Pesquisa do Palavrório

4.1.10

Mais um ano ou menos um ano?

Ontem o João Ubaldo Ribeiro escreveu algo interessante. Ele falava que o Ano Novo pode ser encarado como mais um ano ou menos um ano. Claro, a visão pessimista é a que diz menos um ano: menos um ano de vida, menos tempo para fazer tudo o que se quer até o fim inevitável, menos energia para tanta coisa represada. A visão otimista diz que tudo é possível ainda, que os anos vividos são experiências que aprendemos para perder menos tempo à frente e que, se quisermos, poderemos fazer tudo o que se quer.
Eu duvido. Apenas a quantidade de livros que merecem ser lidos, se não houvesse mais nenhum lançamento que preste daqui até o fim do século XXI, já seria o suficiente para preencher umas duas ou três vidas em que a única atividade fosse a leitura. E a quantidade de músicas para se escutar, bebidas e comidas para apreciar, enfim, a quantidade de coisas que deixaremos de fazer será infinitamente maior do que a quantidade de coisas que poderemos ter feito.
Provavelmente o que querem nos dizer com isso é que não se deve medir a vida pela quantidade, mas pela intensidade do que se faz. Que cada gesto nosso deve ser intenso, pleno de significado e que nos traga uma compreensão maior do mundo, mesmo que às vezes sejam gestos ou situações doloridas. E que menos é mais, e por aí vamos.
Como mensagem, ela é muito simples. Mas é de difícil execução, pois a todo momento somos bombardeados com as 1001 comidas para experimentar antes de morrer, os 1001 vinhos, os 1001 discos etc, etc, etc. Lazarento o criador desse mote, que agora vai avançando para todos os campos da humanidade. Logo haverá as 1001 posições sexuais que você deve experimentar antes de morrer e uma versão evangélica com as 1001 preces que você deve fazer para morrer em paz, um sinal de que não faltará mais nada para catalogar e nos afligir com o tempo ainda mais curto que temos, a cada dia. Até o momento final. Omnes feriunt, ultima necat.

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