Pesquisa do Palavrório

29.11.05

A última minoria

Todas as minorias já representadas que me perdoem, mas há uma última minoria que ainda não tem defensor algum, e que merece uma atenção especial, principalmente por representar uma minoria em extinção.

Aos números. 49,8% da população do mundo é feminina. Sobram 50,2% de homens.

29% é de crianças, e 7% são de idosos, ou seja, aqueles não sabe o que é sexo e esses ou não se lembram ou não conseguem mais. Sobraram nos homens 32% da população.

Na média, 10% da população é gay. Sobrou 28%, arrendondando bem pouco para baixo.

Vamos retirar agora as outras minorias: religiões que não fazem parte das três principais (cristã, judaica ou muçulmana), deficientes físicos e/ou mentais, desempregados, trabalhadores rurais e pessoas que não têm caráter, pessoas que vivem de subsídios estatais ou de roubo, e deve sobrar uns 4% (sendo otimista).

Ou seja, do total de 6,4 bilhões de pessoas no mundo, 4% somos homens, caucasianos, heterossexuais, sem problemas físicos ou mentais, honestos, trabalhadores e pagadores de impostos e muito provavelmente éticos e fiéis às suas companheiras (quando as tiverem).

Quando é que levantaremos a bandeira da última minoria?

10.11.05

Ainda sobre a guerra civil

O mais engraçado, se é que esse lance da França pode ter algo engraçado, é a reação das pessoas que achavam a França um país de primeiro mundo, invejado, um lugar bom para se morar. Essas pessoas achavam que o que acontece lá é um absurdo, inimaginável, e têm medo que isso se espalhe para outros países.

A guerra civil acontece em todo o mundo. Na Suíça, ela não usa armas, mas seringas, uma juventude que briga com seus antecedentes se drogando. No Japão e na Suécia, os jovens não brigam, jogam-se na frente de trens, de pontes. Nos Estados Unidos, rouba-se as armas do pai para atirar em Columbine. E por aí vamos.

A guerra já se alastrou. Ela é global. Mas era mais fácil achar que a grama de lá era mais verde...

7.11.05

Visões da Guerra Civil

Esse é o livro do Hans Magnus Enzensberger. Já tem uns 11 anos de idade, pelo menos. No entanto, continua cada vez mais atual. Lá ele já dizia que as brigas de torcida, que os confrontos entre polícia e minorias nos Estados Unidos e que a guerra na Bósnia eram reflexos de uma mesma situação: a guerra civil. E que as causas eram basicamente as mesmas: a falta de perspectiva de uma grande parcela da população, em especial dos jovens.

E de repente, o caldeirão entornou na França, onde há dez dias os jovens de lá quebram o pau com a polícia, aparentemente sem motivo. No entanto, a morte de dois filhos e netos de imigrantes em circunstâncias misteriosas, com uma não confirmada participação da polícia, bastaram para deflagrar o conflito, que não dá mostras de arrefecer.

No Brasil, qualquer encontro de torcidas provoca feridos, quando não um e outro morto. Sem contar com um referendo sobre a venda ou não de armas, motivado pelo excesso de armas em circulação (sem entrar no mérito do referendo ou de seus resultados).

O caldeirão ferve. O modelo de vida atual já se provou um beco sem saída, difícil de sustentar mas infelizmente difícil de contrapor. Será necessário, porém, ou o mundo acaba antes da gente. E acredito que ninguém quer testemunhar o fim de tudo...

1.11.05

Opinião controversa

Diz-se que quem vive de comunicação - publicitários, jornalistas, relações públicas e homens/mulheres de rádio e TV - devem necessariamente ser antenados. E por antenados entenda-se: ver tudo o que se passa na TV, escutar rádio para cacete, navegar na Internet 24 h por dia em busca do site mais bacana, ler o maior número de jornais possível, ir ao cinema etc etc etc.

Putz, discordo veementemente. Eu tenho uma opinião, radical até um certo ponto. Não, repito, não é necessário ler nenhum jornal nem escutar rádio nem ver TV para estar antenado (confesso que a Internet não dá para dispensar). Até mesmo a Internet deve ser usada com moderação. Na prática, para manter-se antenado e atualizado, é necessário apenas ler os grandes clássicos da literatura. E digo de novo, literatura, não livros técnicos.

Os grandes clássicos trazem mais informações para o entendimento da nossa realidade que a imprensa diária. Para entender a Rússia de hoje, basta ler Guerra e Paz, Dostoiévski, Tólstoi e os grandes, quase todos de antes dos comunistas. Para entender os Bálcãs, leia os livros dos autores de lá. Conheço poucos, mas O Dicionário Kasar, de Milorad Pávitch (iugoslavo, pois ele é de antes da divisão), traz histórias deliciosas da encruzilhada que é aquele pedaço do país. Conflito árabe-israelense? Amos Óz. E por aí vamos.

A história é, até um certo ponto, a eterna repetição de um enredo com personagens e tecnologias diferentes. Ou você acha que não se luta por petróleo no Oriente Médio desde 1914? E por água na região de Israel desde antes de Cristo? Ou que a América Latina vive desde o momento em que o primeiro europeu colocou os pés aqui o eterno lamento de ser o continente do futuro que ainda não deu certo? E tenha certeza, todas essas histórias estão contadas pelos grandes (e também pelos pequenos, ainda que sem tanta qualidade) escritores.

Desplugue-se de vez em quando, e leia um livro. Você só tem a ganhar.