Pesquisa do Palavrório

12.6.07

"O que importa é estar vivo"

Quem estuda administração, marketing ou outras ciências relacionadas viu em algum momento a hierarquia das necessidades de Maslow. Nesta hierarquia, o pensador mostra que há uma escala hierárquica das necessidades que devem ser supridas pelo ser humano, e que o produto ou serviço que se vende deve ter esta escala em consideração na hora de fazer o seu marketing.

Pensei nesta pirâmide depois de uns dias remoendo a frase que escutei no ônibus. Era uma conversa entre duas mulheres, eu entre elas por conta do ônibus lotado, e uma falava que havia sido assaltada uns dias antes, que estava sem dinheiro até para pagar o ônibus, que deixou fiado a passagem daquele dia, mas que nada disso importava, pois o que importa mesmo é estar vivo.

Vem um pouco de sentimento de culpa por ter pensamentos e desejos tão distantes daqueles da maioria da população. Como disse a minha patroa (que felizmente sempre me dá uma perspectiva diferente das coisas), talvez para a maior parte das pessoas essa seja realmente a única coisa que importa. Sabe-se lá do que elas estão escapando por estarem vivas. Não há preocupações de outro nível que não a comida, o abrigo, a vestimenta, tudo sem luxo. Prato bom é prato cheio. Roupa boa é roupa limpa e sem furos. Casa boa é casa segura, à prova de ladrões e enchentes.

Mas será que a vida é só isso, estar vivo? E será que a vida é isso, ficar perseguindo resultados toda hora para mostrar para alguém e justificar seu trabalho, seu emprego? Onde fica a arte, cria-se para quê, para quem? Onde fica o ócio, pode ser criativo ou produtivo, tanto faz, mas o tempo que se passa com a cabeça leve, sem pensar em criar algo que dê retorno? Onde fica a poesia?

É um mundo ainda primitivo, a cada dia compreendo melhor o que os Espíritas dizem quando afirmam estarmos em um mundo no segundo degrau da escala evolucionária, que há muito chão pela frente. Não conseguimos ainda nos livrar de aparências, não conseguimos ainda focar no que é importante. Talvez um dia, daqui a algumas encarnações, consigamos. Ruim é quando se tem a consciência de que viver não é só estar vivo, mas que há pouco o que se pode fazer para mudar isso.

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