Pesquisa do Palavrório

7.7.10

Algo ficou pelo caminho

Um dia tive sonhos, peguei uma mochila e saí para viajar. Disse que voltaria em seis meses, e fiquei dois anos e meio fora. Voltei e recomecei, mas um tempo depois, descontente com os rumos que a coisa estava tomando, saí de novo mais um ano e meio. Voltei e recomecei, dessa vez para não sair nunca mais. Tem algo que ficou pelo caminho nessas idas e vindas.

Pode ser que o que tenha ficado para trás seja a inocência, aquela coisa meio pueril de achar que o mundo trabalha a seu favor, quando é você quem tem que trabalhar antes para fazer o mundo girar pro lado que você quer. Há uma dificuldade em ver as coisas de um ponto de vista mais positivo, mais esperançoso, que faça o sorriso aparecer mais fácil.

Também deve ter ficado para trás o sonho, ou os sonhos, que envolviam aquela vontade de ser alguma coisa no futuro, se trabalhava para isso e que agora, já na metade da estrada, vemos que é necessário ser mais pragmático que sonhador. O sonho de agora é aquele de doce de leite na padaria, que se compra com o pragmatismo do trabalho bem remunerado, ainda que bem longe da utopia do jornalista de guerra, do repórter econômico de sucesso, do publicitário famoso.

Ficou para trás, com toda certeza, a energia de começar e recomeçar o trabalho, qualquer trabalho, por melhor que seja. Ser escoteiro de novo, ser iniciante em um trabalho de novo, voltar a estudar algo, falta energia para aprender novidades, fazer novidades, criar. Quase melhor voltar aos bons livros já lidos para reviver emoções que arriscar novas leituras e novos conhecimentos. E isso é muito ruim.

Algo ficou pelo caminho, e não me refiro aos anos que certamente não voltam mais. Tem alguma outra coisa que agora faz falta. No entanto, aprendi com as viagens que tudo o que eu queria deixar no Brasil quando viajei foi comigo na cabeça, e com certeza voltou, inclusive as coisas boas. Há que cutucar bem fundo lá na cabeça e reencontrar o que eu acho que ficou pelo caminho para poder voltar a acreditar. Enquanto isso, o jeito é aguardar...

2.7.10

Palpiteiro

Já que todo mundo dá palpite quando o Brasil perde, lá vou eu também.

Em primeiro lugar, a seleção era muito ruim. Nem de longe ela era a seleção dos melhores jogadores do Brasil em atividade atualmente. Kléberson? Grafite? Nem o Felipe Melo, que é muito melhor como açougueiro ou cortador de cana pelas foiçadas que dá poderia estar ali. Tudo ruim.
Em segundo lugar, a total e completa ausência de esquemas táticos. Depois do gol de empate com a Holanda ficou evidente que não havia esquema tático. O segundo gol só mostrou que o rei estava nu, ou melhor, que a seleção esperava algum lampejo de genialidade do Kaká (ainda machucado), do Robinho (que só reclamou e não jogou) ou do Luís Fabiano (também machucado). Ou seja, sorte, não competência, sendo que sorte faz tempo que não entra para jogar.
Em terceiro lugar, o destempero do Dunga contaminou a toda a seleção. Se eles achavam que ganhariam as coisas no grito, se deram mal. A Holanda bateu sim, mas o Brasil também. E nesse ponto ficamos no empate. Mas a Holanda parecia um time mais catimbento, mais com a cabeça no lugar e pronto para catimbar, coisas que os brasileiros sabiam fazer bem. Mas o Felipe Melo nem reclamou de sua expulsão, pois meteu as travas da chuteira na coxa do Robeen de maneira criminosa. Sabia que tinha feito uma cagada e ficou quieto.
Ainda bem que voltamos para casa. Se o Brasil fosse à frente, a Fifa teria que refazer o futebol todo, quem sabe até parar o jogo por uns cinco anos, e veríamos rugby. Seria mais honesto. Pois futebol mesmo a seleção do Dunga jogou durante 30 minutos no primeiro tempo. E isso é pouco, muito pouco para quem quer ser campeão.
Só resta ao Dunga cantar "Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou..." E já vai tarde.