Pesquisa do Palavrório

21.10.08

Velhos amigos

Quatro senhores estão sentados à mesa de um restaurante vegetariano. Normalmente, restaurantes vegetarianos já são lugares mais calmos que outros restaurantes. Deve ser o perfil de quem opta por uma refeição sem carne: gente que procura uma comida mais saudável, gente que já abandonou a carne vermelha, pessoas mais pacatas, enfim. (No meu caso, vou a vegetarianos pelo silêncio e pela fartura, mas não abandono um bom churrasco).

São quatro senhores que falam muito mais pelas pausas que pelas palavras. Eles soltam frases curtas, sobre assuntos desconexos, de tempos em tempos. Não há uma torrente de palavras entre eles. Um relembra um local onde se dança, diz que levará o outro, que dá risada, pois aquele problema na perna que o incomoda há anos o impede de dançar. Todos na mesa sabem disso, mas o convite é feito mesmo assim. Algumas frases tem que ser ditas um pouco mais alto, pois a audição já não é mais a mesma. Não há nenhuma troca de idéias, apenas troca de impressões entre eles.

Ninguém fala de suas famílias, nem uma palavra sobre os filhos. O quão diferente eles são de mulheres, que vivem a falar de suas famílias e seus filhos, não importa com quantos anos estejam. Mas todos os senhores sabem tudo sobre a família dos outros, apenas que, por alguma razão, não comentam isso com os outros. Não perguntam, não são perguntados. E as bocas se calam com pedaços de comida, para não ter que falar nada que não se queira.

A refeição acaba, e os quatro se levantam. É uma marcha lenta rumo à porta de saída do restaurante. Um manca, o outro tem uma bengala, o outro caminha aquele passo vacilante de quem já passou da idade de correr, mas vão, firmes e oscilantes, rumo ao resto do dia e de suas vidas, que lhes aguardam logo ali, virando a esquina.

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