Um dos poemas mais famosos do Borges, que na real não é dele, começa mais ou menos assim: " Se eu pudesse começar tudo de novo, viveria mais leve" e por aí vai, em uma arenga de como levar uma vida menos pesada. Faz sentido, mas creio que gostaríamos de voltar no tempo para apagar alguns erros, e não para viver mais leve.
Cada um carrega uma carga enorme de erros, alguns grandes, enormes, muitos pequenos, e se pudéssemos ter um corretor de erros do passado disponível, aí sim tudo seria melhor.
Um corretor que pudesse nos mandar ao passado para, naquele momento em que você está falando umas palavras mais ásperas para alguém querido, te fizesse ficar quieto. Um corretor que fizesse você falar o que pensava sobre um projeto da empresa, em vez de ter ficado calado e anuido como um bezerro de presépio. Algum mecanismo que fizesse você não beber aquela terceira cerveja e convidasse a guria que não tirava os olhos de você, em vez de tomar mais uma para dar coragem e perder o timing totalmente (além de perder o prumo, claro).
Há algumas lembranças que insistem em sobreviver. Em alguns momentos, aquela enorme cagada que você fez volta com uma força que te crispa o rosto, dá um pequeno nó na barriga, e você pensa: "putz, que cagada aquela!" Mas não dá para voltar, ela está feita e morrerá com você. Tem outras que, felizmente, servem como um alerta para os momentos atuais. Você sabe o que acontece após a terceira cerveja, logo, não chegue a ela. Você sabe quanto custa calar ou falar, dependendo da ocasião. Escolha sabiamente.
Claro que somos a soma de nossos erros e acertos e, se tivéssemos errado ou acertado diversamente, seríamos outra pessoa. Mas será que aqueles pequenos errinhos (a terceira cerveja, a palavra grosseira, a mudez na reunião) afetariam-nos tanto assim? Será que não estaríamos mais leves, como diz o poema brega do suposto Borges?
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