Pesquisa do Palavrório

23.8.05

A sensação do tempo

Na mesa ao lado, conversam sobre uma ação especial de marketing direto referente ao Ano Novo. E estamos em 23 de agosto. Putz, o Ano Novo parece longe, muito longe. Até um certo ponto, o sete de setembro está longe.

Certa feita li que a sensação do tempo que temos decorre diretamente do nosso conhecimento. Assim. Quando éramos crianças, quase tudo o que víamos fazia o tempo se alongar, pois era uma novidade. Aprender a andar de bicicleta tomava um grande tempo, físico e mental. Chutar a bola na direção certa, escrever, desenhar, enfim, tudo o que aprendemos tomou tempo nosso.

Depois, como essas coisas passaram a ser automáticas, a cabeça não se ocupa mais disso. Entramos no carro e saímos, sem pensar no que estamos fazendo. E daí a cabeça pensa em outras coisas, talvez fáceis, talvez difíceis, mas outras coisas. Assim, não temos a percepção mais clara de que estamos fazendo coisa, apesar de o dia continuar a ter 24h. E essa falta de percepção leva à impressão de que o dia é mais curto, de que o tempo passa mais rápido.

Independente do que for, a necessidade de estar sempre atualizado, os compromissos sociais cada vez em número maior, as obrigações familiares, o cuidado com a saúde e tantas outras obrigações acabam realmente matando o tempo do lazer, que talvez seja o último bastião onde podemos ser nós mesmos.

Não resta dúvida, é necessário parar os relógios. TODOS, AGORA!!!

22.8.05

Segundas

Segunda-feira, um pusta dia de sol, calorzinho, e nenhuma, mas nenhuma vontade de trabalhar. Nenhuma vontade de entrar no simulacro de vida oferecido pelas grandes corporações, pelo sistema que é mais que capitalista, onde não há ilusões de um mundo mais justo, mais humano.

Não à toa que a cada segunda há milhares, milhões de pessoas que reclamam de ter de voltar à rotina. Pois a rotina é massacrante. O trabalho invade todos os aspectos da vida, e acabamos vivendo para trabalhar, em vez de trabalhar para viver. O trabalho não é o veículo que nos proporciona uma vida melhor, mas sim “a vida”, a única opção de vida.

E quem não é workaholic, quem não sacrifica a vida pessoal pela da empresa, quem não “veste a camisa” em todos os momentos, é visto como um estranho, como não competente, como pouco profissional. E fazem com que a não dedicação ao trabalho seja vista como anormal, e quem não se dedica como um alienígena.

Mas que dá vontade de ir viver em outro planeta e tentar montar um outro sistema, ah isso dá!!

18.8.05

Admirável Mundo Novo

Bitcho, basta dar uma navegada pela internet para saber que entramos em mundos novos. O uso da internet democratizou de vez a informação no mundo (pelo menos para quem tem acesso à internet), a despeito da vontade das grandes corporações.

Assim, basta que alguém tenha comprado algum produto que não cumpriu o que a propaganda prometeu que na hora ele colocará a sua opinião no site, muito antes de reclamar com o fabricante. E, se o fabricante entrar em contato para propor algum acordo espúrio, tanto a pessoa não aceitará o acordo como o próprio acordo será ainda mais divulgado do que a simples falha no produto.

Um mundo até um certo ponto bacana. Felizmente, para quem receia que tudo fique massificado, essa possibilidade de publicar informações ajuda quem tem coisas bem pequenas e restritas a uma determinada geografia a serem consideradas bacanas, cool. Assim, mesmo que todos achem que Coldplay é o máximo, haverá diversos nichos que acham que os caras não tocam nada, e oferecerão outras coisas para nós ouvirmos.

E quando tudo estiver conectado, será tudo uma grande loucura.

Quem viver e sobreviver, verá.

16.8.05

Sombra de mariposa

No banheiro da empresa há a sombra de uma mariposa. De acordo com um colega, a mariposa ficou parada no mesmo lugar pelo menos um dia inteiro, mais de 24 horas. Ele achou que ela estava morta, e foi tocá-la. Ela saiu voando. Ficou o contorno das asas.

Uma vez li, em algum lugar, que as poucas paredes que sobraram da explosão da bombas atômicas traziam “impressas” sombras das pessoas que estavam ali entre a bomba e a parede. Um perfil macabro eternizado na parede que depois virou monumento, um instantâneo do maior momento de terror instantâneo que a humanidade já produziu. Houve outras matanças piores, mas nunca concentradas em um único segundo, minuto.

Em Pompéia, há inúmeros cadáveres carbonizados, pessoas que não tiveram tempo de reagir à explosão do Vesúvio. Na peça A Vida é Cheia de Som e Fúria, de Felipe Hirsch, ele brinca com uma hipótese. E se um pai de família, correto, carinhoso, que nunca bebeu nem jogou, resolve justamente no dia da erupção jogar dados, só para ver como é, e é eternizado naquela posição? Ficará para sempre conhecido como um jogador de dados, ou um viciado em jogo de Pompéia.

Marcas, marcas, todos os que aqui passam deixam marcas. Algumas mais fortes, outras menos. Algumas que deveriam ser esquecidas, outras que não deveriam. A da mariposa, segundo meu colega, precisa de uma boa esfregada com algum produto de limpeza para ser removida. Mas por enquanto ninguém pensou nisso.

15.8.05

Mundo corporativo

Vez ou outra eu comento sobre o mundo corporativo, sobre como a vida corporativa foi tomando conta de tudo, e que agora somos novos escravos, a corporação em primeiro lugar e, se der tempo, o resto.

Hoje é aniversário da minha enteada. A festa começa às 18h, para aproveitar que todas as crianças saem da escola e vão direto pra festa. E marcam uma reunião para as 18h30. E quando digo que não vou, me perguntam: “E o profissionalismo?”

Putz, que chato ter que dizer para as outras pessoas que a corporação não é o mais importante de tudo, que há coisas muito mais importantes, que a vida corporativa é falsa, é ilusão, pois somos todos peças descartabilíssimas nesse mundo corporativo, e que na hora que aparecer alguém fazendo o mesmo que a gente e recebendo menos, seremos trocados.

Na vida pessoal, pelo contrário, temos a chance de mostrar nossas habilidades únicas, nossas características pessoais, nossa vida real, enfim, aquilo que nos torna humanos de fato. Sentimentos, únicos e exclusivos, que você pode dividir com os outros sim, mas que não podem ser substituídos. Nem o amor, nem o ódio.

Claro que vou à festa. Claro que ficarei com a pulga atrás da orelha, afinal, preciso do dinheiro para pagar as contas do mês. Mas levarei o consolo abaixo:

"Neither a lofty degree of intelligence nor imagination nor both together go to the making of genius. Love, love, love, that is the soul of genius." (Wolfgang Amadeus Mozart)

Feliz aniversário, querida!!

12.8.05

O fim já chegou!

Da Inglaterra e da Holanda vem a última novidade em reality shows. Mulheres querem escolher o melhor fornecedor de esperma para os filhos que querem criar sozinhos, sem maior interferência masculina que a do espermatozóide. Nada de contato sexual pois isso pode dar romance, o lance é só meter um bando de homens em uma espécie de corrida de cavalos da evolução, para escolher o reprodutor mais apto. Tudo, claro, passado, repassado e reprisado na tevê, para gáudio dos telespectadores ávidos por ficar ainda mais vivendo a vida dos outros em vez de cuidar da própia.

Até um certo ponto, lembra o que a Xuxa fez com o Luciano Szafir, mas sem a mídia. Ela pelo menos ficou um pouco mais comedida, fez suas escolhas tão pessoalmente quanto uma personalidade pode, mas não colocou homens em corrida para o fato.

Putz, o que faltará colocar em realities show? Talvez a única idéia que seria realmente boa seria fazer as eleições com um reality show. Coloque-se todos os pretendentes ao cargo em uma casa, fecha-se as portas durante três meses, e submete-se-os a provas de conhecimentos gerais, gerenciamento financeiro, sensibilidade social e – sinal dos tempos – ética e honestidade. O público vai eliminando os mais incapazes, e sobrarão ou os mais capazes ou os menos incompetentes. Talvez assim melhoremos o caráter geral da nação.

Isso se houver um amanhã, e não formos rejeitados na próxima seleção do Big Brother.

8.8.05

Um dia nublado

O fim de semana inteiro fez sol. Um sol bonito, nem tão de verão que você não tem vontade de fazer nada, nem tão de inverno, em que você quer ficar dentro de casa com as cortinas abertas e debaixo do sol para se aquecer. Um sol bacana, com pouca brisa, para todos saírem de casa e passarem o dia fora.

A segunda já mudou tudo, e trouxe com ela, além do trabalho que muitas vezes parece insensato, um céu cinzento e o frio. Poucos foram os que saíram da cama contentes hoje de manhã, apenas os “madrugadores neuróticos anônimos”, aqueles que dizem que não conseguem ficar na cama além das seis e meia da manhã. Fora eles, todos relutaram em sair da cama.

E no trabalho, todos os comentários são iguais. “Putz, ainda tô dormindo.” “Meu, que luta sair da cama de manhã.” “Tava tão quentinho debaixo das cobertas”, e por aí vai. Ninguém contente de estar vivo, de encarar o dia nublado e eventualmente chuvoso como necessário. Apenas o rame-rame costumeiro, a ranhetice de sempre.

Enfim, esquecemos todos que além das nuvens o céu é sempre azul, e o sol continua a brilhar. Falta-nos um pouco mais de esperança em nós mesmos e na vida como um todo, para que um dia nublado não altere mais o humor.

4.8.05

Estranhos prazeres

Há cinco minutos, acabei de ler A Misteriosa Chama da Rainha Loana, o último romance do Umberto Eco. E o livro é muito bom, mas muito bom mesmo (para ler a resenha, espere até 15 de agosto e acesse o site do Rascunho, ela estará lá).

Daí que eu terminei de ler o livro no trabalho, e comentei com um colega que o livro é muito bom. E ele me disse que não gosta desse tipo de livro. Um outro já falou que só lê livros técnicos, um terceiro ainda que não lê em absoluto. Outro dia, em um shopping, testemunhei um fragmento de conversa entre duas garotas, uma dizendo que não gosta de ler mesmo, não é porque não tem tempo. Ela prefere fazer outras coisas.

Daí que me pego pensando no por que há gente que não gosta de ler. Algum tempo atrás eu com certeza xingaria uma pessoa que me dissesse que não gosta de ler, diria que é uma ignorante, uma imbecil, que livros deixam a gente mais inteligente e seres humanos melhores, enfim, descascaria o verbo em cima dela. Hoje já sou mais comedido, apenas lamento o fato e falo do meu prazer, da sensação que eu tenho lendo, na esperança que o outro se contagie com a minha emoção.

Afinal, quando o planeta não tiver mais recursos para gerar energia, todos terão que se virar com o velho Sol, que continuará iluminando os povos, e com os livros, a única mídia que não precisa de uma fonte de energia (depois que está impresso, leia-se bem), é 100% portátil, a prova de vírus (mas não de manchas de café, cães e crianças pequenas) e que, dadas as suas características, exige que você se isole de todos para se concentrar. Quer prazer melhor que esse, ficar sozinho, em uma época em que o convívio social é quase uma obrigação?

Vida longa aos livros!!