Pesquisa do Palavrório

9.4.10

E lá se foi o Ivo Rodrigues, que os deuses do rock o tenham

Hoje faleceu o cantor Ivo Rodrigues, vocalista da mítica banda parananense Blindagem e da mais mítica ainda, quase secreta, A Chave. Da segunda, não posso falar nada pois nunca ouvi nada (na real, estou escutando nesse momento a música De Ponta Cabeça, graças a essa que é talvez a maior invenção da Internet, o Google). Mas do Blindagem, há, esse faz parte de mim.
Eu comecei a sair na noite curitiba aos 15 para 16 anos. A primeira vez que saí para a nite foi um programa com quase tudo que alguém procura: começou com um show (tá, não tão bom, do João Lopes, o Bicho do Paraná, mas foi curtição), seguido de um cesto de frango frito do Balaio de Frango no Largo da Ordem, encerrado por uma caminhada para casa com direito a assalto a mão armada (canivete) no caminho. Sorte minha que apontaram o canivete para o meu amigo Geléia, o Gustavo Guimarães, que estava junto. Mais sorte ainda que só apontaram e não fizeram nada. Talvez nessa primeira noite eu já devesse ter percebido que minha vida noturna seria uma roubada, e que minha eterna busca por mulheres e companhia nos bares não daria em nada. Mas esse é assunto para outra crônica.
Logo depois, o rock começou a surgir forte na minha vida, e o circuito noturno era feito em busca dos shows. E como a cidade não era lá grandes coisas em termos de música, para fugir das bandas cover pop, lá nos debandávamos Fabiano Kummer e eu para ver o Ivo e o Pato tocando muito rock no John Bull antigo, no Largo ainda. Sempre estávamos virando a cabeça atrás de mulheres, mas eu preferia mesmo era ficar escutando a música (sim, eu sei, tenho problemas, estou superando-os).
O ponto alto dessa relação com o Blindagem aconteceu no verão de 1989 ou de 1990. Teve um show na praia de Guaratuba, foi montado um palco bem no meio da Praia Central, e chamaram cinco bandas para tocar: o Blindagem abriu, depois veio o Ira, daí o Paralamas, daí o Titãs e fechou o Barão Vermelho. O show varou a noite, e o Barão tocou "Pro dia nascer feliz" com o sol nascendo. Foi duca!! Claro que não me lembro direito das bandas, e como é algo tão antigo, não existe no Google ainda. Paciência. Mas me lembro que foi um showzaço, daqueles para ficar na lembrança como um dos melhores. Novamente, nada de mulher, mas muito rock.
Na prática, talvez seja essa a ligação com o Blindagem. Eu realmente gosto do banda, e quando saía na nite eu queria escutar as músicas de verdade, não tava muito a fim de encontrar encrenca (confesso também não ter a habilidade para isso). Quando saí do Brasil a primeira vez, em 1992, uma das poucas coisas que levei e conservei foi uma fita K7 (raridades, velharias, chame como quiser) com as músicas do Blindagem. Era pura saudade, e ainda hoje me toca. Depois que voltei ao Brasil, me toquei que não tinha nenhum CD deles, e lá fui eu à internet comprar Blindagem, o LP de 1981. Até hoje está no set list. Hoje, provavelmente, com uma pontada de tristeza.
E sempre o Blindagem estará em minha lembrança como um conhecimento meio que secreto que nós, curitibanos, tínhamos. Sempre que eu viajava perguntava se as pessoas conheciam o Blindagem, a banda. As pessoas diziam não e perguntavam que tipo de rock eles faziam, e os que gostavam do Blindagem respondiam "rock paranaense", sabe-se lá o que isso significa. Daí a pessoa fazia uma cara de paisagem e a gente enchia o peito para dizer que era duca. Quer dizer, assim bem imparcial, que nem era tanto. Mas era nosso e estava nos nossos bares, então, era o máximo. Bons tempos foram!
Valeu, Ivo, obrigado pelas longas noites passadas com sua voz. Vai marcando os shows aí no outro lado que mais tarde eu chego.

P.S.: Uma das melhores coisas que eu tenho do Blindagem, infelizmente, eu não vi. Em 1981, eles fizeram uma montagem do The Rocky Horror Picture Show em Curitiba, adaptando as músicas para o português. O Fabiano ali de cima era vizinho de um cara que conhecia o operador da mesa de som e que tinha dado a esse operador uma fita para ele gravar o show. Dessa "master tape" saiu uma outra, e saiu uma outra, que eu tenho até hoje. Pura raridade, nem os caras do Blindagem tem. Pelo menos, já passei uma cópia em CD para o Samuel Lago, grande historiador do rock paranaense e que tocou numa banda que por pura memória fraca minha me foge o nome. Assim que eu lembrar, posto aqui.

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