Pesquisa do Palavrório

22.11.06

Homo politicus

Sabe-se lá se este é o latim para homem político. Bom, isto não importa. O que importa é que esta eleição mostrou uma coisa, e somente uma coisa a todo este país: que estamos criando uma nação de imbecis que tem como maior objeto de desejo um emprego público, nem que este implique em uma fraude aqui e outra ali.

Eu não votei no Lula por duas razões principais. Uma porque eu acho que ele tem uma vontade desgraçada de virar um ditador, principalmente no que diz respeito à imprensa. Afinal, antes de ser presidente ele presidia o PT, e ali quem mandava no jornal e quem dizia o que saia no jornal era ele. A imprensa não brigou com o PT, é que o PT não conseguia controlar a imprensa. Só isso.

A segunda é muito mais forte que a primeira, apesar de eu ser jornalista. É que o Lula só fez aumentar o número de funcionários públicos comissionados, aqueles que são contratados ou porque militam no partido do presidente ou porque são primos do vizinho do cachorro do amigo do síndico do governador. E se há alguém que personifica a vagabundagem neste país (e em muitos outros), este alguém é o funcionário público.

E antes que algum deles me xingue, eu bem que gostaria que o funcionalismo público ganhasse bem. Mas que fossem contratadas pessoas honestas, que sabem de suas responsabilidades, que tenham os mesmos direitos que os outros trabalhadores e que principalmente respeitem o seu empregador, ou seja, o povo brasileiro. Este povo que entra comissionado, tenha dó, não merece um centavo dos meus impostos.

Mas tudo isso é pregar no vazio. Então, para deixar registrado na minha história pessoal (pois tenho quase certeza que ninguém lê o que escrevo), decidi entrar em um partido político. Assim que tiver tempo, vou ler os programas e tentar descobrir um partido que tenha um projeto de país, não um projeto de poder, como quase todos os que têm por aí. Se não descobrir, vou achar o partido que tem mais vontade de ter um projeto de país, e ajudar a construí-lo.

Reclamar é fácil, fazer é que são elas. E cansei de reclamar. Agora é agir e mandar este bando de ladrões para a prisão. E antes que alguém me acuse de anti-PT ou coisa que o valha, podemos começar a limpa lá trás, nos tempos do Figueiredo. Toda aquela galera ficou rica e ninguém disse nada ainda. Menos mal que acredito em justiça divina, pois a terrestre, com este judiciário que temos, não dá muita esperança...

20.11.06

Há que ter fé

Não há dificuldade que não possa ser superada. Pode ser uma questão de fé ou de posicionamento perante a vida. Pode ser necessidade. Pode ser ambos. Mas toda dificuldade pode ser superada.

Estes dias vi um jardineiro perneta. Não sei como ele perdeu a perna, apenas o vi trabalhando, empunhando uma roçadeira a motor. Uma perna natural, duas muletas e a roçadeira fazendo o seu trabalho no terreno baldio.

O jardineiro não tem uma perna. Eu passei de relance e rapidamente, sem tempo para observá-lo, nem um lugar apropriado para tanto. Provavelmente ele terminará de roçar aquele terreno e irá para um próximo serviço. Possivelmente ao final do dia ele irá para um bar tomar uma para agradecer o dia ou amaldiçoar o dia em que perdeu a perna. Talvez ele tenha uma família. Talvez não. Mas ele tem vontade de fazer algo. E roça terrenos.

Será que ele lamenta as oportunidades perdidas devido à perna perdida? Será que ele leva uma vida amarga ou considera o que aconteceu como algo que devia acontecer? Deve-se perder a vida pois se perdeu uma perna, ou um braço, ou a vista ou a audição?

Bom, ele pode ter perdido algo, mas não perdeu tudo, pois continua trabalhando. Pode ser por necessidade, por fé ou por posicionamento perante a vida. Ele ainda tem algo, e não se deixou abater por perder um pedaço de si. Um exemplo.

17.11.06

Em busca de significado

Há uma moda atualmente, a construção de espaços gourmet em casa. Na prática, uma cozinha chique que também é bonita de se ver e se torna um espaço de estar. Ontem ajudei uma pós-graduanda de arquitetura dando uma entrevista. O que me deu autoridade para falar sobre o tema? Eu gosto de cozinhar.

E lá pelas tantas veio a teoria. Os espaços gourmet estão na moda pois o trabalho da maior parte das pessoas é vazio de significado. A pessoa não cria mais no trabalho, ela apenas executa um monte de tarefas previamente criadas, preenche formulários, manda mails, pode até decidir, mas não cria algo novo, não há um produto material finalizado.

Já na cozinha a pessoa é realmente responsável pelo produto final. A pessoa vai ao mercado comprar os ingredientes (ou abre as prateleiras para pegar o que precisa), prepara-os, cozinha-os, arruma-os nas bandejas e pratos de serviço e os leva a mesa com um sorriso nos lábios. Este trabalho lhe dá satisfação, é o prazer de criar alguma coisa e mostrar aos outros, "olha, este eu tenho certeza que fui eu quem fez".

Não sei se um trabalho mais significativo para as pessoas reduziria a moda dos espaços gourmet. Pode ser que não, pois a pessoa gostaria de fazer cada vez mais, ela teria cada vez mais obras a mostrar. Mas por enquanto vou com a teoria de que o espaço gourmet devolve ao homem a sua condição de homo faber, que lhe foi tolhida na sociedade atual.