex-chefe meu usava para encerrar o dia de
trabalho: "mais um passo na direção da cova". Nada otimista, mas nada
tão realista quanto essa frase. Afinal, a vida é uma doença sem cura,
inevitavelmente leva à morte todos nós. Por isso, cada dia é mais um
na direção da cova, do grande Kabloie, como disse o Calvin (do
Haroldo).
A grande questão é: o que fazer com todos esses dias que temos antes
de irmos pro lado de lá? Sim, evoluir, ajudar o próximo, progredir,
cuidar da família, trabalhar, estudar etc... O problema é quando tudo
isso deixa de fazer sentido, quando os esforços para resolver os
problemas são inúteis e, mesmo quando se resolve um problema, aparecem
outros cinco para destrinchar. E o pior: são problemas que não foram
gerados por nós. Ou seja, estamos limpando a sujeira alheia porque, de
alguma maneira, ela caiu em nosso colo.
Deve ser por isso que damos tanta importância ao ano novo. Pode ser a
chance de deixar tudo o que é de ruim para trás para tentarmos começar
algo com o pé direito. Tomara que o primeiro passo não seja direto
para a cova.

12.12.11

Uma frase

Dia após dia aparecem frases geniais na minha cabeça. Claro, elas não aparecem do nada, são uma construção de uma série de pensamentos em cadeia, normalmente desencontrados, mas que para mim possuem uma lógica insofismável. Assim, começar a pensar nas tarefas do dia leva às pretensões profissionais, que leva a um repensar as escolhas feitas anteriormente, que leva a cogitar nas possibilidades do que teria acontecido se a resposta a determinadas questões fossem outras, que levam a uma viagem que não tem fim e tampouco sentido prático. Do meio dessa confusão, sai uma frase genial.
Daí eu fico burilando essa frase, lapidando-a, para que ela possua algum sentido a mais do que aparentemente tem. Isso porque quero escrever algo que faça mais sentido, para mim e para alguém que eventualmente aparecer nesse blog. Pois tenho o desejo de escrever coisas que me façam pensar ou que sejam um resultado de meus pensamentos, em que eu me coloco no papel (virtual) e, uma vez colocado o ponto final, eu esteja transformado para melhor. Quero que essa frase genial signifique uma mutação em mim.
E são sempre frases geniais, diria até definitivas. Se eu fosse um cara popular, com certeza seriam frases que estariam na minha lista de aforismos, publicada postumamente. Coisas como "penso, logo existo", "deus não joga dados", "a única coisa que sei é que nada sei", e por aí vai. Acredite, são frases geniais, sínteses de longas cadeias de raciocínio intricado e labiríntico, como a nossa vida, mas que resumem quase tudo.
O problema é que venho me esquecendo com frequência dessas sínteses, e tudo permanece confuso, sem nenhuma frase genial para adoçar o dia. M...

5.12.11

Natal bissexto

Tenho uma proposta: vamos transferir o Natal para 29 de fevereiro? Estou absolutamente convencido de que seria ótimo para todo mundo, exceto para quem lucra com uma festa que deveria ser de cunho intimista, que levasse as pessoas à reflexão.
Há uma razão básica para se transferir o Natal para 29 de fevereiro. Do jeito que é hoje, ele só provoca estresse nas pessoas. Não há um conhecido que não reclame da correria de fim de ano: festas de confraternização profissionais, compromissos familiares, encerramentos aqui e ali e tudo coroado com a inevitável caçada por presentes e lembranças que são obrigatórios em todos os compromissos. As pessoas já reclamam das festas, mas do que elas não gostam mesmo é das compras natalinas.
As pessoas também não gostam da comercialização do Natal. Não há mais o tal do espírito natalino, tudo o que restou foi a troca de presentes, que a cada ano devem ser mais sofisticados, caros etc. A festa familiar (tudo bem, já não há mais famílias como havia antigamente...) sobrevive em um ou outro lugar, mas apenas para quem tem crianças pequenas. A galera entre 15 anos e além que gosta de balada sempre tem alguma para ir após a meia-noite. É tiro certo: assim que batem as 12h no relógio, eles se levantam da mesa, eventualmente pedem licença e vão pra gandaia.
Ou seja, não há mais o que comemorar. Logo, vamos transferir para o dia 29 de fevereiro. Se o Natal acontecesse a cada quatro anos, ele voltaria a ser valorizado. Todo o estresse de compras natalinas sumiria, afinal, há mais tempo para se pensar nas compras entre 1º de janeiro e 29 de fevereiro, aproveitaria-se as férias de cada um para isso e os presentes poderiam ser melhores, mas significativos para as pessoas. O dia 29 também poderia ser declarado o dia fora do tempo, como aqueles malucos que querem um novo calendário propõe, e seria feriado. Mas só quando acontece, ou seja, teríamos um dia a mais de trabalho no ano (o que é bom, já tem muito feriado).
Por fim, não há problemas quanto à mudança de data. Os cristãos escolheram o dia 25 por ser próximo do solstício de inverno. Mas eles eram europeus, no hemisfério sul é o solstício de verão. Como ninguém sabe que dia mesmo nasceu o Cristo (e também não sabem que dia morreu, visto que a Páscoa é uma data flutuante), por que não dizer que nasceu no dia 29? O fato de acontecer a cada quatro anos com certeza aumentaria o misticismo e a euforia em torno da coisa. Mal comparando, é como Copa do Mundo de futebol e de vôlei. Enquanto essa, que é anual, não tem praticamente nenhum appeal, a outra movimenta zilhões de dinheiros. Quem está mais certo?
Está lançada a campanha. Só falta agora um esotérico/astrólogo/numerólogo que invente uma justificativa arcana para a mudança na data de nascimento do Cristo para nós ocidentais. Sim, porque os católicos ortodoxos comemoram o Natal no dia 07 de janeiro, ou seja, a data é pura convenção.

30.11.11

A salvação pela literatura

Ontem meu amigo Rogério Pereira, fundador do Rascunho e atual diretor da Biblioteca Pública do Paraná, foi ao Graciosa Country Club falar sobre literatura (um parênteses que daria uma outra crônica: Do Pudim ao Graciosa, mas como assim?). Foi muito legal escutar de novo o Pereira falar sobre algo que não parece tão importante para a maior parte das pessoas, mas que é fundamental para sermos seres humanos melhores.
No resumo, ler de verdade é escolher ler um livro do qual não precisamos, mas que, depois de lido, nos transforma. Se todos os acadêmicos de literatura pensassem nisso, teríamos menos discussões inúteis e mais conversas legais sobre isso. É fato: ninguém precisa ler Os Irmãos Karamazov, ou Vidas Secas, por exemplo. Mas quem os lê olha o mundo de maneira diferente. E entende os outros humanos um pouco melhor.
Ler é roubar um tempo para si próprio, pois o mundo nos enche de tarefas e afazeres que só roubando tempo para nós mesmos é que conseguimos ler. Quase ninguém tem como profissão leitor, por isso, só "perdendo" tempo com um livro é que conseguimos ler. Talvez as pessoas andem com medo de ficarem sozinhas consigo próprio por 30 minutos que seja, e não tenham coragem de embarcar em um "O Filho Eterno", que mexe lá no fundo de nossas crenças. Mas há recompensas imensuráveis para quem consegue essa dedicação, por minutos que seja.
Talvez o problema seja esse. A recompensa é imensurável. Ela não aparece na forma de um carro mais potente, uma joia mais cara, uma roupa de grife, nada. O ganho é imaterial e pessoal e não consegue ser exibido para os outros. Em nossos tempos, onde aparência é tudo, ler não vale nada mesmo. Paciência. Lutarei, junto com o Pereira, silenciosamente, cativando um leitor por vez, para criar um mundo melhor.
Obrigado, Pereira!


P.S.: E não deixe de ler o Rascunho (www.rascunho.com.br). Melhor ainda, leia e assine!

23.11.11

Privatiza tudo!!

A cada dia avolumam-se as denúncias de corrupção em todos os níveis de governo - municipal, estadual e federal - e em todos os poderes - executivo, legislativo e judiciário. E como os que roubam são parceiros de crime dos que fiscalizam, nada é feito.
Por isso quero privatizar tudo!! Tudo mesmo, até o governo. A empresa que ganhasse a licitação, ou as empresas que ganhassem, seriam remuneradas de acordo com a melhora dos índices propostos. Parece complicado, mas é simples. E, garanto, teria muito menos roubalheira que agora.
A empresa que ficasse com o sistema de saúde, por exemplo, seria remunerada pelos seguintes índices: ausência de filas para atendimento, exames marcados e realizados em tempo decente, especialistas à disposição, cirurgias sendo feitas quando necessárias, hospitais limpos, laboratórios de análises clínicas adequados etc. "Ah, mas você tá transformando a medicina em mercadoria!" Não, estou querendo remunerar alguém por um serviço bem feito. Hoje, eu pago esse alguém (SUS) do mesmo jeito, não usufruo e ninguém é responsabilizado quando alguém que precisa do SUS morre. Adianta ser estatal?
Na educação, também. A cada melhora na nota do Brasil no PISA, no Enem e em outros indicadores, a empresa responsável ganha mais. De novo, eu já pago impostos e tenho que pagar escola pros meus filhos, logo, pago duas vezes pela educação deles. E mesmo assim, o Ministério da Educação não fiscaliza ninguém e, quando o ensino é ruim, ninguém é punido. Mas temos cinco milhões de funcionários públicos no setor de educação no Brasil, mas só dois milhões de professores. O resto é gente que fica em escritórios ou sindicatos reclamando de falta de verba para os salários deles, não para o dos professores.
Isso serve para tudo. Até para energia elétrica, área que os defensores da presença do estado chamam de estratégia e sensível. Pois bem, quem foram os responsáveis pelos últimos apagões? A energia gerada em Itaipu (estatal) é entregue a Furnas (estatal) para ser transportada até São Paulo em um sistema gerido pelo ONS (estatal). Tudo fiscalizado pela Aneel (autarquia estatal). Algum punido? Alguma multa? Logo, de que adianta ser estatal? Agora, remunera a empresa pela qualidade do serviço. "Ah, mas olha a telefonia, todas são privadas e estão cheio de defeitos." Estão, concordo. Mas ninguém se lembra que quando era tudo estatal era muito pior (só era melhor pra quem trabalhava nelas ou era amigo dos presidentes, governadores, ministros etc...) e que nunca deixaram a Anatel trabalhar direito. Deixa pra ver se não melhora.
O Executivo inteiro pode ser privatizado, e a remuneração seria diretamente proporcional à qualidade de vida das pessoas. Melhorou, ganha mais, piorou, ganha menos ou paga ou pede pra sair. O nosso Legislativo é uma piada, podia ser extinto que não faria falta atualmente. E o Judiciário também seria privatizado. As bancas de advogados que garantissem julgamentos céleres, com amplo direito de defesa, aplicação efetiva de penas e tudo mais ganhariam por isso, por essa taxa de sucesso. E não adianta dizer que Justiça não pode ser privada. Pergunto se a estatal tem dado certo...
O único defeito disso tudo é que seríamos nós os responsáveis por fiscalizar tudo. E como continuamos esperando o estado mãe, que nos dá tudo sem pedir nada em troca, que nos deixe na moleza, isso nunca dará certo... Que pena.

16.11.11

A dificuldade da modernidade

Os tempos andam complicados. Não há nada simples, nada é fácil de fazer. Desistir parece ser fácil, talvez até seja, mas as consequências são péssimas. Pergunte à família de alguém que desistiu e saberás que tudo depois fica ruim.
Andamos vivendo do dilema do botafoguense: você não pode ganhar, você não pode empatar e você não pode nem mesmo largar o jogo. Tem que sofrer os 90 minutos sabendo que a partida está perdida desde o começo.
Montar um negócio honesto no Brasil é um inferno. Manter um negócio honesto são dois infernos. Ganhar honestamente são três infernos. E você pode pensar em ir para o exterior, onde é mais fácil fazer negócios. Ir para onde? Os Estados Unidos vão mal, a Europa está prestes a quebrar, na China não deixam entrar, ir para onde? Não há saída, estamos encurralados.
Vamos fazendo o que pode ser feito, sem satisfação, apenas por necessidade. Claro, trabalhar com aquilo de que se gosta é uma necessidade nova, nossos avós não tiveram essa chance da modernidade, de vocação profissional, não. Com eles, ou era capinar e comer ou nada, não havia escolha. Mas agora temos a modernidade, descobrimos nossos desejos mais escondidos, inclusive os ligados ao trabalho, e não somos mais felizes.
Tudo anda difícil nesses tempos modernos. O dia tem horas a menos para a quantidade de afazeres e burocracia que ele demanda. Trabalhamos mais e mais para ter uma fração do resultado que tínhamos há vinte anos. E não é porque não somos mais jovens, é porque não há como ter resultados mesmo, estamos cercado por muros e muros que impedem que o trabalho sério gere frutos sadios. Vicejam apenas as árvores podres, os frutos que sugam sua seiva dos cofres públicos e do crime. Provavelmente sofremos mais por não compactuar com tudo isso que aí está, mas sem saber o que por no lugar ou como resolver o que aí está.
Estamos impotentes diante da máquina da modernidade que tudo dificulta. E a fé, que poderia ser a boia na qual se agarrar para pelo menos não afundarmos, parece estar furada, dela não obtemos respostas. Podemos ter esperança, mas ela é golpeada no estômago umas cinco vezes por dia, pelo menos. É, tá difícil...

10.11.11

Sentimentos fascistas

Hoje de madrugada prenderam o Nem. Antes tinham prendido outros asseclas. De vez em quando o rádio diz que, em um confronto com policiais, bandidos flagrados roubando foram mortos. Um ou outro político aparece perdendo o mandato (cena rara, mas que acontece de vez em quando, já que há milhares deles roubando-nos por aí). Em todas as cenas, me dá uma água na boca, a sensação de que o sangue logo virá.
É um sentimento fascista, eu sei, querer a morte de quem não se adaptou às regras sociais e de progresso da humanidade. Tento racionalmente combater esse sentimento, rezando para tentar entender que são espíritos desviados, influenciados por outros maus espíritos e que não tiveram, em sua vida, chances de serem acolhidos com amor. Tento ser cristão de verdade, perdoar quem erra. Mas anda difícil
Anda difícil pois há muita maldade e sujeira nesse mundo. Falando dos políticos, a faxina da Dona Dilma é só fachada, não varre nada, continua tudo debaixo do tapete, e o que muda é o tapete, não o que está embaixo. No caso do crime, é como enxugar gelo. Prende-se quem vende a droga, mas como a droga chega até esses bandidos? Até onde se saiba (e o Google Earth mostra bem claro), não há plantação de coca nos morros cariocas. Com certeza há peixes graudíssimos por trás (será que políticos?). Mas esses não vão presos. E os ladrões comuns, esses dos caixas automáticos, das casas arrombadas, esses chegam até a ser pobres coitados no meio desse cenário de desilusão.
É triste admitir que tenho sede de sangue. Talvez admitir seja o primeiro passo para combatê-la e daí rezar mais, fazer mais coisas boas, fazer mais o bem. Talvez a sede passe, mas a vontade de que um dia haja justiça de verdade não. E para isso, é necessário trabalhar. Ao trabalho, pois!

8.11.11

Inversão

Já há espaço no mundo para se derrubar os clichês. Ontem, enquanto minha esposa estava sentada em frente à TV, esquentei o jantar, pus a mesa, tirei os pratos, lavei a louça e costurei um emblema no kimono dele. Ao fim, perguntei a ela se ela queria uma cervejinha para acompanhar. Bons tempos!

19.10.11

Ansiedade digital

Não são só os jovens que se tornaram ansiosos. Os adultos que trabalham diretamente plugados na internet também. Temos o mundo ao alcance de nossos dedos e queremos, a cada minuto, ter a surpresa boa ou ruim de uma notícia bombástica.
Estão fritando mais um ministro no Brasil, dessa vez o dos Esportes. É bem provável que ele caia, mas o ritmo da fritura está lento para quem está ligado na Internet. Quero mais um fato relevante agora!! Quero mais uma denúncia avassaladora já!! Quero uma decisão da presidente nesse instante!!
Isso e mais um monte de coisa, tudo para agora, para já, para ser consumido quentíssimo, a única maneira possível (para quem já está viciado) de se consumir notícias. O jornal impresso é lento demais, velho demais, e ultimamente tem um texto cada vez mais parecido com o da Internet. Em vez de valorizar seus pontos fortes, acaba indo buscar no meio concorrente as suas virtudes e procuram copiá-las, o que não dá certo, obviamente.
Quero tudo para agora, para já. Quero uma solução para a vida que venha ex-machina, pronta e entregue à jato. Não quero mais tempo para as coisas aconterem, quero tudo súbito, agora, imediatamente. Assim somos nós, humanos, nessa nova era digital.
Felizes os que ainda não se contaminaram por isso.

31.8.11

Essa pasmaceira tem uma causa

Ontem a ladra Jaqueline Roriz foi inocentada pelos seus pares, que não viram nada de errado em ela furtar dinheiro público à frente de uma câmera. Claro, o crime aconteceu antes dela virar deputada, logo, a deputada é inocente. Se a pessoa é culpada, a Justiça que julgue.
É mais um de milhares de escândalos que pipocam nesse Brasil, que existiam desde sempre, em todos os governos (FHC incluído), mas que agora, depois que Lulla passou a mão na cabeça de mensaleiros, deputados com dólares na cueca e outros mais, parecem se multiplicar a cada dia.
E por que nós não fazemos nada para acabar com isso? Por que a população toda não se revolta? Há uma causa, e não é apenas preguiça ou presunção. É dependência mesmo. O economista Eduardo Giannetti fez uma conta simples no último programa Fim de Expediente, na CBN. De acordo com os dados dele, há 40 milhões de pessoas no Brasil de hoje que dependem de um contracheque do governo. São funcionários públicos, concursados ou comissionados, nos três poderes, bolsistas do Bolsa Família, aposentados, inválidos e outros que ganham dinheiro direto do governo. Se cada um morar em uma casa com outras duas pessoas, temos aí 120 milhões de pessoas que dependem do governo. Esses formam a maioria. Sem contar a miríade de empresas que depende do governo e das licitações para viver. A conta deve aumentar.
É por isso que ninguém protesta. Temos um estado gigantesco que ainda é a mãe da maioria. O problema mesmo é o estado elefante. E, se os que não se enquadram nas categorias acima não se organizarem para diminuir o tamanho do estado, estamos lascados. Os sindicalistas meteram o pau na privatização da telefonia, mas agora lá não tem nenhum apadrinhado de político ganhando para não fazer nada, e temos telefones e celulares. Meteram o pau na venda da Vale e da Embraer, mas os diretores que lá estão trabalham efetivamente, e as duas empresas estão entre as maiores do mundo. Os sindicalistas e a esquerda burra encheram o nosso saco dizendo que privatizar os bancos estaduais era errado. Desde que os bancos estaduais foram vendidos, nunca mais houve uma grande ameaça de quebra do sistema financeiro, porque simplesmente fecharam a torneira para governadores e deputados estaduais continuarem roubando, conseguindo empréstimos sem nunca ter que pagar, indicando funcionários incompetentes. A vida só melhora quando o estado diminui.
Pena que a oposição nesse país é tão subserviente como a situação. Vai demorar para mudar algo.
Meu único consolo, pois acredito em vidas após a morte, é que os corruptos de hoje serão cobrados pelos espíritos daqueles que eles prejudicaram ao desviar dinheiro da saúde, da educação, do emprego, da moradia, da reconstrução de casas e cidades vítimas de tragédias. Eles não perdem por esperar...

9.8.11

Faz tempo

Faz tempo que não venho aqui, e é difícil regressar. Não porque seja difícil escrever, mas porque é difícil romper a inércia. Acostumamos a não fazer nada, a deixar as horas escorrerem pelos dedos sem fazer nada de útil, a ficar lamentando a falta de coragem de tomar uma atitude, e continuamos não fazendo nada. E, quando fazemos algo, o tiro sai pela culatra. Nessas horas, dá vontade de enfiar a cabeça dentro de um buraco e esperar o mundo acabar (em 2012?) e depois ver o que sobrou.

Que momento...

1.6.11

A importância de estar bem informado para saber onde investir

Texto publicado no site www.bussoladoinvestidor.com.br em 01/06/2011

Com o aumento da velocidade da economia mundial, estar antenado na economia é condição obrigatória para se ter lucros com seus investimentos

Da redação InvestMais

Se tem um item que não pode faltar para o investidor na hora de aplicar o seu dinheiro, esse item é informação. É obrigatório para o investidor ler muito sobre os setores que lhe interessam, sobre a economia como um todo, sobre possíveis mudanças nas regras que regem os setores onde ele investe e, se ele disser que não tem tempo para ficar acompanhando tudo, que pelo menos crie uma estratégia de investimentos que o permita acompanhar de vez em quando as empresas onde ele coloca o seu dinheiro. Mas, ficar sem acompanhar, não dá.
Veja o exemplo da indústria de celulares (são ações negociadas em seus países de origem, mas dão uma ideia do que pode acontecer caso o investidor não preste atenção). Há uns 15 anos, aproximadamente, o grande nome da indústria era a Motorola. Afinal, era o criador do rádio comunicador e tinha acabado de lançar um produto arrasa quarteirão, o StarTac, o menor celular jamais visto até então. Só os bacanas o tinham no Brasil. Nessa época, ninguém dava bola para a Nokia, uma empresa finlandesa que produzia celulares bons, mas sem nenhum charme. Logo, ter ações da Motorola era um ótimo negócio.
Dez anos atrás, quem era a nova rainha do pedaço era justamente a Nokia. Com bons preços e bons aparelhos, a empresa conseguiu abocanhar quase 40% do mercado mundial de celulares. Seu sucesso gerou inúmeros cases de gerenciamento, de como se pode ser um líder mundial sem esfolar os trabalhadores, de como o uso correto da inteligência gera riqueza etc. A Motorola tentou reagir com a linha Razr e, durante um tempo, pareceu conseguir. Mas durou pouco a onda e a Motorola naufragou novamente. Se alguém comprou ações da Nokia nessa época, fez um ótimo negócio. Fez um ainda melhor se vendeu as ações da Motorola para investir na finlandesa.
Mas, em 2007, um tsunami atingiu a indústria de celulares. Nesse ano a Apple lançou o iPhone. Muitos desdenharam do produto, achando que seria uma reedição da história dos computadores da Apple - produtos de ótimo design e desempenho mas para um nicho pequeno de mercado - e com certeza permaneceram ou com ações da Nokia na carteira ou com algumas remanescentes da Motorola, esperando o seu renascimento. Pois bem, o iPhone jogou a indústria de pernas pro ar, e tudo mudou.
A Nokia continua sendo líder de mercado em volume, mas ela não é mais lucrativa (veja a notícia aqui http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5idRv6jEwa-3ZfViHwpaZOPRIWuHA?docId=CNG.96fc7f97a976b077ce116084a35c6086.1281). Recentemente, a empresa se uniu à Microsoft (outra que não viu o tsunami dos tablets, da Internet e da computação em nuvem) para tentar dar uma reviravolta em sua história. Já a Motorola tem tentado recuperar uma parte do brilho antigo ao adotar o Android, sistema operacional da Google, como a sua plataforma para smartphones e tablets (e o Xoom, seu tablet, é considerado um dos melhores do mercado atualmente). Mas o investidor que acompanha seu portfolio já teria se desfeito das ações da Motorola há uns 12 anos, pelo menos, da Nokia há uns cinco, e hoje teria ações apenas da Apple e, eventualmente, da Google.
Esse foi o exemplo dos celulares, mas há muitos outros: a indústria de automóveis, a guerra das colas (Coca x Pepsi), o setor de aviação (PanAm, Varig, quem será o próximo?), o varejo (Mappin, Mesbla etc.). No mundo dos negócios, nada é eterno. Mas, para o investidor que acompanha as notícias, as mudanças podem significar oportunidades de ganhos. E se ele está bem informado, com certeza saberá se antecipar às mudanças que podem gerar perdas para a sua carteira. Informação é imprescindível para ser fazer escolhas mais certas (ou melhor, menos arriscadas) na hora de investir, e não saber o que está acontecendo quase sempre é sinônimo de perdas.

Bons Investimentos

25.5.11

Problemas na matriz energética chinesa já afetam economia brasileira

(Não gosto de ser catastrofista, mas às vezes é inevitável. Artigo publicado na www.bussoladoinvestidor.com.br em 25/05/2011)
Gigante asiático enfrenta escassez de energia e maior seca dos últimos 50 anos e as consequências serão globais

Da redação InvestMais

Em uma época em que a China é a grande locomotiva da economia mundial, duas notícias recentes sobre o país - uma divulgada ontem pelo New York Times e outra hoje pelo Financial Times – devem colocar o investidor em estado de alerta máximo, principalmente pelas possíveis consequências para a economia brasileira, em um primeiro momento, e para a economia mundial na sequência, essa economia que ainda não se recuperou do baque sofrido em setembro de 2008.
A primeira notícia, publicada pelo New York Times, fala sobre a matriz energética chinesa e os conflitos que começam a aparecer entre as empresas geradoras de energia e o governo chinês. Ainda que as empresas sejam controladas pelo estado, elas também têm ações na bolsa de Xangai. Logo, prestam contas para seus investidores. Pois bem, na China o preço da energia elétrica cobrado do consumidor é controlado pelo governo, mas o preço do carvão foi liberado em 2008. Vale lembrar que o carvão é responsável por 73% da geração de energia da China, enquanto a matriz hidroelétrica responde por apenas 22%.
Com o crescimento da economia, os chineses foram às compras de todos os eletrodomésticos possíveis e imagináveis, mas um em especial é o best-seller por lá: ar-condicionado (para aquecer ou resfriar). E esse equipamento é um sugador contumaz de energia. O resultado é que a demanda por energia subiu muito, o preço do carvão subiu junto mas o preço cobrado dos consumidores não (o governo não autoriza aumentos grandes para não jogar mais lenha na fogueira da inflação). Por conta disso, as empresas produtoras de energia estão fazendo corpo mole na geração, usando diversos subterfúgios para não entregar energia: manutenção preventiva mais frequente, adiamento da construção de novas plantas, menos horas de trabalho diárias etc. As empresas alegam que, se não houver reajuste, as empresas quebrarão.
Em várias cidades da China o racionamento de energia já é uma realidade. Por conta do racionamento, as empresas começaram a comprar menos commodities de países como o Brasil e a Austrália, o que já provocou uma queda de 10% nas cotações do ferro e do cobre nesse ano. Para o Brasil, essa é uma péssima notícia, pois em 2009 a bolsa brasileira teve um desempenho excepcional ajudada e muito pela demanda chinesa por commodities, que manteve as cotações em alta.
A segunda notícia diz respeito à dificuldade chinesa em trocar a sua matriz energética. Quando se diz que 22% da energia chinesa provém de hidrelétricas, quer se dizer que esses 22% acontecem em condições meteorológicas normais, com os reservatórios cheios. Mas o FT de hoje mostra que a China passa pela sua pior seca dos últimos 50 anos. Sem água para encher os reservatórios, o país continuará dependendo do carvão para gerar energia. Não por acaso a China é o maior investidor mundial na pesquisa de fontes de energia renováveis, em especial a energia eólica, mas ela ainda é mais cara que fontes tradicionais. Ou seja, nada no curto prazo indica que a situação mudará na China.
Para o Brasil, o primeiro impacto é nas cotações das commodities. Uma China comprando menos significará menos exportação de minério de ferro (o que afeta diretamente os resultados da Vale) e reduzirá as cotações de petróleo no mundo (Petrobras). Se houver recessão na China, com redução da renda, haverá menos exportação de alimentos (BRFoods, Marfrig, JBS e afins). Do outro lado, se os preços da energia subirem na China, haverá uma chance de os produtos de lá subirem de preço e a indústria brasileira voltar a ser competitiva. Essa é uma hipótese um pouco mais remota, mas que já é realidade nos Estados Unidos, por exemplo, onde as recentes altas no custo da mão-de-obra chinesa voltaram a tornar a manufatura americana mais barata que a chinesa, somando custos de logística, burocracia e os outros extras, em alguns casos. Claro, estamos falando de um país com uma legislação trabalhista decente (os EUA), não a nossa getulista legislação.
O resumo de tudo é que a China passa por um momento delicado. O país não tem fontes de energia suficientes para abastecer sua demanda com preços baixos e por isso ou reajusta os preços praticados ao consumidor – e vê sua vantagem competitiva reduzir-se significativamente – ou reduz a demanda – o que significa conter bastante o crescimento. A industrialização acelerada também tem provocado mudanças significativas no meio ambiente, esgotando os recursos naturais do país. Como o país sairá dessa encruzilhada, não se sabe, mas com certeza tudo o que acontecer por lá terá reflexos por aqui. Investidor, fique de olho!

Bons Investimentos!

23.5.11

Europa joga mais risco nos mercados

Artigo publicado no site GuiaInvest em 23/05/2011

Crise fiscal e consequências políticas nos países europeus deixam o cenário ainda mais instável e imprevisível
Da redação InvestMais
A semana começa com notícias muito ruins para os investidores, a maior parte delas tendo como origem a Europa e sua crise fiscal. Fica difícil até colocar uma ordem de importância nas notícias desse fim de semana, mas é necessário para o investidor perceber que a situação europeia é um dos principais drivers do mercado atualmente, e que enquanto não houver uma saída clara para os problemas europeus, os mercados mundiais andarão de lado.
O principal problema dos europeus é a crise fiscal. A Grécia foi o primeiro país a cair, recebeu ajuda da União Europeia, ajuda essa que foi insuficiente para colocar o país nos eixos e agora ela pleiteava um novo empréstimo para poder rolar sua dívida. Pois bem, com a prisão de Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, a negociação do novo empréstimo foi interrompida e o risco de a Grécia decretar uma moratória em sua dívida cresceu muito, a ponto de o governo grego ter admitido pela primeira vez, nesse fim de semana, que a moratória é possível. É um péssimo sinal para o continente europeu.
Péssimo porque chama a atenção para os outros países em dificuldade no continente. A Irlanda já recebeu um grande pacote de ajuda, mas não se sabe ainda se ele gerou resultados positivos ou não. Portugal também receberá ajuda para tentar por a casa em ordem, mas é muito cedo para dizer se terá sucesso ou não. A agência Standard & Poor’s rebaixou a perspectiva da classificação de crédito da Itália, jogando mais lenha na fogueira da crise fiscal dos PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha). Enfim, a crise fiscal nesses países é grande, e como todos eles fazem parte da zona do euro, o que acontece em um tem reflexo imediato nos outros 15 que também usam a moeda única europeia.
E como a economia é o principal fator decisivo em uma eleição, a população começou a mostrar seu descontentamento nas urnas. Na Espanha, o governo do primeiro ministro Jose Zapatero sofreu uma derrota estrondosa nas eleições regionais. Na Itália, Silvio Berlusconi também sofreu nas urnas. O mesmo aconteceu em Portugal, na Alemanha e em todos os países onde estão acontecendo eleições. O resultado é sempre o mesmo: a população vota contra o partido no poder, não importa de qual tendência ele seja, direita ou esquerda. Para os mercados, isso é um mau sinal pois nunca se sabe se o governo que entra manterá os compromissos assumidos pelo que sai. Enfim, a situação na Europa é crítica.
O primeiro reflexo de toda essa confusão é a queda nas cotações das commodities. Como a economia europeia está fraca, haverá menos demanda por commodities, o que é ruim para o Brasil, cuja pauta de exportação é dominada por elas. O segundo é o aumento da aversão ao risco. Os investidores desmobilizam suas posições nos mercados emergentes e migram para aplicações mais seguras, em especial os títulos do Tesouro Americano. Assim, diminui a liquidez nas bolsas de valores. A Bovespa tem sofrido com esse fluxo de dólares para o estrangeiro.
Ainda há outros fatores que o investidor deve monitorar para poder fazer uma escolha sensata com seu dinheiro. A China continua em seu processo de redução do ritmo do crescimento, o que afetará a demanda de commodities e, por conseguinte, suas cotações. Os Estados Unidos vêm se recuperando mas não tão rápido quanto desejado nem tão linear quanto esperado, ainda é uma corrida cheia de tropeços. É um cenário muito complicado que elimina a possibilidade de haver um norte claro para os mercados e que requer do investidor cautela redobrada, sob o risco de as perdas atuais não poderem ser compensadas com os ganhos futuros.
Bons Investimentos!

20.5.11

A economia mundial está emperrada, e quem sofre é a bolsa

Artigo publicado no site www.insidernews.com.br em 20/05/2011

Da redação InvestMais

Os mercados amanhecerem hoje com muito medo do que pode acontecer na Europa. Além dos problemas já conhecidos e que não eram poucos - a necessidade da reestruturação da dívida grega (nome bonito para calote), os problemas fiscais de Irlanda e Portugal, as eleições próximas na Espanha e um euro forte na relação com outras moedas – a prisão do agora ex-diretor gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss Kahn, complicou tudo. O FMI é peça chave para que a grave situação europeia seja gerenciada de maneira ponderada, e a saída de DSK colocou muita incerteza no cenário e, por consequência, como não há um direcionamento claro para a economia mundial, as bolsas globais têm sofrido, independente do balanço bom das empresas.

Para ler a íntegra desse artigo, clique aqui.

18.5.11

O governo atrapalha o investidor - de novo!

Texto publicado no site www.bussoladoinvestidor.com.br em 18/05/2011

Interferência da administração federal prejudica o desempenho das duas maiores empresas da bolsa brasileira - Vale e Petrobras

Da redação InvestMais

O governo brasileiro (não importa de que partido) considera que todos os cidadãos são incompetentes para gerir o seu dinheiro, que ele deve legislar sobre todos os aspectos da vida (a última piada é a proposta de lei de incluir avisos contra o câncer de próstata em cuecas) e que somente ele sabe o que é melhor para o país. Pouco importa os raros exemplos do passado em que os governantes privatizaram alguma coisa que, logo em seguida, se tornaram empresas de grande sucesso: Vale, Embraer, CSN, Usiminas, as telefônicas etc. O governo sempre estende seus tentáculos de polvo para tentar controlar tudo.
Os dois últimos exemplos dizem respeito à Petrobras e a Vale, que juntas representam cerca de um quarto do Ibovespa. São exemplos que deveriam acender todas as luzes de alerta no investidor por conta do potencial de estrago que a interferência governamental pode provocar nas cotações das ações dessas empresas. E, de novo, o governo não aprendeu a lição. As ações da Petrobras patinaram em 2010 por conta das incertezas do processo de capitalização da empresa para explorar o pré-sal, devido aos desejos do então presidente Luís Inácio da Silva. A Vale sofre em 2011 por conta dos reflexos da troca intempestiva do seu presidente, Roger Agnelli, por ele não agradar o partido que está no poder.
Pois bem, a situação continua ruim. Na última reunião do Conselho de Administração da Petrobras, o seu maior acionista, o Tesouro Nacional, ordenou que seja feito um corte de R$ 35 bilhões no plano de investimento da empresa. A notícia foi veiculada pelo jornalista Ricardo Noblat, do jornal O Globo, em sua edição de hoje. O que significa esse corte? Significa reduzir a demanda, ou seja, reduzir a pressão inflacionária no mercado brasileiro. Além disso, o governo também ordenou à empresa que não suba os preços da gasolina e do diesel para ajudar no combate à inflação. A primeira decisão atrasará o início da produção e comercialização do petróleo do pré-sal, reduzindo as receitas da Petrobras. O segundo pode não reduzir receitas, mas reduz a margem de lucro da empresa (o que a empresa já avisou que acontecerá no balanço do 2T11). Em resumo, só é um bom negócio para o governo. Para os milhares de acionistas da empresa, é uma péssima notícia.
Do lado da Vale, as pressões governamentais para a troca de Agnelli por um presidente mais cordato deixaram suas marcas. Os custos de captação da Vale no mercado internacional estão em seu nível mais alto na comparação com a BHP Billiton, outra mineradora que tem o mesmo perfil da empresa. Como os investidores estrangeiros não escutam os discursos do ministro da Fazenda Guido Mantega (sorte deles), pouco importam as promessas, o que vale são os números e os fatos. E os fatos dizem que o governo quer intervir na Vale, a empresa de maior sucesso do Brasil nos últimos 10 anos. E como as intenções governamentais nem sempre coincidem com os desejos dos acionistas e investidores, eles aumentam as exigências para emprestar seu dinheiro, o que é mais do que natural. Como resultado, o lucro futuro da Vale pode cair para que ela honre os compromissos assumidos atualmente, pois terá que oferecer juros mais altos para captar dinheiro. Mais uma vez, péssimo negócio para os acionistas.
Uma das explicações para esse intervencionismo explícito (e, por ser explícito, negado diariamente pelas autoridades) é que esse governo acredita ter a solução para todos os problemas da economia, e que o dinheiro das empresas estatais deve servir ao governo, não às empresas. Mas o governo é um péssimo gestor de recursos, basta ver o que faz com os trilhões de reais que arrecada em impostos. Melhor seria se a administração se focasse em tornar a máquina pública mais eficiente e enxuta. Isso sim reduziria a inflação e geraria riqueza para o país, pois permitiria que houvesse menos carga tributária e geraria um boom de empreendedorismo que finalmente alçaria o Brasil à condição de país desenvolvido.
No entanto, isso não deve acontecer nessa administração. Por isso, investidor, se você quer ter papéis da Vale e da Petrobras na carteira, é natural, afinal, são ótimas empresas. Mas não espere muito delas enquanto o governo continuar metendo seus longos tentáculos na vida cotidiana dessas companhias. Enquanto isso acontecer, o retorno será mirrado.

Bons Investimentos!

17.5.11

Preconceituoso

Descobri que sou preconceituoso. Desde a edição do novo livro de Gramática Portuguesa, em que "os livro" e outras estultices passaram a ser válidas, descobri que sou um preconceituoso linguístico. É, foi isso que disse a professora que escreveu o livro. Em algumas situações, se você disser "os livro", "dez real" e afins você pode ser discriminado pela maneira como fala. E eu discrimino mesmo. Não suporto um "para mim fazer", odeio um "eu se garanto" e tenho pavor de erros de concordância verbal.
Mas também tenho outros preconceitos. Sou um preconceituoso matemático também. Não aguento ver pessoas usando a calculadora para subtrair 49 de 70, ou para somar 12 e 18. Quando vou pagar uma conta qualquer e dou uma nota redonda (10, 20 ou 50) e vejo a pessoa usando a calculadora para saber o quanto me deve de troco, tenho vontade de gritar: "ei, está com preguiça mental?". Sim, sou preconceituoso matemático.
E também sou preconceituoso geográfico. Quando alguém fala que Miami fica na Europa, ou não sabe se o Chile é da América do Sul, ou pergunta se Paris e Londres ficam no mesmo país, tenho vontade de esganar a pessoa e enviar um mapa-mundi goela abaixo do sujeito para ver se aprende. Não vou nem falar do meu preconceito histórico, gente que embaralha a história para ela lhe ficar mais conveniente. Tenho raiva mesmo!! (Se bem que, nesse caso, normalmente todos têm raiva, pois são os governantes de plantão que tentam reescrever a história para adequá-la à nova realidade)
É bom tomar cuidado. Tantos preconceitos assim me levarão à prisão. A única vantagem é que será uma espécie de nova ágora: todos os que prezam a educação estarão presos por não suportarem as estultices de um grupo de pseudo-intelectuais que tenta justificar a ignorância, com o único objetivo de perpetuá-la e manter os ignorantes submissos, aguardando a esmola governamental. Será bacana ficar filosofando sem ter nada o que fazer.
Tristes tempos...

16.5.11

Cuidado com as estrelas corporativas

Concentração de poder na mão de executivos nem sempre é sinal de boa saúde empresarial

Texto publicado no site GuiaInvest em 16/05/2011

Da redação InvestMais

Ontem o diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, foi preso em Nova York acusado de abusar sexualmente de uma funcionária do hotel onde estava hospedado. Foi o que bastou para jogar um balde de medo nos mercados financeiros europeus na manhã de segunda-feira. Praticamente todas as bolsas europeias operaram em baixa nesse dia, reflexo do temor de que as negociações de um novo pacote de ajuda para a Grécia sejam prejudicadas. O ponto de análise aqui, porém, não é o reflexo da prisão de Strauss-Kahn, mas sim a importância de uma única pessoa em uma instituição econômica relevante.
Uma instituição grande como o FMI não deveria ser tão impactado pela ausência de um de seus integrantes, mesmo que esse seja seu presidente. A grosso modo, deveria existir toda uma diretoria que pensa da mesma maneira e que, na ausência de uma pessoa, o restante do quadro fosse capaz de tocar os negócios adiante com a mesma competência e seguindo as mesmas diretrizes do chefe. O mercado, porém, não entendeu isso, e analisou que a ausência de Strauss-Kahn pode prejudicar todo o cenário econômico europeu. Não seria poder demais na mão de uma única pessoa?
Mas esse não é um caso isolado. Nas empresas listadas em bolsa, por exemplo, apesar de elas terem milhares de donos - seus acionistas - que manifestam sua vontade através dos conselhos de administração e das assembleias de acionistas, há uma expectativa enorme colocada sobre os líderes dessas empresas. Relembrem o caso da Vale. Roger Agnelli foi o presidente da empresa nos últimos 10 anos, e comandou uma equipe que alçou a empresa da sexta para a segunda colocação no ranking mundial das mineradoras. Sua equipe tornou a Vale a empresa mais importante da Bolsa brasileira, e uma mega geradora de dólares para o Brasil, conseguidos através da exportação de seus produtos. Mas Roger Agnelli balançou no cargo um tempo, e as ações da Vale balançaram junto. Será que ele concentrou demais o poder? Agnelli era o Sr. Vale e sem ele a Vale não é tão boa?
O CEO ou presidente hiper famoso é uma novidade no Brasil. Além de Agnelli, podemos pensar em Luiza Trajano, do Magazine Luiza, Abílio Diniz, do Pão de Açúcar, Luiz Eduardo Falco, da Oi, Antônio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim, mas não muitos mais. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, o culto ao CEO já é mais antigo. Steve Jobs, Bill Gates, Larry Ellison, Jack Welch, Lee Iacocca, Rupert Murdoch, Carlos Slim, Warren Buffett e Andy Groove, por exemplo, são nomes que podem ser ditos que automaticamente o nome de suas empresas vêm à tona. E a mídia econômica presta tanta atenção à saúde e ao comportamento dessas pessoas quanto aos balanços de suas empresas. Basta ver as oscilações dos papéis da Apple quando surgem novos rumores de problemas de saúde de Jobs.
As grandes empresas, longe de serem uma democracia, são na prática altamente autoritárias. Um presidente carismático escolhe diretores que pensem como ele e que não o enfrentem diretamente. Abaixo deles há uma multidão trabalhando para executar ordens e não para questioná-las. Os departamentos de Recursos Humanos das empresas podem dizer que não, que há meritocracia instalada, que as pessoas têm chances iguais, mas na prática o mundo empresarial concentra poder na mão de poucas pessoas. O mesmo acontece no mundo das finanças e na economia dos países. Quando Antônio Palocci teve que sair do Ministério da Fazenda no primeiro governo Lula por ter ordenado a quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Silva, houve dias de terror no mercado acionário local. Isso aconteceu mesmo sendo Palocci um representante de um conjunto de ideias, não o seu único defensor ou executor.
Um dos problemas do executivo chefe ser muito famoso ou personalista é que será difícil para ele admitir os próprios erros. É difícil para o ser humano reconhecer que errou, e quando um CEO atinge o estrelado corporativo, ele acreditará - na maioria dos casos - que conseguiu isso porque está certo de suas decisões e atitudes. Será difícil para ele reconhecer a necessidade de mudar o rumo das coisas quando os resultados não vão muito bem. Claro, isso vale para CEOs contratados, não para os fundadores de empresas que também são seus CEOs (Luiza Trajano e Abílio Diniz, por exemplo). Por isso esses CEOs têm um turn-over grande, vão trocando de empresa á medida que seus resultados vão piorando. E, o que é mais estranho, continuam chamando a atenção da mídia para si, mesmo não entregando resultados. Cuidado!
A lição que fica para o investidor é que, seja qual for a empresa que ele escolher para investir, é necessário avaliar também o seu quadro de diretores. Conhecer as pessoas que dirigem uma companhia é muito importante para poder fazer escolhas mais acertadas de investimento, e evitar ficar preso a uma personalidade empresarial. CEOs estrelas podem gerar muita mídia, mas não necessariamente geram muito resultado. Para o investidor, uma administração anônima que gera lucros é muito melhor que uma famosa que gera apenas manchetes.

Bons Investimentos!

13.5.11

Cenário mundial obriga investidor a ser mais realista que otimista

Artigo publicado no site InsiderNews em 13/05/2011

Da redação InvestMais

Faz algum tempo que o investidor, qualquer um e de qualquer porte, não tem um sono tranquilo. A quantidade de acontecimentos de impacto que tem se sucedido tem colocado por terra toda e qualquer previsão a respeito de como estará a economia mundial no curto e no médio prazo. Dentro desse cenário de grande incerteza, qual o caminho que o investidor deve tomar para, em primeiro lugar, proteger o seu capital e, em segundo lugar, conseguir algum lucro?
A melhor decisão que o investidor deve tomar é ser realista. Há fatos que não podem ser ignorados em hipótese alguma, como, por exemplo, que há um ciclo inflacionário mundial e que ele deve permanecer com viés de alta por um período relativamente longo, algo como um a dois anos. A inflação mundial é provocada pela alta das commodities - os países emergentes aumentaram o seu nível de consumo, e como a produção mundial não aumentou no mesmo nível, têm-se essa alta generalizada.
Outro fator que provocou a inflação é a alta do petróleo. Desde o início da crise na Líbia a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) avisou que não aumentaria a produção para compensar a Líbia. A Agência Internacional de Energia divulgou um relatório ontem em que afirma que os preços internacionais de petróleo deverão permanecer ao redor de US$ 110 por barril por pelo menos dois anos. Como o petróleo ainda é a base da matriz energética global, esses preços serão repassados ao consumidor.
A inflação global, em algum momento, provocará os bancos centrais da Europa e dos Estados Unidos a aumentarem suas taxas de juros para conter uma alta maior nos preços. Quando isso acontecer será péssimo para as bolsas de valores dos países emergentes, em especial a do Brasil, que está sofrendo desde o início do ano, pois os investidores preferirão os juros certos dos bons pagadores que as incertezas das bolsas dos países emergentes.
E há outros temas da realidade que devem ser levados em consideração pelos investidores. Os PIGS europeus continuam com problemas fiscais e novas medidas devem ser tomadas pelas autoridades europeias. Com isso, começam a aparecer os boatos de que a Grécia poderia ser excluída do euro, o que seria péssimo para todo o continente. Muito provavelmente a Alemanha, que continua crescendo apesar dos pesares, não deixará isso acontecer, mas qualquer notícia pode provocar solavancos na economia global.
Os Estados Unidos continuam sendo foco de atenção pelo tamanho de sua economia, pelo tamanho gigantesco de seu déficit e pela persistência do desemprego. Em algum momento, o governo americano terá que cortar gastos para reduzir seu déficit, mas não há nenhuma pista de como fazer isso e manter a geração de empregos (tímida) que está em curso. A boa notícia para os americanos é que, depois de dez anos de alta nos salários na China, já há empresas que voltaram a produzir nos EUA pois, tudo somado, o produto Made in USA custa o mesmo que um feito na China. A longo prazo, isso pode significar um Estados Unidos mais forte economicamente.
Lá na China, o governo continua lutando contra a inflação e o crescimento excessivo, aparentemente com sucesso. Para as empresas brasileiras (Vale em especial), menos crescimento lá significa menos vendas, o que não é bom. Mas para o mundo todo ver a China fazer um soft landing de sua gigantesca máquina industrial seria ótimo. O que o mercado precisa atualmente é previsibilidade. Boas ou más notícias, se forem inesperadas, provocarão desequilíbrio.
Colocando toda a realidade na mesa, o que deve fazer o investidor? A lição básica continua a mesma, pois ela não muda de acordo com os humores do mercado: o investidor deve saber o quão grande é seu apetite por risco e o quanto ele tolera ver uma aplicação cair antes de subir. A segunda lição é saber quanto tempo ele pode esperar até resgatar seu dinheiro. Se o investidor não tolera perdas, ele deve buscar abrigo nas aplicações seguras: renda fixa e Tesouro Direto, que continuarão sendo bastante atrativas, ainda mais com inflação alta. Se o investidor tolera grandes oscilações, pode ser o momento de entrar na bolsa. Muito provavelmente ela continuará de lado como tem estado até o fim do ano, talvez em 2012 também, mas como os fundamentos da economia brasileira continuam bons, há chances de ela se recuperar rapidamente depois que a turbulência mundial passar. E assim já estamos falando de três anos de espera, ou seja, quem não sabe esperar não pode investir em ações.
E mesmo em uma bolsa "esquisita", há oportunidades de investimento em empresas que se beneficiam de um pouco mais de inflação, como as do setor elétrico e de saneamento, ou de setores pouco afestados pela inflação, como telefonia e varejo de produtos de pouco custo.
Investidor, não espere grandes ganhos nesse conturbado 2011. A situação pode piorar um pouco mais antes de melhorar. Claro, há sempre chances de grandes ganhos, mas elas geralmente trazem junto chances de grandes perdas. Se você não sabe como lidar com isso, refugie-se em aplicações seguras e aguarde pacientemente a calmaria. Ela virá, mas pode demorar.

Bons Investimentos!

14.4.11

Essa oposição dá raiva...

Quando finalmente a oposição política ao lulopetismo se manifesta, através de um artigo do FHC, a oposição vem para achincalhar. Parece coisa de esquizofrênico, mas não é, é a oposição no Brasil.
A oposição faz oposição a ela mesma e, como não quer ser chamada de situação, não existe. Ela queria ser governo, mas não é. E como tem medo de ser o contrário do governo, não é nada. São um bando de idiotas.
Em primeiro lugar, o FHC não falou que o "povão" deva ser deixado de lado. Ele foi bem claro ao dizer que esse setor já foi cooptado - principalmente através de esmolas contínuas como o Bolsa Família e o Imposto Sindical, agora válido também para os pelegos das centrais sindicais - e que há um setor desassistido pela classe política: a classe média.
Mas os idiotas da oposição não sabem ler os dados do Censo, nem os dados da economia. A classe C é maior que todas as outras. A classe D está melhorando de padrão e mais próxima da classe C do que nunca. Essas são as classes médias. E elas são feitas de pessoas que trabalham pra burro, e que pagam um caminhão de impostos todo dia, muitas vezes sem saber, e que estão cansadas de ver notícias sobre corrupção na tevê, e que estão cansadas da burocracia infernal que os agentes públicos impõe a eles. A oposição não entendeu que é preciso ter um discurso, qualquer discurso, mas que tenha opinião e posições fundamentadas.
A oposição fica com medo de defender a privatização. Ora, são uns imbecis! A telefonia está muito melhor privatizada do que jamais esteve estatal. A Vale é um carrilhão de vezes melhor privada que estatal. A Embraer finalmente vende aviões, coisa que nunca fez direito quando estatal. As siderúrgicas nacionais dão lucro, o que nunca acontecia. A Petrobras não foi privatizada, mas o mercado de petróleo abriu, e ela teve que se mexer, finalmente. Isso tudo não é argumento? Ora, seus imbecis, acordem!
Há multidões esperando alguém defender um estado menor e mais eficiente. Há multidões esperando para ver uma polícia incorruptível que prenda políticos (talvez seja esse o medo da oposição, muitos também têm o rabo preso, ou esqueletos no armário). Há multidões querendo que os funcionários públicos tenham o mesmo tratamento que os funcionários da iniciativa privada. Há multidões cansadas de pagar o imposto sindical para pelegos que nada fazem pelas suas categorias. Há multidões querendo um sistema de saúde decente. Há, a cada dia, mais gente querendo uma escola melhor. Será tão difícil defender essas bandeiras? Do que tem medo a oposição? Só pode ter medo de que, se o país funcionar, que todos percebam que eles também são incompetentes e perderão seu espaço. É, só pode ser isso, medo de perder a boquinha.
E como não há oposição, ou melhor, como não se faz política no Brasil, mas apenas jogos de poder, há espaço para surgir excrescências como o PSD, o partido sem definição. Ele não é governista nem oposicionista, muito pelo contrário, é o que for preciso ser. Que nojo!
FHC, por favor, continue escrevendo. Não dê bola pros idiotas que não entenderam o que você escreveu. Quem sabe, daqui a quatro derrotas seguidas, eles percebam a mancada.

26.3.11

Tempos modernos

O Paulinho da Viola é um gênio. Algo escrito há mais de trinta anos continua hiper atual.

Lindo.

14.2.11

Ingenuidade ou sinal dos tempos?

O ditador da Tunísia caiu, depois de semanas de protestos. O do Egito também, depois de 18 dias. Hoje tem manifestações no Iêmen (fala Nasser, iemenita que trabalhou comigo!) e em Bahrein. Será que o Facebook, Twitter e outros que tais têm tanto poder?
Gostaria de acreditar que sim, que é possível organizar um país a partir do teclado. Mas os governos só caíram pois quem estava atrás do teclado buscava algo mais que uma via de escape para a sua frustração com o seu país. Eles buscavam mudar para ter algum futuro. Por isso foram às ruas, não tinham mais nada a perder, só a ganhar. Poder-se-ia dizer que tinham a vida a perder (como uns 300 perderam no Egito). Mas talvez a alternativa de ficar parado já era uma não-vida.
E no Brasil, com tanta corrupção, quase endêmica, por que não acontece nada? Porque continuamos esperando uma boquinha. Nos jornais de hoje está a pesquisa. A maioria da população considera a aposentadoria dos ex-governadores ilegal e imoral, mas mais da metade dos entrevistados diz não ver problema algum em ele receber uma aposentadoria sem merecê-la. A lei é só para os outros, não para si.
Estamos a maioria do Brasil esperando uma boquinha para nos acomodar. Esse é o triste diagnóstico de nós mesmos.
Claro, é ingenuidade pensar que minha raiva pela internet ajude a mudar a situação. No Brasil, quem tem internet tem muito a perder, por isso não faz nada. E como nos últimos anos vendeu-se a ilusão de que o país só melhorava, não haverá uma praça Tahir para ser ocupada. Brasília é longe demais das capitais, não junta povo. E sem povo, ninguém fica incomodado.
Ficaremos aqui admirando a coragem dos egípcios, tunisinos e outros povos, teclando nossa raiva e não fazendo nada, nada, para mudar o que quer que seja. Triste sina.

4.2.11

Ondas

Há semanas em que estou altamente produtivo, otimista, confiante.
Há outras em que é o avesso total, improdutivo, pessimista, sem confiança, sem auto-estima.
Parece uma gangorra de crianças no parque. Eu mesmo estou dos dois lados da gangorra. E é meio yin-yang: quando estás no ponto alto da parte boa, começas a descer, pois o lado ruim empurrou o chão para subir. E vice-versa.
Não há equilíbrio possível, a gangorra não para no meio. Subir e descer, subir e descer até morrer.

P.S. Gangorra, masmorra, gangorra, gangrena. Só palavra feia...

24.1.11

Novos problemas

Uma das frases dos detratores da informática é que ela veio para resolver problemas que não existiam. Será que isso pode acontecer na medicina também?
Há cem anos não havia praticamente nenhum dos exames que existem hoje. Tomografia computadorizada, cintilografia, qualquer um que use radiação (raio-x acho que já tinha), nada aparecia. Provavelmente as
pessoas morriam de algo que ninguém sabia que existia.
Tem gente que tem medo de ir ao médico com o seguinte argumento: se eu for, ele vai dizer que estou doente. Talvez a ignorância seja a companheira da felicidade.
Não saber nada ou adotar a política do quanto menos melhor poderia ser útil mesmo. Algum poeta ou escritor disse que não era mais possível ser feliz depois de Auschwitz. Ele tem razão. Como ser feliz com os
deslizamentos de terra no Rio, a barbárie de cada dia nas periferias, os desmandos dos políticos, a roubalheira, a falta de caráter da população como um todo?
Talvez seja melhor não cutucar nada mesmo. Tá doendo? Espera passar. Tá com problema no computador? Reinicia e vê no que dá. Ignore os sintomas e toque em frente. Não saiba, e fique feliz.

23.1.11

Constituição Brasileira

Art. 397 - É facultado ao papai de qualquer garota bonita praticar
tiro ao alvo nos pretendentes de sua filha, não importando a idade
dela nem se o pretendente for bonito, feio, alto, baixo, rico, pobre
ou o que for.

18.1.11

Envelhecer

Envelhecer é ter mais responsabilidades, e cada responsabilidade a mais é mais importante que as anteriores. Antes a maior responsabilidade era manter o quarto limpo e os brinquedos inteiros (não intactos, isso seria responsabilidade demais). Depois passamos a cuidar do dinheiro da mesada. Mais à frente, a responsabilidade por manter um namoro vivo era nossa. Aos 18, no máximo, a responsabilidade de devolver o carro dos pais inteiro.
Na vida adulta, tornamo-nos responsáveis por uma infinidade de coisas. Os impostos, o bem estar da esposa (ou do marido) e dos filhos, dos pais, dos irmãos, do resultado individual, coletivo e de toda a empresa, de tudo. Cada nova responsabilidade vem um pouco maior e mais pesada. Somos responsáveis pela nossa saúde, pois o corpo já não tolera mais os excessos de qualquer espécie - de sol, de chuva, de esforço físico, de comida, de bebida, de falta de esforço físico. Somos responsáveis pelo planeta, pois sabemos o que o destrói e o que não, e temos que cuidar disso também.
As responsabilidades se empilham uma sobre as outras, e nenhuma é deixada de lado. Continuamos responsáveis por manter o quarto limpo e os brinquedos (agora chamados de gadgets) inteiros. É uma após a outra, uma nova a cada instante, mais uma, mais.
Crescer é assumir mais responsabilidades. Mas que dá uma baita vontade de tirar férias de si próprio de vez em quando, ah isso dá!

14.1.11

Causas naturais?

A chuva destrói o sudeste do Brasil. A imprensa e o governo chamam de desastres por causas naturais.

Mas não há nada natural nesses desastres. Nós fomos lá, subimos os morros sem permissão, invadimos terrenos perigosos, construímos casas de qualquer jeito, derrubamos as árvores pois dizíamos que elas incomodavam, davam sombra, impediam as crianças de brincar, correr no gramado, enfim, fomos nós, humanos, que destruímos o que lá estava.

Depois de destruir tudo, começamos a jogar nosso lixo em qualquer canto e nosso esgoto nos rios, sem tratá-los. Antes as árvores seguravam a terra, agora não mais, ela vai toda pros rios. E os rios ficam um pouco mais sólidos porque têm lixo. Daí chove, o rio sai de seu curso, e a natureza é a culpada?

Nós somos os culpados dessa desgraceira, e ainda não fazemos nada. Dá muita, mas muita vontade de que o Nifrak Altaim esteja certo, de que em 2012 os tarkanianos venham e dizimem três quartos da humanidade, justamente os três quartos que não preservam a natureza. Talvez, depois dessa faxina, sobre algum planeta para nós no futuro.

13.1.11

Tenho muitos tenhos

Tenho só uma vida, mas uma vida só é pouco para o que tenho.

Leio uma reportagem sobre a turnê europeia da Osesp, tenho vontade de virar músico, tocar algum instrumento, subir ao palco para alegrar a turma.

Vejo a nova foto do universo, a maior jamais feita, e tenho vontade de ser astrônomo, estudar o espaço, imaginar mundos, descobrir novos.

Leio sobre um matemático que quer unir a teoria da relatividade geral com a física quântica, unir o grande e o pequeno, e tenho vontade de ser matemático, físico ou ambos.

Vejo a TV com jornalistas experimentando comidas exóticas, falando de festas populares em vilarejos desconhecidos, descobrindo pessoas em lugares distantes, cobrindo guerras, e tenho ganas de ser jornalista de novo, mas bem jovem, com disposição para por a mochila nas costas e ser mandado até o meio do Afeganistão, se for o caso.

Tenho vontade de abrir um bar, ou um restaurante, ou uma pousada, ou tudo junto, tenho. Tenho vontade de escrever mais, de trabalhar menos, de trabalhar mais com vontade, tenho tantos tenhos, que já nem consigo mais contar.

Mas a vida é uma só, pelo menos essa que é a única de que me lembro, e muito terei que deixar pras próximas. Pelo menos isso, terei mais chances para os meus tenhos...

12.1.11

Saudades da infância?

As pessoas recriam suas infâncias na vida adulta, tornam-na o momento
mais feliz de suas vidas. É feliz porque não volta mais.

Na infância não temos liberdade, somos vigiados constantemente.
Podemos fazer aquilo que nossos pais mandam, vestimos o que nos
ordenam (mesmo que esperneemos, a gola rolê da blusa cacharrel lá
estará nos protegendo de tudo), ganhamos o que nos dão, eventualmente
o que pedimos, temos hora para dormir, hora para acordar, enfim, tudo
são ordens.

A liberdade das brincadeiras está na mente, é mais ilusão que verdade.

A infância é um território de restrições, nunca de liberdade. A vida
adulta é bem melhor.

Talvez só queiramos que a infância seja a melhor fase pois não
tínhamos responsabilidade de nada, e por isso temos saudade dessa
época.

7.1.11

Em busca de novos desafios

Toda vez que uma pessoa pede demissão do mundo corporativo, ela manda
um mail padrão para seus colegas (logo ex-colegas) de trabalho: "Valeu
pelo tempo passado juntos, vou em busca de novos desafios". Hoje, com
o LinkedIn, você pode até acompanhar a trajetória profissional da
pessoa, e de tempos em tempos aparecerá um "vou em busca de novos
desafios". Quem é mandando embora não tem muito tempo de mandar esse
mail, pois precisa catar suas coisas e cair fora logo, o segurança
está de olho, com medo de que você roube algum segredo corporativo.

Bom, o fato é que o trabalho não acontenta muita gente. Tá todo mundo
meio que de olho em novos desafios (na prática, acho que estão de olho
mesmo é em um salário maior) e, na primeira chance que der, se a
próxima empresa for um tiquinho melhor que a atual, ela troca de
barco. Não são os desafios que motivam a maior parte das pessoas,
ainda que todas usem esse discurso bonito, é o salário mesmo, o
estipêndio.

As pessoas querem ganhar pelo que elas fazem, e querem ganhar o justo.
Mas, na vida real, funciona assim: o empregado sempre acha que ganha
menos do que recebe, o patrão tem certeza que paga mais do que ele
merece. O ponto do meio desagrada os dois, e não existe meio de
agradar a ambos simultaneamente. E como nenhuma empresa é fiel aos
seus empregados (talvez haja exceções, quem sabe), eles também não o
são a ela. Por isso é fácil trocar de emprego e dar uma desculpa
esfarrapada, "vou em busca de novos desafios", em vez de dizer
claramente "aqui não sou aproveitado".

O mundo corporativo é muito parecido com a natureza, mas tem um
diferencial em relação à selva que deveria ser melhor estudado: a
dissimulação. No mundo corporativo as palavras têm outros
significados, os resultados têm outra maneira de serem medidos e os
méritos têm outras maneiras de serem reconhecidos. É um mundo bem
parecido com o verdadeiro, mas na prática é bem diferente. Estranho
mundo.

6.1.11

Correria sem fim

A cada dia aparece um novo aparelho tecnológico, muito mais avançado que o anterior. Você ainda não conseguiu explorar 30% do que o antigo fazia, mas já se vê compelido a comprar um novo. O seu monitor tinha 15 polegadas, mas por alguma razão você acha que precisa comprar um de 23. Sua TV tinha 38, agora PRECISA ter no mínimo 45, ser HDTV, surround sound, HDMI etc e tal, uma sopa de letrinhas sem fim. Melhor nem falar de celulares e computadores, as novidades são semanais.
Comprar, comprar, comprar, é só isso que fazemos. Comida já não é mais necessário, ninguém mais quer plantar ou trabalhar plantando ou criando animais. O lance é produtos de consumo. Compra-se para movimentar uma máquina perversa e sem sentido, pois a maior parte da humanidade (aquela que não morre de fome, é claro) só pensa no próximo item de consumo que terá em casa. Tem algo errado aí, a existência não deve ser apenas para se ter mais coisas, mais, mais...
Dá quase vontade de que algo grande e catastrófico realmente aconteça em 2012 para ver se a humanidade dá um break e se acalma nessa história. Parece que a onda está parando. Pesquisas nos EUA mostram que 44% das pessoas já têm tudo o que queriam, contra 36% de uns dois anos atrás. Não sei se essas pessoas vão repondo o que tem com aparelhos mais modernos, mas pelo menos se dizem satisfeitas com o que têm. Outra pesquisa mostrou que na Holanda já há muita gente que prefere ganhar menos e ter mais tempo livre com a família que ter mais dinheiro.
Pode ser uma tendência, tomara que seja. Dar uma paradinha, uma reduzida no ritmo, ser mais slow food e slow em tudo. Pois, se a vida é curta, se corrermos muito chegaremos mais rápido ao fim dela.

5.1.11

Dileminha

Aprender é legal. Aprender a fazer o papel de malvado não é legal.
Aprender coisas novas é legal. Aprender a fazer coisas que você não gostaria de fazer não é legal.
Aprender é gostoso. Aprender a fazer algo de que não se gosta não é tão legal.
Dizem que aprender é garantia de vida longa. Mas, se for para aprender o que tenho que aprender, dá vontade às vezes de que a vida seja mais breve.

4.1.11

500 conexões, e quase nenhuma que presta



(Imagem publicada originalmente no blog Random Insights into Oracle)

Está em quase todos os jornais. O homem do futuro terá mais de 500 conexões pessoais, graças à tecnologia. Com os Facebook, Twitter e afins, não precisaremos mais nos afastar em definitivo de nossos antigos colegas de trabalho ou de escola. De alguma maneira, aquela turma estará sempre conectada. 500 pessoas é um número grande pra caramba, normalmente só promoters e figurinhas da sociedade conseguem fazer uma festa para mais de 100 convidados sabendo o nome de todos eles. Mas será assim, cada um com 500 conexões pessoais.
Veja que dizem conexões pessoais, não amigos. Pois amigo é algo bem, mas bem diferente. Bem contado, cada ser humano tem no máximo cinco amigos. Não dá para ter mais. Não há como compartilhar a sua intimidade mais profunda com mais de cinco pessoas, sob o risco de você se tornar uma fraude completa. Ninguém gosta de escancarar a sua intimidade para o mundo, a não ser os doentes mentais que necessitam de Caras, Gente, BBB e afins. Apesar das 500 conexões, continuaremos com cinco amigos ou menos.
Talvez menos que cinco, pois gastaremos muito tempo tentando gerenciar aqueles 500. Afinal, ninguém quer ser unfollowed, ou desconectado de uma rede de amigos. Por isso será necessário manter o contato, aceitar velhos conhecidos de quem você não se lembrava, postar alguma coisa de vez em quando, enfim, estar ativo na coisa. E isso toma tempo, o tempo que anda escasso e que deveríamos dedicar mais aos amigos. Aliás, essa é uma das mais velhas resoluções de ano novo, dedicar mais tempo aos amigos.
Mais de 500 conexões, menos de 5 amigos. Perdemos a profundidade nas relações, ganhamos na superficialidade. Relações líquidas, como diz aquele sociólogo polonês de quem não lembro o nome nem quero dar um Google para lembrar. Elas se fazem e se desfazem fácil, afinal, não compartilhamos nada com as 500 conexões, a não ser instantes, momentos, glimpses, flashes, nada mais fundo que um pires. Ter 500 conexões ajuda a não ter nenhuma real, a não precisar se esforçar para ver ninguém, a não ter que compartilhar nada, nenhuma emoção, nenhum sentimento, nenhum medo. Podemos ser o rei da cocada preta para as mais de 500 conexões, pois não precisamos ser de verdade.
Ter amigos significa estar aberto para descobrirem o que você realmente é, com um pouco de receio sim, pois escondemos sempre algo que não gostaríamos que ninguém soubesse. Ter apenas conexões significa jogar no seguro, mas não compartilhar nada com ninguém (enganam-se aqueles que realmente acreditam no share ou compartilhar do Facebook, não rola). Ter mais de 500 conexões significa hoje ser um eremita digital, uma nova forma de se isolar do mundo, para evitar dividir o que for com alguém, a não ser lembranças de que, um dia, você já dividiu algum espaço com outra pessoa, mas agora não quer mais.
É isso, a tecnologia criou novas cavernas digitais para nelas entrarmos e lá ficarmos.

3.1.11

A difícil tarefa de escrever

Gostaria de poder escrever mais, sem tantos medos ou sem tantas cobranças de escrever sempre algo interessante. Parece que, quando a tela em branco se apresenta para eu escrever algo para mim mesmo, travo. Quero pensar em um grande tema, fazer uma reflexão profunda sobre a humanidade ou suas formas de agir e pensar, nunca é algo comezinho, alguma coisa do cotidiano. Mesmo quando olho para o cotidiano, quero achar o momento poético, aquele lado do dia-a-dia que tem um quê de romance, literatura, arte ou música. O rame-rame não serve.
Não serve porque não acho legal ficar entulhando o espaço de quem eventualmente me lerá com detalhes insignificantes, como a maior parte do que está nessa internet que virou uma janela da privacidade da maior parte de seus cyber habitantes. Quem quer saber que eu levei a calopsita ao veterinário hoje? Ou que fui fazer algo que já quase não se faz mais, que é mandar consertar algo, em vez de comprar um novo? Quem quer saber se dormi bem ou mal, além de mim mesmo e, talvez, a pessoa com quem divido a cama (até para saber se não a mantive acordada ao longo da noite)?
A facilidade de exposição e a praticamente gratuidade do espaço para escrever fez as pessoas esquecerem de filtar o que pode ou deve ser dito. É mais ou menos a mesma coisa que aconteceu com a fotografia. Agora que não se paga um filme, não se revela a foto e, uma vez comprada a máquina, o restante é virtualmente grátis, cada sessão de fotografias gera pelo menos umas 100 fotos. A grande maioria tira as fotos, guarda no computador e nunca mais vê. Milhares de fotos, cada uma com qualidade duvidosa (quando chega a esse ponto), entupindo o espaço. Milhares e milhares de posts em zilhões de blogs, quaquilhões de tweets, trilhões de tweet pics, mas esprema pra ver o que sai. Quase nada.
Por isso é melhor ficar quieto mais vezes, e escrever só quando se tem vontade. Mas, para poder escrever sempre, é preciso escrever mesmo sem vontade. Vamos ver se em 2011 isso acontece.

Feliz Ano Novo!