Pesquisa do Palavrório

23.11.09

Exílio

Houve um tempo em que foi necessário exilar-se. Não me lembro direito hoje as causas dele, ou melhor, fiz questão de esquecer algumas causas, pois elas eram ridículas, infantis, descabíveis até para um quase homem de 32 anos de idade. No entanto, à época elas me pareceram muito sérias e importantes e lá fui eu, mochila às costas, de volta à Europa.
Me lembro muito bem que o que mais me indignava era o banheiro da casa onde eu morei em Londres. Era pequeno, apertado, constantemente sujo por conta minha e dos outros com quem dividia a casa. Dava-se um jeito, mas era uma sensação ruim. A recordação mais forte desses momentos é a pergunta que ecoava em minha cabeça: "O que eu estou fazendo aqui?" Eu trabalhava em uma grande empresa, tinha um salário que ainda não recuperei, morava sozinho em um apartamento meu, tinha tempo livre para um monte de coisa, enfim, o que me deu na cabeça?
Apesar da aparente loucura, foi a coisa mais sensata que fiz até hoje. Matei (até onde pode se matar?) a vontade de viajar por um tempo. Aprendi de verdade o que é morar mal e a valorizar o que tenho (tudo o que tinha cabia em apenas uma mochila). E aprendi o valor da liberdade e de não depender da opinião dos outros.
Aprendi umas coisas erradas também, e até hoje me penitencio por não ter conseguido aprender a ser 100% sincero, comigo mesmo e com os outros. Mas o que aprendi me ajuda um monte no dia-a-dia. Quando penso que algo pode estar ruim, me lembro desse exílio último, do primeiro, muito mais aventureiro e juvenil, e do que é dificuldade e do que é importante. É bom para colocar o devido peso nas coisas, sem fazer tempestades em copos d'água ou não ver o que é grave. De vez em quando, o sistema "fáia", mas na média é possível. Quiçá a experiência não seja esquecida.

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