Pesquisa do Palavrório

16.5.11

Cuidado com as estrelas corporativas

Concentração de poder na mão de executivos nem sempre é sinal de boa saúde empresarial

Texto publicado no site GuiaInvest em 16/05/2011

Da redação InvestMais

Ontem o diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, foi preso em Nova York acusado de abusar sexualmente de uma funcionária do hotel onde estava hospedado. Foi o que bastou para jogar um balde de medo nos mercados financeiros europeus na manhã de segunda-feira. Praticamente todas as bolsas europeias operaram em baixa nesse dia, reflexo do temor de que as negociações de um novo pacote de ajuda para a Grécia sejam prejudicadas. O ponto de análise aqui, porém, não é o reflexo da prisão de Strauss-Kahn, mas sim a importância de uma única pessoa em uma instituição econômica relevante.
Uma instituição grande como o FMI não deveria ser tão impactado pela ausência de um de seus integrantes, mesmo que esse seja seu presidente. A grosso modo, deveria existir toda uma diretoria que pensa da mesma maneira e que, na ausência de uma pessoa, o restante do quadro fosse capaz de tocar os negócios adiante com a mesma competência e seguindo as mesmas diretrizes do chefe. O mercado, porém, não entendeu isso, e analisou que a ausência de Strauss-Kahn pode prejudicar todo o cenário econômico europeu. Não seria poder demais na mão de uma única pessoa?
Mas esse não é um caso isolado. Nas empresas listadas em bolsa, por exemplo, apesar de elas terem milhares de donos - seus acionistas - que manifestam sua vontade através dos conselhos de administração e das assembleias de acionistas, há uma expectativa enorme colocada sobre os líderes dessas empresas. Relembrem o caso da Vale. Roger Agnelli foi o presidente da empresa nos últimos 10 anos, e comandou uma equipe que alçou a empresa da sexta para a segunda colocação no ranking mundial das mineradoras. Sua equipe tornou a Vale a empresa mais importante da Bolsa brasileira, e uma mega geradora de dólares para o Brasil, conseguidos através da exportação de seus produtos. Mas Roger Agnelli balançou no cargo um tempo, e as ações da Vale balançaram junto. Será que ele concentrou demais o poder? Agnelli era o Sr. Vale e sem ele a Vale não é tão boa?
O CEO ou presidente hiper famoso é uma novidade no Brasil. Além de Agnelli, podemos pensar em Luiza Trajano, do Magazine Luiza, Abílio Diniz, do Pão de Açúcar, Luiz Eduardo Falco, da Oi, Antônio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim, mas não muitos mais. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, o culto ao CEO já é mais antigo. Steve Jobs, Bill Gates, Larry Ellison, Jack Welch, Lee Iacocca, Rupert Murdoch, Carlos Slim, Warren Buffett e Andy Groove, por exemplo, são nomes que podem ser ditos que automaticamente o nome de suas empresas vêm à tona. E a mídia econômica presta tanta atenção à saúde e ao comportamento dessas pessoas quanto aos balanços de suas empresas. Basta ver as oscilações dos papéis da Apple quando surgem novos rumores de problemas de saúde de Jobs.
As grandes empresas, longe de serem uma democracia, são na prática altamente autoritárias. Um presidente carismático escolhe diretores que pensem como ele e que não o enfrentem diretamente. Abaixo deles há uma multidão trabalhando para executar ordens e não para questioná-las. Os departamentos de Recursos Humanos das empresas podem dizer que não, que há meritocracia instalada, que as pessoas têm chances iguais, mas na prática o mundo empresarial concentra poder na mão de poucas pessoas. O mesmo acontece no mundo das finanças e na economia dos países. Quando Antônio Palocci teve que sair do Ministério da Fazenda no primeiro governo Lula por ter ordenado a quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Silva, houve dias de terror no mercado acionário local. Isso aconteceu mesmo sendo Palocci um representante de um conjunto de ideias, não o seu único defensor ou executor.
Um dos problemas do executivo chefe ser muito famoso ou personalista é que será difícil para ele admitir os próprios erros. É difícil para o ser humano reconhecer que errou, e quando um CEO atinge o estrelado corporativo, ele acreditará - na maioria dos casos - que conseguiu isso porque está certo de suas decisões e atitudes. Será difícil para ele reconhecer a necessidade de mudar o rumo das coisas quando os resultados não vão muito bem. Claro, isso vale para CEOs contratados, não para os fundadores de empresas que também são seus CEOs (Luiza Trajano e Abílio Diniz, por exemplo). Por isso esses CEOs têm um turn-over grande, vão trocando de empresa á medida que seus resultados vão piorando. E, o que é mais estranho, continuam chamando a atenção da mídia para si, mesmo não entregando resultados. Cuidado!
A lição que fica para o investidor é que, seja qual for a empresa que ele escolher para investir, é necessário avaliar também o seu quadro de diretores. Conhecer as pessoas que dirigem uma companhia é muito importante para poder fazer escolhas mais acertadas de investimento, e evitar ficar preso a uma personalidade empresarial. CEOs estrelas podem gerar muita mídia, mas não necessariamente geram muito resultado. Para o investidor, uma administração anônima que gera lucros é muito melhor que uma famosa que gera apenas manchetes.

Bons Investimentos!

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