Pesquisa do Palavrório

20.11.09

As duras dores do crescimento

Crescer dói e dá medo. Dói quando os ossos esticam, quando os músculos esticam e se reacomodam em um novo corpo, maior, estranho. A cabeça parece demorar a entender o novo tamanho, e o corpo vai esbarrando pelas quinas de mesas, o dedão dando topadas nos cantos por chegar antes do que a gente imaginava. De repente, aparecem pelos no peito, no sovaco, no saco! Dói crescer.
E dá medo crescer. De uma hora para outra, somos tirados de um mundo sem responsabilidade alguma e jogado em um mundo onde tudo está nas nossas mãos. Somos os únicos culpados e imputáveis por qualquer coisa. Se o livro não está na mochila da escola, a culpa é minha. Se não tem dinheiro pro lanche, a culpa é minha. Mas, até ontem era minha mãe que fazia tudo, cadê ela?
Minha mãe sumiu, meu pai desapareceu e eu estou sozinho agora. Tenho que ser responsável por tudo, tenho que fazer tudo, o que acontecer é resultado direto do que eu fizer, nada mais acontecerá que não seja uma reação a uma ação que eu cometi. É o fim da inocência, o fim da ingenuidade. Mas não quero, me recuso, não vou crescer, não, tá cedo ainda, quero continuar criança, por favor, me deixem pequeno!!!
Não quero crescer, pouco importa a doce sedução de poder dirigir, de poder sair sem dar satisfação a ninguém, de fazer o que me der na telha, pois sou o responsável pelos meus atos. Não, não quero, não quero ser responsável de nada. Quero liberdade, desde que alguém esteja me amparando, não quero deveres, quero apenas direitos.
Mas ninguém houve meu chamado, os ponteiros do relógio continuam girando, indiferentes ao meu clamor, e as responsabilidades vêm chegando. Vou tentar fugir delas, mas não sei por quanto tempo isso será possível. Vamos ver, vamos ver.

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