Pesquisa do Palavrório

30.12.04

Fim de ano

Então, acabou. Tá, tudo bem, ainda tem ano que vem. Mas na prática, já acabou no dia 25 de dezembro. E só começará após o Carnaval. Isso porque estamos no Brasil, e aqui nada sério, de verdade, começa antes dos ensejos momescos.

Assim sendo, acabou. É época de fazer o balanço de 2004, ver o que deu certo, o que deu errado, e tudo o mais. E, muito mais importante, fazer as listas de resoluções para 2005. Quase todos colocam uma lista de propósitos para o ano que chega, não importa quando ele chegue: trabalhar mais sério, economizar, gastar menos com besteiras, comer melhor, beber menos etc e coisa e tal.

Eu não fugirei à tentação, e farei uma lista que realmente pretende ser a definitiva para o ano que chega:

- Prometo não fazer listas de resoluções.

Afinal, pelo que me lembro, os melhores anos que tive foram aqueles nos quais não fiz lista de resoluções alguma para me orientar. Ia pelo instinto, cheirando cada esquina para ver que lado me atraía mais, e virando ali. Sem muitos planos, apenas uma lista de desejos pessoais.

Mas todos esses anos bons foram seguidos da reflexão do que aconteceu. Essa, em minha opinião, é mais importante até que a resolução. Pois aprendemos com os erros e acertos que fizemos, e de nada adianta projetar os erros e acertos que faremos, eles são imprevisíveis.

Assim sendo, acabou. Até 10 de janeiro, que ninguém é de ferro.

FELIZ ANO NOVO!!

P.S. Amanhã o site do Palavrório será atualizado. É sério e verdade, dessa vez não escapa. Podem ler outras coisas menos datadas lá.

29.12.04

Da ironia de ser humano

Não adianta. Todos os que têm pelo menos uns quinze reveillons nas costas sabem que nada mudará com a passagem do ano. O saldo no banco continuará do mesmo jeito, não importa a reza, a mulher continuará a mesma (duvido que um cirurgião plástico opere bem na virada), a casa idem, o carro ibidem, e por aí vamos.

E, contrariando todas as evidências, o ser humano pensará que o Ano Novo é momento de renovação, de esperanças, de começar tudo outra vez, que dessa vez o ano será bom. É uma fé cega e, em muitos casos, muito maior que a fé em Deus.

Não importa dizer que há vários calendários em curso, que esse é o ano novo apenas do calendário gregoriano, que há o Juliano, o muçulmano, o judeu, o chinês, o japonês, e algumas civilizações que nem calendário têm, pois o tempo para eles é mais fluido, é o suceder-se de estações.

Assim, a fé em que tudo mudará é cega e irracional. Mas não há como escapar das tradicionais listas de fim de ano, com o balanço das perdas e danos, e talvez alguns ganhos. Junto com essa lista vem a de resoluções: menos alguns quilos na balança, menos gastos no cartão, mais parcimônia na hora de comer, enfim, equilíbrio. Que, claro, será convenientemente deixado de lado durante o Carnaval, afinal, ninguém é de ferro.

Pois é, o ser humano é assim. As evidências são esmagadoras, mas ele acreditará que a mudança é possível, em um passe de quase mágica. Mesmo que a pessoa encha a cara de uma maneira animal na noite do Ano Novo, brigue com a namorada, a esposa, os filhos, enfim, faça as maiores cafajestadas, o Ano Novo será melhor. O primeiro dia não conta, afinal, é feriado mesmo...

28.12.04

Impotência

Não há nada a fazer. A onda gigantesca vem, arrasando tudo. Pular, se esconder, correr, nadar, nada, absolutamente nada trará a salvação. E assim, em um instante, lá se vão mais de 50 mil pessoas (e contando).

Vulcões também são imprevisíveis. Até um certo ponto, dá para saber quando explodem. Até um certo ponto. Um dia, eles jogam tudo pra fora. E assim, cidades são eliminadas em segundos. E lá se vai Pompéia, alguns de seus habitantes ainda eternizados em estátuas instantâneas, para que nós vejamos.

E a terra tremeu. E onde tremeu, muitas vezes, tudo desabou. Foi assim na Cidade do México, foi assim em Lisboa (1777), foi assim em San Francisco, e será assim em tantos lugares ainda. As falhas geológicas estão aí para não deixar ninguém seguro.

E vão tornados, enchentes, nevascas, furacões, avalanches, catástrofes naturais que ainda não são 100% previsíveis, que podem acontecer em determinados lugares, e que apesar disso não afastam as pessoas de viver nesses lugares.

Pois tenham certeza, assim que a região que foi devastada no Sudeste Asiático tiver limpa e recuperada, ela será novamente ocupada pelo ser humano. A crença que a desgraça só atinge os outros é sempre maior que a razão.

E assim, encostas de morros, beiras de rios, falhas geológicas e outras regiões propícias à tragédia continuarão sendo habitadas, e por muita gente. Até quando, não se sabe. Mas talvez seja essa a seleção natural a que se referia o Darwin...

27.12.04

Semana morta

A semana entre o Natal e o Ano Novo é morta. Descontando um tsunami, para desgraça de quem vive lá, nada acontece no mundo.

Nos jornais, apenas notícias das vendas do comércio (aumentaram, diminuíram, ficaram iguais), dos presentes mais vendidos, das trocas dos presentes que não couberam ou não agradaram. Em quase todas as seções, o balango de 2004 e as previsões de 2005, quaisquer sejam.

Assim, pouco há a comentar, a dizer. Melhor mesmo é ir para casa mais cedo, meter a roupa na máquina de lavar, dobrar os papéis de presente que sobraram para serem reciclados nos próximos aniversários, e é só.

E esperar o ano próximo, sem pressa.

24.12.04

Feliz o quê?

Amanhã é Natal. Motivo para celebrar. Quer dizer, isso se você for um cristão católico que segue o calendário gregoriano. Pois se você for cristão ortodoxo, o Natal é em sete de janeiro. Se você for um ortodoxo armeno, aí é no dia seis de janeiro, pois eles celebram mais a Epifania, o momento em que Jesus foi visitado pelos Reis Magos. E mesmo cristão, você pode não celebrar nada, se você for Testemunha de Jeová. Afinal, dois anos depois do nascimento, os romanos mandaram matar todas as crianças de dois anos e menos. Assim, é uma data para ficar triste.

E nem vamos falar das outras crenças. Para os judeus, Jesus era mais um deles, mas não o filho do homem. Para os muçulmanos foi um profeta, mais um. E ambos seguem um calendário diferente. Budistas, hinduístas, animistas, panteístas e outras crenças várias também não celebram o Natal, mas com certeza devem aproveitar o feriado, quando esse dia cai no meio da semana, e o país concede o feriado.

Então, fica meio difícil desejar feliz Natal. Melhor desejar um feliz dia, desejar paz, desejar amor, desejar uma vida repleta de coisas boas, força para encarar as coisas ruins (que as há), e se por acaso vierem alguns presentes no meio do caminho, melhor ainda.

FELIZ FELIZ!!

P.S.: Se você achava que ia encontrar uma crônica sobre os aspectos sociais do Natal, do acúmulo de desgraças e a mídia tentando dizer que não há nada, deu com os burros n’água. Hoje não!!

22.12.04

Casa nova

Você abre a porta, avança dois passos, gira, fecha-a, tranca-a, e gira de novo. É isso, você está de casa nova. Já há alguns móveis colocados, mas ainda faltam vários. E você tem certeza que há uma quase infinidade de detalhes que, na confusão da mudança e na pressa para ocupar o novo território, passaram desapercebidos. Mas essa é sua casa nova.

A chave da velha casa fica guardada, enquanto não é vendida. Casa velha de lembranças velhas. Já que essas a gente carrega consigo para sempre, que pelo menos aquela fique para trás. Foi o tempo justo, necessário, talvez um pouco mais que o esperado, mas com certeza menos que o devido. Foi, fim. Agora, é a casa nova.

E ela está vazia. É uma chance de ouro, colocar o que se quer dentro de sua casa nova. Você pode encher ela de risos, abraços, carinhos, afagos, alegria e amor, muito amor. Você também pode não querer nada disso, e encher de coisas como lustres, pratarias, eletrônicos da geração seguinte à última, enfim, tudo aquilo que ocupa espaço mas não preenche o vazio. A decisão é sua.

Casa vazia é como uma folha em branco, uma tela em branco. Você decide qual a primeira letra, a primeira pincelada, o primeiro caractere, e depois, segue a intenção inicial. Com cuidado, sem pressa, dessa folha em branco, dessa casa vazia, nascerá uma obra bonita, uma obra boa, um lugar onde você coloque o pé e se sinta, realmente, em casa. Um lugar onde o caos do dia-a-dia seja deixado da porta para fora, e que mesmo a gritaria de crianças, o barulho de panelas, a música, a televisão, sejam uma sinfonia harmônica, a mais bela e confortante que pode existir.

Sem pressa, você terá isso. Devagar, basta seguir em frente. Agora é dar o terceiro passo e assumir a casa nova. Bem-vinda, a casa é sua.

21.12.04

Rótulos

Abstract, Ambient, Avant-Pop, Downtempo, Dronology, Drum and Bass, Electro, Electronic (no que são diferentes?), Emo, Garage Rock, House, Improv, Lo-Fi, Lounge, Math Rock, No Wave, Noise, Post-Punk, Post-Rock, Power Pop, Psych, Shoegazer, Slo-Core, Space Rock.
Esses são alguns estilos musicais que se encontram na Epitonic, uma distribuidora de música MP3 na internet. A idéia dos caras é bem bacana, é colocar bandas novas em um lugar único, onde as pessoas podem escutar música nova e, gostando, comprá-la on-line para fazer o download.
A única coisa é conseguir destrinchar o que querem dizer todos aqueles rótulos ali de cima. Enquanto escrevo, escuto Garage Rock. Até o momento, a única definição a que chego é música com bastante guitarra, baixos pesados, bateria pesada e uma qualidade de gravação um tanto quanto ruim, como se fosse gravado nas coxas, em uma garagem.
Mas, pôrra, há alguns anos não havia tanto rótulo assim. O rock era mais básico, tinha uma ou outra variação como heavy metal, hard rock, punk, progressivo e rock, e meio que paramos por aí. Hoje em dia, os caras têm uma quantidade de rótulos novos que você se perde. Será que as bandas sabem o que quer dizer isso, e realmente tocam seguindo o rótulo, ou mandam os rótulos à merda, e tocam o que dá na telha?
Não sei se tanto rótulo é produtivo, fica parecendo uma tentativa de dar uma cara nova para algo velho – ROCK. Mais ou menos como se destacar no meio da multidão. Pessoalmente, não entendo. Prefiro um guarda chuvão apenas. Mas já que tudo isso está aí, que fique. Agora, alguém pode me explicar direito o que é Math Rock? É róque feito por alunos de Ciências Exatas? Com calculadora e régua de cálculo? Que catso é isso?

P.S.: Pelo menos descobri que, em Garage Rock, tem Strokes. Tá ficando um pouco mais claro...

20.12.04

Quase lá

Sensação estranha. O jogo tá quase terminando, tudo já foi feito, a vantagem é grande, impossível de ser erodida (ao contrário do Atlético Paranaense, que pôs tudo a perder empatando com um time rebaixado, após estar ganhando de 3 x 1 aos 44 do segundo tempo), mas o jogo ainda não acabou.

É necessário agüentar até o final da partida, o último trinado do apito. Você não pode abandonar o campo. Você não pode ficar parado no campo. Você não pode fazer nada, praticamente. Não há mais vontade de atacar, não há porque defender. Um marasmo total, enfim.

Um final do ano de trabalho estranho. Em todas as empresas, acredito que a sensação é a mesma. Nada ou praticamente nada (que é o mesmo que nada) acontece. Nem acontecerá. Daqui até o Carnaval, pois afinal estamos no Brasil, é assim que Pindorama funciona. Mas há que se manter uma certa aura de empenho, pois não pega bem relaxar, jogar as pernas pra cima da mesa, e esperar mais confortável o reinício efetivo das atividades.

Até lá, o jeito é enganar, ficar viajando na internet, ver o que há de novo nos jornais, vale até a Folha de Piraporinha do Sul, ler alguns crimes bizarros e notícias estranhas, e esperar. Logo virá a virada, o Carnaval, e aí teremos saudades dos tempos em que estávamos fazendo nada, ou seja, agora.

15.12.04

Malincolia

Malincolia é como se diz melancolia em italiano. Um homem melancólico é um uomo malinconico. Se você não prestar atenção direito, pode até ouvir um homem mal cômico. E pensar que ele está triste porque não consegue ser feliz.

E isso não é certo. Há dias em que mesmo a pessoa com o melhor humor do mundo está melancólica, malinconica. É um mal-estar generalizado, cansaço físico aliado a cansaço espiritual e mental, e uma pusta vontade de ficar em casa coçando o saco, ficar no parque deitado na grama, sem pensar em nada, deixar o tempo passar.

O dicionário diz que melancolia, malincolia, é um sentimento de incapacidade, desgosto em relação à própria vida. Ou ainda, de abatimento. A definição mais grave é a que diz que melancolia é uma doença mental, caracterizada por uma tristeza profunda; hipocondria.

A palavra tem sua origem no grebo. Mélas quer dizer negro. Já ckolé quer dizer bílis, fel. Ou seja, algo físico, tuas entranhas enegrecidas pelo mal-estar provocado por sabe-se lá o que.

Nessas horas, pouco há a fazer a não ser esperar passar. Escutar uma música alegre, ter um bom livro em mãos, um filme legal, se possível não contaminar ninguém com teu estado de humor. E quando o sorriso voltar, desfilar com ele.

14.12.04

Catástrofes naturais

Houve um tempo em que tudo era certo. No inverno frio, em agosto um veranico, em dezembro, janeiro e fevereiro tempo bom com calor (estou falando de Curitiba). Daí que, de uns tempos para cá, tudo mudou.

De verão, faz frio. Onze graus em uma noite na primeira semana de dezembro. No inverno, as geadas não passam de saudades, pois faz tempo, muito tempo, que não dá geada. Basta chupar uma mimosa (ou mexerica, se você precisa da tecla SAP), ou uma poncã (SAP: toranja), elas não têm mais gosto! Sem a geada, elas não se desenvolvem direito.

E o teu armário fica também do avesso. Não dá para saber que roupas podem ir para o tintureiro e ficar guardadas no fundo do armário, esperando a próxima estação. Esqueça a moda da época, pois estarás em dezembro usando as roupas que deveriam ser usadas em julho, ou seja, velhas, e em julho você usou as roupas que tinha usado em janeiro, ou seja, usadas, pois em julho fez um calor do caramba.

E aqui em Brasília, chove. Dois dias de chuva e garoa e tempo nublado. Em Brasília. Nem vou entrar nos méritos de furacões, ventanias, alagamentos no Nordeste, seca na Amazônia e outras inversões, para ficar apenas em terras de Pindorama. Algo aconteceu no planeta, e não sei quem fomos que fizemos algo.

13.12.04

Voando

De novo para o avião. Cansado, com o corpo doído, ele se encaminha para o embarque. Última chamada, ele já escutou, e ainda assim não consegue dar ao corpo a devida energia que o leve até o assento 14B. Putz, nem janela ele consegue.

É o quinto vôo em duas semanas. E como a cidade em que vive tem um aeroporto desgraçado de ruim, com companhias aéreas não confiáveis, tem que ir sempre um dia antes. Deixa de trabalhar durante o dia para viajar. Não dorme em casa, não dorme nos braços de quem ama, para viajar.

Ainda se lembra de quando era pequeno, que olhava aviões admirado, sonhando com o dia em que voaria freqüentemente. A primeira viagem foi um sucesso, puro prazer.

E agora, que estou atrasado para pegar o próximo e com uma baita vontade de continuar escrevendo sobre o tema, tenho que largar. Quem sabe eu consiga terminar decentemente esse texto mais tarde.

10.12.04

Mundo corporativo

O mundo corporativo tenta encontrar “n” maneiras de tornar os treinamentos mais agradáveis para seus “colaboradores” (que mal há em dizer funcionários?). Atualmente, os modelos mais em voga utilizam a vida ao ar livre – arvorismo, corrida de orientação, escalada etc – para dar lições organizacionais.

Mas não sei se isso dá tão certo. Ao final de cada atividade dessas, na reunião de avaliação, as pessoas que dão o curso esperam as mesmas palavras de sempre de quem participou da atividade, de acordo com a atividade que foi feita. É só esperar a primeira pessoa que começa a falar para brotarem os chavões: segurança, liderança, espírito de equipe, confiança, superação, planejamento, blá-blá-blá. Não muda nada. E dá-lhe comparações entre o que foi feito e a vida empresarial.

A grande descoberta é que esse tipo de comparação pode ser feita em qualquer lugar. Que tal um novo treinamento gerencial em uma confeitaria, daquelas boas que tem de tudo e mais um pouco? Funciona assim: a equipe recebe uma grana e vai a uma confeitaria. Ali o grupo tem que decidir o que comprar, em um determinado espaço de tempo. Feita a compra, vem a análise. “Se você estivesse sozinho, como agiria? Em grupo, qual foi o seu comportamento? Na hora de abrir mão do sonho porque a maioria quis quindim, como você se sentiu? As decisões do recheio da empadinha foram consensuais ou conflitivas? E pimenta, alguém quis colocar pimenta na coxinha?”

Enfim, qualquer coisa serve para fazer treinamento empresarial. Basta meter o povo em equipe e fazer eles decidirem algo em conjunto. Daí é só viajar na análise, e colocar os chavões que completam a massaroca: “capacidade de ouvir, tomada rápida de decisões, empreendedorismo”, blá-blá-blá. Pelo menos na confeitaria sairia mais barato...

9.12.04

7.12.04

Revanche?


Primeiro, clique aqui e veja essa notícia. Daí volte aqui.

Bom, agora é isso, a revanche dos católicos. Durante dois mil anos, mesmo não sendo a religião com o maior número de adeptos no mundo, eles perseguiram quem ousou contestá-los, pelo menos na Europa e na América. A Inquisição mandou muita gente pra fogueira, condenou tantas outras, e ainda sobrevive, por incrível que pareça, com o nome de Congregação do Santo Ofício (e isso é verdade!), comandada pelo Ratzinger.

Tanto fizeram, que agora, em alguns lugares do mundo, estão sendo discriminados. É a cristianofobia (não, não é o medo aos Cristianos), ou seja, a perseguição a cristãos onde eles são minoria. Vão tentar equiparar o termo ao anti-semitismo e a islamofobia.

É claro que a perseguição é uma bosta. Qualquer pessoa queria sentir-se segura para professar a sua fé, nem que fosse um judeu em meio a um milhão de muçulmanos. Afinal, liberdade de expressão deveria ser um direito universal. Mas infelizmente isso não acontece.

O engraçado é que essa ação do Vaticano chega em uma hora em que o poder de influência da igreja católica é cada vez menor. A Europa (felizmente) rejeitou mencionar as supostas “raízes cristãs” no texto de sua constituição. E os muçulmanos e hebreus que conviveram pacificamente na Espanha por centenas de anos (ah, foi sob domínio mouro, quando o Fernando e a Isabel retomaram a coisa veio logo a Inquisição e fogo neles. Ah, mas era o passado não tolerante.)? E os celtas , pagãos? E os ciganos, que afinal têm como origem provável a Romênia (que é Europa, ou não). Em quase todos os países de maioria cristã, o divórcio existe, contra a vontade da igreja.

Quero acreditar que está chegando a hora em que a humanidade percebe que institucionalizar a fé não faz bem para ninguém. Você cria radicais fanáticos de qualquer naipe (pois os há entre os judeus, os muçulmanos, católicos, budistas, sikhs e outras crenças) que querem degolar os que não pensam como eles. E, geralmente, esses imbecis são liderados por outros imbecis que se intitulam líderes de suas igrejas, mesquitas, sinagogas ou o que seja. Mas, se tudo der certo, a religião institucional acaba logo.

Oxalá!!

6.12.04

Ficção?

Franceses estão “cansados” de “O Código Da Vinci”

Há uma tênue linha que separa a ficção da realidade. E muitas pessoas, mais até do que o bom senso recomenda, não conseguem separar essas linhas. São pessoas que levam a sério jogos multijogadores on-line, e quebram de pancada na vida real quem surrou eles na arena virtual.

São pessoas que olham um ator de novela que faz o papel do vilão e xingam ele, suas mães – a verdadeira e a fictícia – e por pouco não vão às vias de fato, baixam lenha no ator. Ou ainda, que lêem um livro e acham que tudo o que está escrito é bom

Veja só a notícia que a BBC Brasil publicou hoje. Os franceses estão de saco cheio da história, não do enredo, mas das conseqüências que uma trama bem escrita, que traz à tona uma série de assuntos não tão bem esclarecidos, trouxe à vida de Paris.

Já há uma série de roteiros turísticos mostrando os lugares citados no livro de Dan Brown. Gente que não se conforma de ter lido uma obra de ficção, e que quer porque quer ver a realidade que o livro lhes revelou. Jesus casou com Maria Madalena, teve uma renca de filhos, e morreu na maior tranqüilidade no sul da França.

Bom, há 150 anos o Vaticano decretava, depois de longos e (quem sabe se?) sério estudos, que a Virgem Maria era isso mesmo, virgem, e concebeu divinamente. 150 anos. E que uma das razões pelas quais os padres devem ser celibatários é econômica (antigamente, isso impediria que o padre passasse o patrimônio da igreja para seus descendentes, e com certeza devia reduzir os custos de indenização trabalhista).

Brown apenas tocou nas teclas certas para despertar a curiosidade de muita gente, provavelmente insatisfeita com o desempenho da Igreja Católica nos últimos tempos, e ávida por encontrar as verdades escondidas pelos papas malévolos que comandaram o Vaticano. Assim, agüentemos o livro e todos os subprodutos que já vieram dele (Entenda o Código, Decifre o Código, A verdade por trás do Código, A Empulhação do Código, não demora muito virá O Código para Idiotas). E lembremos que quem quer vê santo até em torrada (tá lá no E Bay!!).

1.12.04

Chuviscos

Um dezembro de inverno em Curitiba. Temperaturas ao redor de 14 graus à noite. Acordar com neblina, garoa finíssima, daquelas que tornam ridículo carregar um guarda-chuva, mas que em sua ausência molham completamente o vivente. E uma parede de cinza intransponível cercando o horizonte.

Dezembros cada vez mais estranhos. Foi-se o tempo em que desde o 15 de novembro fazia sol, dava praia, as pessoas já estavam bronzeadas, as crianças de férias (aliás, você já notou que as férias começam cada vez mais tarde e terminam cada vez mais cedo). Agora é primeiro de dezembro, a criançada ainda está na escola, e lá fora chove, faz frio até.

As ruas molhadas, os carros avançando devagar nas ruas congestionadas, já que ninguém quer pegar ônibus com esse tempo, tudo dá a impressão de arrasto, de não movimento. Esperar o sol voltar, dar o ar de sua graça, parece ser a única atividade possível.

Claro, desde que você não tenha com quem compartilhar um cobertor e um chocolate quente à noite. Nesse caso, esse frio fora de época é até bem vindo.

30.11.04

Habilidades

“Voglio abitare in una casa tutta di legno, fatta con le mie mani”

Sonho antigo de menino, fazer coisas com as próprias mãos, não apenas traquinagens mas coisas significativas. Fazer uma máquina que destrua tornados e furacões, ainda que os primeiros não assolem nosso país (por enquanto) e os segundos sejam raros.

Construir uma máquina de teletransporte como a das Jornadas nas Estrelas, para poder aparecer na casa dos amigos distantes. Sonhos de construir a casa dos sonhos, sempre com varanda, rodeada de árvores, à beira-mar.

Sonhar, continuo sonhando. Casas já não sonho mais, pelo menos, não casas de verdade. Fico contente em construir presentes diferentes, sofás de veludo com homens e mulheres de massinha, jardins que cabem em caixas de sapato ou caixas de fósforo, cartões que são também brinquedos.

Mas sempre lembro com carinho de um catamarã que um dia construí junto com quatro colegas escoteiros. Lona plástica, pregos, martelo e uma régua brinde do Nescau, de 20 cm de comprimento, para medir ripas de madeira de até 3,20 m. Nada saiu preciso, o catamarã saiu torto, mas saiu. E agüentou nossos pesos e nossas mochilas por três dias, durante os quais remamos pela Baía de São Francisco, em Santa Catarina. Os remos também foram (mal) feitos pelas nossas mãos, que ao fim apareceram cheias de feridas e calos.

Não chegamos em primeiro lugar, não lembro se havia uma competição envolvida. O que ficou gravado na memória foi o barco, feito com as nossas mãos, que nos levou durante dois dias por uma série de lugares muito bonitos. A satisfação de poder construir algo legal, que às vezes parece além de nosso alcance.

Creio apenas que seguimos à risca o ditado: “Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez.”

O que mais tem aí de impossível?

Novo endereço

Então, esse será o novo endereço. Tá bem parecido com o anterior, mas pouco importa. O que importa são as palavras.

E, como sempre, o recado:

LEIAM-ME!

Até depois.