Pesquisa do Palavrório

8.10.09

Body bags

Tá lá o corpo estendido no chão. Envolto em panos pretos, parece um daqueles body bags que vez por outra aparecem nos filmes de guerra americanos. Mas não é um soldado morto, é uma pessoa viva que está estendida no chão.
Ele dorme, envolto em seus panos negros, debaixo das moitas que fazem a vez de cerca em um prédio. Ele dorme, talvez sonhando estar protegido em algum outro lugar, qualquer outro lugar, que não a calçada onde está. Parece um corpo dentro de um body bag.
Mas corpos americanos em body bags são diferentes, parecem até bonitos quando vistos na tela do cinema. Mas o nosso não é bonito. Está ali, no meio da calçada, atrapalhando o tráfego, como disse o Chico Buarque em Construção, atrapalhando a visão idílica que temos de nós mesmos ao lembrar que ainda há muito a fazer.
Esse é um body bag preto. Mas há os de papelão, os de cartolina, os de folha de zinco, os daquele cobertor cinza, o mais barato que tem, sujos de tanto serem arrastados pelas ruas e calçadas. Há muitos body bags no Brasil, todos com gente ainda viva dentro, mas que para a maior parte de nós já está morta de alguma maneira.
Nessa guerra diária, temos muitas baixas, mas quase nunca nos lembramos delas. Será que um dia mudaremos?

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