Pesquisa do Palavrório

30.11.09

Como escolher

No Brasil, parece que todos os partidos políticos não prestam. Todos têm uma espécie de mensalão em curso, variando apenas as quantias e os locais onde o dinheiro é guardado - o do PT ia pra cueca, o do DEM vai pra meia, para onde deve ir o dos tucanos? Enfim, o mar de lama alcança todo mundo.
Mas é necessário entrar em um partido político para poder fazer alguma coisa, para poder tentar de alguma maneira mudar um pouco que seja esse lance. Se você está fora dos partidos, você é apenas um corneteiro que fica enchendo o saco do time sem contribuir em nada, por melhores que sejam seus comentários. Só que fica difícil entrar em um partido vendo essas coisas.
Na minha opinião, você deve ler os programas dos partidos e entrar naquele que tem o programa que melhor lhe agrada. Sim, mesmo que os partidos não sejam programáticos, tem que ler o que eles, em teoria, querem para o País. Daí você entra e começa a participar, e tenta mudar algo de dentro deles. Talvez seja possível cobrar mais postura ética, ou no mínimo cobrar a coerência com o programa do partido. Sei lá, você entra e vê o que acontece, mas pelo menos você está dentro. De fora, é fácil tacar pedras, tem que ver o que acontece dentro.
Eu ainda não fui chamado para a primeira reunião do partido ao qual me filiei. Mas confesso que estou acumulando argumentos para falar e ver o que acontece...

24.11.09

Quem cochicha...

Ele está sentado em sua mesa, digitando tranquilamente. Está calmo, certo de que está desempenhando bem sua função, talvez até fazendo mais do que devia (ainda que essa avaliação seja sempre subjetiva, quem faz acha que está fazendo mais do que devia, quem paga acha que está fazendo menos do que deveria). Mas está ali, calmo, trampando sem problemas.
Ao seu redor, um mar de cochichos, de reuniões de emergência, de broncas vindas do nada. Algo há no ar, e ele não percebe direito o que é. Talvez por não ser da turma ele não perceba. Talvez por ser novo no lugar ele não perceba. Talvez por achar que não é com ele mesmo, e um parte dele gostaria que fosse com ele, ele não percebe nem pergunta o que é.
Ele fica ali, aparentemente calmo, rodeado de cochichos, esperando para ver o que acontece, na torcida secreta para que todos saiam ganhando. Afinal, esse não é um jogo.

23.11.09

Exílio

Houve um tempo em que foi necessário exilar-se. Não me lembro direito hoje as causas dele, ou melhor, fiz questão de esquecer algumas causas, pois elas eram ridículas, infantis, descabíveis até para um quase homem de 32 anos de idade. No entanto, à época elas me pareceram muito sérias e importantes e lá fui eu, mochila às costas, de volta à Europa.
Me lembro muito bem que o que mais me indignava era o banheiro da casa onde eu morei em Londres. Era pequeno, apertado, constantemente sujo por conta minha e dos outros com quem dividia a casa. Dava-se um jeito, mas era uma sensação ruim. A recordação mais forte desses momentos é a pergunta que ecoava em minha cabeça: "O que eu estou fazendo aqui?" Eu trabalhava em uma grande empresa, tinha um salário que ainda não recuperei, morava sozinho em um apartamento meu, tinha tempo livre para um monte de coisa, enfim, o que me deu na cabeça?
Apesar da aparente loucura, foi a coisa mais sensata que fiz até hoje. Matei (até onde pode se matar?) a vontade de viajar por um tempo. Aprendi de verdade o que é morar mal e a valorizar o que tenho (tudo o que tinha cabia em apenas uma mochila). E aprendi o valor da liberdade e de não depender da opinião dos outros.
Aprendi umas coisas erradas também, e até hoje me penitencio por não ter conseguido aprender a ser 100% sincero, comigo mesmo e com os outros. Mas o que aprendi me ajuda um monte no dia-a-dia. Quando penso que algo pode estar ruim, me lembro desse exílio último, do primeiro, muito mais aventureiro e juvenil, e do que é dificuldade e do que é importante. É bom para colocar o devido peso nas coisas, sem fazer tempestades em copos d'água ou não ver o que é grave. De vez em quando, o sistema "fáia", mas na média é possível. Quiçá a experiência não seja esquecida.

20.11.09

As duras dores do crescimento

Crescer dói e dá medo. Dói quando os ossos esticam, quando os músculos esticam e se reacomodam em um novo corpo, maior, estranho. A cabeça parece demorar a entender o novo tamanho, e o corpo vai esbarrando pelas quinas de mesas, o dedão dando topadas nos cantos por chegar antes do que a gente imaginava. De repente, aparecem pelos no peito, no sovaco, no saco! Dói crescer.
E dá medo crescer. De uma hora para outra, somos tirados de um mundo sem responsabilidade alguma e jogado em um mundo onde tudo está nas nossas mãos. Somos os únicos culpados e imputáveis por qualquer coisa. Se o livro não está na mochila da escola, a culpa é minha. Se não tem dinheiro pro lanche, a culpa é minha. Mas, até ontem era minha mãe que fazia tudo, cadê ela?
Minha mãe sumiu, meu pai desapareceu e eu estou sozinho agora. Tenho que ser responsável por tudo, tenho que fazer tudo, o que acontecer é resultado direto do que eu fizer, nada mais acontecerá que não seja uma reação a uma ação que eu cometi. É o fim da inocência, o fim da ingenuidade. Mas não quero, me recuso, não vou crescer, não, tá cedo ainda, quero continuar criança, por favor, me deixem pequeno!!!
Não quero crescer, pouco importa a doce sedução de poder dirigir, de poder sair sem dar satisfação a ninguém, de fazer o que me der na telha, pois sou o responsável pelos meus atos. Não, não quero, não quero ser responsável de nada. Quero liberdade, desde que alguém esteja me amparando, não quero deveres, quero apenas direitos.
Mas ninguém houve meu chamado, os ponteiros do relógio continuam girando, indiferentes ao meu clamor, e as responsabilidades vêm chegando. Vou tentar fugir delas, mas não sei por quanto tempo isso será possível. Vamos ver, vamos ver.

18.11.09

Frágil vida humana

É difícil entender o conceito de vida. De um lado, ela parece tão frágil, que qualquer coisa pode acabar com ela. Um telefonema ameaçador, uma doença besta mal curada, uma batida de carro, uma viga que cai de um viaduto que está sendo construído, uma enchente, enfim, qualquer coisa pode dar fim à existência.
Por outro lado, somos resistentes pra caramba. Temos resiliência ao frio, ao calor, conseguimos comer porcarias, vomitar, e continuar inteiros, aguentamos doenças que podem ser fatais por muitos e muitos anos, talvez até nos curando delas, não há limite para as coisas que podemos fazer com o nosso corpo.
Só sabemos que achamos a vida muito, mas muito valiosa, e que não queremos abrir mão dela, em momento algum. Nem que nossos parentes e pessoas amadas morram também, mesmo que por mesquinharia nossa. A vida deveria ser para sempre, não queríamos enfrentar a morte, já é duro enfrentar o risco de perder a pessoa amada por alguma idiotice qualquer.
Queríamos uma vida que fosse apenas forte, nunca frágil. Queríamos eventualmente ser como vírus que sobrevivem muito tempo sem atividade e só quando provocados fazem alguma coisa. Mas aí, provavelmente, isso não seria uma vida...

10.11.09

Imprevistos imprevisíveis

Diz a lei de Murphy do gerenciamento de tempo que, para todo projeto, é necessário aumentar o cronograma em 20% para imprevistos previsíveis, e mais 20% para imprevistos imprevisíveis. Desconfio que o formulador dessa lei estava pensando na própria vida.

Isso porque na vida também é necessário reservar um tanto de nossas energias e emoções para os imprevistos previsíveis e um pedaço até que considerável para os imprevistos imprevisíveis. Em minha opinião, os imprevistos previsíveis são um casamento (formal ou não), filhos, batidas de carro, alguma doença, enfim, coisas que gravitam próximo a você.

Mas há os imprevistos imprevisíveis, que quando menos se espera te atingem sem que você tenha noção de onde veio o golpe. Por exemplo, a empresa onde você trabalha foi vendida, e você é um daqueles "cargos redundantes", como se chama eufemisticamente o cargo duplicado. Você tá fora, é claro. Ou então uma multa de radar de trânsito referente a um estacionamento proibido em uma cidade que você nunca visitou (agradeça ao fdp que clonou tua placa). Ou um processo na Justiça envolvendo um parente distante que, por alguma razão, deixou tudo para você, principalmente as dívidas. De uma hora pra outra, você, que é um cara todo certinho com as contas, tá devendo alguns milhões.

Esses imprevistos imprevisíveis são de derrubar qualquer humor, por melhor condicionado que você estaja para reagir a tudo. Nessa hora, a sensação é de que Deus existe sim, mas que ele é um grande lazarento e brigou com você, e que agora você vai ver o que é bom pra tosse. Dá pra reagir, mas que se perde a fé nesses momentos, ah!, se perde sim.

4.11.09

Eternos descontentes

O sol brilha intensamente, depois de tanto tempo chuvoso. Quase que imediatamente, já aparece gente reclamando que tá muito quente, que tá abafado, que onde já se viu tanto calor etc. Claro, são os mesmos que semana passada não paravam de reclamar da chuva, do frio, do vento etc. São eternos descontentes.

Deve haver um problema interno com essas pessoas que as impede de conseguir estar em paz consigo próprias pelo menos alguns instantes. No entanto, parece que esses eternos mal-humorados lidam melhor com as situações difíceis. Uma pesquisa da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, diz isso, pois o mal-humorado tende a ser mais atento e cautelosos, menos ingênuos e melhores em tomar decisões. Os bem-humorados, pelo contrário, são mais criativos, flexíveis e mais colaborativos.

Talvez até sejam melhores, mas que é um porre conviver com gente assim ao lado, ah isso é. Melhor ser mal-humorado apenas no trabalho, já que a pesquisa mostra que um pouco de rabugice é bom para aumentar a produtividade.