Triste país. Vemos irmãos brigando com irmãos, amigos se separando de amigos, tudo por conta de um radicalismo que desde 2002 vem crescendo, em grande parte devido a um ex-presidente que apostou tudo no "nós contra eles" para se garantir no poder e que ainda hoje tenta influenciar o processo, apesar de estar preso. Não, não eximo de culpa os "eles", que se acovardaram e até repartiram o butim do roubo à nação que já existia desde 1500. O "nós contra eles" era retórica apenas, o objetivo de "nós" e "eles" sempre foi tirar do nosso bolso e por no deles.
O primeiro colocado nas pesquisas é um louco, um parlamentar sem representatividade e efetividade, mas que fala ao fígado das pessoas, principalmente na questão da segurança pública. O cidadão comum está com medo de ir às ruas, e não é medo de ser assaltado apenas, mas medo de ser morto se não entregar o celular da maneira correta. E esse medo é compartilhado pela "elite" que pode comprar o iPhoneX e pelo favelado que conseguiu a duras penas parcelar um MotoX nas Casas Bahia. É desse medo que o capitão cresce. As pessoas querem segurança e apoiam o discurso da brutalidade. O resto (economia, inclusive) é detalhe. Infelizmente, para o primeiro discurso funcionar, o resto, principalmente a economia, tem que ser bom. E ninguém sabe como será. O primeiro é uma péssima escolha.
Já o segundo colocado vem com o discurso da igualdade, do respeito, dos direitos humanos, e ele está certo. Um país civilizado se faz com respeito a todas as minorias, com o tratamento igualitário, com a garantia de acesso a um mínimo de dignidade de vida. Mas, ao mesmo tempo em que o candidato prega isso, os chefes do seu partido dizem que primeiro eles ganham a eleição, e depois tomam o poder. E apoiam ditadores como Maduro, Ortega e congêneres. E dizem que farão reformas, mas que em 13 anos nem sequer chegaram perto de propor algo. E, por fim, prometem retomar um programa econômico que jogou o país na pior crise de sua história. Dá para confiar? O segundo é uma péssima escolha também.
O terceiro seria uma anedota de mau gosto em um país civilizado. Toda a família sobrevive de cargos públicos. O próprio candidato não tem profissão. A tão falada revolução da educação em sua terra pode ter sido avaliada de maneira errada. Pode porque há relatos de fraude nos exames de qualidade. Por outro lado, há fatos concretos como o número de aprovados nos vestibulares mais difíceis do Brasil (ITA, IME etc.). Mas o candidato também se mostrou agressivo a pessoas que pensam contra ele, radical em vários momentos, misógino e sexista. E tem um outro maluco como inspirador de sua matriz econômica. A terceira escolha é péssima.
O quarto colocado é um tucano. Basta dizer isso: um partido que rouba, que não expulsa os que roubam e são condenados (vide Azeredo), que tem medo de se posicionar sobre qualquer assunto e que renegou a boa herança que FHC deixou (ele também deixou más heranças, e como o partido não se posicionou, também deve ser criticado por isso). A quarta escolha é péssima.
A quinta escolha é do gênero sabonete. A mulher, até hoje, não se posicionou sobre Lula. Ou ela é a favor da Justiça ou a favor do ladrão. Também não tem coragem de falar. A quinta escolha é péssima.
As outras opções são risíveis. Talvez o Meirelles e o Amoedo pudessem ser considerados, mas a falta de empatia de um e a falta de tempo e ar elitista do outro os impedem de crescer. O cabo é louco. O bolo é criminoso. A Vera não sabe o que diz ("Estatizaremos as 100 maiores empresas do Brasil"). O Coringa do Jack Nicholson tem um passado ruim no Paraná. O Goulart ninguém sabe como conseguiu ser candidato. E o democrata cristão conseguiu algum sucesso com o meme em que seu jingle aparece mixado em uma rave de praia, e não mais que isso. Enfim, aguardemos e oremos.
Tudo isso é para dizer que, em minha opinião, nós brasileiros estamos brigando pelos motivos errados. Quem vem à Internet dizer que "sinto-me leve por ter tirado todos os apoiadores do Bozo da minha lista de amigos" errou na ação. Em vez de entender porquê essas pessoas votam no Bozo, preferem se voltar para a questão elitista do "não aceito quem apoia fascistas". Do outro lado, quem retira os petistas de suas listas não quer ver que, eventualmente, a pessoa pode ter um familiar que chegou à universidade pelo ProUni, ou que conseguiu alguma comida com o Bolsa Família (critiquem-se os programas e sua execução, mas não seus objetivos). Estamos na fase do "quem não concorda comigo é meu inimigo", e deixamos de dialogar. Descontando os ignorantes das torcidas organizadas (só os ignorantes, ok?, pois há alguns que não o são), no bar os adversários sentam-se à mesa para falar sobre futebol, discordar e não brigar. Você sabe que nunca convencerá o flamenguista a torcer pelo Vasco, e daí? Vale a conversa, vale a troca de ideias, vale o momento de bom deboche um com o outro. Não, não temos mais isso, agora é ou comigo ou contra mim.
O brasileiro está cego de raiva e ódio. O brasileiro está pronto para brigar por qualquer olhar enviesado no bar, na rua, na seção eleitoral. O brasileiro não é mais cordial. O brasileiro está cansado e exausto, e nessa situação ninguém toma uma decisão sensata. Espero apenas que sobrevivamos a 2018.