Pesquisa do Palavrório

10.9.15

Naufragando

O rebaixamento da nota de risco do Brasil pela S&P hoje, apenas ratifica o que todo mundo que entende um mínimo de economia já vinha dizendo desde antes das eleições: esse governo é incompetente e vai colocar o Brasil no buraco. Não se faz mágica com contas públicas, é necessário gastar menos do que se arrecada.
Mas pegaram a única política econômica séria que o país produziu em 510 anos de história, o tripé metas de inflação sérias com BC independente - câmbio flutuante - responsabilidade fiscal e jogaram no lixo. Acharam que haveria espaço para fornecer crédito abundante para todos, e que somente isso tiraria o país da lama. Foram arrogantes ao não ver as lições de outros países (por exemplo, o Japão) que já haviam mostrado que dinheiro a rodo não é o suficiente para mexer a economia.
Hoje voltamos uns vinte anos no passado, vinte e um, para ser mais preciso. Estamos na mesma M... que estávamos pouco antes do Plano Real, que devolveu à nossa economia um mínimo de previsibilidade e que permitiu ao país sair de seu estado de república das bananas para algo um pouco melhor.
Nesse momento, não precisamos de nada novo, basta voltar ao tripé econômico antigo que as coisas entrariam nos eixos. Mas nossa presidente não tem condições de fazer isso, nem ela nem ninguém do seu partido. Se você leu Saga Brasileira, de Mìriam Leitão, verá que os sindicatos eram favoráveis à inflação, pois aquele descontrole dava a eles um poder enorme sobre a massa de trabalhadores que não entendiam nada de matemática. E quem forma o partido no poder? Os antigos sindicalistas dos anos 80.
Tudo isso já estava escrito. Bastava pegar os números para ver. Eu só me pergunto se não consegui mostrar esses números de maneira clara para quem estava perto de mim, para convencê-los a não votar no descaminho. Agora é tarde.
Daqui há dez anos, quinze talvez, quando tivermos governantes melhores, veremos que perdemos outra década com gente incompetente à frente do país, gente que acha que é possível governar com discursos e bravatas. Enfim, são mais dez anos para atravessar. A vontade maior é atravessar o Atlântico ou o Pacífico e ficar em qualquer outro lugar, menos aqui.

16.3.15

Encruzilhadas

Vez por outra me pego pensando no que teria acontecido se eu realmente tivesse seguido algumas decisões que tomei e que, por um bicho chamado ambição (ou ganância), esqueci no segundo seguinte. Decisões importantes, que me trouxeram até aqui, nesse quase beco sem saída em que me encontro. Tem saída, claro, mas é preciso primeiro limpar o entulho do caminho para então sair por ali.

Quando eu estava na Gazeta Mercantil e saí para ir para a assessoria de imprensa da Tim, saí para ganhar o dobro de dinheiro. Foi legal, e à época achei que foi uma sábia decisão, pois a Gazeta Mercantil faliu uma semana depois, mandando todos pra rua. Mas todos os que foram pra rua estão bem, e jornalistas. Eu não.

Já de volta ao Brasil, estava na Gazeta do Povo, pensando em fazer um mestrado para dar aulas de redação. O bicho da ganância apareceu de novo, e lá fui eu para a GVT. E um ano depois, nova mordida, dessa vez para ir ao marketing. Três, quatro anos de enganação pessoal, até ser mandado embora.

Aí vamos para uma revista de economia, algo que parece ser promissor. Só não era pois peguei a crise de 2008. Enfim, talvez desse para ficar ali e fazer uns frilas. E fui chamado para trabalhar com uma amiga em uma assessoria de imprensa diferente, sem muita encheção. Recusei, achei que seria boa a aposta da revista. Não foi, a revista não tinha espaço para eu crescer, nem ela para crescer no mercado. Enfim, saí e fui mordido pelo bicho da maior ganância.

Claro que todo salto permitiu conquistas materiais que, de outro modo, teriam demorado muito mais para ser conseguidas. Eu tinha uma necessidade também de mostrar para minha esposa que eu podia ser algo mais que um bom marido e um bom pai, que eu podia ser um provedor também (coisa besta de macho jacú). Deu certo, mas não dá para se enganar o tempo inteiro. A consciência cobra uma hora.

Infelizmente, não sou um homem executivo. Não sei trabalhar com gente falsa ou injusta, muito menos desonesta ou que só quer levar vantagem. E o mundo empresarial é assim. O que sei fazer melhor não se transforma em dinheiro. Essa é a encruzilhada atual. E a bússola não está apontando para lugar algum.

12.2.15

Difícil

Quando roubam a luz no fim do túnel e fica tudo escuro, é muito difícil manter a esperança.
Trabalhar parece uma luta inglória, pois não traz resultado algum.
Sofremos para chegar ao próximo dia, à espera de um milagre.
E milagres, bem sabemos, não existem.
Enfim, continuar, é o que dá para fazer.
Desistir não entra no vocabulário, e não é uma opção.
Já conheci quem desistiu, e eles não estão mais entre nós. E não quero isso.

29.1.15

Era a macroeconomia, mas ninguém quis ver

Ou melhor, 53% das pessoas não quiseram ver. Durante oito anos, o governo esqueceu todo e qualquer fundamento macroeconômico e deu no que deu. Todos os níveis de governo estão quebrados, e há um efeito dominó na economia que resultará em tempos muito duros para todos.
Começa mais ou menos com os estados e União não pagando os fornecedores. Esses, por sua vez, não pagam os funcionários ou os impostos ou os fornecedores. Quem tinha capital de giro já o gastou apenas para ficar respirando, um pouco acima da linha d'água. Sem dinheiro, os trabalhadores irão às ruas protestar ou demitidos mesmo, um dos dois. Com menos dinheiro nas ruas, haverá menos comércio, logo, menos arrecadação de impostos, e aí o círculo viciou e fica difícil sair.
Claro que tem saída. Mas alguém acha que nossa presidanta irá fechar 20 ministérios, pelo menos, e demitir metade dos funcionários comissionados que garantem a boquinha de uma dezena de partidos, pelo menos? Alguém aí vê espírito cívico nos legisladores e vontade de cortar os cargos comissionados pela metade, as verbas de gabinete pela metade, os benefícios do cargo pela metade? E nos nossos doutos juízes e desembargadores, algum sinal de espírito de união e sacrifício para abrir mão do auxílio moradia, que seja?
Tá mais fácil a Cantareira encher em uma semana que vermos isso.
Salve-se quem puder.

12.1.15

Extremos

Tem um lado da humanidade que parece querer, até mesmo desejar, que tudo se encaminhe para os extremos. Muita gente parece não ver que há infinitas tonalidades de cinza (as 50 do livro são muito poucas, faltou imaginação à escritora) entre o branco e o preto. E mesmo esses têm variações, algumas muito difíceis de se ver.
É gente que quer sangue no asfalto. É gente que diz que "bandido bom é bandido morto", que todo evangélico é burro, que todo ateu é endemoniado, que todo muçulmano é terrorista, e assim vamos. Essa gente põe uma lente em que só passa uma visão, uma opinião, uma ideia. E que morra o resto do mundo que não pensa igual a ele, ou ainda, que apareça alguém que mate quem não pensa como ele.
Um mundo de extremos, onde o diálogo vai desaparecendo, sendo substituído por uma falsa interação social por meios digitais. Talvez desaprendamos como conversar, e só então, quem sabe, já no fundo do poço, a gente perceba que precisará um dos outros para poder sair dele. Quem sabe.

8.1.15

Solidão

O ser humano é, essencialmente, um solitário. Todas as tentativas de aplacar essa solidão - amigos, namoradas, esposa, filhos, sobrinhos etc - são apenas isso, tentativas. Na hora das grandes crises, não há ninguém que possa ajudá-lo.
Rezar pode diminuir a sensação de solidão, mas deus é mais ou menos como Crom, o deus cimério do Conan. Ele está ali vendo o que você faz e, se você se esforça, pode ser que consiga superar a sua crise, ele manda apoio. Mas se você não faz nada, a culpa é sua, não dele. Cabe a você encontrar forças dentro de si para reagir.
Solidão é uma merda. E a gente sente mais isso quanto pior está.

7.1.15

Mundo de malucos ruins

Hoje de manhã malucos fortemente armados invadiram a sede do jornal Charlie Hebdo em Paris. O jornal existe há muito tempo e sempre publicou sátiras em forma de charges contra tudo e contra todos. Mas já há algum tempo, quando outros loucos fundamentalistas ignorantes e obtusos começaram a declarar guerra contra tudo, é que o jornal ficou famoso. Tudo graças a uma charge sobre o profeta Maomé.
Ontem os caras publicaram uma charge sobre o líder dos insanos do Estado Islâmico, e parece que esses dementes têm braços suficientemente longos para conseguirem promover um ataque na capital francesa. A contagem inicial de mortos aponta onze pessoas, com chance de serem mais.
Você pode até não concordar com charges de motivos religiosos, como muitos políticos não concordam com charges feitas sobre eles. Mas sair por aí atirando? Será que todo deus é vingativo e manda passar o pescoço dos humoristas na ponta da faca?
Não acredito que deus, seja ele quem ou qual for, não possua senso de humor. The Tweet of God e o Deus do Laerte são dois exemplos de deus que eu acho mais condizentes com a verdade. Esse ser supremo tem que ter senso de humor, não é possível que não tenha. E esse ser com certeza não aprova as atitudes desse bando de nihilistas que destrói (ou tenta destruir) tudo o que não está na cartilha deles.
Socorro.

5.1.15

Um longo interlúdio

Foi mais de um ano sem escrever nada. Será que foi um ano perdido? Difícil dizer, nunca se perde nada ao viver. Mas que 2014 fez bem em acabar na hora certa, fez. Ele tava com cara de que ia se demorar um pouco mais por aqui.
Bom, lá se foi o ano passado, agora só temos o presente. E nesse presente, o que será que pode ser feito? Preciso, já escrevi isso em algum lugar, retomar as rédeas da minha vida. Preciso viajar mais, organizar melhor as coisas, dividir melhor o tempo e ficar em forma. Quase tudo já começou a ser feito no fim do ano passado, mas ainda é necessário planejar melhor como fazer.
Há uma ou outra meta ambiciosa, no sentido de pretensiosa. Mas acho que são boas metas, que farão a cabeça se mexer para eu parar de ficar me martirizando, achando que sou o único sofredor do mundo, essas idiotices que aparecem quando não se está plenamente satisfeito com a vida.
Enfim, é tempo de se mexer. Toda hora é, mas em alguns momentos a necessidade é mais premente. Vamos ver se a maré muda.