Não adianta. Onde quer que o homem esteja, se o que ele estiver fazendo for popular, atrair gente e quem sabe alguma câmera de tevê, isso vira um negócio instantaneamente. E com o passar dos anos os puristas da atividade reclamarão que tudo virou um grande negócio, que os cifrões ditam a pauta da atividade e que a tradição foi para o vinagre. Já os entusiastas do capital dirão que a evolução é isso aí mesmo, que não tem como evitar, essa é a onda, e por aí vai.
Veja o que aconteceu no Carnaval do Rio esse ano. A Portela, uma das escolas de samba mais tradicionais de todas, tava atrasada no desfile. E para não perder pontos no concurso, o presidente da empresa proibiu que a Velha Guarda, aqueles simpáticos senhores e senhoras de pele enrugada parecendo ter mais de 100 anos, entrassem na avenida para desfilar. Logo eles, que vivem o ano na perspectiva daquela meia hora de travessia aos olhares do mundo.
O que aconteceu é que finalmente os velhinhos aprenderam que aquela paixão que eles tinham antigamente pelo Carnaval foi transformada em negócio. Biznes, em bom português. Cifrões mandam, e se os senhores vão atrasar a escola, fiquem de fora. “Sinto muito se o senhor vive a sua vida para estar aqui, mas essas são as regras, precisamos ganhar”.
Na Bahia também ficou assim. O axé ficou popular, e a tevê chegou em seguida, e agora só se diverte com uma certa tranqüilidade quem compra o abadá de algum bloco. Falta industrializar o Carnaval de Recife. Mas talvez o frevo não seja tão comercializável quanto os peitos e bundas cariocas e baianos. O Bumba-meu-Boi já é um negocião na Amazônia.
Alguém pode dizer que é a regra do jogo. O capital é isso mesmo, se apodera do que é popular e o transforma em pop, para gerar lucros e dividendos. Sim, essa é a regra, mas nada impede que você não concorde com ela e queira mudá-la. Um mundo sem dinheiro com certeza seria bem melhor.
Um comentário:
Oi CD,
gostei de ver seu blog, ainda mais porque me deu umas idéias legais para o meu...Não estou divulgando ainda pq falta material, mas já já mando o endereço.
Engraçado, qdo vi a foto dos velhinhos da portela chorando, pensei: Acho que os caras erraram feio. Podem até ganhar mais uns pontinhos, mas a opinião popular não vai ser nada favorável. Na era do "imagem é tudo" ver velhinho chorando deve ter feito muita gente ficar com raiva da escola. Assim espero.
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