Pesquisa do Palavrório

23.12.08

Estranho reflexo

Olho-me ao espelho e não me reconheço. Quem és tu, aí do outro lado? Antes eras barbudo, estavas ali, cara de sério, cara de quem tem mais idade, cara de alguém que finalmente assumiu responsabilidades na vida. Teu cabelo desgrenhado enganava um pouco, quebrava o ar sisudo que tua barba te conferia.
Mas agora, quem és tu? No lugar do barbudo, surgiu um gordinho bochechudo. Parece que as bochechas saltaram para fora das órbitas molares para ocupar mais espaço. O cabelo, agora curto, parece te alinhar, te deixar comportado, te deixar com cara de moço correto. Não que não fosses, mas pelo menos a imagem é tudo o que você não queria ter.
Estás ali, de barba limpa e de cabelo curto, no lugar de um barbudo com cabelo meio desarrumado. Tua imagem externa agora representa um pouco melhor o que tua imagem interna é: um homem careta, de pensamento tradicional, escondido de baixo de uma barba e cabelo desarrumado.
Por isso, não te reconheço. Vejo tu, sei que estás onde devia estar, mas não és quem devias ser. E se queres mudar, o que mudarás, teu externo ou interno?

8.12.08

Sentimentos e recompensa

Você trabalha diariamente esperando algumas recompensas. Na maior parte dos casos, gostaria de ter satisfação no trabalho, que ele significasse algo para você mais importante que o dinheiro. Difícil, mas talvez não de todo impossível. Claro que nós trabalhamos também para ter dinheiro, mas gostaríamos que ele não fosse tão sofrido, tão atribulado e tão dissociado de nossa satisfação no trabalho.

Queremos também ser recompensados com promoções, com elogios, quando fazemos as coisas direito. Nesse ponto, continuamos pensando como uma criança que é parabenizada quando faz algo bacana. Queremos o cafuné, o colo, o doce, o brinquedo. Não adianta saber, conscientemente, que fazer direito é obrigatório, que fazer errado é o que merece o castigo.

E o que acontece quando sabemos não ser merecedores de recompensa e querermos mesmo assim. Ou pior, quando o nosso colega ao lado, que sabemos ser mais competentes que nós nesse momento – seja por acreditar um pouco mais no trabalho, seja por se esforçar mais, seja por mérito, enfim, vários motivos que o tornam primeiro lugar na lista de promoções e aumentos de salário -, consegue a promoção antes da gente para ser o nossa chefe?

O racional diz para ficar contente e parabenizar, pois ele de fato merece. O emocional fica meio complicado, pois o ser humano é um bicho difícil de entender. As necessidades animais já foram supridas há muito, e a maldita pirâmide das necessidades de Maslow aparece com força para mostrar que é o ego agora quem quer e pede massagem. É o ego que coloca você em dúvida. É o ego e o pretenso golpe na auto-estima (e vem a pergunta: o que você efetivamente para merecer uma promoção? E, se for sincero, saberás que não fizeste nada...) que te deixam com os sentimentos ambíguos.

Assim, resta voltar ao divã de casa e pensar: "O que você realmente quer da vida?" Você está com 40 anos, o mundo continua girando e você tem que decidir o que fará daqui pra frente. O que te motiva? O que faz você caminhar em frente? O que você quer? O que você fará para te dar sentido a algo que às vezes parece sem sentido? O quê? E, principalmente, por quê? Para quem?