Tenho poucos amigos, bem poucos. Por amigos quero dizer
aqueles amigos de verdade, que só de olhar, quando nos encontramos, já sabem se
estamos bem ou mal, que escutam nas pausas mais do que falamos, que entendem
sem precisarmos dizer. Desses amigos, tenho bem poucos. E tenho muitos
conhecidos, mas muitos mesmo. Em todo lugar que vou, encontro sempre um desses.
E como vou a muitos lugares, sempre vejo muitos conhecidos.
Meus poucos amigos me conhecem muito. Meus muitos amigos me
conhecem pouco. Meus poucos amigos sabem praticamente tudo o que acontece
comigo, mesmo quando ficamos muito tempo sem nos ver. A distância não impede a
intimidade, a proximidade. Meus poucos amigos, de um certo modo, vivem dentro
de mim. Eles são parte de minha identidade, sem que eu dependa deles para ter
uma. São, apenas, parte de minha vida.
Meus muitos conhecidos sabem muito pouco de mim. Quando nos
encontramos, trocamos muitos abraços, muitos copos, mas poucas intimidades.
Falamos de muitas coisas genéricas, e bem pouco de coisas específicas. Minha
vida não está disponível para os conhecidos, pois afinal também os conheço
pouco. Posso até saber muitos lances de sua vida, agora que quase todo mundo
expõe esses detalhes na internet, mas sei pouco sobre quem são de verdade. E de
mim não saberão, pois não coloco isso para ninguém, a não ser para meus poucos
amigos.
Meus poucos amigos ocupam muito tempo de meus pensamentos, e
infelizmente pouco tempo de verdade. A vida anda complicada, e todos temos
pouco tempo para curtir os poucos amigos. Talvez por isso veja tanto os muitos
conhecidos, pois esbarro com eles nas andanças cotidianas. Quero ter mais tempo
para meus poucos amigos, mas tempo anda escasso. E como respeito os silêncios
deles, bem como eles respeitam o meu, acabamos nos falando pouco. O que não
diminui nem um pouco a intimidade que temos. Sei que, quando nos encontrarmos,
mesmo que por poucos instantes, será como se tivéssemos nos encontrado ontem.
E, ao nos separarmos, continuaremos perto um dos outros.
Na prática, meus poucos amigos são muito, mas muito mais
importantes que meus muitos conhecidos. Se esses trazem algum sorriso em
encontros inusitados, aqueles trazem alegria à alma nos poucos encontros
marcados. Prefiro assim. Minha vida é para poucos, e agradeço a eles por terem
aceito um pedaço dela. Espero estar retribuindo a benção concedida.
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