Pesquisa do Palavrório

4.1.11

500 conexões, e quase nenhuma que presta



(Imagem publicada originalmente no blog Random Insights into Oracle)

Está em quase todos os jornais. O homem do futuro terá mais de 500 conexões pessoais, graças à tecnologia. Com os Facebook, Twitter e afins, não precisaremos mais nos afastar em definitivo de nossos antigos colegas de trabalho ou de escola. De alguma maneira, aquela turma estará sempre conectada. 500 pessoas é um número grande pra caramba, normalmente só promoters e figurinhas da sociedade conseguem fazer uma festa para mais de 100 convidados sabendo o nome de todos eles. Mas será assim, cada um com 500 conexões pessoais.
Veja que dizem conexões pessoais, não amigos. Pois amigo é algo bem, mas bem diferente. Bem contado, cada ser humano tem no máximo cinco amigos. Não dá para ter mais. Não há como compartilhar a sua intimidade mais profunda com mais de cinco pessoas, sob o risco de você se tornar uma fraude completa. Ninguém gosta de escancarar a sua intimidade para o mundo, a não ser os doentes mentais que necessitam de Caras, Gente, BBB e afins. Apesar das 500 conexões, continuaremos com cinco amigos ou menos.
Talvez menos que cinco, pois gastaremos muito tempo tentando gerenciar aqueles 500. Afinal, ninguém quer ser unfollowed, ou desconectado de uma rede de amigos. Por isso será necessário manter o contato, aceitar velhos conhecidos de quem você não se lembrava, postar alguma coisa de vez em quando, enfim, estar ativo na coisa. E isso toma tempo, o tempo que anda escasso e que deveríamos dedicar mais aos amigos. Aliás, essa é uma das mais velhas resoluções de ano novo, dedicar mais tempo aos amigos.
Mais de 500 conexões, menos de 5 amigos. Perdemos a profundidade nas relações, ganhamos na superficialidade. Relações líquidas, como diz aquele sociólogo polonês de quem não lembro o nome nem quero dar um Google para lembrar. Elas se fazem e se desfazem fácil, afinal, não compartilhamos nada com as 500 conexões, a não ser instantes, momentos, glimpses, flashes, nada mais fundo que um pires. Ter 500 conexões ajuda a não ter nenhuma real, a não precisar se esforçar para ver ninguém, a não ter que compartilhar nada, nenhuma emoção, nenhum sentimento, nenhum medo. Podemos ser o rei da cocada preta para as mais de 500 conexões, pois não precisamos ser de verdade.
Ter amigos significa estar aberto para descobrirem o que você realmente é, com um pouco de receio sim, pois escondemos sempre algo que não gostaríamos que ninguém soubesse. Ter apenas conexões significa jogar no seguro, mas não compartilhar nada com ninguém (enganam-se aqueles que realmente acreditam no share ou compartilhar do Facebook, não rola). Ter mais de 500 conexões significa hoje ser um eremita digital, uma nova forma de se isolar do mundo, para evitar dividir o que for com alguém, a não ser lembranças de que, um dia, você já dividiu algum espaço com outra pessoa, mas agora não quer mais.
É isso, a tecnologia criou novas cavernas digitais para nelas entrarmos e lá ficarmos.

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