Pesquisa do Palavrório

31.10.07

Chuvas de verão

Primeiro foi um inverno fora de hora, com temperaturas sempre abaixo dos 10° durante uma semana. Depois começou um calor desgraçado de quente. Agora é assim. De manhã está meio fresco, daí a temperatura sobe até uns 30°, pelo menos, e lá pela metade da tarde, ou fim da tarde, cai um baita pé d'água que interrompe tudo, pára o trânsito, acaba a luz porque caem galhos sobre fios de transmissão, enfim, um caos.

Será que ninguém percebeu que a maneira como estamos vivendo (nós Planeta Terra) levará invariavelmente ao fim de tudo? Ou acabará com seca ou com chuva, mas que se continuar assim acabará, ah isso vai...

29.10.07

Ambigüidades

Todo dia, no caminho para o trabalho, estou propenso à poesia. Vou de bicicleta, em um ritmo mais calmo que o resto das pessoas, escutando música, cheirando grama molhada de orvalho, passando por caminhos onde há gente caminhando, ainda há pássaros, eventualmente o trem ao lado me faz companhia.

Aprecio os quintais das casas que ainda existem – casas e quintais – e lembro de um tempo mais simples, mais calmo (me lembro de meu vizinho, o Júnior, rapagão alto à beça que pulava a cerca de casa sem usar as mãos, como um corredor de 110 metros com barreiras), em que havia tempo para brincar na rua – era possível brincar na rua.

Aí eu chego ao trabalho, cheio de poesia na cabeça, e ligo o computador com o nobre objetivo de escrever alguma coisa nesse sentido. E nos últimos três meses sou soterrado pela avalanche de trabalho – muitas vezes insensato e sem objetivo. Aí a poesia que havia pela manhã vai se esgotando, vai diminuindo, até ser completamente apagada por números, cifras, tabelas, apresentações e metas empresariais. Uma trabalheira desgraçada para explicar ao Sr. Mercado que a firma crescerá cerca de 25%, e não 28% como havia sido previsto, que o Sr. Mercado não ficará 28% mais rico, mas “apenas” 25%.

Na volta para casa, de novo sobre a bicicleta, a poesia tenta entrar novamente na cabeça. Mas ela está cheia de números, gráficos e tabelas. Um beija-flor cruza o caminho e quase devolve o sorriso. Um cachorrinho que parece sem dono faz xixi bem na roda do carro tunado, e o sorriso aparece envergonhado no canto da boca. Um casal passeia de mãos dadas pela ciclovia, alheio a tudo e concentrados apenas em si mesmos, e dentro de mim o sorriso já está quase pronto.

Aí chego em casa, duas pequenas criaturas vêm correndo para me abraçar e beijar, uma linda mulher vem e me beija, faz um cafuné em meus cabelos, e finalmente o sorriso e a poesia estão de volta.