Pesquisa do Palavrório

14.4.11

Essa oposição dá raiva...

Quando finalmente a oposição política ao lulopetismo se manifesta, através de um artigo do FHC, a oposição vem para achincalhar. Parece coisa de esquizofrênico, mas não é, é a oposição no Brasil.
A oposição faz oposição a ela mesma e, como não quer ser chamada de situação, não existe. Ela queria ser governo, mas não é. E como tem medo de ser o contrário do governo, não é nada. São um bando de idiotas.
Em primeiro lugar, o FHC não falou que o "povão" deva ser deixado de lado. Ele foi bem claro ao dizer que esse setor já foi cooptado - principalmente através de esmolas contínuas como o Bolsa Família e o Imposto Sindical, agora válido também para os pelegos das centrais sindicais - e que há um setor desassistido pela classe política: a classe média.
Mas os idiotas da oposição não sabem ler os dados do Censo, nem os dados da economia. A classe C é maior que todas as outras. A classe D está melhorando de padrão e mais próxima da classe C do que nunca. Essas são as classes médias. E elas são feitas de pessoas que trabalham pra burro, e que pagam um caminhão de impostos todo dia, muitas vezes sem saber, e que estão cansadas de ver notícias sobre corrupção na tevê, e que estão cansadas da burocracia infernal que os agentes públicos impõe a eles. A oposição não entendeu que é preciso ter um discurso, qualquer discurso, mas que tenha opinião e posições fundamentadas.
A oposição fica com medo de defender a privatização. Ora, são uns imbecis! A telefonia está muito melhor privatizada do que jamais esteve estatal. A Vale é um carrilhão de vezes melhor privada que estatal. A Embraer finalmente vende aviões, coisa que nunca fez direito quando estatal. As siderúrgicas nacionais dão lucro, o que nunca acontecia. A Petrobras não foi privatizada, mas o mercado de petróleo abriu, e ela teve que se mexer, finalmente. Isso tudo não é argumento? Ora, seus imbecis, acordem!
Há multidões esperando alguém defender um estado menor e mais eficiente. Há multidões esperando para ver uma polícia incorruptível que prenda políticos (talvez seja esse o medo da oposição, muitos também têm o rabo preso, ou esqueletos no armário). Há multidões querendo que os funcionários públicos tenham o mesmo tratamento que os funcionários da iniciativa privada. Há multidões cansadas de pagar o imposto sindical para pelegos que nada fazem pelas suas categorias. Há multidões querendo um sistema de saúde decente. Há, a cada dia, mais gente querendo uma escola melhor. Será tão difícil defender essas bandeiras? Do que tem medo a oposição? Só pode ter medo de que, se o país funcionar, que todos percebam que eles também são incompetentes e perderão seu espaço. É, só pode ser isso, medo de perder a boquinha.
E como não há oposição, ou melhor, como não se faz política no Brasil, mas apenas jogos de poder, há espaço para surgir excrescências como o PSD, o partido sem definição. Ele não é governista nem oposicionista, muito pelo contrário, é o que for preciso ser. Que nojo!
FHC, por favor, continue escrevendo. Não dê bola pros idiotas que não entenderam o que você escreveu. Quem sabe, daqui a quatro derrotas seguidas, eles percebam a mancada.

26.3.11

Tempos modernos

O Paulinho da Viola é um gênio. Algo escrito há mais de trinta anos continua hiper atual.

Lindo.

14.2.11

Ingenuidade ou sinal dos tempos?

O ditador da Tunísia caiu, depois de semanas de protestos. O do Egito também, depois de 18 dias. Hoje tem manifestações no Iêmen (fala Nasser, iemenita que trabalhou comigo!) e em Bahrein. Será que o Facebook, Twitter e outros que tais têm tanto poder?
Gostaria de acreditar que sim, que é possível organizar um país a partir do teclado. Mas os governos só caíram pois quem estava atrás do teclado buscava algo mais que uma via de escape para a sua frustração com o seu país. Eles buscavam mudar para ter algum futuro. Por isso foram às ruas, não tinham mais nada a perder, só a ganhar. Poder-se-ia dizer que tinham a vida a perder (como uns 300 perderam no Egito). Mas talvez a alternativa de ficar parado já era uma não-vida.
E no Brasil, com tanta corrupção, quase endêmica, por que não acontece nada? Porque continuamos esperando uma boquinha. Nos jornais de hoje está a pesquisa. A maioria da população considera a aposentadoria dos ex-governadores ilegal e imoral, mas mais da metade dos entrevistados diz não ver problema algum em ele receber uma aposentadoria sem merecê-la. A lei é só para os outros, não para si.
Estamos a maioria do Brasil esperando uma boquinha para nos acomodar. Esse é o triste diagnóstico de nós mesmos.
Claro, é ingenuidade pensar que minha raiva pela internet ajude a mudar a situação. No Brasil, quem tem internet tem muito a perder, por isso não faz nada. E como nos últimos anos vendeu-se a ilusão de que o país só melhorava, não haverá uma praça Tahir para ser ocupada. Brasília é longe demais das capitais, não junta povo. E sem povo, ninguém fica incomodado.
Ficaremos aqui admirando a coragem dos egípcios, tunisinos e outros povos, teclando nossa raiva e não fazendo nada, nada, para mudar o que quer que seja. Triste sina.

4.2.11

Ondas

Há semanas em que estou altamente produtivo, otimista, confiante.
Há outras em que é o avesso total, improdutivo, pessimista, sem confiança, sem auto-estima.
Parece uma gangorra de crianças no parque. Eu mesmo estou dos dois lados da gangorra. E é meio yin-yang: quando estás no ponto alto da parte boa, começas a descer, pois o lado ruim empurrou o chão para subir. E vice-versa.
Não há equilíbrio possível, a gangorra não para no meio. Subir e descer, subir e descer até morrer.

P.S. Gangorra, masmorra, gangorra, gangrena. Só palavra feia...

24.1.11

Novos problemas

Uma das frases dos detratores da informática é que ela veio para resolver problemas que não existiam. Será que isso pode acontecer na medicina também?
Há cem anos não havia praticamente nenhum dos exames que existem hoje. Tomografia computadorizada, cintilografia, qualquer um que use radiação (raio-x acho que já tinha), nada aparecia. Provavelmente as
pessoas morriam de algo que ninguém sabia que existia.
Tem gente que tem medo de ir ao médico com o seguinte argumento: se eu for, ele vai dizer que estou doente. Talvez a ignorância seja a companheira da felicidade.
Não saber nada ou adotar a política do quanto menos melhor poderia ser útil mesmo. Algum poeta ou escritor disse que não era mais possível ser feliz depois de Auschwitz. Ele tem razão. Como ser feliz com os
deslizamentos de terra no Rio, a barbárie de cada dia nas periferias, os desmandos dos políticos, a roubalheira, a falta de caráter da população como um todo?
Talvez seja melhor não cutucar nada mesmo. Tá doendo? Espera passar. Tá com problema no computador? Reinicia e vê no que dá. Ignore os sintomas e toque em frente. Não saiba, e fique feliz.

23.1.11

Constituição Brasileira

Art. 397 - É facultado ao papai de qualquer garota bonita praticar
tiro ao alvo nos pretendentes de sua filha, não importando a idade
dela nem se o pretendente for bonito, feio, alto, baixo, rico, pobre
ou o que for.

18.1.11

Envelhecer

Envelhecer é ter mais responsabilidades, e cada responsabilidade a mais é mais importante que as anteriores. Antes a maior responsabilidade era manter o quarto limpo e os brinquedos inteiros (não intactos, isso seria responsabilidade demais). Depois passamos a cuidar do dinheiro da mesada. Mais à frente, a responsabilidade por manter um namoro vivo era nossa. Aos 18, no máximo, a responsabilidade de devolver o carro dos pais inteiro.
Na vida adulta, tornamo-nos responsáveis por uma infinidade de coisas. Os impostos, o bem estar da esposa (ou do marido) e dos filhos, dos pais, dos irmãos, do resultado individual, coletivo e de toda a empresa, de tudo. Cada nova responsabilidade vem um pouco maior e mais pesada. Somos responsáveis pela nossa saúde, pois o corpo já não tolera mais os excessos de qualquer espécie - de sol, de chuva, de esforço físico, de comida, de bebida, de falta de esforço físico. Somos responsáveis pelo planeta, pois sabemos o que o destrói e o que não, e temos que cuidar disso também.
As responsabilidades se empilham uma sobre as outras, e nenhuma é deixada de lado. Continuamos responsáveis por manter o quarto limpo e os brinquedos (agora chamados de gadgets) inteiros. É uma após a outra, uma nova a cada instante, mais uma, mais.
Crescer é assumir mais responsabilidades. Mas que dá uma baita vontade de tirar férias de si próprio de vez em quando, ah isso dá!

14.1.11

Causas naturais?

A chuva destrói o sudeste do Brasil. A imprensa e o governo chamam de desastres por causas naturais.

Mas não há nada natural nesses desastres. Nós fomos lá, subimos os morros sem permissão, invadimos terrenos perigosos, construímos casas de qualquer jeito, derrubamos as árvores pois dizíamos que elas incomodavam, davam sombra, impediam as crianças de brincar, correr no gramado, enfim, fomos nós, humanos, que destruímos o que lá estava.

Depois de destruir tudo, começamos a jogar nosso lixo em qualquer canto e nosso esgoto nos rios, sem tratá-los. Antes as árvores seguravam a terra, agora não mais, ela vai toda pros rios. E os rios ficam um pouco mais sólidos porque têm lixo. Daí chove, o rio sai de seu curso, e a natureza é a culpada?

Nós somos os culpados dessa desgraceira, e ainda não fazemos nada. Dá muita, mas muita vontade de que o Nifrak Altaim esteja certo, de que em 2012 os tarkanianos venham e dizimem três quartos da humanidade, justamente os três quartos que não preservam a natureza. Talvez, depois dessa faxina, sobre algum planeta para nós no futuro.

13.1.11

Tenho muitos tenhos

Tenho só uma vida, mas uma vida só é pouco para o que tenho.

Leio uma reportagem sobre a turnê europeia da Osesp, tenho vontade de virar músico, tocar algum instrumento, subir ao palco para alegrar a turma.

Vejo a nova foto do universo, a maior jamais feita, e tenho vontade de ser astrônomo, estudar o espaço, imaginar mundos, descobrir novos.

Leio sobre um matemático que quer unir a teoria da relatividade geral com a física quântica, unir o grande e o pequeno, e tenho vontade de ser matemático, físico ou ambos.

Vejo a TV com jornalistas experimentando comidas exóticas, falando de festas populares em vilarejos desconhecidos, descobrindo pessoas em lugares distantes, cobrindo guerras, e tenho ganas de ser jornalista de novo, mas bem jovem, com disposição para por a mochila nas costas e ser mandado até o meio do Afeganistão, se for o caso.

Tenho vontade de abrir um bar, ou um restaurante, ou uma pousada, ou tudo junto, tenho. Tenho vontade de escrever mais, de trabalhar menos, de trabalhar mais com vontade, tenho tantos tenhos, que já nem consigo mais contar.

Mas a vida é uma só, pelo menos essa que é a única de que me lembro, e muito terei que deixar pras próximas. Pelo menos isso, terei mais chances para os meus tenhos...

12.1.11

Saudades da infância?

As pessoas recriam suas infâncias na vida adulta, tornam-na o momento
mais feliz de suas vidas. É feliz porque não volta mais.

Na infância não temos liberdade, somos vigiados constantemente.
Podemos fazer aquilo que nossos pais mandam, vestimos o que nos
ordenam (mesmo que esperneemos, a gola rolê da blusa cacharrel lá
estará nos protegendo de tudo), ganhamos o que nos dão, eventualmente
o que pedimos, temos hora para dormir, hora para acordar, enfim, tudo
são ordens.

A liberdade das brincadeiras está na mente, é mais ilusão que verdade.

A infância é um território de restrições, nunca de liberdade. A vida
adulta é bem melhor.

Talvez só queiramos que a infância seja a melhor fase pois não
tínhamos responsabilidade de nada, e por isso temos saudade dessa
época.

7.1.11

Em busca de novos desafios

Toda vez que uma pessoa pede demissão do mundo corporativo, ela manda
um mail padrão para seus colegas (logo ex-colegas) de trabalho: "Valeu
pelo tempo passado juntos, vou em busca de novos desafios". Hoje, com
o LinkedIn, você pode até acompanhar a trajetória profissional da
pessoa, e de tempos em tempos aparecerá um "vou em busca de novos
desafios". Quem é mandando embora não tem muito tempo de mandar esse
mail, pois precisa catar suas coisas e cair fora logo, o segurança
está de olho, com medo de que você roube algum segredo corporativo.

Bom, o fato é que o trabalho não acontenta muita gente. Tá todo mundo
meio que de olho em novos desafios (na prática, acho que estão de olho
mesmo é em um salário maior) e, na primeira chance que der, se a
próxima empresa for um tiquinho melhor que a atual, ela troca de
barco. Não são os desafios que motivam a maior parte das pessoas,
ainda que todas usem esse discurso bonito, é o salário mesmo, o
estipêndio.

As pessoas querem ganhar pelo que elas fazem, e querem ganhar o justo.
Mas, na vida real, funciona assim: o empregado sempre acha que ganha
menos do que recebe, o patrão tem certeza que paga mais do que ele
merece. O ponto do meio desagrada os dois, e não existe meio de
agradar a ambos simultaneamente. E como nenhuma empresa é fiel aos
seus empregados (talvez haja exceções, quem sabe), eles também não o
são a ela. Por isso é fácil trocar de emprego e dar uma desculpa
esfarrapada, "vou em busca de novos desafios", em vez de dizer
claramente "aqui não sou aproveitado".

O mundo corporativo é muito parecido com a natureza, mas tem um
diferencial em relação à selva que deveria ser melhor estudado: a
dissimulação. No mundo corporativo as palavras têm outros
significados, os resultados têm outra maneira de serem medidos e os
méritos têm outras maneiras de serem reconhecidos. É um mundo bem
parecido com o verdadeiro, mas na prática é bem diferente. Estranho
mundo.

6.1.11

Correria sem fim

A cada dia aparece um novo aparelho tecnológico, muito mais avançado que o anterior. Você ainda não conseguiu explorar 30% do que o antigo fazia, mas já se vê compelido a comprar um novo. O seu monitor tinha 15 polegadas, mas por alguma razão você acha que precisa comprar um de 23. Sua TV tinha 38, agora PRECISA ter no mínimo 45, ser HDTV, surround sound, HDMI etc e tal, uma sopa de letrinhas sem fim. Melhor nem falar de celulares e computadores, as novidades são semanais.
Comprar, comprar, comprar, é só isso que fazemos. Comida já não é mais necessário, ninguém mais quer plantar ou trabalhar plantando ou criando animais. O lance é produtos de consumo. Compra-se para movimentar uma máquina perversa e sem sentido, pois a maior parte da humanidade (aquela que não morre de fome, é claro) só pensa no próximo item de consumo que terá em casa. Tem algo errado aí, a existência não deve ser apenas para se ter mais coisas, mais, mais...
Dá quase vontade de que algo grande e catastrófico realmente aconteça em 2012 para ver se a humanidade dá um break e se acalma nessa história. Parece que a onda está parando. Pesquisas nos EUA mostram que 44% das pessoas já têm tudo o que queriam, contra 36% de uns dois anos atrás. Não sei se essas pessoas vão repondo o que tem com aparelhos mais modernos, mas pelo menos se dizem satisfeitas com o que têm. Outra pesquisa mostrou que na Holanda já há muita gente que prefere ganhar menos e ter mais tempo livre com a família que ter mais dinheiro.
Pode ser uma tendência, tomara que seja. Dar uma paradinha, uma reduzida no ritmo, ser mais slow food e slow em tudo. Pois, se a vida é curta, se corrermos muito chegaremos mais rápido ao fim dela.

5.1.11

Dileminha

Aprender é legal. Aprender a fazer o papel de malvado não é legal.
Aprender coisas novas é legal. Aprender a fazer coisas que você não gostaria de fazer não é legal.
Aprender é gostoso. Aprender a fazer algo de que não se gosta não é tão legal.
Dizem que aprender é garantia de vida longa. Mas, se for para aprender o que tenho que aprender, dá vontade às vezes de que a vida seja mais breve.

4.1.11

500 conexões, e quase nenhuma que presta



(Imagem publicada originalmente no blog Random Insights into Oracle)

Está em quase todos os jornais. O homem do futuro terá mais de 500 conexões pessoais, graças à tecnologia. Com os Facebook, Twitter e afins, não precisaremos mais nos afastar em definitivo de nossos antigos colegas de trabalho ou de escola. De alguma maneira, aquela turma estará sempre conectada. 500 pessoas é um número grande pra caramba, normalmente só promoters e figurinhas da sociedade conseguem fazer uma festa para mais de 100 convidados sabendo o nome de todos eles. Mas será assim, cada um com 500 conexões pessoais.
Veja que dizem conexões pessoais, não amigos. Pois amigo é algo bem, mas bem diferente. Bem contado, cada ser humano tem no máximo cinco amigos. Não dá para ter mais. Não há como compartilhar a sua intimidade mais profunda com mais de cinco pessoas, sob o risco de você se tornar uma fraude completa. Ninguém gosta de escancarar a sua intimidade para o mundo, a não ser os doentes mentais que necessitam de Caras, Gente, BBB e afins. Apesar das 500 conexões, continuaremos com cinco amigos ou menos.
Talvez menos que cinco, pois gastaremos muito tempo tentando gerenciar aqueles 500. Afinal, ninguém quer ser unfollowed, ou desconectado de uma rede de amigos. Por isso será necessário manter o contato, aceitar velhos conhecidos de quem você não se lembrava, postar alguma coisa de vez em quando, enfim, estar ativo na coisa. E isso toma tempo, o tempo que anda escasso e que deveríamos dedicar mais aos amigos. Aliás, essa é uma das mais velhas resoluções de ano novo, dedicar mais tempo aos amigos.
Mais de 500 conexões, menos de 5 amigos. Perdemos a profundidade nas relações, ganhamos na superficialidade. Relações líquidas, como diz aquele sociólogo polonês de quem não lembro o nome nem quero dar um Google para lembrar. Elas se fazem e se desfazem fácil, afinal, não compartilhamos nada com as 500 conexões, a não ser instantes, momentos, glimpses, flashes, nada mais fundo que um pires. Ter 500 conexões ajuda a não ter nenhuma real, a não precisar se esforçar para ver ninguém, a não ter que compartilhar nada, nenhuma emoção, nenhum sentimento, nenhum medo. Podemos ser o rei da cocada preta para as mais de 500 conexões, pois não precisamos ser de verdade.
Ter amigos significa estar aberto para descobrirem o que você realmente é, com um pouco de receio sim, pois escondemos sempre algo que não gostaríamos que ninguém soubesse. Ter apenas conexões significa jogar no seguro, mas não compartilhar nada com ninguém (enganam-se aqueles que realmente acreditam no share ou compartilhar do Facebook, não rola). Ter mais de 500 conexões significa hoje ser um eremita digital, uma nova forma de se isolar do mundo, para evitar dividir o que for com alguém, a não ser lembranças de que, um dia, você já dividiu algum espaço com outra pessoa, mas agora não quer mais.
É isso, a tecnologia criou novas cavernas digitais para nelas entrarmos e lá ficarmos.

3.1.11

A difícil tarefa de escrever

Gostaria de poder escrever mais, sem tantos medos ou sem tantas cobranças de escrever sempre algo interessante. Parece que, quando a tela em branco se apresenta para eu escrever algo para mim mesmo, travo. Quero pensar em um grande tema, fazer uma reflexão profunda sobre a humanidade ou suas formas de agir e pensar, nunca é algo comezinho, alguma coisa do cotidiano. Mesmo quando olho para o cotidiano, quero achar o momento poético, aquele lado do dia-a-dia que tem um quê de romance, literatura, arte ou música. O rame-rame não serve.
Não serve porque não acho legal ficar entulhando o espaço de quem eventualmente me lerá com detalhes insignificantes, como a maior parte do que está nessa internet que virou uma janela da privacidade da maior parte de seus cyber habitantes. Quem quer saber que eu levei a calopsita ao veterinário hoje? Ou que fui fazer algo que já quase não se faz mais, que é mandar consertar algo, em vez de comprar um novo? Quem quer saber se dormi bem ou mal, além de mim mesmo e, talvez, a pessoa com quem divido a cama (até para saber se não a mantive acordada ao longo da noite)?
A facilidade de exposição e a praticamente gratuidade do espaço para escrever fez as pessoas esquecerem de filtar o que pode ou deve ser dito. É mais ou menos a mesma coisa que aconteceu com a fotografia. Agora que não se paga um filme, não se revela a foto e, uma vez comprada a máquina, o restante é virtualmente grátis, cada sessão de fotografias gera pelo menos umas 100 fotos. A grande maioria tira as fotos, guarda no computador e nunca mais vê. Milhares de fotos, cada uma com qualidade duvidosa (quando chega a esse ponto), entupindo o espaço. Milhares e milhares de posts em zilhões de blogs, quaquilhões de tweets, trilhões de tweet pics, mas esprema pra ver o que sai. Quase nada.
Por isso é melhor ficar quieto mais vezes, e escrever só quando se tem vontade. Mas, para poder escrever sempre, é preciso escrever mesmo sem vontade. Vamos ver se em 2011 isso acontece.

Feliz Ano Novo!

2.9.10

Medo inconsciente

Dos sete aos 17 anos estudei em um colégio de padres, um colégio jesuíta. Na época da formação política de todos os jovens, entre os 15 e os 17 anos, tive um professor de História que havia sido torturado pelos militares que governaram o país entre 1964 e 1985. Ele tinha uma raiva muito grande dos militares e da direita como um todo, e tinha toda a razão do mundo para ter essa raiva. Deu que eu fiquei com um medo pavoroso de ditaduras, mesmo aquelas que se proclamam benignas.
Depois de um bom tempo me achando socialista (mas que jovem não o é?), agora sou liberal. Quero cada vez menos Estado, pois ele é uma instituição que premia o incompetente. A teoria marxista é muito bonita ao dizer que quem produz mais compensa aquele que produz menos. Mas quando o que produz mais percebe que ganha o mesmo que aquele que produz menos, o que acontece? Ele passa a produzir menos, pois não é recompensado. Somos ainda um pouco cachorros, queremos recompensa.
Ser liberal não significa não reconhecer avanços e progressos de regimes socialistas. A alfabetização e a saúde em Cuba, por exemplo, deveriam ser copiadas em todo o mundo. O Estado social sueco, norueguês e dinarmarquês também. Até a distribuição de renda do Bolsa Família tem seus méritos, ainda que do jeito que é hoje esteja criando uma geração de dependentes das tetas estatais, tetas estas que são nutridas pelos impostos exagerados pagos por um pedaço da população. E não, não é a classe média atual, mas sim a classe pobre a que paga mais impostos proporcionalmente à sua renda. Pode fazer as contas, não sou eu quem diz isso.
Mas ser liberal significa ir contra toda e qualquer forma de uso do Estado como instrumento de pressão e coerção a favor de um governo. Estado e governo são diferentes, deveriam ser. Quando um partido começa a usar o poder que está em sua mão temporariamente para inibir a ação dos adversários, estamos caminhando para uma ditadura. A história está cheia de exemplos de governos que usaram o Estado a seu favor e desembocaram em espécies de ditaduras terríveis. Até nos Estados Unidos isso aconteceu, com Nixon.
Tenho um medo pavoroso de ditaduras, e quando vejo o governo atual usando como quer a máquina pública, parece que estão querendo implantar a ditadura do proletariado efetivamente. Quem discorda não pode falar nada, pois vira "inimigo do povo" e do bem-estar geral. Os partidários da Dilma dizem que comparar ela ao Dunga é mau gosto, que não é humor, que é grosseiro. Como se chamar alguém de Dunga fosse xingamento. Mas mostra o espírito das coisas, falar contra quem está no poder é quase crime.
Claro, a maior parte da humanidade prefere comer e ficar quieta a passar fome com a liberdade de dizer o que quer. Mas dá para ter comida e liberdade, os dois não são incompatíveis. E ser liberal é isso. Infelizmente, parece que o país quer continuar no cabresto a assumir o seu próprio desenvolvimento...

7.7.10

Algo ficou pelo caminho

Um dia tive sonhos, peguei uma mochila e saí para viajar. Disse que voltaria em seis meses, e fiquei dois anos e meio fora. Voltei e recomecei, mas um tempo depois, descontente com os rumos que a coisa estava tomando, saí de novo mais um ano e meio. Voltei e recomecei, dessa vez para não sair nunca mais. Tem algo que ficou pelo caminho nessas idas e vindas.

Pode ser que o que tenha ficado para trás seja a inocência, aquela coisa meio pueril de achar que o mundo trabalha a seu favor, quando é você quem tem que trabalhar antes para fazer o mundo girar pro lado que você quer. Há uma dificuldade em ver as coisas de um ponto de vista mais positivo, mais esperançoso, que faça o sorriso aparecer mais fácil.

Também deve ter ficado para trás o sonho, ou os sonhos, que envolviam aquela vontade de ser alguma coisa no futuro, se trabalhava para isso e que agora, já na metade da estrada, vemos que é necessário ser mais pragmático que sonhador. O sonho de agora é aquele de doce de leite na padaria, que se compra com o pragmatismo do trabalho bem remunerado, ainda que bem longe da utopia do jornalista de guerra, do repórter econômico de sucesso, do publicitário famoso.

Ficou para trás, com toda certeza, a energia de começar e recomeçar o trabalho, qualquer trabalho, por melhor que seja. Ser escoteiro de novo, ser iniciante em um trabalho de novo, voltar a estudar algo, falta energia para aprender novidades, fazer novidades, criar. Quase melhor voltar aos bons livros já lidos para reviver emoções que arriscar novas leituras e novos conhecimentos. E isso é muito ruim.

Algo ficou pelo caminho, e não me refiro aos anos que certamente não voltam mais. Tem alguma outra coisa que agora faz falta. No entanto, aprendi com as viagens que tudo o que eu queria deixar no Brasil quando viajei foi comigo na cabeça, e com certeza voltou, inclusive as coisas boas. Há que cutucar bem fundo lá na cabeça e reencontrar o que eu acho que ficou pelo caminho para poder voltar a acreditar. Enquanto isso, o jeito é aguardar...

2.7.10

Palpiteiro

Já que todo mundo dá palpite quando o Brasil perde, lá vou eu também.

Em primeiro lugar, a seleção era muito ruim. Nem de longe ela era a seleção dos melhores jogadores do Brasil em atividade atualmente. Kléberson? Grafite? Nem o Felipe Melo, que é muito melhor como açougueiro ou cortador de cana pelas foiçadas que dá poderia estar ali. Tudo ruim.
Em segundo lugar, a total e completa ausência de esquemas táticos. Depois do gol de empate com a Holanda ficou evidente que não havia esquema tático. O segundo gol só mostrou que o rei estava nu, ou melhor, que a seleção esperava algum lampejo de genialidade do Kaká (ainda machucado), do Robinho (que só reclamou e não jogou) ou do Luís Fabiano (também machucado). Ou seja, sorte, não competência, sendo que sorte faz tempo que não entra para jogar.
Em terceiro lugar, o destempero do Dunga contaminou a toda a seleção. Se eles achavam que ganhariam as coisas no grito, se deram mal. A Holanda bateu sim, mas o Brasil também. E nesse ponto ficamos no empate. Mas a Holanda parecia um time mais catimbento, mais com a cabeça no lugar e pronto para catimbar, coisas que os brasileiros sabiam fazer bem. Mas o Felipe Melo nem reclamou de sua expulsão, pois meteu as travas da chuteira na coxa do Robeen de maneira criminosa. Sabia que tinha feito uma cagada e ficou quieto.
Ainda bem que voltamos para casa. Se o Brasil fosse à frente, a Fifa teria que refazer o futebol todo, quem sabe até parar o jogo por uns cinco anos, e veríamos rugby. Seria mais honesto. Pois futebol mesmo a seleção do Dunga jogou durante 30 minutos no primeiro tempo. E isso é pouco, muito pouco para quem quer ser campeão.
Só resta ao Dunga cantar "Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou..." E já vai tarde.

9.6.10

A âncora do rancor

Se existe alguma coisa que atravanca o desenvolvimento pessoal, essa coisa é o rancor. Imperfeitos que somos, arrastamos nossos rancores durante muito tempo e só depois que conseguimos nos livrar deles é que temos condições de progredir. Enquanto o rancor está ali, ele funciona como uma âncora a nos segurar, a impedir o voo, a bloquear o avanço, a parar o progresso.
Cada rancor tem origem em um ato específico e pode atravancar uma determinada faceta de nossas vidas, mas consegue contaminar todo o resto. Um revés profissional afeta a tua carreira e, se não for trabalhado e solucionado internamente, impedirá você de ter alguma outra ocupação bem sucedida. Enquanto você não fizer as pazes com essa mágoa, você patinará. E enquanto você patina, você fica de mau humor. E de mau humor, você não consegue se dedicar à sua família como deveria, não consegue estar com os amigos como gostaria, nada vai.
Se o rancor é de uma relação pessoal, então, a coisa é ainda mais difícil. Até você conseguir se perdoar e perdoar a pessoa que te supostamente magoou (em uma relação, acredito ser muito difícil haver apenas um culpado no casal), nenhuma outra relação será 100% boa. Você carrega os medos adquiridos e as desconfianças criadas e as projeta no novo parceiro, na nova namorada, temendo a cada minuto que a história se repita. Só quando você consegue deixar o que passou lá no passado, que é onde sempre deveria estar, é que a nova relação pode ir à frente e florescer.
O rancor queima e pesa, e infelizmente nossa capacidade de perdoar e perdoar-se é muito limitada. Tentamos esquecer o que aconteceu, mas enquanto não estivermos em paz com nossas decisões e escolhas, pois foram elas que provocaram a situação que gerou o rancor, não conseguiremos andar à frente. Esquecer será um paliativo, pois o rancor fica lá, guardado em nosso íntimo. Só a reconciliação conosco é capaz de tirá-lo de nós de vez por todas. Mas que é difícil, é.