Pesquisa do Palavrório

17.4.13

Muito ou pouco?



Tenho poucos amigos, bem poucos. Por amigos quero dizer aqueles amigos de verdade, que só de olhar, quando nos encontramos, já sabem se estamos bem ou mal, que escutam nas pausas mais do que falamos, que entendem sem precisarmos dizer. Desses amigos, tenho bem poucos. E tenho muitos conhecidos, mas muitos mesmo. Em todo lugar que vou, encontro sempre um desses. E como vou a muitos lugares, sempre vejo muitos conhecidos.
Meus poucos amigos me conhecem muito. Meus muitos amigos me conhecem pouco. Meus poucos amigos sabem praticamente tudo o que acontece comigo, mesmo quando ficamos muito tempo sem nos ver. A distância não impede a intimidade, a proximidade. Meus poucos amigos, de um certo modo, vivem dentro de mim. Eles são parte de minha identidade, sem que eu dependa deles para ter uma. São, apenas, parte de minha vida.
Meus muitos conhecidos sabem muito pouco de mim. Quando nos encontramos, trocamos muitos abraços, muitos copos, mas poucas intimidades. Falamos de muitas coisas genéricas, e bem pouco de coisas específicas. Minha vida não está disponível para os conhecidos, pois afinal também os conheço pouco. Posso até saber muitos lances de sua vida, agora que quase todo mundo expõe esses detalhes na internet, mas sei pouco sobre quem são de verdade. E de mim não saberão, pois não coloco isso para ninguém, a não ser para meus poucos amigos.
Meus poucos amigos ocupam muito tempo de meus pensamentos, e infelizmente pouco tempo de verdade. A vida anda complicada, e todos temos pouco tempo para curtir os poucos amigos. Talvez por isso veja tanto os muitos conhecidos, pois esbarro com eles nas andanças cotidianas. Quero ter mais tempo para meus poucos amigos, mas tempo anda escasso. E como respeito os silêncios deles, bem como eles respeitam o meu, acabamos nos falando pouco. O que não diminui nem um pouco a intimidade que temos. Sei que, quando nos encontrarmos, mesmo que por poucos instantes, será como se tivéssemos nos encontrado ontem. E, ao nos separarmos, continuaremos perto um dos outros.
Na prática, meus poucos amigos são muito, mas muito mais importantes que meus muitos conhecidos. Se esses trazem algum sorriso em encontros inusitados, aqueles trazem alegria à alma nos poucos encontros marcados. Prefiro assim. Minha vida é para poucos, e agradeço a eles por terem aceito um pedaço dela. Espero estar retribuindo a benção concedida.

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