Pesquisa do Palavrório

29.10.09

O que me preocupa

O que me preocupa nesse governo é que ele está "companheirizando" todo o Estado. Tudo bem que todo governante faz isso, pega os seus aliados, cupinchas e comensais e os coloca em postos de poder, grande ou pequeno, para poder dominar tudo.
No entanto, nunca antes na história desse País isso ficou tão descarado. E se antes havia uma sensação de que, mudados os governantes, mudariam as pessoas, esses que agora estão querem perpetuar-se em seus cargos e comissões. Quando se fala com um deles, há sempre um discurso de que "com FHC era ruim, com o Lula é maravilha".
O ponto que é mais preocupante é que eles não aceitam o diálogo e a controvérsia. Ou se é a favor do Lula, do PT e de tudo o que ele faz, ou você não vale dois tostões. Toda opinião contrária é imediatamente desqualificada, tida como enviesada, como alguém que está jogando contra o País.
Ontem estava em um curso promovido pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, ligada à Sealopra (Secretaria de Assuntos Estratégicos de Longo Prazo). (Tá, tem outra sigla, mas esse é bem melhor). O IPEA sempre contestou o FHC, e mesmo sendo uma autarquia federal, o ex-presidente nunca cogitou em tucanizá-lo. Durante oito anos o IPEA criticou as políticas públicas. Chega o Lula, companheiriza tudo, e no que vira o IPEA? No instituto que justifica teoricamente todas as ações político-econômicas do presidente.
O curso chega a ser vexaminoso em alguns pontos. Como, por exemplo, um pesquisador tenta justificar a escolha do Lula por acordos comerciais com países africanos e latino-americanos e a escolha da OMC como fórum na luta por menos barreiras comerciais, em detrimento de estratégias como as do Chile e da Coréia do Sul, que fazem acordos de livre comércio bilaterais com países e blocos comerciais desenvolvidos, como Europa, Estados Unidos, Japão etc. "Diversificamos a pauta do comércio exterior, não somos dependentes de um país só", disse o pesquisador. No entanto, o País continua representando apenas 1% do comércio mundial, mesmo sendo o 8º PIB. Defesa inútil ante os fatos.
Esse foi apenas um exemplo. O curso foi farto deles, e é uma mostra do que acontece em nível nacional com os companheiros. Se um governo de oposição suceder o Lula, pode esperar que ele vai ter brigas constantes com todos os institutos de pesquisa estatais, pois estes estão hoje, infelizmente, totalmente "companheirizados".

26.10.09

Problemas com o cigarro

Eu tenho problemas com o cigarro. Por exemplo, eu odeio os fumantes que, em sua grande maioria, são um bando de porcos. Quantas vezes eu tenho vontade de xingar um motorista que, assim que acaba seu cigarro, jogar a bagana pela janela, como se a rua fosse um grande cinzeiro. Pô, será que esse lazarento não tem cinzeiro dentro do carro? Ou, como nunca usou, nem sabe onde é?
Eu odeio também quando chego em casa cheirando a cigarro. Claro, dessa nem posso reclamar muito, pois afinal eu já sabia que entraria em um bar e lá seria recebido por uma nuvem de fumaça. Mas que dá nos nervos tirar a roupa e estar se sentindo como alguém que dormiu no fundo de um cinzeiro, há dá sim.
Também implico com os caras que abrem seu maço de cigarro, pegam aquele plástico do lacre e, junto com o primeiro pedaço de papel que protege os cigarros (naquelas embalagens de caixinha), fazem uma bolinha e tacam na rua ou pela janela. Parece que, para esses caras, isso não é lixo, é algo natural, que faz parte. Tacar a guimba pela janela do apartamento também é normal, ora, por que não? Afinal, é algo tão pequenininho, ninguém vai perceber...
Eu estou bem contente com a lei antifumo. Não é questão de ser moralista, é ser contra a porquice. Em minha opinião, o fumo deveria ser proibido nas ruas também, e só deveria ser permitido fumar em casa. E de janelas fechadas, pois na hora que o fumante porco fosse tacar a guimba pra fora de casa, aquele toco em brasa bateria na janela, respingaria na cortina ou no sofá, e começaria o incêndio ali. Aí o cara ia ter fumaça à vontade para aspirar, sem perturbar ninguém nem sujar a cidade. Que sonho!!

21.10.09

Pessoas

Ontem encontrei um colega que já admirava a algum tempo. No entanto, após a conversa, passei a admirá-lo muito mais. É muito bom encontrar pessoas que colocam nossos dramas pessoais na perspectiva correta.
Não desmerecendo a dor que sentimos, é necessário dimensioná-la de modo que ela não pareça maior. As tempestades em copos d'água são das coisas que atravancam nosso progresso espiritual e nesse plano. Por isso, quando encontramos com pessoas que nem esse meu colega, é muito bom.

16.10.09

Governos idiotas

Basicamente, todos os governos são idiotas. E em nosso país, onde a idiotice parece ser um valor a ser cultivado, eles são ainda mais idiotas. Todo o pretenso "confronto de ideias" entre situação e oposição, aqui, não passa de um discurso pomposo para um objetivo velado, que é o de desviar parte dos recursos que todos produzimos para os bolsos de alguns, ou seja, privatizar alguns lucros da atividade estatal.
Pois é disso que se trataram todos os governos até aqui, incluindo este. Nenhum governo até hoje, nenhum, teve um projeto de país. Um ou outro teve um plano de governo, sujeito a mil interferências de todos os tipos, bons ou ruins. Mas todos tiveram um projeto de pilhagem do recurso público para uso de alguns privados. Todos buscaram fazer isso, e fizeram. Em que nível e quanto, resta saber.
Veja o atual ocupante do cargo. Não é engenheiro, não sabe nada de trabalhos de grande porte, mas resolve "fiscalizar" as obras de transposição do Rio São Francisco. Leva um séquito enorme, contrata um buffet chique da capital do Estado para servi-lo, transforma um quarto do canteiro de obras em suíte cinco estrelas, para subir num palanque e continuar falando besteira. E tudo com um único objetivo: eleger a sucessora para que esta, quatro anos depois, saia do poder para que ele volte triunfalmente. Não há projeto de nada, a não ser um projeto pessoal, idiota, de se achar o único capaz de liderar o país.
Os governos são idiotas não por sua capacidade de malandragem, aparentemente infindável, mas por não pensarem nem um pouco no longo prazo. Todo o horizonte que esses energúmenos têm dura no máximo quatro anos. Nem nos próprios filhos eles pensam, pois ainda que os filhos fiquem ricos com o dinheiro roubado, não haverá condições de usá-lo em um país convulsionado, inseguro, incerto. O grande projeto é enriquecer, não importa às custas de quem.
E o grande mentecapto ainda fica criticando a imprensa nacional, pois segundo ele a estrageira sim é que o olha da maneira certa, positiva. Para ele, aqui se acaba tudo, notícia boa não chega ao jornal, ninguém vê as melhoras do país. Que idiota!

14.10.09

As dores do recomeço

Logo que tudo aconteceu, ele achou que seria fácil abandonar o caminho que estava seguindo para retornar lá atrás, naquela encruzilhada antiga. Foi naquela época em que ele deixou de lado um sonho que parecia certo para trilhar uma senda nova, que parecia promissora e cheia de recompensas.
O brilho logo empalideceu. As conquistas prometidas e alcançadas tinham o gosto amargo de estar perdendo a própria alma. Não havia mais espaço para pensar, nunca houve para contestar, não havia gosto no caminhar. E a decisão foi tomada, ainda que não por ele, mas que seria a decisão em algum momento logo ali à frente. Retornar até a encruzilhada e pegar o outro caminho, aquele que foi deixado de lado.
Era a decisão correta, mas ele não pensava que lhe custaria tanto. Ele ainda carrega nas costas o tempo caminhando pelo lado errado, o esforço gasto para ir um tanto quanto longe, e não consegue se livrar disso. Ainda lembra com amargura tudo o que aconteceu. E, enquanto caminha arrastando o seu passado, não consegue aproveitar o presente e projetar o futuro.
Assim, cabisbaixo, cansado, sentindo nos ossos cada ano vivido e que não tem mais retorno, ele recomeça a trilha para ver se o sonho antigo continua vivo, se ele pode ser retomado. Talvez ainda demore um pouco até o caminho parecer fácil novamente, pois a trilha só melhora depois de um tempo caminhado. Mas não há mais retorno agora, ele sabe qual a opção. E ele não a quer, não hoje.

13.10.09

As mesmas falhas

Errar é humano, diz o velho deitado. Insistir no erro é burrice, diz a sabedoria popular. Mas há alguma maneira de se evitar cometer o mesmo erro repetidamente, vezes à fio?

Pois às vezes parece que não temos escapatória, vamos cometer sim o mesmo erro, sabendo que é uma grande cagada. Dá para evitar, mas não fazemos nenhum esforço para que isso aconteça.

O copo tá cheio, tá vazio, tá cheio de novo, esvazia rápido e de repente é você quem está cozido. Você já sabia que ia dar nisso, tem 40 anos nas costas, tem 25 anos fazendo a mesma besteira, e não muda.

Parece uma sina cometer o mesmo erro e decepcionar novamente quem você ama. Mas agora não dá mais para fazer isso. Tens uma esposa, tens filhos, tens responsabilidades. A ficha tem que cair, pois você pode perder tudo.

Lembra-te da semelhança e proximidade que sentias dos barboni italianos, dos beggars ingleses? Você foi um deles, em algum momento, em outra vida. Está nas tuas mãos não repetir o teu destino nesta vida, em não jogar fora o que vieste fazer aqui.

Acorda, antes que seja tarde.

9.10.09

Congelando na terra das araucárias

Frio. Muito frio. Já é outubro, e o clima está congelante. Parece um outubro inglês, quando já se tiram os casacos pesados do armário pois a qualquer momento pode vir uma frente gelada do Ártico. Aqui, Curitiba, cidade com fama de fria, faz frio de verdade.
As vitrines anunciam as liquidações de inverno com o inverno ainda em andamento. Não podem já renovar as coleções pois ninguém se arrisca a vestir bermuda e camiseta. Claro, a barriga das meninas continua de fora, desde que a humanidade as liberou para mostrar seu umbigo, eles nunca mais foram escondidos.
Tá frio, e tudo fica frio. Perde-se a motivação para sair de casa, visitar os amigos, experimentar um bar ou restaurante novo. Todos os desejos são recolhidos, são o de recolher-se e ficar quieto no seu canto, debaixo de um cobertor, vendo um filme e tomando algo quente. Nada mais. O frio esfria as pessoas, amortece a cidade, deixa-a lenta.
Claro, algo aconteceu com o clima que não é normal. Sem ser um ecochato, estragamos tudo já, e agora vivemos com o inverno em outubro, o verão em julho, e sei lá mais o que quando vier. O problema não é perder o que sobra, mas o que virá no lugar do que destruímos. Aí sim acho que os problemas começarão. Até lá, cobertor e vinho, porque tá frio praca!!!

8.10.09

Body bags

Tá lá o corpo estendido no chão. Envolto em panos pretos, parece um daqueles body bags que vez por outra aparecem nos filmes de guerra americanos. Mas não é um soldado morto, é uma pessoa viva que está estendida no chão.
Ele dorme, envolto em seus panos negros, debaixo das moitas que fazem a vez de cerca em um prédio. Ele dorme, talvez sonhando estar protegido em algum outro lugar, qualquer outro lugar, que não a calçada onde está. Parece um corpo dentro de um body bag.
Mas corpos americanos em body bags são diferentes, parecem até bonitos quando vistos na tela do cinema. Mas o nosso não é bonito. Está ali, no meio da calçada, atrapalhando o tráfego, como disse o Chico Buarque em Construção, atrapalhando a visão idílica que temos de nós mesmos ao lembrar que ainda há muito a fazer.
Esse é um body bag preto. Mas há os de papelão, os de cartolina, os de folha de zinco, os daquele cobertor cinza, o mais barato que tem, sujos de tanto serem arrastados pelas ruas e calçadas. Há muitos body bags no Brasil, todos com gente ainda viva dentro, mas que para a maior parte de nós já está morta de alguma maneira.
Nessa guerra diária, temos muitas baixas, mas quase nunca nos lembramos delas. Será que um dia mudaremos?