Pesquisa do Palavrório

29.12.04

Da ironia de ser humano

Não adianta. Todos os que têm pelo menos uns quinze reveillons nas costas sabem que nada mudará com a passagem do ano. O saldo no banco continuará do mesmo jeito, não importa a reza, a mulher continuará a mesma (duvido que um cirurgião plástico opere bem na virada), a casa idem, o carro ibidem, e por aí vamos.

E, contrariando todas as evidências, o ser humano pensará que o Ano Novo é momento de renovação, de esperanças, de começar tudo outra vez, que dessa vez o ano será bom. É uma fé cega e, em muitos casos, muito maior que a fé em Deus.

Não importa dizer que há vários calendários em curso, que esse é o ano novo apenas do calendário gregoriano, que há o Juliano, o muçulmano, o judeu, o chinês, o japonês, e algumas civilizações que nem calendário têm, pois o tempo para eles é mais fluido, é o suceder-se de estações.

Assim, a fé em que tudo mudará é cega e irracional. Mas não há como escapar das tradicionais listas de fim de ano, com o balanço das perdas e danos, e talvez alguns ganhos. Junto com essa lista vem a de resoluções: menos alguns quilos na balança, menos gastos no cartão, mais parcimônia na hora de comer, enfim, equilíbrio. Que, claro, será convenientemente deixado de lado durante o Carnaval, afinal, ninguém é de ferro.

Pois é, o ser humano é assim. As evidências são esmagadoras, mas ele acreditará que a mudança é possível, em um passe de quase mágica. Mesmo que a pessoa encha a cara de uma maneira animal na noite do Ano Novo, brigue com a namorada, a esposa, os filhos, enfim, faça as maiores cafajestadas, o Ano Novo será melhor. O primeiro dia não conta, afinal, é feriado mesmo...

Nenhum comentário: