Pesquisa do Palavrório

16.8.05

Sombra de mariposa

No banheiro da empresa há a sombra de uma mariposa. De acordo com um colega, a mariposa ficou parada no mesmo lugar pelo menos um dia inteiro, mais de 24 horas. Ele achou que ela estava morta, e foi tocá-la. Ela saiu voando. Ficou o contorno das asas.

Uma vez li, em algum lugar, que as poucas paredes que sobraram da explosão da bombas atômicas traziam “impressas” sombras das pessoas que estavam ali entre a bomba e a parede. Um perfil macabro eternizado na parede que depois virou monumento, um instantâneo do maior momento de terror instantâneo que a humanidade já produziu. Houve outras matanças piores, mas nunca concentradas em um único segundo, minuto.

Em Pompéia, há inúmeros cadáveres carbonizados, pessoas que não tiveram tempo de reagir à explosão do Vesúvio. Na peça A Vida é Cheia de Som e Fúria, de Felipe Hirsch, ele brinca com uma hipótese. E se um pai de família, correto, carinhoso, que nunca bebeu nem jogou, resolve justamente no dia da erupção jogar dados, só para ver como é, e é eternizado naquela posição? Ficará para sempre conhecido como um jogador de dados, ou um viciado em jogo de Pompéia.

Marcas, marcas, todos os que aqui passam deixam marcas. Algumas mais fortes, outras menos. Algumas que deveriam ser esquecidas, outras que não deveriam. A da mariposa, segundo meu colega, precisa de uma boa esfregada com algum produto de limpeza para ser removida. Mas por enquanto ninguém pensou nisso.

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