Neste mundo em que todos cobram algo de alguém, levar uma mijada de uma guardadora de carros é dose. No entanto, foi o que aconteceu quinta passada.
Fui ao bar/distribuidora comprar umas birras artesanais para dar de presente a um colega. Em frente ao bar há um laboratório médico com um estacionamento que à noite pode ser usado pelos bebedores.
Entrei no estacionamento e notei uma figura mais parecida com um espantalho à entrada do restaurante: uma camiseta quatro números maior que ela, cabelos brancos à moda vassoura piaçava, cobertos por um boné azul, uma calça de moletom e chinelo de dedo. Vale dizer que um mês antes não havia ninguém "guardando" carros ali. Bom, encostei o carro, e a senhora veio com a frase tradicional "Dá uma olhadinha ali, chefe?", frase que omite o "vou" da frente, deixando o sujeito em dúvida sobre quem vai dar uma olhadinha.
Entrei no bar, levei uns cinco minutos ali, e retornei ao carro com duas caixinhas de cerveja nas mãos. Deixei as cervejas no carro e ia entrando no carro quando falei à senhora que não tinha nenhum centavo no bolso, o que era verdade. Ela então me perguntou, olhando bem séria: "E por quê?" Respondi que não tinha pois o bar aceitava cartões de crédito, e plástico podem roubar que não tem tanto problema, só encheção de saco para evitar prejuízo.
Foi o que bastou. "Ô piazão, você não sabe que tem alguém aqui pra guardar teu carro? E que esse alguém tá esperando uma moeda? Pois você acha que eu tô aqui pra fazer papel de palhaço? Pois você saiba que sempre, mas sempre, deve sair de casa com uma moedinha no carro, pois sempre vai ter alguém cuidando do carro, e este alguém merece." Bom, a arenga foi por aí. E eu querendo voltar para casa pra tomar uma birra gelada com a patroa e ela me prendendo.
Sei que no fim gritei que na próxima traria em dobro a gorjeta dela, e ela parou. Aproveitei a pausa e fui. E aí começou a segunda parte. Quando fiz a manobra e me preparei para sair, ela disse "bene, bene", em italiano. Aí comecei a falar em italiano, e não é que a senhorinha espantalho falava italiano? Foi um va bene para cá, um arrivederci para lá, stami bene e outros.
Onde mais podem acontecer lances como esse? Qual outro país tem esta capacidade para a graça na desgraça? Bendito país, pena que o povo ainda faz por merecê-lo...
Pesquisa do Palavrório
15.3.06
7.3.06
Dialética
Ontem dediquei-me a ler a entrevista que o Lula deu à The Economist. Meu, quando você consegue ler um pouco além da entrelinha, você percebe que está sendo enganado pelo entrevistado desde a primeira resposta.
Por exemplo, Lula, ao ser perguntado sobre a crise na Previdência Social, retrucou que todos os países do mundo, mesmo os ricos, têm problemas com a Previdência Social. Tá, e daí? O cara perguntou sobre o Brasil, e não sobre o resto do mundo.
Outro exemplo. O repórter tava fazendo uma pergunta sobre o dinheiro investido em educação, e o Lula fala de uma Olimpíada de Matemática que junto 10,5 milhões de alunos, em que se encontraram 30 mil gênios no segmento. E a ênfase foi no ganhador, um aluno cego, mudo e paraplégico que começou a estudar aos 10 anos. Fantástico, o governo já sabe achar os gênios. E o que fazer para que esses gênios produzam e explorem todo o seu potencial? Isso, que é o mais importante, o Lula não disse nada.
Estes são exemplos concretos. A sutileza está no responder as perguntas com outras perguntas, em responder desviando o assunto de maneira sutil de modo que a pergunta mesmo fique sem resposta, mas que a platéia acredite que foi respondida.
Me lembro sempre de um livreto do Schopenhauer, 38 estratagemas para se obter a razão, que achei uma vez em edição econômica, achei que era inteligente o suficiente para entender um filósofo alemão, e comprei. Ali ele dá os tantos estratagemas para que você sempre vença uma discussão, pois ele diz que, se houvesse uma única verdade, não haveria discussões. Na prática, você convence o outro de que a sua verdade é melhor que a dele.
Só fico triste porque este presidente será reeleito pela incompetência dos adversários, e não pelos seus méritos (que são poucos, bem poucos...).
Por exemplo, Lula, ao ser perguntado sobre a crise na Previdência Social, retrucou que todos os países do mundo, mesmo os ricos, têm problemas com a Previdência Social. Tá, e daí? O cara perguntou sobre o Brasil, e não sobre o resto do mundo.
Outro exemplo. O repórter tava fazendo uma pergunta sobre o dinheiro investido em educação, e o Lula fala de uma Olimpíada de Matemática que junto 10,5 milhões de alunos, em que se encontraram 30 mil gênios no segmento. E a ênfase foi no ganhador, um aluno cego, mudo e paraplégico que começou a estudar aos 10 anos. Fantástico, o governo já sabe achar os gênios. E o que fazer para que esses gênios produzam e explorem todo o seu potencial? Isso, que é o mais importante, o Lula não disse nada.
Estes são exemplos concretos. A sutileza está no responder as perguntas com outras perguntas, em responder desviando o assunto de maneira sutil de modo que a pergunta mesmo fique sem resposta, mas que a platéia acredite que foi respondida.
Me lembro sempre de um livreto do Schopenhauer, 38 estratagemas para se obter a razão, que achei uma vez em edição econômica, achei que era inteligente o suficiente para entender um filósofo alemão, e comprei. Ali ele dá os tantos estratagemas para que você sempre vença uma discussão, pois ele diz que, se houvesse uma única verdade, não haveria discussões. Na prática, você convence o outro de que a sua verdade é melhor que a dele.
Só fico triste porque este presidente será reeleito pela incompetência dos adversários, e não pelos seus méritos (que são poucos, bem poucos...).
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