Pesquisa do Palavrório

21.11.12

Via crucis

Na hora do sofrimento, do desânimo e da desesperança, é necessário lembrar de quem realmente tem problemas. Não ajuda a minimizar a sua dor, mas pode contribuir para colocar ela no devido lugar.
Ou eu acho que o meu momento é pior que o do meu escoteiro, cujo pai descobriu ter uma leucemia? O moleque tá do avesso, a família também, e eu, com saúde a 100%, estou reclamando.
Ou meu momento é pior que o do meu amigo cuja mãe está aparentemente curada do câncer, mas sem força alguma para voltar a fazer o que fazia? E que tem familiares com dependência química de drogas e alcool? Meu momento é pior, eu, que ainda posso tomar um ou outro gole sem desandar tudo? E cujos familiares estão bem? Não, melhor não reclamar.
E como reclamar de dificuldades financeiras momentâneas, se há tanta, mas tanta gente, perdendo tudo o que tem sem mesmo ter tido um impulso consumista? Penso nos amigos que tenho na Itália, vítimas de anos de governos incompetentes. Penso nas pessoas que sofreram com furacões, terremotos, inundações etc. Sem contar os pobres coitados da Síria, obrigados a fugir de casa com a roupa do corpo para não morrerem.
E, no fim, a vida é tão frágil, que alguém encostar na traseira do seu carro em uma estrada ruim pode fazer você bater de frente em um barranco, ser salvo pelo cinto de segurança mas, como a batida foi forte, ter seu intestino esmigalhado e tudo espalhado por dentro de si, o que o condenaria, se sobrevivesse, a uma bolsa para recolher seus dejetos.
Tá difícil, vai passar, mas dá uma sensação de impotência tamanha que falta vontade de se mexer para tentar romper o ciclo. Tristes tempos.

19.11.12

Do avesso

Houve um tempo em que tudo, todos, eram mais ternura, mais doces, mais amigos, mais sinceros, melhores, enfim.
Mas a vida começou a dar porrada de tudo quanto é lado. Vem de cima, de baixo e dos lados. Vem de todo mundo com quem lidamos, e das mais variadas maneiras. Umas porradas são diretas, grosserias puras! Outras são indiretas, mas pegam abaixo da linha da cintura.
A gente resiste, tem que resistir. Tem uma vida pra levar, crianças pra educar, contas pra pagar.
Só que vai dando raiva e uma pusta vontade de sair metralhando uns tantos por aí para colocar alguns pingos nos ii, para pararem de tratar a gente como capacho.
Vontade de estripar uma ou outra pessoa, de condenar alguns para o opróbrio eterno, para que todos saibam do que foi capaz de fazer conosco. Vontade e raiva, bastante, e não há reza nem calma capazes da aplacar esse sentimento ruim no momento.
Ô fase!

18.10.12

Fuga em vão

Não adianta fugir. Tudo aquilo que nos atormenta vai junto, na mochila, para continuar perturbando.

Você tem problemas com o governo do país onde está é quer ir para outro? Vá, mas saiba que lá enfrentará outros problemas, alguns iguais, outros diferentes, mas sempre haverá problemas.

Você não gosta do seu chefe? Não adianta, se trocar de emprego continuará com algum chefe que, por sua vez, terá algumas características das quais você não gosta e outras que são simpáticas. Mas continuará com um chefe. E se você resolver ser chefe de si próprio, terá os clientes com quem lidar. E, novamente, serão outros problemas.

Você não gosta da sua namorada? Pois pode acabar o namoro agora. Como você gosta de namorar, mas não gosta dela especificamente, arranjará outra pessoa, que virá - surpresa!! - com outros defeitos, diferentes ou iguais aos da anterior, tanto faz. Ninguém é perfeito, todos têm defeitos. Pense que você também não é o primeiro dela. E, se for, será o primeiro, não o único.

Não gosta de sua casa? Mude-se, na nova também haverá goteiras, problemas com o encanamento, com a fiação elétrica, com qualquer coisa.

Nâo gosta de seu sexo? Mude, mas já saiba de antemão que o remendo é pior que o soneto, tem algo que não será nunca igual ao original.

Fugir é inútil. Sucumbir é necessário. Tudo o que pode ser feito é entender porque tudo incomoda tanto para poder viver melhor com as próprias escolhas. E paciência.

17.10.12

Em busca da raiva

Queria ter mais raiva dentro de mim para poder jogar toda ela pra fora de uma vez só. Fazer uma torrente raivosa saindo pelos meus dedos, escrevendo em uma velocidade estonteante para por no papel/tela tudo o que está acontecendo dentro da minha cabeça. Falar sem medo do que falarei, escrever cada detalhe escabroso que vem rondando minha mente nos últimos tempos. Vomitar mesmo, sem conseguir segurar nada. Criar uma coragem extrema para ser 100% sincero comigo mesmo, para não deixar nada pra trás, nada remoendo, provocando úlcera, falta de sono, falta de apetite, vontade de beber para amortecer, tirar tudo.
Queria, mas ainda não consigo. Falta algum gatilho que desconheço para que tudo comece. O jeito é manter o rame-rame e continuar a nutrir essa raiva interna. Vai que uma hora o copo transborda e aí tudo começa?

16.10.12

Todo homem é uma ilha

Todo homem é uma ilha. Mas o Drummond acreditava que era possível construir pontes para ligar um a outro, ou a outros, e assim, sair do isolamento. Não creio que isso seja possível.
Há um momento em que se percebe a solidão completa que é viver. Não há contato possível, nem com os que amamos. Há momentos em que parece haver uma ligação, mas elas são tênues, frágeis, podem ser desfeitas com um sopro débil. E como vivemos em épocas de tempestades, se torna ainda mais difícil erigir qualquer ligação que seja, fraca ou forte.
Estamos sozinhos, condenados a decidir por conta própria cada próximo ato. Pois de nada adianta ir buscar conselhos, ler um monte, comparar situações e o que mais for. No fim, sozinho, sem ninguém, a decisão é sua e só sua. E depois aguenta-se as consequências.
Mundo desgraçado...

24.9.12

Um candidato sincero

Senhoras e senhores!!

Sou candidato a vereador nessa mui heróica cidade. E não quer empulhar seus ouvidos com mentiras deslavadas, promessas descabidas. Um vereador faz muito pouco, e a maior parte dos candidatos que estão aí nem isso fazem. Por isso, serei sincero com vocês.

Vou lutar para acabar com os cargos comissionados na Prefeitura e na Câmara de Vereadores. Isso está ao meu alcance, propor leis que tornem isso possível. Claro, terei que passar por cima dos interesses de todos os outros vereadores, do prefeito e de todos os funcionários comissionados, que entram sem concurso na máquina do Estado. Mas sou sincero e é isso que defenderei.

Com a economia feita ali, dá para avançar para uma segunda proposta: aumentar o valor gasto em creches e educação básica. Vejam bem, educação básica, pois do sexto ano para cima a responsabilidade é do Estado. Dá para aumentar o valor gasto em saúde. Dá para aumentar o alcance da Guarda Municipal, apesar de segurança ser função do Estado, e não do município. Isso dá para fazer.

Depois, dá para acabar com umas oito secretarias municipais que não servem para nada. E, dessa vez, dá para usar a economia para baixar impostos. Isso dá. Mas não dá para dizer que se fará muito, e isso que dá.

Por que todo mundo é a favor da família, contra a pobreza e a corrupção, pela segurança, educação, habitação e saúde. Tem alguém aí contra isso? Por isso não falo essas coisas. Falo o que eu posso fazer e mostro as contas de que é possível.

Agora, se o senhor prefere um mentiroso, depois não reclame.

E tenho dito!

21.9.12

Falta tudo

Falta Política com "P" maiúsculo nesse país. Pegue o discurso de qualquer, mas qualquer candidato à prefeito ou a vereador nas eleições de agora. Só há o discurso genérico, cheio de platitudes e lugares comuns que não levam a nada: Em defesa da família (alguém aí é contra a família?), pelos trabalhadores, por mais segurança, saúde e educação (imagina um candidato dizendo que quer menos policiais nas ruas...), enfim, um lero-lero chato e sem propostas. E ninguém ousa discutir um modelo de governo diferente, um estado menor ou maior, reforma tributária, previdenciária, trabalhista, um país com menos leis porém mais eficientes, nada de discurso sério.
Isso acontece porque, provavelmente, falta Educação com "E" maiúsculo. Quase todas as crianças do Brasil já vão à escola fundamental (pelo menos, seu primeiro ciclo). Mas tanto na privada como na particular eles não aprendem a pensar, eles aprendem a decorar informações. Os jovens de hoje crescem sem saber criticar, sem saber pensar, esqueceram o que é a dialética, perderam o senso de aproveitar o disenso para chegar a um consenso, enfim, deixaram tudo pra lá. A edução de hoje é utilitária e as pessoas só querem apredner o que lhes trará dinheiro, nada de pensamentos mais elevados.
Falta Cidadania com "C" maiúsculo. O cidadão de hoje não vê o estado como algo seu (república quer dizer coisa pública, de todos), mas como algo que não é seu, e que alguém (um deus grego, talvez) deva cuidar para ele usufruir. Todos querem direitos, ninguém quer deveres. Não vai dar certo.
Falta Solidariedade com "S" maiúsculo. É cada um por si e deus por todos. Falta Espiritualidade com "E" maiúsculo, para que as pessoas vejam que há mais além dessa vida (todo o respeito aos ateus, mas me parece um plano biológico muito medíocre esse de não ter nada após esse intervalo de vida do qual somos conscientes) para ter uma dimensão mais exata de nós mesmos no universo. Falta Gentileza. Falta Cortesia. Falta Amor (e não sexo, esse parece até que está sobrando).
Enfim, falta tudo. Só não falta, infelizmente, Desgraça, Ódio, Inveja, Raiva, Ganância, Má-educação, Pilantragem, Preguiça, entre outros...

18.9.12

Entressafra

Sf (entre2+safra) Agr Período que medeia entre uma safra e outra imediata, de determinado produto. (Michaelis)

É assim que me sinto, em plena entressafra. Nada vai pra frente, nada recua, é estagnação e necessidade imperiosa de esperar. Não dá para fazer nada, a decisão não está em minhas mãos. Deixei a capacidade de tomar alguma decisão em outras mãos, e agora devo viver com isso.
Nesse meio tempo em que poderia aproveitar para produzir qualquer outra coisa, qualquer coisa, na verdade, nada se produz, a não ser estes mal traçados rabiscos que pouco ajudam a tirar-me da inércia...

22.8.12

O trabalho alienante

Marx disse que o trabalho braçal era alienante. Acho que, se vivo fosse, ele diria que o trabalho intelectual que se exerce nas grandes corporações é ainda mais alienante que o braçal.
O trabalhador braçal não tinha energia para pensar após o serviço, visto que ele era obrigado a prestar muita atenção ao que fazia para não morrer (penso em alguém em uma siderúrgica antiga, por exemplo). Mas isso não impedia, de vez em quando, de ele dar uma viajada nos pensamentos e ir longe, pensar em tempos melhores, na patroa, em várias patroas, enfim, qualquer outra coisa.
Mas pegue um trabalhador intelectual de hoje, um publicitário, por exemplo. Ele coloca todo o cérebro à disposição de um serviço. Não sobra espaço para ele pensar em outra coisa. E como ele está 100% conectado, ele continua trabalhando mesmo depois do expediente. Não adianta desligar o computador, pois sua principal ferramenta de trabalho, o cérebro, continua ligado. E provavelmente ligado ao trabalho do momento. A pessoa deixa de pensar em outras coisas.
É só ir a qualquer happy hour do mundo corporativo. As pessoas continuam trabalhando, pois só falam do trabalho. Existe algo mais alienante que isso?

15.8.12

Mundo cão

Na Bolívia, a população de um vilarejo resolveu fazer justiça com as próprias mãos (matéria da barbárie aqui). Retirou dois presos, por acaso brasileiros, de dentro de uma cadeia. Os dois eram acusados de ter matado três pessoas no vilarejo. Pois tiraram os dois da cela e tacaram fogo neles.

Será que realmente evoluímos com o passar dos anos? Queria acreditar que sim, que esse tipo de comportamento que hoje é exceção antigamente era regra. Mas que é difícil, é...

23.6.12

15.6.12

Impotência

Pusta sentimento de bosta esse, o de saber-se impotente e não poder mudar nem um décimo das coisas que estão erradas ao redor...

14.6.12

Encasmurramento

Sabe-se lá se existe essa palavra ou não, pouco importa. Vou dizer que ela vem de casmurrice, que por sua vez vem de casmurro, que em uma de suas definições significa sorumbático (vai procurar no dicionário, meus filhos fizeram isso quando eu falei a palavra). Provavelmente ninguém gosta de ser casmurro ou sorumbático, mas o é porque as circunstâncias assim o obrigam.
Afinal, o que você faz quando tudo parece estar jogando contra e, o que é pior, você não é responsável por metade dessas pancadas que leva? Vou dar um exemplo (não real): você começou a trabalhar numa empresa no cargo de responsável pela publicidade dela. No teu segundo dia, aparece uma ação na Justiça de um cliente reclamando que a publicidade enganou a pessoa, e você é o responsável por juntar todas as peças de defesa da firma para que ela não perca a ação. Entendeu o que quero dizer? Você não é responsável pela ação, pode até ser que antes de ter entrado nessa empresa tenha criticado a propaganda por ela não ter sido clara o suficiente e agora você tem que defender a propaganda como se você a tivesse criado!! E o que é pior, terá que pesquisar em milhões de arquivos não organizados para achar as histórias de como a coisa foi criada!!
Assim vamos, uma pancada após a outra, nem se sabe de onde. E cada uma te joga um pouco mais pra baixo, vai te encasmurrando, te deixando sorumbático, taciturno. Você só tem vontade de ficar ensimesmado, fechadinho num canto, e até gosta dessa solidão, acaba não querendo compartilhar tua casmurrice com ninguém, até para não contaminar. É um ciclo vicioso, a pessoa vai se fechando cada vez mais dentro de si. O corpo reflete isso, a pessoa vai ficando curvada, anda arrastada, parece estar sempre cansada, começam a aparecer dores, puxadas de músculo, fisgadas de nervos... O sono é pesado e não é reparador, o cansaço é permanente, a falta de vontade impera.
Há que rezar para se recobrar a esperança, mas cadê a força para reiniciar a subida?

3.5.12

Procura-se um bar

Estou à procura de um bar para chamar de meu. Não, não quero ser o
dono do bar, mas gostaria que ele fosse tão meu que mesmo não sendo o
dono, ele seria meu. É um bar ideal. Nele todas as bebidas que devem
ser bebidas geladas estão geladas, não estupidamente nem fracamente,
apenas geladas. E o que é quente está ali, à disposição, sempre com
uma pedrinha de gelo e uma rodela de limão ou de laranja para
completar, dependendo do caso.
Procuro um bar sem afetação, onde a dona Maria, cozinheira que
pertence ao ativo imobilizado do bar por estar ali há 30 anos, sabe
fazer uma dobradinha como ninguém, tem um segredo no bolinho de carne,
consegue até fazer uma moela sem que ela pareça uma moela. As porções
devem ser generosas e o preço honesto. Não, não quero que sejam
baratas, pois senão o bar vai quebrar, e isso é inadmissível. Mas não
se pode cobrar dez pilas por um bolinho de carne só porque é carne de
sei lá de onde. Quero a comida verdadeira.
Mas as comidas e bebidas não são o mais importante. O que eu procuro
mesmo é um bar onde eu chegue e cumprimente todos os seus
frequentadores. Para ali cada um traz a sua vida e decide na hora, ao
sabor da conversa, qual pedaço dela compartilhar. Podem ser as últimas
façanhas, podem ser as façanhas do passado, seja aquelas cometidas de
verdade seja aquelas inventadas. Podem ser as travessuras da infância,
que vão ficando cada vez maiores à medida que passa o tempo. Pode ser
que ali, com a companhia certa, apareça aquele negócio que a tanto
vocês estava procurando. Não, você não vai ali para fechar negócios,
mas eles podem acontecer.
Pode ser também que ali você encontre um parceiro que entenda a sua
aflição atual, que entenda as dúvidas existenciais pelas quais você
passa e, sem dizer uma palavra, te apresente uma possibilidade, uma
saída, uma maneira de lidar com todo o peso da vida. Pode ser, mas
também pode não ser. Afinal, bar é lugar para dividir alegrias, não
para chorar mágoas. E não adianta querer afogá-las, elas nadam muito
bem.
Quero apenas um bar, um lugar, onde eu possa dar uma pausa do mundo e
por alguns ébrios momentos, sem exageros, eu possa esquecer tudo o que
está lá fora para, quando sair, encare tudo como se fosse a primeira
vez.

2.5.12

Zero

Vontade praticamente nula de voltar a escrever. Os tempos andam muito bicudos, e qualquer tentativa de por tudo pra fora pode espantar, pode machucar, pode ferir ou pode ir até um ponto de não retorno. Melhor ficar quieto por enquanto, até a capacidade de abstrair e imaginar volte...

7.3.12

Finitude

De repente, tudo começa a acabar. Um dia chegaria, era certo, mas não esperava que fosse tão rápido. De repente são seus pais que estão na reta final da corrida, quase sem fôlegos e, o que é pior, sem muito incentivo para continuar. De repente é seu irmão que aparece com o corpo de um velho. De repente todos ao teu redor começam a mostrar que são finitos e logo acabarão.
Nós também acabaremos logo, mas é triste saber disso.

7.2.12

Fraude

Sensação horrível essa de parecer uma fraude. Será que faço o que
realmente sou capaz ou estou enganando a todos, inclusive a mim mesmo,
achando que tenho capacidade para fazer mais mas, na prática, não
tenho? É uma época de muita dúvida, muita incerteza, muitos
questionamentos e, infelizmente, quase nenhuma resposta...

17.1.12

Tá tudo errado

Tá tudo errado. Um imbecil e uma idiota fazem alguma coisa debaixo de
um cobertor e estão em todas as manchetes de todos os lugares. Mas o
casal Raupp viajar seis vezes ao exterior com a gente pagando a conta,
nem uma nota de rodapé. Mulheres ricas falando imbecilidades dão
manchete, mulheres pobres, empurradas para o vício pela pobreza, nem
dão cócegas nos editores. No Congresso, no Senado, sujeira pra todo
lado, ninguém respeita a constituição, como disse o Renato Russo. E a
manchete é do jogador do Corinthians que chega de helicóptero ao
treino, do Itaquerão, da Baixada, de qualquer coisa ligada à Copa de
que não precisamos e que vai desviar uma pusta grana de que precisamos
para saúde, educação e transportes para o bolso de alguém.
Tá tudo errado. Quando você dá a vez para uma senhora ou um senhor de
idade em qualquer lugar, recebe um elogio pois a cortesia não existe
mais, na opinião deles. Infelizmente, é verdade. Hoje em dia fazer o
certo merece elogio pois está cada vez mais raro isso acontecer. Não
roubou quando pode? Trouxa. Não passou a perna no sócio quando ele
piscou? Idiota. Não bloqueou todo o trânsito só porque você disse que
eram apenas dois minutinhos para pegar a encomenda? Imbecil, todos
fazem isso. Todos fazem, e quase ninguém se importa.
Tá tudo errado. Quem trabalha no campo não ganha nada, ou quase nada.
Quem é pequeno agricultor vive de uma esmola governamental, quem é
grandíssimo agricultor tem as portas dos bancos estatais sempre
abertas, sabe-se lá como (ou melhor, sabe-se, mas quem prova?). Médico
ganha uma miséria, professor ganha uma miséria, e uns caras cantores
de quase músicas ganham milhões da noite pro dia. Eles podem ganhar
milhões, tudo bem, mas os médicos precisam ganhar mais, os professores
muito mais do que ganham hoje, os agricultores também, os pedreiros
também, enfim, o sistema de remuneração desse país está do avesso, e
vamos ficar no futuro com milhares de atores/cantores/modelos e
atrizes/cantores/modelos, e ninguém para plantar, medicar, cuidar de
doentes, cozinhar, construir.
Tá tudo errado. Quem lida com trabalho intelectual recebe migalhas.
Uma popozuda recebe milhões. De novo, ela pode receber milhões, mas os
outros deveriam ganhar mais. A bunda alimenta nosso corpo, e quem
alimentará o intelecto? Nos classificados dá até vergonha ler. Médico:
salário inicial R$ 1.350. Dançarina para boate: ganhos acima de R$ 5
mil. E a moral distorcida: "o corpo é meu, eu faço o que quero dele".
Tem razão, mas o médico, que cuidará de teu corpo quando ele começar a
falhar, não deveria ganhar mais?
Tá tudo errado. Minha vontade mesmo é que os maias estejam certos e o
mundo acabe em 21 de dezembro para recomeçarmos, pois do jeito que
vai, se o mundo não acabar naquele dia, a gente dá fim nele no máximo
em 2014.