Pesquisa do Palavrório

25.5.11

Problemas na matriz energética chinesa já afetam economia brasileira

(Não gosto de ser catastrofista, mas às vezes é inevitável. Artigo publicado na www.bussoladoinvestidor.com.br em 25/05/2011)
Gigante asiático enfrenta escassez de energia e maior seca dos últimos 50 anos e as consequências serão globais

Da redação InvestMais

Em uma época em que a China é a grande locomotiva da economia mundial, duas notícias recentes sobre o país - uma divulgada ontem pelo New York Times e outra hoje pelo Financial Times – devem colocar o investidor em estado de alerta máximo, principalmente pelas possíveis consequências para a economia brasileira, em um primeiro momento, e para a economia mundial na sequência, essa economia que ainda não se recuperou do baque sofrido em setembro de 2008.
A primeira notícia, publicada pelo New York Times, fala sobre a matriz energética chinesa e os conflitos que começam a aparecer entre as empresas geradoras de energia e o governo chinês. Ainda que as empresas sejam controladas pelo estado, elas também têm ações na bolsa de Xangai. Logo, prestam contas para seus investidores. Pois bem, na China o preço da energia elétrica cobrado do consumidor é controlado pelo governo, mas o preço do carvão foi liberado em 2008. Vale lembrar que o carvão é responsável por 73% da geração de energia da China, enquanto a matriz hidroelétrica responde por apenas 22%.
Com o crescimento da economia, os chineses foram às compras de todos os eletrodomésticos possíveis e imagináveis, mas um em especial é o best-seller por lá: ar-condicionado (para aquecer ou resfriar). E esse equipamento é um sugador contumaz de energia. O resultado é que a demanda por energia subiu muito, o preço do carvão subiu junto mas o preço cobrado dos consumidores não (o governo não autoriza aumentos grandes para não jogar mais lenha na fogueira da inflação). Por conta disso, as empresas produtoras de energia estão fazendo corpo mole na geração, usando diversos subterfúgios para não entregar energia: manutenção preventiva mais frequente, adiamento da construção de novas plantas, menos horas de trabalho diárias etc. As empresas alegam que, se não houver reajuste, as empresas quebrarão.
Em várias cidades da China o racionamento de energia já é uma realidade. Por conta do racionamento, as empresas começaram a comprar menos commodities de países como o Brasil e a Austrália, o que já provocou uma queda de 10% nas cotações do ferro e do cobre nesse ano. Para o Brasil, essa é uma péssima notícia, pois em 2009 a bolsa brasileira teve um desempenho excepcional ajudada e muito pela demanda chinesa por commodities, que manteve as cotações em alta.
A segunda notícia diz respeito à dificuldade chinesa em trocar a sua matriz energética. Quando se diz que 22% da energia chinesa provém de hidrelétricas, quer se dizer que esses 22% acontecem em condições meteorológicas normais, com os reservatórios cheios. Mas o FT de hoje mostra que a China passa pela sua pior seca dos últimos 50 anos. Sem água para encher os reservatórios, o país continuará dependendo do carvão para gerar energia. Não por acaso a China é o maior investidor mundial na pesquisa de fontes de energia renováveis, em especial a energia eólica, mas ela ainda é mais cara que fontes tradicionais. Ou seja, nada no curto prazo indica que a situação mudará na China.
Para o Brasil, o primeiro impacto é nas cotações das commodities. Uma China comprando menos significará menos exportação de minério de ferro (o que afeta diretamente os resultados da Vale) e reduzirá as cotações de petróleo no mundo (Petrobras). Se houver recessão na China, com redução da renda, haverá menos exportação de alimentos (BRFoods, Marfrig, JBS e afins). Do outro lado, se os preços da energia subirem na China, haverá uma chance de os produtos de lá subirem de preço e a indústria brasileira voltar a ser competitiva. Essa é uma hipótese um pouco mais remota, mas que já é realidade nos Estados Unidos, por exemplo, onde as recentes altas no custo da mão-de-obra chinesa voltaram a tornar a manufatura americana mais barata que a chinesa, somando custos de logística, burocracia e os outros extras, em alguns casos. Claro, estamos falando de um país com uma legislação trabalhista decente (os EUA), não a nossa getulista legislação.
O resumo de tudo é que a China passa por um momento delicado. O país não tem fontes de energia suficientes para abastecer sua demanda com preços baixos e por isso ou reajusta os preços praticados ao consumidor – e vê sua vantagem competitiva reduzir-se significativamente – ou reduz a demanda – o que significa conter bastante o crescimento. A industrialização acelerada também tem provocado mudanças significativas no meio ambiente, esgotando os recursos naturais do país. Como o país sairá dessa encruzilhada, não se sabe, mas com certeza tudo o que acontecer por lá terá reflexos por aqui. Investidor, fique de olho!

Bons Investimentos!

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